O Assédio de Elvis

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Clara Spencer estava um pouco apreensiva. Fazia questão de caminhar de sua casa na Jackboro Avenue até a Austin Avenue onde ficava o Snyder High School, pouco menos de uma milha de distância. Em suas caminhadas, sempre ia pensando em sua vida em Houston ou em algum assunto novo para publicar em seu vlog. Mas, naquele dia o clima não estava lá muito bom na escola. Alguns meninos de sua classe haviam postado na web fotos de meninas feitas com uma micro câmera instalada no banheiro feminino. Apesar de ter poucas amigas, na verdade apenas algumas colegas que não ultrapassavam em quantidade os dedos de uma de suas mãos, teve a coragem de ver as fotos até mesmo para saber se também não fora vítima destes delinquentes virtuais. Por sorte o colégio tomou providências imediatas, localizando a câmera e acionando a polícia na tentativa de localizar os culpados. Mas, como internet é terra de ninguém, tais fotos já estavam espalhadas por sites ao redor do mundo, sendo difícil rastreá-las. Na verdade, todos sabiam que isto havia sido obra de Elvis Gardner, o líder negativo que causava quase todos os problemas dentro e fora da escola. Rapaz forte, louro como um normando, bonito, atleta e disputado pelas meninas, era na verdade um arrogante aproveitador que explorava aqueles que se sentiam atraídos por sua aura de poder e riqueza. Seus comparsas acabavam por fazer suas tarefas escolares e executar suas brincadeiras perniciosas e de péssimo humor para se manterem perto daquele que liderava e tinha o poder sobre todos os alunos. Elvis era filho do poderoso dono da Goodway Oil & Gas onde o pai de Clara trabalhava fazia poucos meses. Havia sido transferido da sede em Houston para gerenciar a prospecção nos arredores da pequena Snyder utilizando a tecnologia de injeção de dióxido de carbono para aumentar a pressão e facilitar a extração de petróleo. Para Clara, morar numa cidade tão pequena e que ao contrário de outras cidades, estava diminuindo de tamanho com a população decrescendo, com pouco mais de onze mil habitantes, era muito estranho. Para ela, Snyder era como aqueles pequenos vilarejos que só se vêm em filmes de mistério ou policiais onde poucas famílias tradicionais tomam conta da cidade com clãs muitas vezes formados de fanáticos religiosos. Mas, até então, nada disso havia sido sentido por ela. Muito pelo contrário. Fazia poucos meses que Clara estava estudando na Snyder High School e já havia percebido como as coisas funcionavam por lá. A escola era grande, com instalações até exageradas para uma cidade tão pequena. Muitas vezes percebia que Elvis sentia-se à vontade e intocável já que seu pai era muito amigo do Diretor da escola e seu maior provedor, bancando as festas e as atividades esportivas com o dinheiro de sua empresa. Clara temia que Elvis estivesse pretendendo alguma coisa com ela já que algumas vezes ele se insinuou, convidando-a para sair. Clara era uma linda menina, de pele muito branca, cabelos escuros, um corpo talvez até bem formado demais para sua idade o que a deixava com ares de mulher fatal bem ao gosto americano, de ancas largas e seios fartos, atraindo os olhares dos meninos que a desejavam em suas ebulições hormonais e de meninas que a invejavam, mesmo que se esforçasse parecer o contrário. Procurava usar roupas largas e bem simples tentando não se fazer de atraente. Isso fazia com que as outras garotas a achassem estranha. Mesmo assim era certo que Elvis iria fazer tudo para sair com ela pois era o mais novo e belo troféu da escola. E ela passava o período de aulas evitando até cruzar olhares com ele.

Clara ainda estava com seu coração ferido pois a transferência de cidade fez com que seu namoro terminasse. Apesar de Paul, seu namorado em Houston ter insistido para continuarem se falando, Clara preferiu terminar a relação para não prolongar uma coisa que acabaria mais cedo ou mais tarde. Paul era um ótimo rapaz, com um futuro brilhante, estudioso, mas Clara não queria que ela fosse um empecilho em sua vida. Paul ainda sofria e tentava reatar o namoro com longos e-mails, mensagens no celular e em suas redes sociais.

Aliviada por não estar na lista das meninas fotografadas e filmadas pela gang de Elvis, mas ainda assim temerosa do que ele poderia aprontar com ela, Clara chegou na escola para seu último dia de aula. Era julho e o período de férias era esperado por todos. Clara só lamentava não poder viajar pois seu pai estava muito ocupado com os projetos da Goodway Oil & Gas e sua mãe havia conseguido um emprego como repórter do Snyder Daily News naquela semana. As férias de Clara seriam dedicadas a seu vlog, ler, fazer algumas resenhas e decorar seu quarto. Antes mesmo de chegar em sua sala de aula, Elvis a parou abruptamente no corredor, segurando-a pelo braço, dizendo: - Clara, Clara, Clara. Neste semestre não consegui que você saísse comigo. Poxa, sou um cara legal, mesmo que falem o contrário. Tenho maior tesão em você e tenho certeza de que você não vai se arrepender em dar umas voltas no meu Ford GT-40. E se não quiser, posso dar um jeito de falar com meu pai. Ele pode criar alguns probleminhas para o seu papai lá na empresa. E acho que você não vai querer isso, não é? Ou você acha que eu não sei que ele está trabalhando como novo gerente na Goodway? Clara, espero que nestas férias você reconsidere meus convites, ok?

Clara empurrou o braço de Elvis e correu para sua sala de aula. A vontade que ela tinha era de chorar, vomitar, gritar. Mas teve que se conter e entrar solenemente na aula já iniciada. Usaria as férias para tentar pensar em alguma coisa para se livrar do assédio de Elvis e preservar o emprego de seu pai. Elvis era tudo que uma garota queria como namorado. Porém, uma coisa faltava a ele e que Clara prezava muito: caráter. E esta falta, ao contrário das outras garotas que disputavam uma saída com ele, fazia com que ela tivesse uma grande repulsa.


O amor que caiu do céuOnde histórias criam vida. Descubra agora