O amor que caiu do céu

A cilada

Clara e Abasi seguiram o carro de Elvis que entrou numa pequena estrada de terra. Por conta da velocidade alta, as colunas de poeira impediam a visão da estrada. Abasi resolveu diminuir a velocidade para poder enxergar um pouco melhor deixando o carro de Elvis se afastar um pouco.

- Vamos deixar ele seguir um pouco mais à frente. Não consigo enxergar nada com essa poeira toda - disse Abasi.

O carro de Elvis desapareceu logo após subir numa pequena ladeira, deixando apenas o seu rastro de poeira. Ao chegarem no alto da ladeira, puderam ver o carro de Elvis ao longe, se aproximando de um campo de petróleo abandonado. Abasi parou o carro para olhar com calma a paisagem. A visão era impressionante. Torres de petróleo, cavalos mecânicos, tanques de óleo, caminhões e tratores abandonados. O local era árido e deserto, escondido num vale. Puderam ver o carro de Elvis parar na frente de um enorme galpão. Apesar de deserto, o lugar parecia seguro, um refúgio perfeito. E, fora a presença de Elvis, parecia não ter mais ninguém.

- Então, o que você acha? É seguro? - perguntou Clara.

- Não sei, mas não temos para onde ir. Além do mais, precisamos saber mais sobre o que está acontecendo. Quero que ele me diga o que sabe sobre meu pai.

Abasi acelerou o carro e logo chegou diante do galpão. A porta estava aberta e ambos caminharam vagarosamente, olhando para todos os lados, preocupados se estariam sendo observados. Entraram no galpão escuro, sem iluminação. Por conta da forte claridade do lado de fora, ficaram parados na entrada tentando acostumar seus olhos à escuridão. Ainda do lado de fora, Abasi chamou por Elvis mas não obteve resposta além de sua própria voz ecoando no galpão. Chamou mais uma vez e, ao invés de uma resposta, ouviram um barulho metálico como um tubo caindo.

- Abasi, não estou gostando nada disso. Melhor irmos embora!

- Vamos esperar mais um pouco. Estamos seguros aqui. Talvez ele tenha entrado por alguma porta, um escritório vazio, uma sala qualquer, ou até mesmo tenha ido ao banheiro!

- Abasi! Clara! Entrem! - gritou Elvis com a voz vinda do fundo do galpão. - Estou aqui no fundo! Podem entrar, estão seguros aqui.

Clara e Abasi se entreolharam e resolveram entrar. Alguns furos no telhado metálico deixavam passar alguns pequenos fachos da luz do sol criando uma assustadora iluminação. Caminharam devagar por entre peças, tubos, máquinas, geradores e algumas grandes caixas metálicas fechadas com correntes.

- Venham, estou logo aqui! Não tenham medo! - gritou mais uma vez Elvis.

Caminharam mais alguns metros até conseguirem ver Elvis, sentado em uma mesa improvisada feita de um grande carretel de madeira desses onde se enrolam cabos flexíveis.

- Sentem-se! Precisamos conversar. Acho que tenho algumas informações que poderão interessar a vocês.

- A empresa de meu pai está utilizando uma tecnologia de extração de petróleo com a utilização de gás para aumentar a pressão dos poços considerados improdutivos. Chamam isso de tecnologia de gás lift, já usada em diversos países. Seu pai mesmo, Clara, é um especialista nesse processo de extração. Mas isso começou a chamar a atenção das forças armadas pois esse gás estava se infiltrando no solo e poderia interferir numa série de testes militares que estavam programados para toda esta área além de causar problemas de incêndios e explosões descontroladas. Um desses poços explodiu recentemente, mas a empresa conseguiu esconder da imprensa. E essa explosão criou uma enorme cratera desenterrando um objeto não identificado que estava escondido a dezenas de anos no meio do deserto. Não houve mortos, pois ao perderem o controle da pressão do gás, o campo foi evacuado. Mas, alguns engenheiros e o pessoal da segurança acabou descobrindo o objeto ao voltarem por lá para avaliarem os estragos. Após a chegada das forças armadas, o local foi interditado e todos os que estavam no lá foram abduzidos e devolvidos sem qualquer vestígio de memória. Meu pai teve que pagar milhões de dólares de indenizações às famílias dos funcionários pois estes ficaram completamente inutilizados para o trabalho. Meu pai foi poupado. Porém, agora querem que a empresa pare com a prospecção de petróleo aqui na região e isso pode levar a empresa à falência. Meu pai estava fazendo de tudo junto ao Senado para impedir a cassação do direito de explorar petróleo e estava quase conseguindo. Ele jamais poderia contar o que aconteceu realmente pois seria dado como louco. Mas, para ameaçar meu pai, me abduziram. E querem que eu mande um recado para meu pai. Pediram que eu entregasse isso a ele - Elvis mostra para Clara e Abasi uma placa de cristal.

- Um gerador de hologramas! - concluiu Abasi ao ver o pequeno artefato.

- Nem sei como isso funciona, mas me disseram que meu pai receberia um aparelho para conectar este cristal e ver a mensagem. O problema é que, enquanto eu estava na nave, pude ver um oficial, um militar, conversando com um dos tripulantes. Acreditem, nossos militares já estão íntimos destes extraterrestres! Ouvi parte da conversa sobre a importância de encontrarem Abasi, seu pai e Clara. Não entendi a razão, mas não poderia deixar de contar para vocês. Abasi, seu pai corre perigo. Não sei por que razão. E quanto ao meu pai, estou esperando ele voltar de Washington para conversar pessoalmente com ele, contar o que aconteceu comigo e mostrar este objeto. Até lá, estou escondido aqui pois sei que tentarão me vigiar. Acho que tem muitas outras coisas enterradas aqui na região e não querem que saibam.

- Elvis, lamento dizer, mas você já está sendo vigiado. Certamente implantaram sem que você soubesse, um dispositivo de transmissão e localização.

- Clara, vamos embora. Eles já sabem onde estamos. Elvis, desculpe, mas a sua estratégia de nos trazer até aqui foi uma armadilha. Talvez você nem tenha consciência disso. Mas, não precisava contar toda essa história para tentar nos manter aqui.

- Mas eu estou contando a verdade! - exclamou Elvis.

- Você acha que está contando a verdade. Você sofreu uma mutação neural seletiva. E agora que sua missão acabou e não deu certo, tenho certeza de que seu fim está próximo. Lamento por você e por seu pai.

- Clara, vamos agora. O que acontecerá em seguida não será muito bom de se ver.

- Abasi, me ajude! - gritou Elvis.

- Agora é tarde demais, caro Elvis.

Neste instante, na nuca de Elvis, onde foi implantando um chip, um buraco surgiu queimando toda a sua borda e aumentando como se sua pele fosse abrindo como uma cratera de lava quente expondo o final de sua coluna vertebral. Elvis gritou com muita dor e um grande pavor nos olhos enquanto sua pele foi se desfazendo até seus tendões e ossos aparecerem e, rapidamente sua pele e músculos de todo seu corpo foram desaparecendo até que somente seus ossos desmontaram no chão junto de suas roupas.

- Meu Deus, que horror - gritou Clara.

-Isso acontece quando alguém que sofre uma mutação neural não consegue atingir o objetivo para o qual foi programado. Desculpe você ter visto essa cena grotesca.