A abdução de Clara

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Já haviam se passados dez dias desde a queda do misterioso meteorito. Sim, era esta a versão "oficial". Na cidade já não se falava mais no assunto. Parecia até que haviam abafado o caso para que ele caísse no esquecimento de todos. Menos de Demmy. Sua obsessão pelo assunto causava espanto em Clara. Todos os dias ela trazia algum dado novo e estava muito ansiosa pois naquela tarde iria encontrar-se com o tal fazendeiro que viu um pedaço desprender-se antes da explosão da queda. -Soube que houve um caso aqui mesmo na cidade, em 2013, acho que no mês de abril. Uma grande nave foi vista por um casal quando saía de casa em seu carro. Outro fato aconteceu em 2011, na Route 84, a umas 30 milhas de Snyder. Fora outros fatos que acontecem com frequência nas cidades e nos campos desta região. Entrevistar este homem será muito bom para elucidar o caso. O Michael, Diretor de Redação do jornal, pediu que eu deixasse isso de lado já que, apesar de vender mais jornal, pode atrapalhar a reputação pois o Snyder Daily seria comparado a tabloides sensacionalistas e ele não quer que isso aconteça. Mas, na verdade eu acho que ele deve ter recebido alguma instrução das forças armadas. Na semana passada, vi ele numa reunião com oficiais fardados, acho que eram da força aérea. Depois disso ele veio com esta conversa. Mas vou insistir. Tenho certeza de que se eu encontrar uma história com fontes reais e bem documentadas, ele vai colocar a matéria no jornal.

Demmy não parava de falar sobre o caso. Isso a deixava extremamente alterada. Mas isso tinha um motivo. Quando ainda moravam em Houston, no excelente bairro Afton Oaks, Demmy acordou com um barulho estranho vindo do quarto de Clara, nesta época com pouco mais de cinco anos de idade. Correu até lá e encontrou a cama vazia e a janela aberta. Desesperada, chamou Ben e, como loucos, vasculharam a casa, os jardins, a piscina sem encontrá-la. A polícia foi acionada e Ben correu para o sistema de gravação das câmeras de segurança para ver o que havia acontecido. Para seu espanto, a câmera que ficava direcionada para o jardim principal na frente da casa, capturou uma luz intensa que, vinda do céu, iluminou toda a área. Em seguida, a câmera ficou sem ação, voltando a funcionar depois de quase um minuto e meio. As outras câmeras que ficavam monitorando as áreas ao redor da casa, apenas registraram a forte luminosidade vinda do jardim principal. Nenhuma delas capturou imagens de alguém entrando ou saindo por qualquer porta. Demmy e Ben entraram em desespero e o caso do desaparecimento ganhou as manchetes dos jornais. Chegaram até a suspeitar que os próprios pais haviam matado Clara, tendo eles prestado depoimento na polícia. Foram três longos dias de pesadelos até que na noite do terceiro para o quarto dia, Demmy, já exausta e à base de calmantes, acordou com dificuldade no meio da noite com o choro forte de Clara vindo de seu quarto. Ao chegar lá com Ben, encontrou Clara em pé em sua cama usando o mesmo pijama da noite em que desapareceu. Imediatamente chamaram a polícia e a levaram a um hospital para fazer uma série de exames para saber se ela havia sofrido algum tipo de violência. Nada foi constatado. O casal ainda sofreu uma série de tentativas do Departamento de Justiça de tirar a custódia de Clara deles. Mas, depois de meses de processos, a caso foi estranhamente encerrado depois que uma das provas, a imagem capturada pela câmera, foi analisada pelo Estado Maior das Forças Armadas. Até hoje não sabem como as Forças Armadas tiveram acesso ao processo. Desde então, Clara teve problemas de convulsões, pesadelos, percepções muito acentuadas fazendo com que Demmy se convencesse a cada dia que ela havia sido abduzida. Até os quinze anos, o casal passou momentos muito difíceis com Clara. As frequentes convulsões, as dores de cabeça, os pavores noturnos, as visões e premonições eram contidas por eles com medo de que crescessem cada vez mais. As incansáveis idas a médicos que não conseguiam diagnosticar o problema, agravado pela falta de menstruação deixava Demmy apavorada. Mas, no dia em que completou quinze anos, Clara caiu num sono profundo. No dia seguinte, sábado, seria a sua grande festa em volta da piscina de sua casa, com vários convidados de seu colégio, e as famílias dos amigos de seus pais. Ia ser um grande evento social, com tudo que se pode ter de melhor em uma festa como esta. Demmy não conseguiu acordar Clara para ir à escola. Chamaram o Dr. Norris, médico amigo de Ben que após examiná-la, perguntou se ela não havia consumido nenhuma droga ou álcool pois era comum que amigos induzissem ela como uma espécie de rito de passagem. Porém, na noite anterior Clara ficou até adormecer conversando com sua mãe sobre os detalhes da festa sem demonstrar qualquer alteração. Enquanto conjecturavam todas as possibilidades, Clara abriu os olhos, colocou as mãos sobre seu ventre e soltou um forte grito. Todos se assustaram e Demmy pode ver que ela estava sangrando. Demmy conseguiu tirar Clara de seu estranho estado de transe e logo percebeu que ela havia ficado menstruada. Para alívio de todos, Clara estava bem e ela mesma acalmou seus brincando ainda com o fato de ter ficado menstruada no dia de seu aniversário: -Poxa, viram que presente eu ganhei? Desde aquele dia, Clara não teve mais nenhum sintoma dos males que acompanharam sua infância. Salvo os estranhos sonhos que começou a ter depois que a família se mudou para Snyder.

O amor que caiu do céuOnde histórias criam vida. Descubra agora