A luva prateada

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Demmy chegou em casa logo chamando por Clara e colocando sua bolsa e sua maleta sobre a mesa da copa. Clara não respondeu e Demmy foi caminhando até o quarto de Clara e a encontrou dormindo.

-Clara! Dormindo a esta hora? – disse ela abrindo as cortinas do quarto.

-Mãe? Que bom que você está bem! Tive um sonho horrível que tentavam tirar seu carro da estrada! E tinha uma luva...

Demmy ficou estática, gelada com o que ouviu de Clara.

-Como assim, filha? Como você pode saber disso? Ah, meu Deus, está acontecendo de novo! Você está tendo aqueles pesadelos novamente?

-Não mamãe. Ultimamente tenho tido uns sonhos muito bons – disse ela com um sorriso contido. Mas depois que arrumei a cozinha, vim para meu quarto gravar uns vídeos novos e senti um sono muito grande. E sonhei que você estava numa estrada, um carro bateu no seu... muito estranho. Depois um homem deu a você uma luva prateada...

-Filha, foi só um pesadelo. Não aconteceu nada comigo, está bem? Vamos lá ver alguma coisa para comer. Estou faminta!

Demmy resolveu esconder de Clara o que havia acontecido com ela. Escondeu a luva debaixo do colchão e ligou para o jornal pedindo que alguém fosse até lá buscar o carro, evitando que Clara percebesse os danos e constatasse que na verdade não fora um sonho. Na hora certa, se fosse o caso, Demmy contaria a Clara o que havia acontecido.

Depois do jantar, Demmy esperou que todos dormissem e ligou seu computador para ver os arquivos e vídeos que recebeu de Jack. Ela ficou a madrugada inteira vendo e ouvindo os relatos do velho rancheiro e ficou impressionada com o que descobriu. Havia ali um relatório muito rico em detalhes e com algumas fotos tiradas com o celular, pouco nítidas denotando a falta de habilidade com a câmera, principalmente sobre a queda do que seria uma aeronave e a fuga, antes do choque, de uma cápsula que saiu da nave principal, visivelmente avariada. Como já estava quase amanhecendo, resolveu deixar o trabalho de compilação das informações para o dia seguinte. Estava exausta.

Demmy acordou tarde e viu que Ben e Clara ainda dormiam. Era um sábado e o clima era de preguiça. Ainda mais para Clara que iria recomeçar as aulas na segunda feira seguinte. Levantou, preparou o café e aos poucos todos chegaram na cozinha como que levados pelo delicioso cheiro do café sendo preparado. Clara parecia um pouco abatida.

-O que houve, minha filha? Não dormiu bem? – perguntou seu pai.

-Não. Tive muitos pesadelos. E estou me sentindo estranha, um pouco fraca, sei lá. É como se estivesse sem energia.

-Quer tomar alguma coisa? Aproveite que vou ao clube jogar com a turma do trabalho e quando voltar posso passar numa farmácia e comprar alguma coisa. – disse Ben.

-Filha, acho que tenho alguma coisa na minha bolsa lá no quarto. Acho que deixei em cima da cama. Vai lá pegar a bolsa para mim enquanto termino estes waffles. – pediu Demmy.

Clara foi até o quarto e quando se aproximou da cama, sentiu-se ainda mais fraca e caiu desmaiada. O baque de sua cabeça contra o chão de tábuas assustou seus pais que correram até lá, encontrando-a desacordada. Ben pegou-a no colo de a colocou sobre a cama. Mas Demmy, lembrando que havia deixado a luva sob o colchão, gritou: - A luva! Deve ser isso! – levantando o colchão e apanhando a luva prateada que agora aprecia acesa, brilhando intensamente.

-O que é isso, Demmy? – perguntou Ben assustado. De onde raios saiu isso?

-Tire ela daqui agora! Depois eu explico sobre esta luva. Leve Clara para seu quarto e traga um pouco de água. – gritou Demmy, levando a luva até a garagem, longe de sua filha.

Logo que foi posta sobre sua cama, Clara recobrou os sentidos e perguntou o que havia acontecido. Ben também esperava por uma resposta de Demmy que resolveu contar o que havia acontecido na noite anterior e sobre a luva dada pelo filho do velho Raymond.

Passado o susto, resolveram ficar juntos por todo o final de semana. Demmy, que até então estava decidida a levar adiante a investigação sobre o caso, prometeu a Ben e a Clara que iria repensar se iria continuar com a matéria. Mesmo com a melhora de Clara, ela e Ben ainda estavam intrigados com a luva prateada.

-Mãe, lembra que te contei que sonhei com esta luva? Era exatamente como esta! E tudo o que aconteceu com você, com o carro! Eu vi claramente o que aconteceu com você! – disse Clara assustada.

-Clara, você sabe que desde pequena que você tem sonhos assim. Isso mostra o quanto estamos conectadas. É estranho mas sei de outros casos de pessoas que tem este tipo de visão enquanto dormem. Mas você não deve se assustar.

Demmy insistia que a tal luva deveria fazer parte de alguma vestimenta espacial, deixada no local onde caiu a suposta nave. Ben pediu que Demmy o levasse até onde ela havia guardado quando Clara sentiu-se mal. Ao chegarem na garagem, assustaram-se com o barulho do carro ligado. O monóxido de carbono havia tomado conta do lugar fazendo com que ambos tivessem dificuldades para respirar. Ben correu para abrir a porta automática enquanto Demmy abria a porta do carro para desliga-lo. A luva ainda jazia no chão junto ao carro, irradiando um intenso brilho. - E você continua achando que isso é daqui deste planeta? Demmy disse isso abrindo um armário de ferramentas de onde tirou um pote de vidro cheio de parafusos, jogando todos no chão e colocando nele a luva que brilhava intensamente.

-O que vamos fazer com isso? – perguntou Ben.

-Ainda não sei... mas não podemos deixar que saibam que temos isso. – disse ela guardando o pote no armário de ferramentas.

O amor que caiu do céuOnde histórias criam vida. Descubra agora