Burnout

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-Mãe, tem alguma novidade no caso do Elvis e de Nathaly? Na escola dizem que eles foram sequestrados!

-Filha, sabemos que não foi sequestro. Mas no jornal é esta a versão que está sendo divulgada. Já imaginou se eu escrevo que ele foi abduzido? Seria demissão na certa! E Abasi? Já voltou a frequentar a escola? Também não tenho notícias dele. – perguntou Demmy.

-Nada, mãe. Nenhum contato.

Lá na empresa não se fala de outra coisa. O patrão está arrasado. Dizem até que ele está internado em um hospital em Houston mas eu sei que não. Estamos trabalhando no aumento de pressão de uns poços antigos aqui perto. Começamos a usar a tecnologia de injeção de dióxido de carbono para aumentar a produtividade do poço já que técnicos do governo afirmaram que as injeções de água estavam desestabilizando o solo. Alguns tremores de terra começaram a acontecer e atribuíram este fenômeno aos poços. Mas tenho minhas dúvidas. Um dia desses eu estava fazendo alguns testes de pressão e pude ver o patrão entrando num furgão preto. Parecia um carro do governo. Agora, pensando bem, os caras que o estavam acompanhando pareciam muito com os dois que vieram aqui na semana passada. – comentou Ben. O Detetive Gregory não tem novidades?

-Lá no jornal estão tentando marcar uma reunião com ele mas está difícil. Ele está sempre em diligências tentando desvendar este mistério. Pobre Gregory. Procurando pelos desaparecidos olhando para o chão quando deveria estar olhando para o céu. O pior é ver ele dando voltas como uma barata tonta e eu sem poder dizer nada do que sabemos. – Lamentou Demmy.

- Bem, família querida! Que tal esquecermos estes problemas e curtirmos um agradável domingo assistindo a um verdadeiro burnout? Vai ser hoje no Towle Park. Começa daqui a pouco. – sugeriu Ben.

-Não me diga que aqui também tem burnout? Uau!!! Adorava ver todos aqueles carros antigos expostos lá em Houston! –Disse Clara entusiasmada com a ideia.

-Sim, mas aqui ainda temos o verdadeiro burnout. Além dos carros expostos, tem show de pneus queimando, aqueles carros que ficam parados com as rodas traseiras acelerando até os pneus começarem a queimar! É um show de fumaça incrível e divertido! Lá em Houston proibiram isso. Mas aqui em Snyder ainda mantém a tradição. Todos concordam? Acho até que dá para comermos uns tacos por lá.

-Melhor vocês irem – disse Emmy - Tenho que preparar uma matéria para a edição de amanhã. E além disso, me dói queimarem pneus por diversão. É jogar dinheiro fora, além de poluir o ambiente. Vou ficar em casa. Se forem na pick-up de Clara, cuidado para ela não acabar sendo peça de exposição! Tragam algo para comermos mais tarde. Até lá já terei terminado o texto e aí poderemos assistir a um filme comendo algumas guloseimas bem calóricas. – disse Demmy enquanto retirava as coisas da mesa do café da manhã.

Ben e Clara chegaram no Towle Park que a esta altura já estava lotado. Os lindos carros antigos parados lado a lado, expostos por seus cuidadosos donos, impressionavam. Ao longe, o som de motores acelerando chamava a atenção de todos. Estava começando o burnout. Ben segurou Clara pelo braço e correram até lá. No caminho, Clara disse ao pai para ir procurar um bom lugar para assistir e foi até a fila da barraca de sorvete. A fila não estava grande e logo foi atendida. Pediu dois milk-shakes de baunilha e ao pegar seu pedido, levou um susto tremendo: Nathaly, com o uniforme da sorveteria, entregou a ela os dois copos. Clara gritou:

-Nathaly! Você voltou! O que aconteceu com você?

Nathaly não esboçou nenhuma expressão. Mais parecia um robô, um zumbi. Olhar sem nenhuma expressão. Clara ainda insistiu mas viu Nathaly indo para o fundo da barraca. Tentou chamá-la, mas foi empurrada por jovens que queriam ser atendidos com pressa de chegarem para ver o show. Clara ainda pode ver Nathaly passando por trás da barraca de sorvetes se dirigindo até um carro onde estavam dois homens de terno preto, talvez os mesmos que invadiram a sua casa. Viu que ela se abaixou, falou algo para o que estava na direção e em seguida apontou na direção de Clara abrindo a boca como que emitindo um som inaudível por conta das músicas e do ronco dos motores. Clara, assustada, correu até seu pai, mas não conseguiu encontrá-lo. Continuou andando no meio das pessoas que se aglomeravam e gritavam a cada carro que esfumaçava o lugar com seus pneus queimando no asfalto. O cheiro de borracha queimada era muito forte e incomodava Clara. Por entre a multidão, ela pode ver que os dois homens misteriosos estavam procurando-a. Ao avistarem Clara, começaram a persegui-la. Assustada e sem encontrar seu pai, resolveu tentar voltar ao estacionamento quando foi abruptamente segurada pela cintura e levada para um estreito corredor que ficava entre dois motohomes e de lá, foi puxada para baixo de um deles. Clara, aliviada, viu quem a tirou daquela angustiante situação:

-Abasi! Por onde anda você! Pensei que algo ruim tinha acontecido!

Abasi vez sinal para que ela ficasse em silêncio e ambos viram os sapatos de couro preto pararem diante dos motohomes. Depois de alguns segundos, continuaram procurando por Clara, deixando o caminho livre.

-Abasi, preciso encontrar meu pai! Como soube que eu estava aqui?

-Calma, Clara. Fui procurar por você na sua casa e sua mãe me disse que vocês estavam aqui. A coisa não está ficando boa. Estão apertando o cerco. Desconfiam que você é a chave que eles precisam. Tenho que tirar você daqui. Você e sua família estão correndo perigo.

-Mas, e Nathaly? Porque ela está daquele jeito? Porque não noticiaram que ela retornou?

-Clara, Nathaly e a família dela já não são mais como você e sua família. Já sofreram um processo de mutação neural. Nem moram mais na mesma casa. Agora estão conectados aos Greys e servem como sondas, para se misturarem entre os humanos e passarem informações. Por este motivo estão abduzindo as pessoas.

-Mas, eu pensei que estavam fazendo isso para tentarem encontrar você!

-Sim, eles tentaram. Mas resolveram mudar a estratégia. O pior de tudo é que devem estar fazendo isso com o apoio das forças armadas. Esta tecnologia pode criar incríveis soldados sem medos, sem sentimentos, sem dor. Vamos, no caminho eu te explico melhor.

-Mas, e meu pai?

-Fique tranquila. Ele já está indo para casa. Falei com ele antes de te encontrar.

O amor que caiu do céuOnde histórias criam vida. Descubra agora