Um Chip em Clara

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Abasi foi com Clara até o estacionamento e entraram na pick-up. Correram em disparada, despistando os dois homens que estavam à procura dela. Clara começou a sentir-se mal, com as mesmas sensações de quando sua mãe levou a luva prateada para casa.Neste mesmo instante, Abasi percebeu que estavam sendo seguidos por um carro.

-Abasi, não estou me sentindo bem.-disse Clara tentando lutar contra o estranho mal estar.

-Clara, abra o porta-luvas! – gritou Abasi.

Clara prontamente abriu o porta-luvas e encontrou a luva que brilhava intensamente.

-Agora pegue a luva e calce em sua mão direita!

-Mas,esta luva me tira toda a energia. Já estou me sentindo muito mal!

-Faça o que eu digo, estamos sendo seguidos e eu não posso largar a direção – disse Abasi acelerando ao máximo a velha pick-up.

Clara obedeceu e colocou a luva em sua mão direita. Neste mesmo instante, sentiu uma força inexplicável.

-Agora, rápido, pense em ser transparente! – gritou Abasi tentando desviar do carro que já havia alcançado a velha pick-up.

-Como assim?

-Clara, é muito simples! Pense em ficar transparente, invisível! É só pensar! Será que você é capaz de pensar? - gritou Abasi com a voz alterada evitando sair da estrada após ser abalroado pelo carro que os perseguia.

-Esses caras são profissionais! Devem ser do exército, FBI, sei lá! Anda logo! Faz o que eu te pedi senão eles vão acabar nos pegando!

Clara fez o que Abasi pediu. Fechou seus olhos e imaginou ser transparente. Não foi muito fácil para quem nunca havia tentado. Assim que começou a pensar nisso, a pick-up começou a vibrar como se fosse uma tremenda interferência de televisão.

-Isso, continue, precisamos ficar transparentes para esses caras! Você consegue!

De repente, tudo ficou branco. Não havia sinal do carro, da estrada, nada. Apenas um silêncio e a presença de Abasi. Ambos estava em algum lugar no meio do nada.

-O que aconteceu? Onde nós estamos? – perguntou Clara, completamente atônita.

-Poxa, nunca imaginei que você fosse capaz de os trazer até aqui. Isso só uns poucos de nós conseguem. Já tentei e nunca consegui.

-Do que você está falando?

-Você nos trouxe até o limbo.

-Limbo? O que é isso?

-Aqui é lugar algum. Estamos fora do tempo e do espaço. No nada. Mas não podemos ficar aqui muito tempo. Rápido, pense na sua casa, num outro lugar, sei lá! Rápido! Senão não sairemos mais daqui!

Clara ainda sem entender o que estava acontecendo, fechou os olhos e pensou em seus pais. Num piscar de olhos, estavam em segurança dentro da garagem de sua casa.

-Meu Deus! E eu que pensava que este tipo de coisa era fantasia, ficção científica, sei lá!

-Não, isso é coisa séria. E você vai se surpreender com outras coisas que irá saber.

-Abasi, antes de sairmos do carro e você desaparecer novamente, eu exijo uma explicação: O que eu tenho a ver com estes caras que vieram aqui em casa e agora estão me procurando?

-Clara, você é peça importante neste jogo.

-Peça? Jogo? De que raios você está falando?

-Escute, você sabe da história de sua abdução quando criança. Quando sumiu por uns dias, lembra?

-Sim, não lembro do que aconteceu. Eu era muito pequena. Só sei o que meus pais me contaram.

-Cientistas de meu planeta estavam analisando várias crianças ao redor do mundo para tentar encontrar algumas que tivessem um código genético certo para tentar adequar ao nosso sem a necessidade de fecundação natural, você sabe, do jeito tradicional. Os machos de meu planeta estão quase todos estéreis, exceto alguns que já estão ficando velhos. O que procuravam era fazer clones de humanos com DNA de nossa raça para tentar criar híbridos férteis. Meu pai liderava estas pesquisas. E você foi uma das escolhidas e levada até Vega. Foram tiradas várias amostras de seu sangue e de alguns órgãos. De você e de outras crianças. Infelizmente algumas não sobreviveram, mas você foi devolvida pela equipe de meu pai. Porém, meu pai descobriu que a intenção dos líderes de Vega era nefasta.

-Como assim? – perguntou Clara.

- De posse dos códigos genéticos e de suas variações, o próximo passo seria a invasão da Terra com estes seres híbridos e a destruição da humanidade para que nós de Vega podéssemos habitar este planeta. Meu pai descobriu toda a trama e resolveu fugir. Só que com outro propósito.

-Que propósito?

-De proteger nós dois pois dentro de você existe um chip com todas as informações que podem levar a perpetuação de nossa espécie.

-Um chip? Em mim? Como assim? – disse espantada olhando para seu próprio corpo e estranhando ainda estar usando a luva.

-Sim. E a mim pois sou um resultado da mistura de nossas espécies que deu certo. E eles estão atrás de nós. Depois que você foi abduzida e teve amostras retiradas de você, meu pai implantou o chip contendo todo o mapeamento genético do que seria a nova raça de Vega. Com você, todo o trabalho de meu pai estaria seguro e longe das mão dos líderes de meu planeta.

-Clara – continuou Abasi – Meu pai é um dos poucos homens férteis de Vega. Quando caiu aqui na Terra, naquele acidente em Roswell, ele se apaixonou por minha mãe. Deste amor eu nasci. Parecia impossível, mas minha mãe engravidou de um extra-terrestre, como vocês chamam. Quando nos levaram de volta a Vega meu pai continuou suas pesquisas, mas ao descobrir toda a trama de invasão, resolveu que deveríamos fugir. O resto você já sabe. Fomos perseguidos e nossa nave abatida.

-Mas faz tanto tempo que aconteceu o incidente em Roswell! Acho que foi em 1949!

-Não. Foi em 1947. Isso não quer dizer nada pois os tempos em Vega e na Terra são diferentes. O que parece muito tempo aqui é pouco tempo por lá.

-Então, pelo tempo da Terra você tem...

-Sessenta e oito anos. Nasci depois de dois anos que meu pai caiu na Terra.

-Mas, parece tão jovem...

-Mas sou jovem. Biologicamente temos quase a mesma idade! Olha, é uma relação muito complicada de explicar agora. É coisa de espaço, tempo...

-Relatividade, Einstein... – completou Clara.

-Isso! Agora, vamos ver se seus pais estão em casa. Vou dizer que vou levar você para a fazenda onde moro. Lá estaremos mais seguros e pensaremos como iremos nos livrar disso tudo. Talvez meu pai possa explicar melhor do que eu. Afinal, ele é responsável por estas experiências genéticas.

-Já estou odiando seu pai mesmo antes de conhecê-lo. Imagina, implantar em mim um chip!


O amor que caiu do céuOnde histórias criam vida. Descubra agora