Realidade

173 50 17
                                    

- Em alguns minutos o sinal vai tocar.- comentou ela.

- Melhor a gente ir pra sala.

- Vai na frente, não quero chegar junto com você pra não ficarem te zuando.

- Eu não me importo.

- Eu sim.- falou ela, limpando o rosto com a manga da blusa.

Rafa sorriu sem graça, devia ser complicado mesmo chegar assim do nada ao lado dele.

- Beleza, te vejo na aula.- disse ele, saindo.

Dani esperou um pouco para sair, mas assim que pisou no pátio sentiu um pavor:" se ele contar eu vou ser a piada da escola", então foi até o estacionamento e sem ser vista, saiu da escola.

Não podia chegar cedo em casa, não que a mãe ou o pai estivessem, não estavam. Na verdade, ela nem sabia direito o horário de trabalho deles, mas morava em um apartamento e as vizinhas tinham o cuidado de vigiar os adolescentes.

Foi até um parque público, passou pelo playground, pelo laguinho onde as carpas coloridas ofereciam um espetáculo às crianças, pela pista de skate e entrou em um banheiro.

Lavou o rosto e olhou-se no espelho.

Não se achava bonita, era comum, comum demais até. Uma adolescente de dezesseis anos magrela e desajeitada, com o rosto parecendo um campo de guerra por causa da porcaria da acne, com o cabelo esticado porque a mãe achava melhor assim, com tudo errado demais e feio demais.

Entrou num dos espaços vagos, sentou-se na privada depois de ter baixado as calças até os joelhos e com a gilete cortou as coxas.

Era uma sensação boa a de ver o sangue brotando, como se com ele saisse dela todo o incômodo que sentia, chegava a sorrir ao ver o sangue  de um corte juntar-se aos demais e escorrer lentamente até pingar no vaso ou no chão.

A mãe havia visto uma calça jeans manchada de sangue, mas Dani dissera ser do fluxo menstrual e pronto: tudo resolvido.

Melhor assim...mais fácil assim:"O que os olhos não vêem o coração não sente", ou finge não sentir.

Rafa pediu licença a professora e sentou-se no seu lugar no fundão.

- Matando aula hein? Que feio.- zombou Bruno.

- Já se olhou no espelho, mistura de Majin boo e Capiroto?- respondeu Rafa.

- Se eu estiver atrapalhando os senhores, posso parar a explanação para vocês conversarem.- falou a professora.

- Foi mal, professora segue aí com o espanador.- Bruno fez a classe dar risada.

Ana Luisa mandou que se calassem e continuou a explicação.

Rafa olhava ansioso para a porta, não entendia bem o porquê, mas se preocupava com Dani.

Faz Parar...Onde histórias criam vida. Descubra agora