Faz Parar!

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A tristeza de João era evidente, ele estava abatido e tinha perdido o brilho no olhar.

Dani levantou- se para ir ao banheiro, havia levado uma gilete no bolso, não sabia lidar com as emoções e com a morte de Yurico se cortava todos os dias, como Rafa passava o maior tempo com João não havia notado as novas marcas.

Dani cortou o braço, o sangue brotou. Sempre brotava. Sempre estava lá. Mas a questão era: até quando?

Até quando vale a pena insistir numa vida tão medíocre? perguntava- se, afinal em breve sua mãe voltaria com a história de teste vocacional e toda aquela cobrança.

Yurico viveu e morreu tentando realizar a droga do sonho dos pais. E ela não estava fazendo o mesmo? Talvez não da mesma forma, mas vivendo uma vida que não era sua. Nem o cabelo era do jeito que queria, a mãe decidira alisá- lo e ponto.

Com a revolta entalada na garganta e as lágrimas ardendo nos olhos ela direcionou a gilete aos cabelos e com esforço começou a cortá- los. Conforme a raiva crescia, as lágrimas e o desespero também aumentavam e Dani apertava com tanta força a gilete que cortou os dedos e o sangue misturou- se aos cabelos que agora ela arrancava aos gritos.

Uma das garotas escutou os gritos e foi chamar Rafa que correu até o banheiro feminino sem se importar com as curiosas que se aglomeravam lá.

Gritou para Dani se afastar da porta e com um chute a arrombou, encontrando a namorada suja de sangue e com fios de cabelo por todo lado.

Abraçou- a e apertou- a junto ao peito, enquanto a tirava de lá, ia sussurrando que tudo ficaria bem.

- Faz parar, Rafa. Faz isso tudo parar, por favor.- implorou ela.

João e Bruno conseguiram alguém de carro para levar o casal embora. Rafa levou- a para sua casa.

A mãe estava visitando alguma amiga com a irmã e o padrasto estava trabalhando, com a casa vazia Dani sentiu- se menos exposta, mas ainda chorava quando Rafa a despiu e praticamente a deu banho, a água morna misturou- se as lágrimas e ao sangue seco.

Com muito cuidado ele lavou o que restara de seu cabelo, seu rosto e corpo, sem malícia, só havia amor e preocupação em seus olhos.

Desligou o chuveiro e a envolveu em uma de suas toalhas, depois levou- a até a cama, e pôs band- aid nos dedos dela e nos cortes do braço.

- São de bichinhos porque são da Carol.- justificou.

Dani estava um pouco mais calma,porém não conseguia falar, não queria.

Rafa deitou- se ao seu lado e a abraçou, acariciando seu ombro.

Aninhada nele, Dani chorou baixinho até adormecer.

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