O remorso

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🌌Autora🌌

Abraçada em um canto escuro e isolado, ela deixou que as lágrimas tomassem conta de seu ser. Ela imaginava que chorando a tristeza,  que parecia se apoderar cada vez mais de seu ser, fosse embora, e no lugar só ficasse a esperança e otimismo de um dia melhor, um dia onde tudo retorna ao normal e ela pratica um amor proibido com seu irmão, longe de qualquer cadeia e de qualquer testemunha, apenas ele e ela se alisando na densa escuridão, entregando-se ao único prazer de uma vida de proibições e pecados. Mas como ela estava enganada: as lágrimas não cessaram, ao invés disso ficaram mais insistentes ao ponto de ela mesma se assustar com um de seus próprios gritos.

Ela chorou berrou e se esperneou,  esperando que alguém a resgatasse de seus próprios demônios e angústias, mas ninguém apareceu. Ninguém sequer sabia que existia aquela cela, quantos mais uma prisioneira berrando e se espernaeando, lutando contra seus demonios interiores e aguardando ansiosamente o amanhecer.  Ninguém sequer notaria sua existência e isso fez com que ela desmoronasse cada vez mais. A imagem de Robert, entretanto, apareceu em sua cabeça, e ela pode ver a sua imagem demoníaca rindo dela, enquanto se excitava em pensar que um dia ele a possuiria. "Ninguém irá te escutar. Pare de tentar! É inútil! Viu? Nem doeu tanto. É só uma penetradinha,  Mabel, nada mais", ela conseguia escutar as falas do policial em um futuro incerto, rindo e sarcástico como sempre. As lembranças horríveis e humilhantes retornaram a sua mente e, em um grito que fez sua garganta doer, ela retornou a chorar cada vez mais forte.

Por fim, seus olhos se cansaram daquele ato inútil. Pra que chorar e se lamentar dos erros e acertos  sendo que tudo já estava perdido mesmo? Ela não queria pensar desse jeito, mas a realidade se mostrava assim e era impossível igonora-lá. E realmente não dava pra igonora-lá, já que ela é tudo que nos cerca e é tudo que faz com que queiramos ser outros tipo de pessoa, mesmo quando somos  pessoas únicas, e, por isso,  incompreensíveis . Pensar assim doía, mas ela nada podia fazer,  estava fraca demais para debater consigo mesma que aquilo era mentira e que logo ela retornaria para os braços de seu irmão. E mesmo se a força não lhe faltasse,  ela não discordaria, não diria que sua boa consciência estava errada,  pois lá no fundo ela sabia muito  bem que aquela era a pura realidade, e, sendo ela boa ou ruim,  não existe forma de nega-lá ou igonora-lá.

E de repente uma pergunta brotou em sua cabeça: "O que seria de Dipper se a sociedade inteira desvobrisse seu romance proibido?".  Sua cabeça pareceu girar e os olhos, que antes tão cegos por causa de uma paixão furiosa e avassaladora, pareceram pela primeira vez enxergar todos os pecados e coisas inapropriadas que os dois estavam a cometer. É claro que ela sabia que os dois estavam cometendo um erro - Eram irmãos por Deus! -, mas estava cega de amor e não conseguia enxergar nada além das coisas positivas daquele relacionamento. E pelo contrário, não fora a questão do incesto que a deixou alarmada,  mas sim o que ela estava fazendo com a vida de seu irmão.

E de repente a frase que sua mãe sempre usava para justificar o porquê de ainda estar com seu pai nunca lhe pareceu fazer tanto sentido. A mesma frase que a fazia cerrar os dentes de ódio por sua mãe ser trouxa, agora parecia refletir com impacto gigantesco em sua vida:

- Quando a gente ama, é difícil enxergar os defeitos...

E agora parecia que aquela simples frase explicava toda sua cegueira diante de todos os males que fizera na vida do irmão.

Ela agarrou o cabelo em tamanha frustação. Como não tinha pensado nisso antes? Como não tinha notado que ela estava condenado o próprio irmão? Que ela nunca foi a claridade dele, mas sim o abismo, por onde ele se jogava e caia na tormenta escuridão. Como ela não tinha nunca notado isso? Como? Fora ela que arruinara a chance de Dipper ficar com Wendy, por um porco, que, á final de contas, nem chegou a conhecer sua casa. Fora ela que arruinara o sonho do irmão quando chorou dizendo que ele era egoísta demais por querer abandonar ela só por um cargo de assistente idiota que Ford o ofereceu. Fora ela que entregou o mundo nas mãos do mal só por ter um desejo egoísta de que as férias de verão durassem por toda a eternidade. Fora ela que trouxera o passado á tona dizendo um "Eu te amo",  quando tudo que Dipper queria era esquecer do pequeno gesto que iniciou todo o pecado. Fora ela que insistirá no assunto, quando Dipper implorou para que ela o esquecesse. Fora ela que o condenara para o resto da eternidade quando Dipper colocou uma aliança simples mas de tão real e belo sentimento em seu dedo, recitando palavras que ela jamais esperaria ouvir de seu ex. Ela era sua condenação, a âncora que o puxava para o mais profundo abismo do mar. E por Deus, como doía saber que ela era a doença ao invés da cura.

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