🌌Autora🌌
Os olhos de Dipper focavam os de Mabel com relutância, observando o castanho que predominava em seu olhar, as pupilas levemente dilatadas, os cílios alongados e curvados graciosamente para cima e as olheiras que repousavam suavemente em baixo de seus olhos, fazendo um contraste sutil e equilibrado com sua pele pálida. Observando o brilho que começava a se formar em seu olhar, teve medo de se perder de novo, assim como em inúmeras jornadas em sua juventude. Talvez até se perdesse se continuasse olhando-a como agora. As pálpebras semicerradas, os olhos ganhando viro junto as bochechas que se pigmentavam com um vermelho vivo e a boca, antes morbidamente curvada em um sorriso, que ia de orelha em orelha, agora quase fechada mostrando só os dentes da frente, as covinhas começando a se tornarem visíveis á luz do dia, os lábios tão avermelhados e beijáveis. A desconhecida a sua frente era tão atraente e encantadora que mais lhe parecia uma deusa.
E ali estava ela, parada, sorrindo, O embriagando apenas com seu olhar, fazendo com que, por um mísero momento, ele esquecesse que tudo não passava de uma miragem, uma ilusão de mau gosto, acreditando, por um mísero segundo, que aquela a sua frente continuava a ser sua irmã. Mabel, apenas Mabel e nada mais. A mentira lhe parecera certa de um momento para outro, e, olhando para os olhos da pessoa que um dia achara conhecer, se deixou levar mais um pouco. Não sabia ao certo porque se deixava levar tão facilmente por aquelas visões, sem resistência, apenas se deixando levar, que certamente não passavam de uma imagem de algo que um dia lhe parecera verdade, mas acreditava que fosse por conta das memórias, que, em tantas noites em claro, apareciam em sua mente só com o pretexto de pertuba-lo e lembra-lo que agora ele estava definitivamente sozinho naquele mundo injusto e cruel. Talvez fosse por conta das lembranças que os dois compartilharam em uma infância há muito tempo já esquecida. Ou talvez fosse pelo modo como se tocavam, olhavam e respiravam. Ele não sabia ao certo. "Dipper", a lembrança de como o semblante de Mabel se encontrava confuso e citado após tê-la beijado por puro instinto lhe veio a mente. E, Oh merda!, os lábios dela estavam tão vermelhos e irresistíveis enquanto pronunciavam seu nome com lentidão, que teve que resistir a tentação de se curvar e saborear o quão doce e macio seus lábios eram. E tudo aquilo parecia-lhe mais um motivo para se deixar enganar.
Olhando no fundo de seus olhos, tentou se afogar de novo e se recordar de como era ser jovem. Passaram-se segundos, minutos e nada. Continuava olhando para o mesmo lugar, não vendo mar algum, apenas as pupilas que pareciam dilatar um pouco conforme os minutos passavam. Suas pálpebras se fechavam tão rápido e se abriam tão lentamente. Queria continuar acreditando em sua própria ilusão, mas sabia que algo o impedia de prosseguir, algo o impedia de se afogar. E era ele mesmo.
O porquê de toda aquela resistência já estava explícito, claro como a luz do dia, mas ele, infelizmente, a ignorava, acreditando que seria melhor assim: para que saber da verdade, se ela lhe machucada tanto? Mas Dipper já sabia de tudo e não podia simplesmente virar as costas, porque ele próprio se obrigava a aceitar aquilo a si mesmo. E apesar de doer, ele sabia que aquela mulher atraente e de sorriso leve não era nada mais do que uma imagem de uma desconhecida que voltava de um passado turvo e distante para assombra-lo. Não era sua irmã, bonita e de sorriso inigualável, que se encontrava a sua frente, mas sim uma desconhecida que um dia jurara amar com todas as suas forças, mas que agora já não tinha certeza de sequer conhece-lá. O sorriso macabro que ela lhe lançara antes fora o suficiente para que ele reconhecesse isso, então como ignorar?
E enquanto as memórias do que um dia já fora eterno consumiam sua mente, seu filho parecia petrificado diante do olhar harmonioso. Levou tempo para que parasse de focar em seus próprios demônios e começasse a realmente compreender a situação que se estendia a sua frente. Magnus parecia hipnotizado, olhava para um único ponto, fascinado, estático, sequer piscando enquanto suas bochechas adquiriram uma pigmentação avermelhada. "Desde quando Magnus é assim?", ele se perguntava, estranhando aquela reação vinda de um garoto em que a confiança se mostrava acima do próprio nome. Não compreendia como de um momento para outro seu filho, de porta sempre ereto e olhar destemido, estava ali agora encolhido, as pernas bambas enquanto o olhar insistia em permanecer baixo. Até o rosto dela lhe parecia mais submisso, gracioso, como o de alguém que teme ou receia algo. As pupilas de Magnus dilatavam junto as suas bochechas tingidas de um rosa adorável. E antes que ela pudesse observar um pouco mais as faces coradas de seu filho e fazer com que mais um de questionamento se apoderasse em sua mente confusa, ele se lembrou que naquele quintal ele a seu filho não eram os únicos ali presentes. Havia outro alguém nos arredores. E esse alguém era Mabel.