🌌Autora🌌
Incrédula e perplexa, ela encarava com olhos concentrados e assustados para o homem de braços musculosos e cabelo branco que dizia ser seu irmão. Um desconhecido na verdade. Um desconhecido que sorria de forma sarcástica perante o susto da suposta irmã. Seus olhos passearam por todo o seu ser, indo de seus pés, analisando seus braços tatuados e cruzados e parando em seu topete branco como o algodão. Seu olhar permanecia nela e seu sorriso ficava cada vez mais radiante á medida que Mabel o analisava com seus olhos mórbidos e castanhos. A situação era cômica, pelo menos para ele, que não pode evitar de rir da reação exagerada e curiosa da irmã após anos sem se verem. Mas pra ela aquilo tudo era aterrorizante e, em meio a dúvida e o susto, ia se afastando aos poucos para que o homem sorridente a sua frente não tivesse a chance de pega-la caso saísse correndo. "Dipper" ainda tua e Mabel ainda tentava encontra-lo naquele homem. Não achou nada. Sequer um vestígio de seu irmão. Sequer um vestígio do garoto que preferia ficar em casa lendo a sair para uma festa cheia de adolescentes; do garoto que com seus 9 anos de idade já tinha a lista pronta com o futuro nome de seus filhos; do garoto que a abraçara quando todos estavam contra ela; do garoto que a fez acreditar que valia a pena amar e ser amada. Nada. Observou mais uma vez, incrédula, como se seus olhos ainda não tivessem visto o óbvio. Os olhos se encheram de lágrimas e se perguntou o porque de ainda estar aí quando já poderia estar correndo para longe. Os pés, relutantes, deram um passo para. Algo atrás de si pareceu se partir, e o barulho atraiu a atenção do desconhecido. Seu sorriso morreu, e pela primeira vez pareceu compreender que Mabel não estava assustada com as mudanças físicas que sofrera ao decorrer daqueles anos, mas sim com ele mesmo. Já não o reconhecia mais.
- Mabel... - a chamou em um sussurro, os olhos demonstrando tristeza- Sou eu, Dipper.... Você já não me reconhece mais? Eu mudei tanto assim?
Parou. O passo se sucumbira, e por uma longa fração de segundos ficaram se medindo entre si, observando um ao outro e vendo seus "eus" de agora. Dipper enxergava pela primeira vez sua irmã depois de anos sem sequer um contato. Seu cabelo quase se arrastava no chão, seu rosto era preenchido por hematomas roxoa que variavam de tom em certos lugares e por cicatrizes, onde o sangue já coagulado parecia se destacar na pele branca. Seja olhos ainda continuavam lindos e misteriosos, como antigamente, mas carregavam grandes olheiras abaixo destes. Os peitos pareciam ter chegado aos seus limites e havia ficado mais magra. Também já não a reconhecia mais.
E enquanto Dipper se lamentava por perder o elo de gêmeos que compartilhava com sua irmã, semelhante a seus tios-avôs em uma certa época, Mabel parecia ouvir um tipo de zumbido em seus ouvidos. Se assemelhava ao mar, as ondas batendo contra as rochas sem nenhum pudor. E, então, olhando para os olhos do desconhecido cheio de lágrimas percebeu como o castanho de seu olhar lhe parecia familiar. O tempo pareceu de congelar, e olhando para aqueles olhos tão iguais porém tão diferentes, tão próximos porém tão distantes, ela conseguiu enxergar Dipper.
- Dipper... - seus lábios pronunciaram sem fazer força alguma, e automaticamente levou os dedos aos lábios rosados, como se a palavra fosse proibida. - Dipper - repetiu de novo, como se para ter certeza de que tudo era real, os dedos escondendo um sorriso, que ansiava se mostrar - Dipper! É você!
Bobo, ele sorriu, encantado com o brilho travesso dos olhos de sua irmã. Disse:
- É claro que sou eu, sua tola! Demorou séculos para descobrir o óbvio.
A primeira coisa que lhe veio em mente, naquele momento, fora raiva. Raiva por ele não ter revelado quem era o quanto antes, raiva por tê-la deixando assustada por achar que estava conversando com alguém sem rosto, raiva por ele parecer da mais importância a maldita casa do que a pessoa com quem estava falando. Mas logo isso tudo passou e um sentimento de alegria e felicidade pareceu preencher seu peito, tomando o lugar daquele sentimento que queimava como brasa. E não podendo evitar, ela riu em meio as lágrimas enquanto ele a chamava de tola. Alegria por ter conseguido fugir e se libertar das grandes que lhe prendiam a alma, alegria por não ter recuado quando a chance fora posta em frente ao seu rosto e agora estar ali com ele bem diante de seus pés, alegria por não ter aberto seus olhos e, principalmente, por não ser a egoísta de antes. A alegria que dominava seu peito, porém, foi substituída quando se lembrou por quais motivos ela estava ali perante o olhar divertido e animado do irmão, e então o formigamento das asas das borboletas em sua barriga parou e de repente pareceu morrer, dando lugar a tristeza. Tristeza por saber que estava ali para terminar com a pessoa que mais amou em sua vida, para que ela pudesse seguir em frente, tristeza por ainda tê-lo ali olhando para ela com um sorriso de canto e os braços cruzados ao invés de abraça-la para que ela, mesmo num período curto, pudesse sentir sua pele roçando na dela pela última vez, e mais tristeza ainda por desconfiar que ele já havia seguido em frente, mesmo que nada de fato estivesse acabado, pelo menos não em seu coração. Aquele pensamento a pegou em cheio, e, sem esperar, ela foi ao chão. As lágrimas escorrendo enquanto seu semblante parecia perdido. O turbilhão de sentimentos fazendo com que seu estômago revirasse e quase vomitasse as borboletas mortas.
