conflicthing

24

Meu caminho para voltar a minha casa se faz normalmente. Eu passo pelas pessoas,conhecidas ou não,e não mostro meu rosto para elas. Quando alguém conhecido me vê,logo pergunta sobre minha mãe,irmã,vida pessoal.

Não tenho paciência para responder.

Quando chego em casa dou conta de que esqueci minhas roupas na casa da Lea. Desligo meu carro e desconto na porta a minha merda de esquecimento. E ainda tem o assunto de hoje de manhã,com o Mendes.

Aquele bostinha. Eu o conheço o tempo o suficiente para dizer que a Marsha não deve ficar com ele. Porra,eu só quis me vingar um pouquinho dela,e isso fez com que ela me ignorasse semanas inteiras,e deixar que o Mendes de em cima dela.

Provavelmente ela está sentindo minha falta,e o Babaca supri suas necessidades.

Estou furioso com tudo isso,e chateado. Como é que ela pode me substituir por aquele canalha?

Merda,ele bate nas garotas que pega. Bebe como o caralho,e desconta suas merdas nelas...

Se ele encostar as mãos sujas na Marsha,eu não sei o que faço,

"Wow,voltou mais cedo do que eu esperava..." Jenna viaja nas palavras,e eu logo olho para a seringa entre seus dedos.

"O que porra está fazendo?" Corro até ela.

Parece que minha irmã drogada voltou as atividades,

"Estou me divertindooo... Me deixe em paz!"

"Me dá essa merda." Mando e ela esconde a seringa na manga de seu suéter. "Anda,Jen,me dá a seringa!"

"Não!" Ela meio que chora e eu me aproximo,puxo suas mãos para destampar a seringa escondida.

Quando finalmente pego a merda que ela estava usando,a Jenna se levanta. Seus olhos me assustam e eu permaneço encarando eles,

"Você é um idiota,porra! Me devolve!"

"Com que dinheiro comprou isso?" pergunto.

Ela se move frenética e fascinada,parece se contorcer de vontade,"E-eu achei uma nota em cima da geladeira.."

"Mentira."

"Não estou mentindo. A-apenas achei." Ela chora e esfrega os olhos riscados de sangue, "Nate,por favor..."

"Não." Eu estalo, "Cadê a mãe?"

Minha irmã baixa a cabeça e nega a pergunta. Não entendo o que significa e pergunto novamente.

"Ela está d-dor... Dormindo."

Assim que ela fala eu subo as escadas correndo. Sair e deixar minha mãe na responsabilidade da Jenna é um completo erro.

Atravesso o corredor e a porta marrom está entreaberta. Pela fresta eu posso ver as pernas dela para fora da cama,como se estiver caído sobre ela,

"Mãe?" Eu chamo para o silêncio.

Dou pequenos passos para ir até o corpo dela. Levanto-a com facilidade e os cabelos castanhos grisalhos caem nos meus ombros.
Arrumo ela na cama e me certifico de que ainda respira. Mas não sei o que houve para estar desmaiada,

"Mãe?" Eu tento novamente. E nada.

Jenna está de pé a porta,chorando,e eu nem fiz nada,ainda.

"O que você fez?" Eu ainda olho para minha mãe quando pergunto para a Jenna.

"Eu..." Ela começa e eu me levanto.

"O que você fez com ela?" Grito.

Ela tem seus olhos arregalados e o medo em seu rosto,estou prestes a cometer uma besteira.
"Nate,e-eu... Eu só..."

"Você a agrediu?" A imagem passa na minha cabeça e eu surto.

"Não..." Ela chora.

"Então oque?" Minha paciência está se esgotando, "Fala!"

De primeira ela hesita. Acho que pensou em correr mas não correu.

"Ela desmaiou,depois que brigamos." Jenna suspira e passa a mão no cabelo.

"Brigou com ela?"

"Mais ou menos,Nate,ela não queria me dar dinheiro..."

"Claro que ela não queria dar! Você é uma perdida,porra,olha no que você se tornou Jen!" Me irrito ao me aproximar dela.

Eu ando mais ainda na sua direção e minha irmã se encolhe entre sí,estou tão bravo com ela. Será que a Jenna não se toca? Merda. Nossa mãe tem problemas,e ela ainda faz isso.

Fecho meu punho e defiro um soco no armário,"Se algo acontecer com a mamãe,eu mato você." Meus dedos cavam a madeira fraca. "Entendeu?"

Ela faz que sim com a cabeça e começa a chorar.

"Agora vai ligar pra emergência." Mando e ela corre pra fora do quarto.

Depois que meu pai morreu tudo ficou fodido na minha vida. Minha mãe perdeu o emprego,começou a ter recaídas com a bebida e eu obviamente tirei quaisquer garrafas de álcool aqui. E isso fez com que ficasse depressiva.
No começo,era só uma choradeira matinal. Ela dormia até mais tarde,se sentia mais cansada do que o habitual,e não tinha a vontade de se arrumar. Andando sempre desgrenhada e esbaforida. Um poço de tristeza.

Eu tentei ao máximo convence-la de participar dos grupos de apoio que os médicos receitaram pra ela,e também das consultas terapêuticas. Mas minha mãe não foi a nenhum desses.

Ficou em casa. Com a Jenna.

Recebendo todos os auxílios do antigo trabalho e do hospital.

Se eu a perder por culpa da Jenna nunca vou me perdoar. Eu devia prestar mais atenção,e ajudar minha mãe bem mais do que eu faço,acho que,nem faço nada para ela.