Capítulo 36

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Acordo ao ouvir vozes ao meu lado.

Olho e vejo Will conversando com um homem.

— Com licença — digo — irei ao banheiro.

Sigo até o fim do corredor e entro no minúsculo banheiro.

Lavo meu rosto para espertar o sono.

— Veja só você — retraio-me ao olhar para espelho e ver Ozius — tão linda...

Viro e dou de cara com seu peitoral.

— Como entrou aqui?

— Você me trouxe até aqui — diz sorrindo — agora vou levar você comigo.

— O que?

Ozius ri enquanto sinto o chão sumir debaixo dos meus pés.

— Não!

Grito enquanto caio do avião. Olho para cima e vejo que me afastava rapidamente dele.

Balançava meus braços no ar como se estivesse atrás de algo para me agarrar.

O chão se aproximava rapidamente, meu coração batia de uma forma descompassada. Sentia que a morte estava próxima.

— Viu Susan a vida pode ser divertida — Ozius caía ao meu lado, mas ele ia mais rápido e logo sumiu de meu foco.

— Não! Não! Não! Will!

Debruçava-me enquanto sentia mãos em meus braços.

— Susan — Will me sacudia.

— Tudo bem — diz enquanto tenta me acalmar.

— Ozius... Ele sabe onde estamos.

Will olha preocupado.

— Como sabe?

— Eu o vi.

— Está tudo bem senhor? — pergunta uma comissária.

— Sim. — Will pega uma garrafa d'água e me entrega.

Tomo alguns goles, mas não consigo me acalmar. A sensação de que está preste a morrer é terrível.

— Fique calma, não deixe que ele consiga se aproximar de você. De alguma forma ele consegue se comunicar com você, e por meio disso consegue saber onde está. Tente bloqueá-lo toda vez que ele fizer isso.

— Como?

— Pense em algo que faça você se sentir bem e protegida.

— Tudo bem.

Tomo alguns goles de água. Depois de algum tempo sentia-me bem melhor.

— Ainda falta muito tempo?

Will olha no relógio.

— São quase 13h00. Devemos chegar por volta das 17h00 em Lima.

Ainda faltava bastante tempo.

— Quase me esqueço de perguntar, e Hank?

— Ozius o levou.

— Porque ele facilitou o resgate de Jackie e não de Hank?

Will parecia pensar.

— Talvez ele tivesse alguma na cartada na manga. Já levantamos muitas hipóteses, mas nenhuma plausível.

— Estou com medo.

— Conseguiremos descobrir onde Ozius está e salvaremos Hank.

Sorrio tentando parecer mais calma, mas estava aflita demais para conseguir me acalmar.

— Quer ouvir uma história? — diz tentando quebrar o clima.

— Claro.

Will contou uma história sobre um jovem japonês que queria ser da guarda real de seu reino, mas que por ser jovem demais e não ter os dotes necessários, não conseguia passar naos desafios impostos pelo general.

Um dia ele conheceu uma mulher que se dizia bruxa e que o ajudaria. Ela leu sua mão e disse que viu que ele seria o mais forte e corajoso dos homens. Todos os reinos iam querê-lo em sua guarda.

Ao acordar pela manhã foi para o campo trabalhar e lá conheceu uma bela jovem refugiada. Ele se apaixonou por ela e a levou para sua casa. Ela dizia se esconder de pessoas que queriam matá-la. Uma noite homens montados em cavalos chegaram a sua casa exigindo que ele abrisse a porta imediatamente. A moça pediu que o rapaz a escondesse. Atendendo ao pedido da moça, ele pegou seu cavalo e fugiu com ela no meio da noite.

Os cavalos o seguiam veloz. O que o rapaz esquecera era que o caminho que havia tomado dava para um penhasco. Abruptamente o cavalo parou e os dois foram lançados o abismo. Os homens se aproximaram e pensaram que tivessem caído, mas o jovem camponês estava agarrado á um galho com um braço e a moça no outro.

Ele passou vários minutos segurando-a, até que os cavaleiros fossem embora. Quando tiveram certeza de que estavam sozinhos, o jovem içou a moça e depois subiu.

Eles seguiram por uma pequena estrada, onde foram surpreendidos por homem armados. A moça gritava dizendo que estava tudo bem, mas os homens não lhe deram ouvidos. Um deles a pega e a coloca em seu cavalo e a leva. Ela gritava. O jovem olhava desesperado por ver a linda moça ser levada. Um dos homens desce de seu cavalo e aponta uma espada para seu peito, o rapaz resiste e consegue tomar a espada do homem, mas o que ele não contava era que outro homem armado viesse por trás e desferisse um golpe mortal. O jovem rapaz cai com a espada atravessada em seu peito.

Algum tempo depois, descobriu-se que os cavaleiros que apareceram em sua casa foram mandados por um rival do pai da moça e que eles queriam matá-la. Ao saber do acontecido, o pai da jovem fez um monumento em homenagem ao jovem camponês, que além de salvar a vida de sua filha, mostrou-se honroso, corajoso e forte. Todos que compareceram no dia da homenagem ao salvador de sua filha, elogiaram o corajoso rapaz. Murmúrios também foram ouvidos, sendo o principal deles, o arrependimento por nunca ter sido dado a chance ao bravo rapaz de mostrar do que era capaz.

— E qual a moral da história?

— Que nunca devemos acreditar que um japonês ataca sozinho — Will ri.

— Para — bato em seu braço — tem outra história?

— Tenho, mas essa só conto depois.

— Por quê?

— Porque essa é especial demais para ser contada como passa tempo de viagem.

Faço cara de decepção, mas não adianta.

— Agora vamos descansar — Will se recosta na poltrona.

— Vai dormir?

— Vou tentar.

— Não me deixe acordada sozinha.

— Tente descansar um pouco.

— E se sonhar com Ozius de novo? Já paguei mico suficiente por um dia.

— Não vai. Confie em mim.

Ele toca meu rosto.

— Descanse — insiste.

Recosto-me e espero que o sono venha. Antes que pudesse relutar acabo ficando sonolenta devido ao silêncio dentro do avião. Olho para Will e vejo-o com os olhos fechados. Faço o mesmo e depois de poucos segundos pego no sono.

A Batalha CelestialOnde histórias criam vida. Descubra agora