A Batalha Celestial

Capítulo 5

Jackie não disse nenhuma palavra durante o jantar.

Cedo ele subiu para o quarto.

Lavei a louça suja e fui para o quintal.

Comecei a pensar em como minha vida havia se tornado monótoa.

Passava dia a após dia, em casa. Lavando e passando.

Como minha vida se tornou tão chata?

Sentei-me numa cadeira e observei o céu estrelado.

Passei a refletir se tais pensamentos seriam pelo fato de Will ressurgir e trouxer à tona toda a aventura que passamos, e que mesmo que ela tenha trazido muitas tristezas, acabou por me ajudar a amadurecer mais do que eu poderia imaginar.

Recostei a cabeça e fechei os olhos.

Era tão calmo e silencioso.

Tão calmo quanto à paz que Will costumava me trazer quando estávamos juntos, mas tão silencioso quanto ao momento de sua morte.

Abro os olhos e observo as estrelas por mais alguns instantes antes de decidir entrar.

Entro no quarto e vejo Jackie sentado na poltrona próximo á janela.

— Pensei que já estivesse dormindo — digo ao entrar.

Ele apenas escuta.

Sigo para o closet.

— Ainda o ama? — sua voz ecoa pelo quarto.

Olho-o rapidamente. Ele permanece olhando para a janela.

— O que? — retruco hesitante.

— Você ainda o ama? — seus olhos encontraram os meus.

Não conseguia responder.

— Seu silencio me diz tudo...

— Não! — saiu de forma abrupta demais.

— Não?! — gritou — acha que não percebi como ficou quando o viu?

—Do que está falando? Agi normalmente!

— Normalmente?! — riu debochando — parece até que você sabia que ele. É muita coincidência, que logo no dia em que fala sobre Ozius estar vivo, o Will ressurgir e bater na nossa porta, pedindo que viaje com ele pelo mundo atrás de seres inanimados.

— O que está querendo dizer? Que passei todo esse tempo me encontrando com Will e que marquei um encontro com ele em nossa casa? — Jackie permanecia calado — não seja tão egocêntrico.

— Egocêntrico? Como ousa chamar de egocêntrico aquele que sempre te amou? Que sempre teve a paciência de esperar por uma garota que se apaixonou por estrelas caídas do céu? Que arriscou a própria vida por ela? Que sempre a apoiou?!

Jackie tinha razão, ele correra riscos por minha causa, mas não cabia a ele me julgar de tal forma.

— Eu nunca lhe pedi nada — rebati — se pra você é um fardo ficar ao meu lado, se é um risco além do seu limite; diga-me, pois não quero que ninguém mais se machuque por minha causa.

— O que está tentando dizer? Está terminando comigo?

— Não estou terminando com você...

— Estava certo. Você nunca o esqueceu. E não importa o que eu faça, nunca será o bastante pra você.

— Você que está dizendo...

— Sim, e digo sem medo de errar. Sou capaz de deduzir que você nunca tenha ao menos nutrido afeto por mim ao longo desse tempo.

— Como ousa dizer isso? Moramos debaixo do mesmo teto. Sob os olhos alheios, somos considerados marido e mulher!

— Mas não agimos como tal. Parece que somos grandes amigos; saímos, rimos e nos curtimos, mas quando o assunto é relacionamento sério, você se esquiva.

Permaneço calada.

— Só me diz uma coisa; está realmente pensando em aceitar a proposta do Will?

Analiso sua expressão de raiva e frustração.

— Jackie, não é tanto por mim. Você ouviu ele disse?! Ozius quer nos matar. Matar a todos nós. Hank se inclui nesse meio, e você também. Já perdi pessoas demais em minha vida, não suportaria perder você e Hank. Não tenho mais forças.

Jackie apenas me observa.

— Por favor, acredite e confie em mim — aproximo-me dele e seguro seu rosto com as duas mãos — eu o amo Jackie, e se eu aceitar fazer isso, não será para ficar perto do Will, e sim para proteger a todos nós; principalmente você e Hank — faço uma pausa — ainda que seja por nós, preciso que me diga que irá me ajudar. Não posso fazer isso sem você.

Ele suspira.

— O que mais dói, é saber, é pensar que você gosta de estar no fogo cruzado. O que vou fazer se algo te acontecer?

— É por isso que o quero ao meu lado; para me ajudar. Por favor, diga que aceita. Sabe do que Ozius é capaz, ele não medirá esforços para conseguir o que quer. Pense na possibilidade de ele matar inocentes por minha causa. Essas pessoas nem fazem ideia que ele existe. Elas não merecem morrer por minha causa.

Jackie olha profundamente em meus olhos.

— Tudo bem — diz depois de alguns segundos em silencio — mas com uma condição; não irá esconder nada de mim, quero saber de tudo, pois se eu perceber que as coisas estão fugindo do controle, Will terá que resolver tudo sozinho. Não quero correr o risco de perdê-la Susan. Eu a amo demais para viver sem você.

Sorrio de alegria.

Jackie une nossos lábios suavemente e depois me abraça.

— Obrigada — retribuo o abraço.