Feliz pra Sempre?

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Estou deitada na grama da praça, lendo um livro. E pensando. No meu "feliz pra sempre".

Na maioria dos livros, os casais tem finais felizes. Todo mundo na maioria das vezes acaba feliz. Mas, no conto da Alice, é diferente. A vilã, é a Heloísa. O príncipe.. bem, o príncipe eu não sei ao certo. Mas, na minha história, a vilã é a feliz da história. Ela faz muitas coisas ruins, e ninguém a pune por isso. Ninguém toma atitude. Ninguém se arrisca.

Na minha história, tenho dois pretendendentes pra príncipes. Mas nem eu e nem o meu próprio coração sabe qual dos dois escolher. E tem o Mason. Na minha história, eu não beijo um sapo e ele vira príncipe. Pelo contrário. Eu beijo os garotos e eles se revelam criaturas horrendas por dentro depois.

Já não sei mais o que pensar, não sei mais o que sentir. Quero apenas fazer meus dezoito anos e ir fazer meu intercâmbio. Viajar, conhecer pessoas novas. Morar sozinha, quem sabe.

Já estamos no mês de Junho. No final, pra ser mais exata. Falta apenas seis meses para meu ano escolar acabar. Tudo o que eu queria, é saber de quem gosto.

Avisto João Pedro sentado a poucos metros de mim, escrevendo no seu caderninho. De novo. Ah, João Pedro...
Ele percebe meu olhar sob ele, e me encara também. A expressão no rosto dele é fácil de decifrar: arrependimento. Ele murmura um "me perdoa" e sinto meu coração acelerar.

Sim, eu queria perdoar. Queria voltar a minha amizade com ele como era antes. Mas, não gosto de pensar na idéia de que ele pode me decepcionar profundamente, outra vez.

Ele levanta, fecha seu caderno e vem andando em minha direção.

-Ahn.. Lice? - ele sussura, baixinho.
-Oi. - respondo, friamente. Mas com o coração pulando de alegria de poder trocar uma palavra com ele após duas semanas.
-Será que a gente pode.. ahn.. conversar?
-João Pedro.. eu.. - faço uma pausa - Eu ainda estou muito magoada com você.
-Eu sei. Sei tanto, que dói. Faz duas semanas que tento criar coragem de vir falar com você. Mas, tenho medo. Medo de você não me perdoar.
-Pra que esse medo agora? Você já fez a burrada, não dá pra voltar atrás.
-Eu juro, juro que não tenho culpa. Por favor...
-Passa na minha casa amanhã de tarde. Meus pais vão sair e nós vamos poder conversar em paz.
-Tudo bem. Tchau, minha men.. Lice. - ele ia me chamar de "minha menina". Nosso apelido carinhoso. Ah, como eu amava quando ele me chamava assim...
-Tchau, João. - eu digo e ele sai da praça, com passos rápidos.

Hoje é terça feira. Desde quinta, recebi mais uma mensagem do meu tal admirador secreto.

Levanto, fecho meu livro e vou caminhando pela praça. Pra voltar pra minha casa. Meu celular vibra. É uma mensagem:

**Você pode até não saber quem eu sou. E é melhor assim. Mas saiba, eu sei exatamente quem você é. E, eu te amo. Sim, é estranho eu me declarar por mensagem. Sim, sei que você deve estar ainda mais curiosa. Mas, no momento certo, eu revelo minha identidade. Até amanhã na escola.** -A.S

Awwwnnnnnnnnn. QUE FOFINHO. Pena que eu realmente não faço a minima idéia de quem seja.

Quem será essa pessoa que não tem coragem de falar que me ama pessoalmente? Por medo? Por vergonha?

Chego na minha casa, cumprimento meus pais, subo as escadas e entro no meu quarto. Tiro minhas roupas e tomo um banho demorado. Termino, visto meu pijama e deito na minha cama. O sono logo vem e eu adormeço.

~~~

Hoje não tem aula. Reunião de pais. Como já está no fim de junho, finalmente chegou nossas férias. Agora, as aulas só voltam em agosto. Provavelmente, não vou sair nas férias. Vou ficar no meu quarto, lendo, lendo e escrevendo. Madison ainda é minha melhor amiga, mas, não sei se ela confia em mim como eu confio nela. Ela não quer me contar o lance dela com o Victor.

Tomo meu café, sozinha. Hoje meus pais vão passar o dia fora. Vão na reunião agora pela manhã, e de tarde, vão fazer compras e resolver uns assuntos. Tenho a manhã e a tarde toda pra ficar sozinha.

Subo para o meu quarto, visto uma blusa de frio bege, uma calça jeans preta e meu tênis preto. Desço, pego minhas chaves e saio, sem direção.

Ao sair, ouço vozes do lado da minha casa.

- Ela realmente não está falando com ele! Nosso plano deu certo! - Espere, essa é a voz da Heloísa! E ela está falando com alguém.
- Sabia que ela ia acreditar. Alice é tão bobinha. - Sara? Sério? Não. Não pode ser - Como você fez, Helo? Digo, pra parecer que ele estava realmente te beijando?
-Simples. Ele estava saindo do banheiro, olhando pro meio da pista. Joguei ele contra a parede, e o beijei. E nossa, que beijo horrível. Ele estava a todo tempo querendo desviar, mas eu não deixava ele desgrudar a boca da minha. - Sara exclamou uma expressão surpresa - Depois, pra parecer que ele me desejava, peguei as mãos dele e deslizei pelo meu corpo. Cochichei "Ou você finge que está gostando ou eu acabo com a sua Alice". E deu certo. Ela acreditou. Depois, ameacei ele, disse que se ele contasse a alguém, acabaria com a piranha da Alice.
- Você é incrível, Helo -Sara diz.
- Eu sei, querida. Agora vamos. - elas dizem e saem caminhando, contentes.

Processando informação, processando informação. Falha do sistema.
Como assim? Foi tudo armado? Não, não pode ser. Eu culpei João Pedro esse tempo todo por uma coisa que ele não fez? E, Heloísa me odeia tanto assim? O que eu fiz a ela? E principalmente, a Sara?

Volto pra dentro da minha casa e decido esperar João Pedro. Preciso muito falar com ele.

Ouço três batidas na porta. Corro e abro. É João Pedro. É o meu menino. Ele está com uma jaqueta jeans clara, uma calça jeans surrada e o tênis all star dele. O cabelo bagunçadinho. O rosto sério. Os músculos tensos.

-Oi - quebrei o silêncio, após segundos nos encarando.
-Oi. Posso entrar?
-Oh, claro. Desculpe - eu disse - Vamos subir.

Após entrarmos no meu quarto, ele senta na minha poltrona e eu, na minha cama.

-Não tenho uma lembrança muito boa desse lugar.. - ele sussura. - Lice, deixa eu me explicar - caminho até ele, agarro o seu pulso e o faço sentar do meu lado, na minha cama.
- Shhh - digo, colocando meu dedo sob os lábios dele - Eu sei que não foi você. Estava saindo hoje de manhã, e ouvi a Heloísa e a Sara sussurando aqui do lado. Nem acredito. Te culpei todo esse tempo, sem você ter feito nada...
-Não foi culpa sua - ele toma meu rosto com as mãos e olha fixamente nos meus olhos - Eu só não te contei com medo do que a Heloísa poderia fazer..
-Eu sei, João. Eu sei. Me desculpa - meus olhos marejam.
-Não tem o porquê de você pedir desculpas. Não foi culpa de nenhum de nós dois - ele levanta com um pulo e me abraça. Abraça forte como costumava fazer. Eu, insatisfeita, pulo no colo dele, ainda o abraçando. Ele me gira por quatro longos segundos e logo depois, nós dois caímos em cima da minha cama, ainda abraçados. Deitamos um do lado do outro para que possamos nos encarar. Como eu senti falta...

-Eu senti muito sua falta, meu menino - eu digo e ele me olha.
-E eu, senti muito a sua, minha menina. - ele se aproxima e me dá um beijo na testa, na bochecha, no canto da boca. Ele me olha de novo e sussura "preciso de você, do meu lado". Sorrio e ele sorri também. Me aproximo e encosto minha testa na dele. E nós ficamos ali, por longos minutos, um sentindo a respiração do outro cada vez mais acelerada.

Decidimos passar a tarde no meu quarto, assistindo tv, contando dos acontecimentos das nossas vidas nesse tempo. João Pedro me abraça toda hora, é tão bom. O cheiro dele, a presença dele, ele...

O Amor e a EscolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora