Fim dos Dias Cinzas

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Não é possível que aquele desgraçado do Mason ainda esteja vivo. Eu já sofri demais, mereço paz agora. 

Acho que as siglas A.S me deixam apavorada agora. Também, não é pra menos. Isso me lembra uma série que eu assisti, Pretty Litlle Liars. Cinco amigas recebiam mensagens de uma pessoa denominada -A, e nisso aconteceram várias coisas com elas. Medo? Magina. Óbvio que na vida de Alice Whitman não vai acontecer uma coisa dessas, eu acho. É vida real, não ficção.

Meu dia mal começou e eu recebi um livro junto com uma ameaça. Normal, acontece todo dia..

Ouvi duas batidas na porta, logo depois a enfermeira entrou.

- Bom dia! Vim te examinar uma última vez pra poder dar alta.

Eu ouvi um amém?

-Bom dia! Então eu vou receber alta hoje mesmo?

-Sim, você se recuperou bem. - ela disse, já me examinando. Ouviu meus batimentos cardíacos, mediu minha pressão, trocou os curativos dos meus machucados. 

Ainda bem. Quero muito ir pra casa. Preciso escrever sobre as coisas que eu vivi. Inclusive, creio que me tornei mais medrosa por conta disso. Mas ter medo é normal.

Ouvi duas batidas na porta. Era minha mãe. A enfermeira saiu e me deixou a sós com ela.

- Que bom te ter aqui de novo, filha. Eu tava com tanto medo de te perder.

- Mas você não perdeu. Mãe, aqueles dias foram horríveis. Eu tive medo. Tive vontade de me suicidar até. Eu já não tinha mais esperança.

- Ainda bem que nada de tão ruim aconteceu com você. Você tá aqui, comigo, com seu pai e com as outras pessoas que te amam. E você tá bem. Não cem por cento, mas bem. - ela disse e pegou na minha mão.

-Sim. Fico feliz por isso. - eu disse e pensei - Mãe, o que os vizinhos disseram quando eu sumi?

- Eles disseram que você devia ter fugido com algum menino. Que queria liberdade e tinha se cansado da gente.

- O que??? Eu ainda tenho juízo. Realmente, as pessoas tem que pensar melhor antes de sair falando as coisas e enchendo a cabeça dos outros de fantasias.

- Eu tive tanta raiva, filha. Porque eu te conheço e sei que você não faria isso. Sei que você gosta de viver comigo e com seu pai e que gosta da vida que levamos. Você tem seus momentos difíceis, sim. Todo mundo tem. Mas passa.

- Sim. Ainda bem que você me conhece. Obrigada por ser a melhor mãe do mundo pra mim. - eu disse e pude ver o olho dela marejando.

- Eu te amo, filha. Só quero te ver bem. - ela me deu um abraço e eu sussurrei um "também te amo" no ouvido dela.

Logo depois ela saiu, me deixando com meus pensamentos.

Minha mãe é um anjo. Ela é muito compreensível comigo e eu me sinto até mal as vezes pensando que eu não sou uma boa filha pra ela. Mas mesmo assim, eu sei que ela me ama completamente do jeito que eu sou.

E eu penso, como as pessoas podem ser tão baixas? Como podem sair por ai achando que sabem da minha vida?

Quem sabe da minha vida unicamente sou eu e as pessoas próximas a mim. Sim, cada um tem um modo de pensar diferente sobre mim e sobre os meus atos. Mas isso não dá o direito de sair espalhando coisas falsas.

Eu tenho que viver a vida que eu realmente sei que é a minha. Não a vida que as pessoas acham que é. Eu não posso ficar fantasiando e esquecer de viver. Não posso me deixar levar pela opinião das pessoas quando na verdade, nem me importar eu devia.

João Pedro entrou no quarto e me deu um sorriso.

- Oi meu amor. - eu disse.

- Oi coisa linda. Como você tá?

- Melhor agora. - eu disse e dei um sorriso malicioso. Ele riu.

- Vamos? - ele disse, oferecendo a mão e eu sabia que ele ia me puxar, mesmo sabendo que eu estava deitada. Anta.

-Vamos pra onde?

- Pra casa.

- Já?

- Sim. Você já teve alta. - fiz uma comemoração ridícula enquanto eu tava tentando me sentar. João Pedro riu da minha empolgação. Consegui me sentar e ele me deu a mão, me ajudando a sair da cama.

Me levantei e abracei João Pedro, que colocou os braços ao redor da minha cintura e apertou suavemente.

Ele colocou as duas mãos no meu rosto e olhou nos meus olhos.

- Eu senti tanta saudade. - ele disse e eu dei um sorriso bobo, pensando no medo que eu tive de perder ele para sempre.

- Eu também. - eu disse, e ele se aproximou devagar do meu rosto, me dando um selinho. Eu sorri como quem pede mais e ele fez isso, me deu mais beijos. Me deu o mais apaixonado dos beijos que eu já tive com ele, e eu tive a sensação de estar em casa. Porque João Pedro era realmente o meu lar. Ok, isso pode soar clichê até demais, ainda mais pra mim que não estou acostumada com reciprocidade, mas, acho que depois de tudo o que aconteceu, o destino quer que eu fique junto com ele. Eu prefiro acreditar que sim.

Enquanto eu estava no carro com meus pais e João Pedro, me perdi nos meus pensamentos. Fui levada de volta ao galpão e me vi sofrendo tudo de novo. E pensei no quanto eu fui forte. Eu aguentei tudo, pensando em desistir e sei lá, me suicidar. Mas a vida é tão linda. Acho que não são os dias que são cinzas, somos nós. As vezes nós perdemos toda a nossa cor ficando sem esperanças e com pensamentos vazios. Mas os dias cinzas são essenciais pra tudo ficar colorido e bonito de novo. São, sim. 

Eu me culpei por tudo o que aconteceu no galpão. Pensei que eu tinha errado de algum modo e tinha sido castigada pra aprender. Mas não é assim. Não é sendo castigada que eu vou aprender. É como os pais que batem nos filhos pra "educar". Tudo bem, crianças são terríveis na maioria das vezes, mas não existe nada melhor do que uma conversa. Meu pai, já me bateu algumas vezes quando eu era criança. Eu ia pro meu quarto, chorava, mas logo depois eu fazia a mesma coisa que me fez apanhar. Conforme o tempo foi passando, ele percebeu que me bater não adiantava.

- Filha, você está agindo errado, e eu percebi que eu agia errado também te batendo. A gente precisa conversar pra você aprender a não cometer o mesmo erro de novo. - ele dizia.

- Pode deixar, papai. - eu respondia, e ele sorria com compreensão.

Por isso o dialogo é importante. Ta incomodado? Fala. Ta amando? Fala. Ta se sentindo triste? Fala. Pede ajuda. Não temos que temer a resposta antes de dizer o que queremos dizer. As vezes criamos uma resposta e por isso tememos falar. Mas, ao falar, pode acontecer uma coisa completamente diferente e você pode ser muito mais feliz. 

Erros nos fazem melhor e nada é castigo, tudo é aprendizado.

O Amor e a EscolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora