Carta de Despedida

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Meus pais deixaram João Pedro em casa, e ele disse que viria me ver depois. Cheguei em casa, fui pro meu quarto e resolvi tomar banho. Tirei a roupa com cheiro de hospital, mesmo minha mãe tendo levado outras. Tirei a roupa e me olhei nua no espelho que tem no meu quarto, que dá pra ver o meu corpo inteiro. Eu estou muito magra. E fico pensando, será que, quando eu tiver a primeira vez com o João Pedro, ele vai ligar pro meu corpo? Pra minha magreza? Não tenho seios grandes, muito menos uma bunda grande. É besteira eu pensar assim, porque quem tem que gostar do meu corpo sou eu, mas, a sociedade é tão hipócrita e impõe tantos padrões que acabamos criando várias neuroses.

Tomei meu banho, lavei meu cabelo, lavei bem meu corpo com meu sabonete preferido e refleti enquanto a água caía sobre mim. Sai do banho depois de sei lá, meia hora e me vesti. Sentei em frente a minha penteadeira e penteei meu cabelo. Percebi que meu cabelo tava meio grandinho, batendo nas minhas costas já. Tive uma ideia. 

- Mãeee! - gritei.

- Oi filha. - ela apareceu na porta - O que foi? 

- Meu cabelo ta grandinho, né? Quero cortar.

- Já sei. Você quer que eu corte.

- Troféu joinha pra você! - eu disse e fiz um "beleza" pra ela. 

- Tudo bem, vou pegar as coisas e já venho. - ela disse e saiu do quarto.

Acho que eu sou meio louca, mas tudo bem. Sempre achei lindo cabelo curto, então eu vou cortar e é isto. A gente só vive uma vez, pra que viver com a mesma cara a vida toda? Mudanças são sempre bem vindas e colaboram para a nossa auto-estima. 

Minha mãe voltou com as coisas, pegou o pente e arrumou meu cabelo do jeito pra ela cortar. 

- Certo, quanto você quer que eu corte? - ela perguntou, olhando pra mim através do espelho.

- Ahm... no ombro. 

Falei isso e ela ficou surpresa. Olhando direito pra minha expressão pra ver se eu não estava brincando com ela. Permaneci séria pra mostrar que eu falava sério.

- Tem certeza? - ela perguntou.

- Absoluta, mãe. Cabelo cresce e eu quero ver como eu fico com ele curtinho.

- Tudo bem então. Vai ficar linda de qualquer jeito. - ela disse e eu sorri. - Certo, enquanto eu corto seu cabelo, nós vamos conversar.

- Ok. - respondi. 

- Certo, posso te perguntar uma coisa? E se sim, quero que você seja sincera comigo. Sabe que além de sua mãe, eu sou sua amiga também.

- Pode, o que é?

- Você já teve sua primeira vez com o João Pedro?

- Mãe! - eu disse e comecei a rir. Ela começou a rir e eu fiquei vermelha. - Não estou acostumada a falar desses assuntos com você.

- Eu sei. Mas os pais precisam educar seus filhos e acho que precisamos ter essa conversa.

- Tudo bem. - eu disse. - Não, eu não tive porque eu tenho medo de como seria a sua reação quando eu contasse e também porque... bem, eu tenho vergonha do meu corpo.

- Medo do que, filha? O que eu poderia fazer? Te condenar? Claro que não. Eu sei que isso vai acontecer uma hora ou outra, quando você estiver pronta. Já fui jovem como você, sei como os hormônios ficam. E ah, não faz o minimo sentido você ter vergonha do seu corpo. O João te ama, boba. Dá pra ver no rosto dele o quanto ele te ama.

Fiquei em silencio por uns instantes, pensando. 

- E - ela continuou - quero que quando isso acontecer, vocês se protejam. Existem meios pra evitar uma gravidez precoce e também de evitar doenças sexualmente transmissíveis. Quero que você seja feliz, filha. E além de feliz, bem informada e saudável. 

- Pode deixar, mãe. Prometo que quando acontecer eu vou te contar e além de tudo me proteger. Obrigada por ter tido essa conversa comigo, agora eu me sinto mais aliviada. E muito mais informada. 

- Eu não fiz mais do que a minha obrigação como mãe. Eu te amo e quero ver você sempre saudável e feliz. - ela disse e sorriu. 

- Eu também te amo, mãe. - eu disse e sorri.

Continuamos conversando e quando eu fui ver, ela já tinha terminado o corte. Me olhei como se eu fosse alguém totalmente diferente e por um momento, me senti linda. Percebi que, antes de amar alguém, eu tenho que me amar. E em primeiro lugar.

Minha mãe saiu do quarto e eu agradeci por ela ter cortado meu cabelo e falei que amava ela. 

Abri meu guarda roupa, peguei um vestido preto bem colado que eu tenho faz tempo e nunca usei, peguei minhas maquiagens e peguei meu velho e bom all-star preto. Vesti e fui pra frente do espelho tentar fazer uma maquiagem que preste. Consegui fazer um delineado de gatinho bem bonitinho, passei rímel e um gloss nos lábios. Calcei o all-star e dei uma rodopiada em frente ao espelho. Eu me sentia absolutamente linda com meu cabelo curtinho, com essa roupa que é um pouco meio estilo e um pouco diferente ao mesmo tempo.

Percebi que, quando eu estiver totalmente acabada, descabelada e com vontade de me enterrar em um buraco por me sentir feia, a melhor coisa a se fazer é me arrumar. Colocar uma roupa que foge um pouco do estilo e ao mesmo tempo que eu goste. Que valorize o meu corpo e as minhas poucas curvinhas. Que eu me sinta sexy e me sinta inteiramente eu, inteiramente linda e capaz de tudo o que eu quiser. Espero que todas as meninas que tem problema de auto-aceitação, façam a mesma coisa que eu. Acredito que seja necessário.

Ouvi duas batidas na porta.

- Pode entrar. - eu disse. 

Minha mãe entrou no quarto não olhando diretamente pra mim.

- Filha, você tem uma.. - ela parou quando olhou pra mim. - UAU! Você está maravilhosa! 

- Obrigada, mãe. - sorri. - O que você ia dizendo?

- Eu? - ela perguntou ainda olhando pra mim. Comecei a rir da confusão dela. - Ah sim, você tem uma visita. 

- Quem é? - perguntei.

- A Madison. Posso deixar ela entrar? 

- Pode. - eu disse e a Madison entrou no meu quarto, com os olhos inchados e cheios de olheiras. Minha mãe fechou a porta e nos deixou a sós.

- Alice - ela deu um sorriso fraco - você está maravilhosa.

- Obrigada, Mad. O que aconteceu? Ta tudo bem? - perguntei e ela sem dizer nada, me abraçou. Depois de um tempo ela me soltou e percebi que ela tinha um papel nas mãos.

- Na verdade não ta nada bem. Acho que você percebeu pelo meu rosto. - ela disse, se segurando pra não chorar.

- O que aconteceu?

- O Mason... - ela começou. - Bem, ele se matou.

- O que???? - perguntei, olhando no rosto dela.

- E ele deixou uma carta pra você.

- O que???? - perguntei novamente, tentando engolir o que eu tinha acabado de ouvir.

- É, sim. Ele se suicidou ontem a noite, ele tinha voltado pra casa e pediu pra escondermos ele. Eu e meus pais concordamos porque claro, apesar de ele ter feito isso tudo com você, ele ainda fazia parte da família. E bem, ele estava no quarto dele ontem a noite, e nós ouvimos uns barulhos, mas resolvemos não incomodar. Hoje de manhã percebemos que estava tudo quieto, e quando entramos no quarto dele, ele estava morto. E isso aqui - ela disse me dando a carta - estava do lado dele.

O que? 

Pera, o que?

Era só o que faltava. 

Não, é sério, não me faltava mais nada. 

Peguei a carta e olhei rapidamente e vi escrito:

"Para o meu único amor, Alice Whitman".


Hey!! Eu sei que eu publico capitulo com um intervalo muito grande de tempo e por favor me desculpem. As vezes eu não tenho motivação pra escrever porque penso que ninguém mais lê e que a história ta uma merda. Mas, se alguém ainda lê, obrigada. Isso realmente me motiva a continuar, mesmo que seja, sei lá, de 4 em 4 meses. Obrigada mesmo. Votem, comentem o que estão achando e mais uma vez, obrigada. Até o próximo capítulo. ♥

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