Terror

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Depois de a Sara ter me falado isso, me deu uma tontura e uma falta de ar meio inexplicável. Eu virei deixando ela falando sozinha e vi João Pedro correndo em minha direção, preocupado. 

- O que foi, Lice? Ta tudo bem? - ele disse, me abraçando, como se pudesse me proteger de todo o mal do mundo.

- Não. Não ta nada bem. Vamos pagar as coisas e eu te explico no caminho pra casa.

- Ok. - ele disse, e nós fomos em direção ao caixa. Virei uma vez e vi a Sara me olhando, como se ainda tivesse um pingo de consideração comigo. Como ela pôde fazer isso comigo? E por que?

Depois de João Pedro ter pagado as compras, nós fomos andando pra casa. Contei tudo a ele. 

- Que? Como assim? Ela sabia de tudo, o tempo todo?

- Sabia... João, ela foi minha melhor amiga um dia. O que eu fiz pra ela? 

- Nada, meu amor. - ele disse, cheio de carinho. - Ela devia ter inveja da pessoa incrível que você é. E acredite, você não precisa de pessoas como ela na sua vida. Você tem a mim, e a todo mundo que vai na sua casa hoje.

- Eu sei. - sorri.

Passamos o resto do caminho em silêncio, só andando de mãos dadas. O resto do caminho como se o mercado não fosse na rua de baixo da minha casa. Um longo caminho, eu diria. 

- Que horas o pessoal chega mesmo? - João Pedro perguntou, colocando as compras na mesa.

- Duas. Falta só meia hora. 

- Tudo bem, então vamos guardar as compras.

- Vamos, dona de casa. - falei e ele riu.

João Pedro e eu guardamos as compras, ao som de Khalid. Umas dançadinhas aqui, outras ali.

Exatamente as duas, o pessoal chegou.

- ALICEEEEEEEEEEEEE! - Rafael gritou. - ABRE A PORTA MULHER, EU TO FRITANDO AQUI. 

Fui até a porta e abri, rindo. Victor, Manoela, Madison e Rafael entraram. 

- Preciso conversar com você. - Madison disse, ao passar por mim.

- Tudo bem.

Eles tomaram água e sentaram no sofá, cansados.

- Ta cansado, Rafael? - Manoela perguntou, rindo de Rafael se abanando com um guardanapo.

- Mulher, tu tá tirando comigo. OLHA PRA MINHA CARA. Minha maquiagem ta escorrendo. - ele disse, simulando um choro. 

- E você usa maquiagem? - Victor perguntou.

- CLARO QUE SIM! Porque vocês acham que eu tenho essa pele de anjo...

Nós rimos. E Rafael ficou sem entender, mas logo depois riu também.

- Gente, podem ir escolhendo o filme aí, que eu vou lá em cima conversar com a Mad, ok?

- Ok. - João Pedro disse.

- Vem, Mad. 

Ela sentou na poltrona do meu quarto e me olhou.

- O que a senhorita queria falar comigo? - perguntei.

- Então.. - ela pensou - É uma coisa meio complicada pra mim pra falar, porque ninguém sabe.

- Pode falar pra mim, você sabe.

Ela concordou com a cabeça.

- Então.. Eu tava achando um tempo atrás, que eu gostava do Victor. Mas agora eu olho pra ele e vejo como amigo, como eu vejo todos os meninos. E por meninas, eu sinto uma coisa diferente. Eu olho pra Gabi da nossa sala e sinto algo diferente. Resumindo, eu gosto de meninas e estou perdida. Minha família nunca vai me aceitar. Nossos amigos vão me julgar. Eu vou sofrer preconceito e já estou morrendo de medo disso. Todo dia eu vejo noticias nas redes sociais de LGBT'S que apanharam por causa de serem simplesmente diferentes.

Passei alguns segundos pra entender a situação toda.

- Mas Mad, você gostar de meninas não tem problema algum. Sim, a nossa sociedade é um lixo porque é cheia de preconceito, só que eu vou enfrentar isso com você. Eu entendo você perfeitamente e isso não faz nenhum mal, acredita em mim. Eu vou te ajudar com isso.

Ela levantou e me abraçou. Percebi que ela estava chorando. Nos afastamos e eu segurei o rosto dela, secando as lágrimas.

- Mad, eu sou sua melhor amiga não sou? 

- Sim. Você é. 

- Então, eu to junto com você nessa. Pra que servem as melhores amigas, afinal? - eu disse e a Madison sorriu.

- Te amo, Lice. Obrigada por ficar do meu lado.

- Eu to fazendo o que você sempre fez. - eu disse e nós nos abraçamos. 

Mad e eu descemos, e o pessoal estava se sentindo completamente em casa já. Todos estavam só de meia, Rafael estava estirado no tapete olhando pro teto e todos estavam rindo dele. 

- Escolheram o filme? - Mad perguntou. 

- Sim, Mad. Eles escolheram um de terror e por isso eu to aqui no tapete. Quando começar qualquer coisa eu só saio correndo. - Rafael disse e todos riram dele.

- Nós escolhemos um de terror fraquinho, o Rafael que é medroso. - Victor disse, da cozinha. Nem sei o que ele estava fazendo lá, mas ainda bem que todos se sentem confortáveis aqui.

- OLHA AQUI - Rafael disse, apontando o dedo pro Victor como se estivesse em uma briga de verdade. - Eu tenho medo porque uma vez, eu tava assistindo Annabelle na casa de uma amiga, e na hora que apareceu a boneca, um quadro que estava no quarto dela caiu em cima da minha cabeça. 

- Annabelle, Rafael? - João Pedro disse. 

- SIM, UÉ! Gente, é assustador, sério. - Rafael respondeu.

- Eu já assisti e não tive medo. - Manoela disse. 

- Manu, a senhorita é uma bicha empoderada. Além de maravilhosa, é corajosa. Dá vontade né, Rafael? - Rafael falou consigo mesmo.

- Gente, eu fiz a pipoca já. - Victor disse, vindo com um balde enorme de pipoca. 

- ME DÁ. - Rafael gritou.

- Calma menino. Tem pra todo mundo. - Manoela disse, rindo.

- É que eu quero estar preparado pra qualquer coisa. A pipoca será minha arma de defesa. - Rafael falou.

- E o que você pode fazer com uma pipoca, Rafael? - perguntei.

- Sei lá, colocar nos olhos. - ele disse, sério. Nós todos rimos e ele não entendeu. - O que, gente? É sério! 

- Tudo bem, vamos começar o filme. - eu disse, peguei o controle e soltei o filme. Eles escolheram um filme antigo, do qual eu nem sabia o nome.

Começamos a ver o filme em silêncio. João Pedro e eu no sofá, Victor e Manoela no outro, Madison na poltrona abraçando um travesseiro e Rafael ainda estirado no chão.

- AIII! SOCOR - Rafael tomou um susto, jogando toda a pipoca que estava no seu colo pra cima. Todos nós rimos e logo depois nos assustamos também.

A campainha tocou. 

- MEU DEUS DO CÉU. - Victor gritou. Olhamos pra ele e começamos a rir.

- Gente, já volto. Vou ver quem é. - eu disse, levantando. - Não precisa pausar se não quiserem. 

- A gente vai pausar sim... Eu to quase morrendo do coração. - Rafael disse.

Fui até a porta e a abri.

- O que você tá fazendo aqui? - perguntei.

O Amor e a EscolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora