Finalmente, livre

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No dia seguinte, acordei me sentindo bem. Não sei porquê, já que um louco me prendeu e eu não sei o que fazer para escapar.

Eu levantei do chão e dei de cara com Mason.

- Bom dia! - ele disse.

- Vai pro inferno.

Ele olhou pra mim e começou a rir. Eu odeio esse cara.

- Se prepara que a gente vai sair. - Mason falou, do nada.

- Sair pra onde?

-  Isso não interessa. Só se prepara porque a gente vai viver uma aventura.

- Olha meu anjo, entre viver uma aventura com você e ficar presa aqui dentro, eu nem considero a primeira opção. - eu disse. 

- Legal Alice. Mas a sua opinião não acrescenta em nada, "meu anjo". 

Me calei. Já não basta estar aqui presa nesse inferno, eu não preciso discutir com o Mason. Só sei que nessa "aventura", eu vou dar um jeito de escapar. Custe o que custar. Minha fé de tentar agir como uma heroína continua de pé.

Ele tirou umas chaves do bolso e pegou uma corda que estava no chão. 

- Vamos. - ele disse e veio até mim, me puxando pra fora do galpão.

- Você não vai me prender né?

- Claro que eu vou, meu amor.

- Qual é Mason, eu to até me acostumando a viver com você já. Me prende não. Confia em mim. - eu disse e fiz uma cara de coitada. Eu acabei de montar esse plano. Vou fingir que eu gosto dele e na primeira oportunidade que eu tiver... cadê Alice?

- Sério? - ele disse e os olhos dele até brilharam. Claro que não babaca.

- Sim. - Eu mereço um oscar por essa atuação. Vou investir nisso quando eu escapar.

Ele se calou e nós fomos caminhando até um carro velho. Velho mesmo, caindo aos pedaços.

- Pegou no lixão e trouxe pra cá, foi? - Eu disse rindo. Percebi que ele não gostou e fiquei quieta. - Ok, desculpa. Foi só pra descontrair.

Ele abriu a porta de trás do carro e eu entrei. Eu achei que quando ele tocasse na maçaneta da porta ela ia cair, mas me surpreendi. 

Fiquei quieta durante os primeiros minutos. Só observando a paisagem cinza que me cercava. Eu não fazia a minima ideia de onde estava indo, mas eu estava tentando me tranquilizar. Mason me "ama", ele não ia me matar a essa altura do campeonato. Ou ia?

Refleti um pouco. Eu mudei muito desde que Mason me prendeu. Sei lá, me sinto mais corajosa, com mais vontade de viver. Não sinto mais que eu sou aquela Alice meiguinha de alguns meses atrás. Na verdade, eu sou ela. Só que uma Alice meiguinha um pouco modificada. Talvez nem tão meiguinha assim.

Chegamos em uma estrada movimentada e eu comecei a observar o movimento dos carros. E as placas. Eu sou viciada em olhar placa de carros. As vezes eu até decoro. 

- Alice - Mason disse e eu olhei - entramos em uma estrada movimentada agora. Fica quietinha ai e tenta não fazer nada suspeito.

- Como quiser. - Eu to com raiva de mim mesma por estar obedecendo as ordens dele, mas é tudo calculado.

Voltei a observar as placas de carro. Vi uma que me chamou atenção de longe. FSZ-4962. Essa placa... É A PLACA DO CARRO DO SR KAUFFMAN. Socorro. Preciso dar um jeito de chamar atenção. Mason estava meio distraído dirigindo, então é a minha hora. Ele acelerou um pouco o carro e ficamos lado a lado com o carro do Sr. Kauffman. Verifiquei se a minha porta estava destravada. Vi que estávamos nos aproximando de uma curva bem estreita, que era bem alta por sinal. Se não virasse na hora da curva, iria descer barranco a baixo. Pensei. Pensei. Pensei. O carro do Sr. Kauffman ficou pra trás e nós estavamos cada vez mais perto da curva.

Tive uma idéia louca que pode custar minha vida. Mesmo assim, vou arriscar. Aprender a controlar seu medo e libertar-se dele é o verdadeiro objetivo.

Chegamos na curva, coloquei a mão na maçaneta do carro e fui apertando ela devagar, com cuidado. A curva não tinha acostamento, então se seguisse reto, adeus. Chegou a hora. Fechei os olhos. Abri a porta e me joguei pra fora do carro.

É como se tudo tivesse acontecendo em câmera lenta. Senti meu corpo sendo jogado pra fora do carro e indo de encontro ao asfalto.

- ALICEEEEEE!!!! - ouvi a voz de Mason. Eu estava no chão, na beirada de um acostamento, quase perdendo os sentidos. Ouvi um barulho semelhante ao de um carro rolando o barranco. Será que Mason perdeu o controle?

Ouvi um barulho de um carro freiando perto de mim. Será que é o Sr. Kauffman? 

Quando meu corpo finalmente descansou no chão, senti que eu estava perdendo os sentidos. Tudo começou a girar, meus braços ardiam, minha cabeça parecia estar explodindo. 


Abri os olhos aparentemente horas depois. Minha cabeça ainda parecia estar explodindo, mas eu me sentia em paz. Eu me livrei de Mason e isso me deixava completamente feliz. 

Contemplei a visão de onde eu estava. Eu estava em um quarto de hospital, sozinha. Olhei pro lado e vi um buquê de flores com um bilhete do lado. Peguei o bilhete.

"Eu senti sua falta e fico absurdamente feliz por você ter voltado. Eu te amo, fica boa logo. -JP"

JOÃO PEDRO ESTEVE AQUI.

MEU PLANO DEU CERTO.

MEU DEUS.

OBRIGADA.

Eu estou morrendo de dor, deitada em uma cama de hospital mas eu tentei dar uma dançadinha deitada. Aparentemente eu quebrei algum osso, mas ta tudo bem. Mentira. 

Vi outro bilhete perto das flores. 

"Só Deus sabe o quanto eu e o seu pai estamos aliviados por você estar viva. E bem. Talvez um pouco machucada, mas isso cura. Eu senti muita saudade, filha. E eu morri de medo de te perder. Fique boa logo. - Mamãe"

Meu Deus.

Eu nem acredito ainda que eu consegui escapar.

Eu vou ver minha familia. 

Vou ver meus amigos.

Vou ver meu amor.

Alguém bateu na porta e foi abrindo ela lentamente. 

João Pedro?

O Amor e a EscolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora