Capítulo 5 - 02/06/2010 Precisamos falar sobre Cléo.

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2/06/2010

Rosana acordou cedo, antes de todos e foi até o quarto do filho, que ainda dormia sereno, e ficou lhe observando, ou melhor, contemplando sua imagem calma dormindo. Rosana sentia-se angustiada por causa de Mônica, que definhava após o desaparecimento da filha. A vizinha não dormia bem, ou dormia excessivamente; comia pouco, e não se preocupava mais em ir trabalhar.

Depois de ter assistido o vídeo onde a filha estava se relacionando sexualmente com dois rapazes, Mônica não tocava mais no assunto do sumiço de Cléo, mas era óbvio que ela não estava nem um pouco indiferente a isso. Por causa dessa situação, a mãe de Vicente sentia-se afetada, afinal mães costumam ter empatia umas com as outras, e ela temia que algo acontecesse aos seus filhos, por mais que não soubesse que o câncer da situação estava repousando tranquilo.

Após admirar o filho, a senhora cinquentona saiu do quarto do rapaz e foi até a sala. No grande relógio que se localizava em cima da Tv o ponteiro grande marcava seis e o pequeno marcava quatro. Caminhou até a estante e abriu um armário dela pegando uma caixa onde guardava seus álbuns de foto.

O primeiro álbum era de 1983, e na primeira foto havia uma mulher de cabelos castanhos claros, rosto fino e grandes olhos castanhos claros, sorrindo ao lado de uma menina loira e gordinha, segurando um bebê nos braços. Aquele era seu bebê, seu filho Vicente. Rosana foi passando as fotos e logo percebeu que possuia mais fotos com seu filho e de seu filho do que com sua filha e de sua filha, Vitória.

A gravidez de Vitória foi precoce, Rosana tinha 16 anos e havia acabado de entrar no ensino médio, coisa que precisou parar devido aos cuidados com a filha pequena. Casou-se sob pressão dos pais com João Vicente, e foi casada com ele até o nascimento de seu filho Vicente, e alguns meses depois de ter dado à luz se separou do marido por motivos que eram incompreensíveis para os outros, mas não para ela: não gostava dele, e nunca gostou.

Criar dois filhos sozinha não foi fácil, mas ela sabia que era assim que as coisas seriam dali pra frente, ainda que João Vicente fizesse de tudo para ser um pai presente. Até que em noventa e cinco, depois de sofrer de hérnia e ficar muito doente, Vicente foi mandando até a cidade do pai morar com ele, para auxília-lo, o que foi um sofrimento para Rosana, que preferia que a filha tivesse ido no lugar do caçula. Se alguém lhe perguntasse quem era o filho favorito, Rosana sem dúvidas responderia que era Vicente, e faria de tudo e qualquer coisa para defendê-lo, ainda que fossem coisas gravíssimas, e ela esperava qualquer coisa.

Desde pequeno, Vicente era instável. Ela associava a ausência do pai, mas era algo que ia além de uma simples falta, tratava-se de uma característica própria, e ela tinha noção de que Vicente não sabia lidar bem com os nãos.


Vicente acordou atrasado naquele dia, e era justo o dia de aplicar testa para sua turma. Levantou correndo e já pegou a primeira blusa que viu no armário, uma blusa branca amarrotada e vestiu uma calça jeans, colocando as pressas seu sapato social de sempre, e desceu as escadas para tomar café. Ao chegar na cozinha, viu a mãe terminando de preparar seu achocolatado.

- Toma, meu filho. - Rosana estendeu o braço para entregar o copo ao filho - Notei que estava atrasado e adiantei pra você. Vicente deu um sorriso como forma de agradecimento e já tomou todo o conteúdo de copo de forma rápida. Quando terminou seu acholocatado, viu Vitória descendo as escadas arrumada, indo até a cozinha falar com ele.

- Pode nos dar uma carona? - Pediu Vitória, parada na entrada da cozinha.

- Pra você e mais quem? - Perguntou Vicente, indo até o pequeno banheiro que ficava na cozinha escovar seus dentes.

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