22/07/2010
Ainda que Eliza tivesse oferecido ajuda à sua babá, dizendo sem sentir qualquer peso ou consequência de suas palavras que ela iria ajudar Cléo a fugir daquela casa, e mesmo que sua intenção fosse muito boa, a criança cometeu o erro de comentar com a irmã sobre essa ajuda, e esta inocentemente relevou à mãe o plano de fuga de Cléo. Obviamente, Cléo não pode fugir.
Tudo prosseguia ''normalmente'' na residência de Nadine, Cléo sempre fazia os pedidos (ordens) da ''patroa'', e depois da revelação inocente de Eloá, sempre que botava as gêmeas pra dormir , Nadine lhe trancava no quarto para que ela nem se atrevesse a fugir.
Ao contrário do cativeiro onde estava sendo mantida por Vicente, a casa da família era repleta por objetos que facilitariam qualquer tentativa de suicídio, e Cléo estava vivendo pra isso, só precisava tomar coragem.
O quarto onde era trancada possuía um banheiro, e dentro desse banheiro um box de vidro onde ficava o chuveiro. Sentada na cama onde dormia, que diga-se de passagem era confortável até, ela observava o vidro cumprido e tentava articular alguma ideia de como quebrar aquilo e cortar seus pulsos. No quarto havia uma tv, que ela mantinha ligada apenas para poder não ficar só com seus pensamentos, mas era impossível, aquilo era demais pra ela, e se a morte era a única chave para sair dessa labuta, era só abrir a maçaneta. Porém, queria abrir a porta de outra forma.
Vicente estava mais do que entediado, afinal, estava de férias e não tinha trabalho algum para fazer. Para quando chegassem dias assim ele tinha planos de ficar ao lado de Cléo naquela casa na serra, mas infelizmente suas expectativas foram quebradas, e ela acabou desaparecendo de verdade, tanto pra ele, quanto pra todo mundo.
Terminou de tomar banho e deitou-se para ver ler algum livro, ou fazer qualquer coisa que cessasse seus pensamentos, mas nada lhe fazia parar de pensar em Cléo, e aquilo estava levando-o a loucura.
Abriu um livro qualquer para ler, mas as letras misturavam-se com os pensamentos e logo tornou-se impossível continuar lendo, e uma onda de raiva lhe atingiu, fazendo-o arremessar aquele livro contra a porta de madeira com força, o que fez um barulho estrondoso, já que o objeto possuía muitas páginas e capa dura. Vicente estava desesperado.
Colocou a cabeça no travesseiro e começou a chorar de raiva. Como aquilo lhe corroía! Virou então a cabeça para o lado esquerdo e fitou o banheiro, que possuía o espelho virado para seu quarto, e pensou então em quebrar aquele espelho e cortar seus pulsos, a fim de se matar, já que não aguentava mais aquela vida sem Cléo. Na hora que levantou para pegar o enorme livro para quebrar seu espelho, pensou melhor, pois, se ela havia entrado em um carro para fugir dele, uma hora ou outra reapareceria, então seria burrice dele tentar se matar prematuramente. Voltou então para a cama e tentou dormir, e não demorou muito para entrar em sono profundo.Mônica terminou de lavar a louça de seu solitário jantar com a amiga Vitória, que estava sempre ao seu lado, e foi para o sofá dormir, ou melhor, tentar dormir, já que não conseguia adormecer totalmente desde o sumiço de sua Cléo. A amiga foi para casa, pois tinha um compromisso de manhã cedo e não queria infortunar Mônica na hora de ir sair.
A mãe de Cléo ficou olhando para a televisão, se forçando a prestar atenção no que estava sendo apresentado ali, no caso um filme americano, mas não conseguia. Possuía um pressentimento horrível em relação à sua filha. Conforme as cenas iam passando, mais o peito de Mônica apertava, e mais ela se sentia ansiosa com alguma coisa. Com o passar do tempo conseguiu melhorar em relação ao desaparecimento de Cléo, e não vegetava mais como no inicio, mas aquele aperto no peito ela nunca havia sentido.
De repente o telefone começou a tocar e aquela carga de ansiedade aumentou ainda mais, afinal aquilo poderia ser um pressentimento bom, então correu para atender aquela ligação, e se decepcionou ao ouvir a voz suave e anasalada de Brenda no outro lado da linha.
— Alô, Mônica?
— Oi Brenda, tudo bem com você?— Respondeu Mônica. Brenda havia se tornado uma grande amiga em todo esse tempo.
— Estou sim.— Brenda nem precisava perguntar o mesmo para Mônica, já sabia a resposta — Então, o Iago está no último período agora, e ele está estagiando no hospital na faculdade dele. Não sei se você lembra, mas eu já disse uma vez que ele faz psicologia.
— Lembro sim.
— Então, ele conseguiu te encaixar numa vaga para fazer acompanhamento com o médico que ele está fazendo estágio. Você aceita fazer terapia? Se aceitar, amanhã mesmo você pode começar.— Mônica respirou fundo. Por mais que se fizesse de durona, era mais do que claro que ela não estava bem, isso era visto a quilômetros de distância, mas ela resolveu quebrar a casca da cebola e aceitar a proposta da mais nova amiga.
— Eu aceito sim, Brenda. Que horas seria?— Mônica respirou fundo.
— Às 15:00 horas. Eu vou com você, se quiser.
— Ah, claro que eu quero! Quando eu estiver saindo de casa eu te aviso pra gente ir se encontrar em algum lugar, está bem?
— Está sim. Durma bem, minha querida.— Falou Brenda, antes de desligar o telefone.
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Estocolmo
De TodoUm amor obsessivo e uma vítima. Às vezes, a mente promove situações irreais, onde nem sempre o que queremos é o que teremos. Mas, para Vicente, manter Cléo em cárcere durante anos, fazendo-a perder parte da vida dentro de um local onde apenas ele ti...