Cap 14

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Amar nos torna tão cegos. Você vê estrelas e escuta sinos. Ahhh como ficamos tolos. Quem dera o mundo fosse povoado por seres cada vez mais tolos. Não escutaríamos tantas bombas e não veríamos mais desamor.

Quando o sol entrou no quarto, não me movi. Eu estava encostada no seu peito e ele mantinha os braços me apertando contra si. A sensação era maravilhosa e sorri.
O sorriso foi tão gigante que senti uma pequena pontada de dor na minha cabeça.
Junto veio a dor de saber que tudo aquilo estava com os dias contados.
Afastei os pensamentos e fechei os olhos novamente.
Senti o Kauã se mexer e me soltar.
Foi como se eu tivesse perdido metade do meu corpo. Eu queria ele me abraçando pelo resto dos meus dias. Eram poucos, então não achei injusto meu desejo.
Quando percebi que ele se levantou, olhei, o fitando nos olhos. E vi algo que fez meu sorriso se apagar. Seu olhar era frio.
- preciso que você vá ao trabalho de taxi hoje. Também vou te dar dinheiro para que você passe a noite em um hotel. Vou viajar a trabalho e não voltarei a tempo.
- você.....- eu nem sabia o que dizer. Meus olhos queimaram e engoli para que as lágrimas não caíssem.
Como assim? Então era isso. Ele tinha conseguido me levar para cama e pronto?
- não pense bobagens. Nada mudou entre nós.
Abri a boca para responder, mas descobri que estava sem fala. Meu Deus, como ele era capaz de fazer isso comigo?
E como eu era burra. Da pior espécie. Aquela garota que acreditavam na primeira conversa.
Envergonhada demais, me levantei da cama e procurei por minhas roupas no chão. Ele segurou meu braço.
- Nicolle, olha pra mim- ele ordenou.
Puxei meu braço e continue catando minhas roupas, o ignorando.
- deixa de ser infantil, por favor. Eu estou indo viajar. É só isso. Amanhã te pego no trabalho e tudo volta ao normal.
- e o que é normal pra você- gritei sem conseguir me conter- desvirtuar inocentes e depois mandar embora? Esse momento era importante pra mim.
Quando vi, já estava indo em sua direção e esmurrando seu peito. Lágrimas escorriam dos meus olhos e minha cabeça latejava.
- para com isso, Nicolle. Por favor. Preciso que você entenda isso- ele falou friamente. Amanhã te pego no trabalho. No horário de sempre.
Sem nenhum remorso ou  tristeza, ele saiu do quarto e entrou no banheiro.
Desnorteada, me vesti correndo, juntei minhas coisas e parei na porta, dando uma olhada para o lugar onde a algumas horas eu me senti protegida e feliz.
Só então me atentei a um porta retrato que ornamentava uma das paredes do quarto. Minhas pernas perderam a força e um soluço rasgou minha alma.
O Kauã com um sorriso que eu nunca tinha visto no seu rosto, abraçava uma jovem mulher linda, de cabelos loiros e olhos azuis que lembrava um anjo. Montado em suas costas, uma miniatura dele, sorria e formava covinhas em seu rosto, assim como o pai.
Então era isso. Ele tinha uma família. Eu fui um passatempo. Senti nojo dele e de mim, quando olhei novamente para aquela família linda que a foto retratava.
Peguei minhas coisas e sai correndo dali. Não sei por quanto tempo corri e só parei quando o ar faltou e minha cabeça ameaçou explodir.
Senti uma fraqueza excessiva e me sentei na sarjeta de uma rua que eu nem sabia o nome.
Passei a mão pelo rosto molhado e notei que meu nariz sangrava. O meu choro se tornou compulsivo nesse momento e desejei que alguém aparece e pudesse me abraçar. Eu precisava tanto de alguém nesse momento que olhei para o céu.
- Deus, me ajude por favor.- Roguei.
Aos poucos, fui me acalmando.
Abri minha bolsa e engoli um analgésico, sem o auxílio de água. Respirei fundo e escutei o celular que o Kauã tinha me dado, tocar.
Olhei e vi que ele estava me ligando. Fiquei com tanta raiva, mas não me atrevi a quebrar o celular. Ele seria bem vindo e eu nunca teria dinheiro para comprar outro igual. Apenas desliguei.
Fiquei imaginando o que teria acontecido com a mulher e o filho. Eles teriam viajado? Provavelmente retornariam hoje.
Respirei fundo e parei o primeiro Taxi que encontrei passando na rua. Eu não estava em condições de pagar, porem andar me parecia um inferno. Minhas pernas estavam pesando um tonelada e meu corpo parecia ter sido colocado dentro de um liquidificador.
Fui direto para o trabalho. Olhei para ver se ele estaria me esperando no portão e não o encontrei.
- como você é idiota, Nicolle. Acorda. Ele tem uma família. Você precisa de tratamento. Urgente!
Falei sozinha feito uma louca, enquanto na fábrica.
Quando o expediente terminou, peguei minhas coisas e me perguntei onde iria.
Eu não tinha dinheiro e não tinha casa. Minha expectativa de vida era curta. Minha bagagem pequena. Meus sonhos estavam se esvaindo. E meu coração em pedaços.
- Nicolle, espere- escutei alguém me chamar.
Olhei para trás e só então me lembrei. Eu tinha um encontro hoje. Leandro vinha correndo em minha direção.
- você não me ligou dizendo onde vamos.
- ah, me desculpe, Leandro. Eu me esqueci completamente.
Ele abaixou os olhos, triste e me senti péssima por todas as vezes que inventei desculpas para não sair com ele.
- você tem outro compromisso ou alguém da sua família ficou doente?
- nenhuma das duas coisas. Podemos sair agora se você quiser. Se não se importar que estou com roupa de trabalho.
- não me importo- um sorriso iluminou seu rosto.
Engraçado que ele sorria, coisa que o Kauã não fazia, mas não chegava nem perto de tocar meu coração.
- então vamos. Onde quer me levar.
- tem um ótimo restaurante aqui perto. Estou de carro. Você pode vir comigo se não estiver com o seu.
Claro! Meu carro. Que estava sendo fabricado na terra do são nunca e emplacado no além.
- não vim de carro. Odeio dirigir- menti.
Eu adoro andar a pé, em ônibus lotado e depender dos outros. Definitivamente Nicolle, você é uma garota muito, muito....
Não achei nada que definisse meu estado atual.
Aceitei a carona e como alguém que não está presente no corpo, cheguei até o restaurante.
Ele sorria, puxava assunto e tentava me fazer sorrir. Em vão!!!! Eu parecia uma múmia. Eu seria uma múmia em breve. Sorri por fim com esse pensamento.
Eu estava ficando experte em piadas macabras.
Meu sorriso foi para a puta que......quanto vi que o restaurante em questão era o que o kaua me levou e onde demos o primeiro beijo. Mas que merda.
Pensei em falar que não estava bem. No entanto, eu não teria dinheiro para jantar. Então a comida era bem vinda.
Assim que sentamos, deixei que ele fizesse o pedido.
Ele debruçou os braços sobre a mesa e ficou me encarando.
- e então......
Ele tentou puxar assunto. Inevitavelmente o comparei com o kaua, que neste momento estaria me encurralando e já dizendo que passaria a mão na minha bunda.
Balancei a cabeça inconformada.
- não....o que é não Nicolle?- ele perguntou confuso.
- não é nada, Leandro. Eu só estou com alguns problemas familiares, é isso. Me desculpe.
Passei a mão pelo resto, desolada. Que situação eu tinha me metido!
- precisa de ajuda?- ele estendeu a mão sobre a mesa e pegou a minha, num gesto tão carinhoso, que me emocionou.
O mínimo que o cara merecia é que eu fosse sincera com ele.
- me desculpe, Leandro. Eu nem sei o que estou fazendo aqui. Eu não estou bem. Terminei um relacionamento ontem e você não merece que eu esteja em um encontro falando de outra pessoa- me levantei, pronta para ir embora.
- ei, espere- ele se levantou e parou na minha frente.
Eu não sei como agir. Tenho vontade de me jogar em seus braços e chorar. Sim!!!chorar por esse caso que denominei "relacionamento", que na verdade poderíamos chamar de...um caso....um....enfim, algo que só teve uma envolvida e um aproveitador.
- Leandro, você queria um encontro, não uma garota chorando na sua frente por outro homem. Me deixe ir. Vai ser melhor.
- não me importo que chore por outro, desde que seja no meu ombro.- ele me encarou com atenção e eu suspirei.
Já que ele estava insistindo tanto, obedeci. Me joguei em seus braços e deixei as lágrimas rolarem.
Ele me abraçou e me apertou em seus braços até meus soluços serem abafados. Nada me pareceu tão errado.
Escutei alguém batendo palmas. Muitas palmas.
- que show espetacular. Então se fazer de coitadinha é sua nova estratégia?- escutei alguém dizendo.
Espera! Aquela voz....eu conhecia aquela voz!

Pessoal eu vou postar mais alguns capítulos e no próximo mês o livro estará na Amazon, ok! Desculpem a demora para colocar lá, mas estava com vários livros em andamentos e trabalhos que serão lançados na bienal e me enrolei.
😘😘😘

Por um amor como dos livros (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora