Cap 17

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Tem algumas pessoas que iluminam sua vida. Como elas fazem isso? Elas sorriem.....

Estava tudo planejado para que o outro dia fosse perfeito. Só esqueci de que planos são humanos e consequentemente, falhos.
Minha cabeça doia pela manhã e eu não tinha vontade de tirar nem um dedo de cima da cama.
Você precisa ser forte, Nicolle, sei que consegue.
Essa fala era da minha mãe. Ela dizia isso quando percebia que eu desmoronaria. Meu coração se apertou com a lembrança. Empurrei tudo para algum lugar que eu nem sabia mais onde era, e tentei me levantar.
Kaua, Ainda dormia profundamente e eu precisava de um analgésico.
Fui no banheiro e encontrei um no armário. Ingeri dois comprimidos.
Me olhei no espelho e constatei que minha cara está péssima. Muito pálida e com olheiras horríveis.
Resolvi tomar um banho para ver se a dor passava e se a aparência melhorava.
O que eu faria? Eu precisa desse dia com ele, precisava pensar no que fazer e meu tempo estava se esgotando.
Me senti um pouco melhor depois que acabei de me trocar. O remédio já estava fazendo efeito.
Voltei para o quarto. Me permiti olhar para ele por mais alguuns instantes antes de acorda-lo.
Ele parecia um anjo. Não tinha rugas na testa, preocupação no olhar e nenhuma palavra rude.
Que Deus permitisse que em único dia eu pudesse mostrar que ele poderia ser feliz novamente.
- acorda, seu dorminhoco- me ajoelhei sobre a cama e comei a mexer seu rosto de beijo.
- com um bom dia desse, acho que prefiro pensar que estou sonhando- ele beijou meus lábios e me jogou na cama, se deitando sobre mim- eu não quero acordar desse sonho, Nicolle.
Seu olhar era profundo e seus dedos começaram a percorrer meu rosto.
- então continue pensando que está sonhando, mas se levante e troque. Não podemos perder um dia tão lindo.
- qualquer dia é lindo com você. Nicolle, você transforma tudo com seu sorriso.
Seus dedos tocaram meus lábios e sorri.
- então sorria por mim, Kaua. Sorria toda vez que abrir os olhos, sorria toda vez que respirar e perceber que está vivo.
- eu estava morto, meu anjo. É só você que consegue me devolver a vida e não sou dig....
- psiiiuuu- colei meu lábios nos seus, o silenciando- você tem um coração dentro de você, então é digno de qualquer coisa. Doutor Markes, você tem um grande homem dentro de você, só precisa deixá-lo se perdoar.
Fechei os olhos quando seus dedos tocaram uma mecha do meu cabelo e a colocaram atras da orelha.
- não podermos reconsiderar e passar o fia casa?- ele perguntou, com toda certeza tentando fugir do assunto.
- nãoooo. Você me prometeu. Vamos sair. Se troque que vou fazer café.
O empurrei e sai correndo, em direção à cozinha.
Fiz café e coloquei alguns pães de queijo congelados que encontrei no freezer para assar.
Kaua conseguia ser mais enrolado que uma mulher e conseguiu entrar na cozinha quando tudo já estava pronto.
Abri a boca, babando com a imagem. Ele vestia um short jeans e uma camiseta branca, todo despojado da figura de delegado. Era a primeira vez que o via vestido assim e adorei!
- não fique babando, Nicolle. Posso usar isso conta você.
- você não seria capaz de tanta maldade- rebati e dei de ombro, tentando recuperar minha respiração e dignidade.
- eu sou capaz de todas as maldades que seu cérebro nem consegue imaginar- ele sussurrou no meu ouvido, me abraço por traz.
- eu tenho imaginado muitas coisas- falei envergonhada.
- não faça isso comigo, baby. Vou ter que te arrastar para a cama, agora.
- não - o empurrei- já vamos sair.
- então, praia hoje?- ele perguntou erguendo as sobrancelhas.
- não estou a fim de praia- mordi os lábios e baixei o rosto.
- você queria tanto isso, ontem- ele pegou meu queixo nas mãos- o que aconteceu?
- eu queria fazer outra coisa. Você não vai gostar.
- me diz. Você sempre acaba me convencendo.
Ele balançou a cabeça, me incentivando a falar.
- onde seus pais moram, kauã?
Seu olhar ficou sombrio no mesmo instante, me fazendo arrepender pela ideia.
- você disse que hoje seria um dia nosso, sem passado e sem nada entre nós. Isso é assunto meu e não quero você falando sobre isso.
Eu tinha dito, até perceber que não tinha mais tempo.
- você não vai conseguir seguir em frente se não se perdoar. Para isso acontecer, precisa enfrentar seu passado e ter pessoas que te amam por perto.
- a brincadeira de casalzinho perfeito termina por aqui- ele falou raivoso- achei que tinha entendido que não sou capaz de ser o que você precisa.
Fechando os olhos, ele passou as mãos pelos cabelos e saiu da cozinha, irritado.
Me senti completamente perdida e idiota.
O que eu estava querendo fazer? Mudar as coisas em um único dia. Isso era ridículo.
Sorri sarcasticamente.
Eu estava tentando viver 60 anos em alguns dias. Isso não era possível. Eu queria amar, se amada e consertar tudo antes de partir.
Burra, sempre iludida, Nicolle.
Juntei toda a bagunça do café da manhã e guardei os pães de queijo que ele nem tinha experimentado. Eu muito menos. Não tinha fome.
Fui para a sala e me sentei no sofá, abraçando as pernas.
Ele estava irritado, com raiva de mim. Talvez fosse melhor se eu fizesse minha mala e fosse embora de vez.
- eles moram em Petrópolis.
Me virei assustada. Ele estava na porta do quarto, me olhando pensativo.
- me desculpe, Kauã- falei me levantando do sofá- eu não tenho o direito de me intrometer na sua vida. Você tem toda razão.
Dei um sorriso, tentando convencer a mim mesma de que tudo ficaria bem.
- eu aceito fazer isso, por você. Desejo muito ser esse homem que você merece, mesmo tendo a certeza de que não consigo. Se você acha que esse é o caminho, vamos até lá, então.
Sem me conter de felicidade, voei no seu pescoço.
- e eu achando que você era o delegado mais ranzinza da face da terra- brinquei.
Queria acabar com o clima desagradável.
- eu só não quero que crie expectativas para esse encontro. Consegue me prometer isso?
Assenti e ele abriu um sorriso tão verdadeiro, que me fez suspirar.
- você me faz feliz, Kaua. Muito feliz.
- e você me faz amar a vida.... me estraga completamente e arruina minha reputação.
- uma reputação que não é real. Você se faz de homem forte, imbativel e na verdade é só uma fachada.
Parei de falar e ele preencheu o silencio.
- uma fachada que me fez continuar vivendo, porque se eu tivesse me entregado ao que é real, não teria levantado da cama nenhum dia.
Ele apertou os olhos.
- Não dá pra viver de fachada para o resto da vida.
- não, não dá- disse, não discordando.
-  precisa encontrar um sentido e então não vai mais precisar da fachada.
Inspirei fundo e soltei a respiração. Seu olhar era tão profundo...
- eu já encontrei meu sentido- ele levou suas mãos ao meu rosto, me envolvendo com seu calor- você é meu sentido. Só precisa me ajudar a percorrer o caminho.
Meus olhos se encheram de lágrimas e apertei os lábios. Ele precisava de um sentido que não estivesse com os dias contados.
Deitei o rosto nas suas mãos, me acolhendo naquele carinho.
- seu sentido não pode depender de um pessoa. Tem que estar dentro de você e ser maior que o que você sente pelos outros. As pessoas não são eternas.
- por isso a fachada me satisfazia. Eu achei mais fácil nunca mais amar. Me desligar de todo o sentimento de amor e compaixão. Assim, nunca mais sentiria aquela dor novamente. Então você chegou e eu desejei que tudo pudesse ser diferente- ele sorriu, as lágrimas já escorrendo da seus olhos também - sabe o que fiz então, Nicolle? - balancei a cabeça, negando e ele continuou- eu resolvi apostar na sorte. Posso correr o risco de te perder e também posso correr o risco de passar o resto dos meus dias ao seu lado e partir primeiro. Por você, eu achei que a vida valia esse risco.
Sem conseguir dizer mais nada, me agarrei aos seus braços e solucei no seu peito.

Por um amor como dos livros (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora