Cap 16

421 64 7
                                    

"As vezes é tão difícil compreender o porquê a vida pode ser tão cruel. Talvez fique mais fácil se você compreender que o simples fato de acordar e poder respirar, já é o suficiente. Pode ser pouco pra alguns e pode ser tudo para outros."

Eu não sabia o que dizer e o que fazer. Eu só tinha uma certeza: aquilo tinha que acabar.
Se eu dissesse a verdade ele ficaria comigo e não me abandonaria, até o fim.
Mas não era justo com ele, não era. Se ele perdesse mais alguém para morte, nunca mais se recuperaria.
Eu precisava pensar em uma forma de o deixar e ele ficar com raiva de mim. Seria mais fácil.
O simples pensamento, fez com que minhas lágrimas se intensificassem e meu coração se despedaçasse.
- você não teve culpa, kaua. Essa é a vida. As coisas acontecem porque tem que acontecer. Está escrito em alugar e simplesmente acontecem.
- não- ele balançou a cabeça, Ainda chorando- não é verdade. Se tivéssemos viajado, ela Ainda estaria aqui. Seu eu não tivesse atendido o celular, se meu pai não tivesse ligado....
- se, se e se. Não funciona assim. As coisas acontecem e não temos controle sobre elas- apressei-me, tentando fazer a situação melhor do que parecia.
- eu tinha o controle. Eu tinha tudo e troquei tudo por nada- ele virou toda a bebida que tinha no copo, enrugando a testa- eu troquei tudo por aquela porcaria de empresa e depois que eles se foram, nada mais importou.
- eu não entendo...você tinha uma empresa. E agora você é delegado. E seu pai?
- foi tudo enterrado com a Ana e o Arthur. Esqueci daquela vida. Me mudei, abandonei a empresa, passei no concurso e nunca mais falei com meu pai e com minha mãe.
Houve um momento de silêncio enquanto eu digeria aquelas informações.
- porque?- perguntei quando por fim organizei meus pensamentos.
Ele deu de ombros e não me respondeu.
- meu Deus....você culpou seu pai e o seu trabalho. E sua mãe, onde ela entra nisso tudo?
- ela não entra em lugar algum. Ela faz parte do meu passado, está com o meu pai, então é passado. Está tudo enterrado.
Fiquei imóvel, sem saber como me comportar, o que fazer.
- quando você sorri, me lembro de como era bom ser feliz.
- você se lembra da Ana?
- não, nunca- ele se apressou em dizer- nunca comparo você com ela. Não seria justo com você e nem com a memória dela. Você me encantou, desde o primeiro minuto que entrou naquela delegacia, linda, cheia de personalidade e fazendo piadas com as piores coisas da vida.
Ele se aproximou e sentou ao meu lado, pegando minhas mãos e apertando entre as suas.
- eu estava horrorosa aquele dia- disse tentando sorrir.
- você estava linda. Você é linda- ele soltou uma mão e passou no meu rosto- e me faz sorrir. Você me faz querer aquela felicidade novamente e eu não sou digno dela e nem de você. Eu nunca vou ser aquela cara- ele apontou para uma das fotografias expostas na estante- aquele homem morreu. Ele não vai voltar. Eu posso estar feliz em alguns momentos, depois vem a culpa e raiva por estar vivo.
- ah, Kauã, eu não sei o que fazer ou o que dizer.
Me encostei em seu peito e me deixei chorar.
Como eu poderia dizer que ia fazer ele feliz, que tudo ficaria bem se eu estava com os dias contados? Como? Meu Deus....
- eu sou tão egoísta que não consigo te deixar ir. Eu te quero ao meu lado, porque você me traz a vida de volta. Você é a pessoa mais forte que já conheci na vida e Ainda assim sorri e faz piadas e te amo por isso. Ah Nicolle, eu não mereço você, só que também não sei te perder.
Ele apertou meu rosto em peito e começou a beijar meus cabelos.
Ele não ia me deixar. Eu só precisava convencê-lo que me deixar era o melhor. E faria isso, porque o amava muito para imaginar a dor que sentiria depois que eu partisse.
Seus lábios cobriram os meus delicadamente, sussurrando meu nome e me deixei levar. Eu queria mais um pouco de amor, antes de perdê-lo.
- você não tem ideia do que foi te deixar de manhã. Eu estava tão culpado. Me perdoe, baby. Fui rude e cruel.
Enquanto se desculpava, ele deixava beijos por todo o meu rosto, me adorando.
- me ame de novo, Kauã. Quero sentir você....
Sem dizer mais nada, ele me pegou no colo e me levou até sua cama. Seus olhos estavam cheios de desejo e a dor, por hora, tinha ido embora.
Seus dedos foram tirando lentamente a minha roupa e percorrendo todo o meu corpo. Mordi o lábio com a sensação que tomava meu corpo.
- Me perdoa. Promete que sempre vai me perdoar e me dar mais uma chance- ele suplicou enquanto afundava seu rosto meus cabelos.
- sempre vou te perdoar- sussurrei- não sei se você poderá me perdoar um dia.
- eu nunca vou precisar te perdoar. Você é incapaz de machucar alguém. Você não....
Engoli as lágrimas e o apertei contra o meu corpo e perdendo o último resquício de controle quando ele se afundou em mim.
E foi mágico.
Nada mais entre nós, só amor e prazer, dois sentimentos que sempre tinham que andar juntos. Se assim não pudesse ser, não tinha o porque existir.
Então não existiriam no futuro.
Eu tinha encontrado o meu amor como dos livros, cheio de defeitos, mas que me fazia amar cada um deles. Meu coração já era dele e se eu precisasse morrer sem ele, eu assim o faria. Mas minha última garantia seria de que ele ficaria bem. Eu ia ensiná-lo a sorrir e depois partiria.
Eu precisava ensinar ele a ver como acordar e poder respirar já era o suficiente para nos fazer felizes.Isso era a única garantia de felicidade nesta terra. O restante, era um bônus que a cada um era acrescentado em uma medida.

~~~~~~
- você está distante, carinho.
Estávamos na cama e ele me olhava com um sorriso no rosto.
- estou tentando me recuperar. Foi intenso.
Abri meu melhor sorriso e acariciei seu rosto.
- isso foi um elogio?
- a sim, foi um elogio. Não que você precise. Você já é arrogante o suficiente.
- e Ainda assim, depois de descobrir que sou arrogante e assassino, você continua na minha cam....
Coloquei os dedos sobre a sua boca, o silenciando.
- não diga essa palavra, não seja cruel com você mesmo.
- sou realista- ele rebateu.
- vamos deixar isso de fora hoje, o que acha? Vamos ter um dia diferente amanhã. Sem nada disso entre a gente. Vamos sair, vamos a algum lugar, eu e você. Longe do apartamento, das lembranças, do trabalho. Eu não trabalho de domingo e quero curtir com você.
- onde você quer ir?- ele perguntou sem entusiasmo. O Kaua de sempre estava voltando.
- vamos para a praia.
- eu odeio a praia- ele falou secamente.
- mas eu amo e você me ama, então automaticamente ama a praia. Se odiar a praia, vai me odiar também.
Fiz biquinho e esperei, como uma garota mimada.
Ele pendeu a cabeça, parecendo analisar meu pedido e por fim assentiu.
- você acaba comigo, Nicolle. Nem tenho mais uma reputação a zelar. Você já massacrou meu ego.
- já era hora de alguém te colocar na linha, doutor Markes. Essa coisa de homem mandão o tempo todo é muito cansativa.
- doutor Markes? Gostei disso.
Então me beijou e começamos tudo de novo.
Prometi a mim mesma que seriam poucos dias com ele. Queria que ele percebesse que a vida tinha muitas coisas boas e que poderia ser feliz. Depois, descobriria uma maneira de fazê-lo compreender que poderia seguir sozinho e que era melhor assim.
Só meu coração que não compreendia...

Por um amor como dos livros (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora