Cap 7

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No impulso saem as nossa melhores palavras e nosso eu mais verdadeiro se expõe. Pensar muito torna o homem racional e quem realmente bombeia a vida, fica esquecido.

Ele me levou até em casa. Nenhuma palavra foi dita depois do beijo. Eu me recusei a abrir a boca e estragar o que tinha acontecido. Ele, parecia envolto em seus pensamentos.
- espere!- Kauã segurou no meu braço quando coloquei a mão sobre a maçaneta do carro.
Com a mão na minha nuca, ele me puxou ao encontro da sua boca. Desta vez, fui eu que quase o agarrei. Agora eu sabia beijar e aproveitei o maximo que pude, explorando toda sua boca e acariciando seus cabelos.
Quando ninguém mais tinha fôlego, nos afastamos.
- venho te buscar amanhã para o trabalho.
Mordi os lábios e assenti.
Desci do carro e entrei em casa sorrindo. Eu estava incapaz de esconder minha alegria. Sem querer encontrar miguem que pudesse desfazer o meu contentamento, fui direto para o quarto.
Me joguei sobre a cama e fiquei sonhando com aqueles beijos. Eu sabia que era só um passatempo para o Kauã. Então, eu aproveitaria, porque até eu me apaixonar já não estaria nessa vida. Ninguém amava alguém tão rápido assim. Ou amava?
Dormi lembrando que o importante é que eu veria ele no outro dia. É e claro, sonhando com aqueles beijos.
Só que como nem tudo são flores, acordei com a cabeça explodindo e me perguntei se isso seria efeito colateral do beijo. Eu era novata no assunto! Lembre-se disso.
Tentei levantar da cama, mas foi impossível. Eu nunca tinha sentido tanta dor na vida. Chamei minha mãe e pedi que trouxesse algum analgésico. Eu não tinha condições de trabalhar.
O Kauã viria me buscar e desistiria de esperar. Será que ele voltaria amanhã? Fiquei triste ao pensar que não. No entanto, eu definitivamente não tinha condições nem de abrir o olho.
Afundei a cabeça no travesseiro e fiquei esperando a dor passar. O que demorou uma eternidade.
- Nick- minha mãe entrou no quarto me chamando- tem um homem sentado na sala e diz que não sai de lá até você aparecer.
Em tempo recorde me levantei da cama e arregalei dois olhos, ficando parecida com um Tarsius, aquele bichinho de olhos arregalados que é considerado um dos mais fofos do mundo. Eu tenho medo de ver fotos dele.
Enfim, será que era o meu Kauã? Ele já era meu? Eu estava apavorada, só podia ser isso.
- mãe, esse homem se identificou?
Eu ia perguntar se ele era lindo e tinha muitos músculos. Achei que não pegaria bem.
- ele se identificou como delegado de polícia e perguntou por você. Seu pai, imaginado que você tinha denunciado ele, saiu de fininho pela porta do fundo. Você não fez isso né, Nicolle?- ela perguntou preocupada.
- não, mãe. O Kauã é apenas um amigo.
Não que eu nunca tivesse pensado em denunciar meu pai. Eu já tinha imaginado isso centenas de vezes. Faltava a coragem.
- Vá até lá e mande ele embora. Seu pai não vai gostar de ficar na rua.
Era um alerta e ela me olhou irritada, antes de sair do quarto.
Passei um pente pelos cabelos rapidamente e fui correndo para a sala.
Ele estava em pé, ao lado do sofá rasgado da minha sala. Eu fiquei envergonhada. Ele parceria ter uma boa condição de vida e a nossa casa era modesta e antiga.
- gostei da roupa.
Foi seu primeiro comentário. Abaixei os olhos e só então reparei que estava de pijama! Especificamente um short curto e uma blusa de alças! Cor de rosa! De bolinhas azuis!
- obrigada- falei envergonhada e com raiva- pode me dizer o que está fazendo aqui?
- você não apareceu. Fiquei preocupado.
Ele ergue alto as sobrancelhas.
- eu estava com dor de cabeça e só agora melhorei.- disse, depois de respirar fundo.
- me preocupei já que você não perdeu o trabalho, nem quando estava sem condições de andar.- ele rebateu desconfiado- e dor de cabeça é uma desculpa muito comum- ele pendeu a cabeça e cruzou os braços- e está mexendo no cabelo e abrindo a boca sem parar.
Eu não estava mentindo. Só não estava dizendo toda a verdade.
- eu estava com dificuldades para andar. Não impossibilitada. Agora hoje, eu estava com uma dor insurportável e não tive condições de acordar. Amanhã eu explico no trabalho o que aconteceu.
- será que podemos sair e conversar em outro lugar?- ele pediu.
- qual o problema de conversarmos aqui?
Eu não queria conversar na minha casa. Só que me ofendi pelas possíveis motivações dele. Será que ele era tão importante que não poderia estar na casa de um pobre?
- as coisas que quero conversar e fazer com você não são muito apropriadas para o local.
Enrubesci de vergonha diante do comentário inadequado e sem vergonha dele.
Eu já tinha a lista mental do Kauã Músculo:
1- arrogante
2- mal humorado
3- lindo
4- especialista em deixar os seres mais bobos, vermelhos.
5- lindo
- Nicolle, você quer tocar meu peito?
Olhei confusa e sai do transe mental que estava. Só então me dei conta de que estava encarada no seu peito.
Arhhh!!! Foco Nicolle, foco.
- porque eu iria querer tocar no seu peito?- falei com desdém.
- porque você não para de olhar para eles desde que cheguei.
Aquela era a última gota. Ele tinha me irritado.
- você é um arrogante, prepotente e eu.....
E eu fui interrompida por uma boca que tomou a minha em um beijo que me fez flutuar, ver estrelas.
Retribui o beijo, inclinando a cabeça, abrindo mais a boca, tocando sua língua com a minha. Passei os braços por seu pescoço, enquanto ele curvava o corpo para se encaixar melhor no meu.
Aquilo me parecia tão indecente. E tão bom!
Quando ele parou o beijo, me encarou.
Me sobressaltei ao dar conta de que estava na sala da minha casa. Minha mãe poderia entrar a qualquer instante e ela não pensaria duas vezes, antes de contar para o meu pai. Aí sim, eu estaria perdida.
- eu venho te buscar para jantar.
Ele piscou o olho e se foi, sem esperar minha resposta.
Que homem prepotente.
Sorri feito boba e não reparei quando minha mãe entrou na sala.
- você sabe que seu pai não vai aceitar você de namoros por aí, não é Nicolle?
Meu sorriso já tinha ido para o espaço.
- sei mãe. Aqui em casa, tudo que se aceita é bebidas e violência. Eu já aprendi. Pode ficar tranquila, não estou de namoricos. É apenas uma amigo.
- amigos como ele, não se misturam com pessoas como nós. Ele quer outras coisas com você.
- e dai? Se ele quiser mãe, qual o problema? Eu sou adulta, trabalho e não peço nada pra vocês.
Ela me olhou arrependida.
- você sabe que o seu pai não vai aceitar. Eu quero que você junte seu dinheiro e tenha sua vida, filha.
- como vou juntar dinheiro se ele pega tudo que eu ganho mãe?Só tem uma forma de sair dessa casa.
Se eu morresse. De repente a realidade veio como um tapa na cara. Eu tinha uma vida para curtir. E tudo que eu tinha feito até agora era trabalhar e ficar em casa, cuidando da minha mãe e esperando meu pai voltar dos bares.
- e que forma é?- ela perguntou curiosa.
- esquece mãe. Vou para o quarto. Minha dor de cabeça está voltando.
Beijei o topo da sua cabeça e me enfiei no quarto o dia todo.
Quando meu pai chegou, começou a gritaria na sala. Eu teria que enfrentá-lo ou minha mãe apanharia por minha causa.
Corri para a sala e voei em cima dele quando vi se aproximando dela.
- para. Não encoste nela. O seu problema é comigo.
Ele se virou cheio de ódio. Não tinha nem um resquício de amor naquele homen. Nem quando ele estava sóbrio.
- resolveu me denunciar sua putinha. Vou te dar motivos para fazer isso agora.
Ele veio para cima de mim e coloquei meus braços na frente. Tentei segurar sua mão, mas ele facilmente pegou meu braço e torceu. Gritei de dor e tentei me defender com o pé.
- eu quero que você suma dessa casa. Você tem dez minutos para pegar suas coisas e sumir daqui.
- Nicolau, não, você não pode fazer isso- minha mãe gritou desesperada.
Ele me soltou e apontou o dedo para minha mãe.
- se você não concorda, Carina, pode pegar as suas coisas e ir junto. Eu não vou tolerar um inimigo morando debaixo do mesmo teto que eu. Se ela quer correr pra a polícia, pode sumir daqui.
Eu não tentei explicar que ele estava equivocado. Ele não me escutaria. Eu simplesmente me virei e fui para o meu quarto. Peguei uma sacola e coloquei minhas poucas coisas dentro. Olhei para o meu quarto e tentei buscar lembranças felizes dali para levar na memória. Não encontrei.
Na sala, minha mãe soluçava, sentada no sofá com as mãos no rosto.
Coloquei minhas coisas no chão e me abaixei, abraçando ela.
- não fique assim. Tudo vai terminar bem.- falei tentando não chorar.
Eu precisava acreditar nisso.
- você não tem para onde ir, Nick, pra onde você vai?
- eu não sei mãe, mas me viro.
Ela enfiou a mão no bolso do avental que usava e tirou um bolinho de dinheiro.
- pegue isso- ela abriu minha mão e colocou o dinheiro- você vai precisar.
- você não tem dinheiro. Ele vai te matar se descobrir.
- ele não vai descobrir.- ela me garantiu.
- mãe, vem comigo.- pedi com lágrimas nos olhos.
- não posso. Ele é meu marido.
Ela o amava. Não precisava dizer, eu sabia. Só não compreendia.
Peguei o dinheiro e guardei no bolso. Pendurei a sacola no braço e sai. Sem olhar para trás, levando meus poucos pertences e cicatrizes por todos o corpo.
Enfim, eu estava sozinha.

Por um amor como dos livros (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora