Cap 8

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Uma simples palavra pode mudar tudo. Ela pode te ferir para o resto da vida ou então te fazer amar.....e se sentir tão amado.....

Ja estava escurecendo quando coloquei os pés para fora de casa. Decidi esperar o Kauã. Se ele não me encontrasse, entraria na casa e aí sim minha mãe teria sérios problemas.
Encostei no muro e esperei por cerca de uma hora. Eu me sentia cansada fisicamente e emocionalmente. Nem ver o senhor músculo estava me animando. Além do meu braço estar doendo e eu não conseguir movimenta-lo. Eu tinha a leve impressão de que meu pai tinha deslocado meu ombro.
Quando o carro dele parou na minha frente, nem esperei ele vir abrir a porta. Já abri e sentei. Eu precisava sentar urgente!
- isso tudo é saudade?
Ele me abraçou e desejei ficar ali para o resto dos meus poucos dias. Dei um pulo quando ele se apertou demais no abraço e meu braço doeu feito um inferno.
- que houve?- ele perguntou se afastando.
- eu acho que machuquei o braço no mesmo dia que machuquei o pé. Eu não tinha percebido e ontem começou a doer.
Se afastando, pegou no meu rosto e engoli o choro. Eu estava em cacos.
- impossível que você não tenha percebido. Me deixe ver.
- não! Já está melhor.
Ele me olhou preocupado e acariciou meu rosto.
Assenti, incapaz de falar sem chorar.
- quer ficar em casa? Se você ainda estiver com muita dor, eu vou compreender.
- não.....por favor, eu quero muito sair com você.
Eu preciso de você.
- vou te levar em um restaurante incrível.
Ele me soltou e saiu com o carro.
Fiquei em silêncio, pensando em tudo que tinha acontecido. Como iria me sustentar e ainda doente? Eu não tinha nem onde dormir essa noite. Com o dinheiro que minha mãe deu, eu pagaria um hotel e amanhã decidiria o que fazer.
O lugar que ele estava me levando era longe. Ele dirigiu por quase uma hora e estacionou em frente à um lago.
Desci do carro e esperei ele dar a volta.
- aqui se faz a melhor comida italiana do Rio de Janeiro. Você vai adorar.
- claro- concordei.
Ele tocou meus cabelos bagunçados, colocando uma mecha atras da minha orelha.
- você não está bem. Não sorriu ainda. Eu amo seus sorrisos. Quer me contar o que está acontecendo? Seja o que for, vou te ajudar.
- me desculpe, Kauã. Eu não estou em um bom dia. É só isso. Se você quiser outra companhia, pode me deixar aqui mesmo. Eu pego um táxi e vou para casa.
Eu só não tinha dinheiro para pagar o táxi e nem casa. Pequenos detalhes!
Ele franziu os lábios e se aproximou, me deixando sem fôlego diante do seu perfume. Eu não precisava de mais nada. Aquilo já era suficiente para me fazer sorrir.
Encostou sua boca na minha orelha e sussurrou:
- tudo que eu quero está com você e se você não vai sorrir, posso tentar te fazer gemer.
Ual!!!! Ele era rápido no que fazia e bom. Muito bom.
Minhas pernas viraram gelatinas e já abri a boca, esperando seu beijo, que veio sem demora.
Soltei um gemido quando seus dedos começaram a se movimentar em círculos na minhas costas.
- está se sentindo melhor?- suas mãos desceram um pouco mais e ficam perigosamente perto da minha bunda.
A noticia boa e que eu não estava de Calcinha bege. Hoje ela era branca. Sem graça também, mas melhor que bege.
- estou ótima.
- estão vamos jantar. Ou então, as coisas podem se complicar aqui na rua.
Ele entrelaçou seus dedos nos meus, se atentando a pegar do lado que não estava machucado meu braço e saímos rumo ao restaurante.
O lugar era incrível. Fomos levados para uma mesa em cima de um tablado sobre o lago. O ambiente estava iluminado por pequenas luminárias no chão e em cima de casa mesa tinha arranjos de rosas vermelhas.
Um jantar ali com certeza custaria mais que meu salário de um mês. Eu estava quase pedindo o dinheiro para o Kauã ao invés do jantar. Óbvio, que eu não faria isso. Foi só um pensamento de alguém desesperado.
- como eu percebi que você gosta de massa, foi fácil escolher o que te agradaria.
- adorei- falei sem entusiasmo.
Por mais que eu estava feliz com sua companhia, os problemas me atropelavam e a ideia de não ter onde dormir, não era muito legal.
- Nicolle, olha pra mim- e falou sério. Na verdade ele sempre estava sério.- sua mãe, quando entrei na sua casa, reparei que estava com o olho roxo. Como foi que ela adquirir aquilo?
Ele me olhava sem piscar os olhos.
- ela é desastrada como eu e caiu enquanto lavava a cozinha.
Fiz todo o esforço do mundo e não coloquei a mão no cabelo, não gaguejei e fechei a boca assim que terminei de pronunciar a frase. Me sai muito bem.
- e seu pai, mora com vocês? Você tem irmãos?
Ele estava me interrogando. Lembrado de que não estávamos na delegacia.
- eu não tenho pai.- tinha um homem que doou seu material genético. Ele não era um pai- e não tenho irmãos.
- quando eu te conheci, lembro de ter comentado ser um dos melhores delegados do Rio e minha especialidade é ajudar a desvendar grandes mistérios. Lembro também de você comentar que seu pai não pagaria por seu resgate.
Ele me encarava com um vinco enorme entre as sobrancelhas.
- eu lembro vagamente sobre isso. Não sei o motivo de você me lembrar disso.
- eu não acreditei em nada do que você me disse. E acabei de descobrir que mesmo você tentado fingir que não está mentindo, seus olhos piscam em excesso quando você mente.
Arregalei os olhos e tive vontade de gritar de raiva. Como alguém podia me conhecer a ponto de me ver por dentro?
- não pare de piscar, seus olhos estão ficando vermelhos.
Eu que achei que tudo já estava ruim o suficiente, tinha alguém querendo me irritar ainda mais.
Um garçom se aproximou e colocou vinhos nas duas taças que estavam sobre a mesa.
- trouxe o de sempre senhor, a comida vai ser a mesma?
- não escolhemos ainda. Por enquanto só o vinho.
Ele assentiu e se afastou.
- me fale sobre seus pais Kauã, você tem irmãos? Conte um pouquinho sobre sua família também.
Me encostei na cadeira e coloquei a mão no queixo, esperando sua resposta. Se ele queria xeretar a minha vida, eu também sabia ser impertinente.
- não falo sobre mim- era respondeu secamente.
Simples assim. "Não falo sobre mim".
- então temos coisas em comuns. Também não falo sobre mim.- rebati.
Continuei olhando-o sem medo. Eu acho que ele esperava me intimidar. Acontece que nem a morte me intimidava mais.
- não são perguntas, Nicolle. São ordens.
Meu Deus dos homens imbecis! Eu abri a boca incapaz de assimilar tanta estupidez.
- acontece que você não manda em mim.
Ele se serviu de vinho e me olhou intensamente.
- vou deixar você pensar o que quiser. As coisas são mais claras para mim do que parece a você. Se eu encostar em você agora, tirar os cabelos da sua nuca e depositar um único beijo ali, você vai me contar até as senhas do seus cartões.
Olhei incrédula e só duvidei do que ele dizia, porque eu não tinha cartão de crédito.
- então é assim que você faz os seus interrogatórios e se torna o grande investigador?
- não, Nicolle. Você é minha excessão.
Meu olhos só conseguiam focalizar seus lábios e minha mente só conseguia imaginar os mesmo encostando na minha nuca. Droga!
Não que seus lábios fossem perfeitos. Eles eram cheios....e vermelhos...carnudos. Eram horríveis!
Ele se serviu do vinho e por Deus, parei de respirar. Incapaz de continuar raciocinando e com uma raiva enorme da minha pessoa, me levantei e comuniquei:
- esse jantar se encerra aqui. Você me irrita Kauã.
- senta, Nicolle.-Eu nunca tinha reparado. Meu nome soava lindo nos seus lábios e ele o adorava repetir incansavelmente.- nem começamos a jantar e tenho uma supresa para a sobremesa.
Só porque eu amava doces, resolvi obedecer.
- não pense que manda em mim. Se fizer mais alguma pergunta que eu não desejo responder, eu saio daqui e você nunca mais me encontra.
Seu olhar suavizou.
- me desculpe. A minha intenção não é te deixar nervosa. Eu me preocupo com você e isso é tudo.
Virei o rosto para o lado, emocionada. Era uma sensação nova ter alguém cuidando de mim.
- será que podemos pedir, você precisa comer?.- ele falou fazendo sinal para o garçom.
Pedi lasanha e ele escolheu uma massa que eu não sabia pronunciar o nome.
- quer dançar enquanto esperamos?
- eu adoraria.
Abri um sorriso, incapaz de conter minha alegria. Eu amava dançar e sempre fazia isso no quarto, sozinha.
Ele se levantou e estendeu a mão. Me levantei e fui conduzida até o canto do restaurante onde tinha uma pequena pista de dança  montada.
- eu não vou encostar no seu braço. Tudo bem?- ele disse percebendo meu receio quando ele foi me abraçar.
- tudo. Com você, tudo bem.
Ele passou o braço por minha cintura e colou seu corpo no meu. Encostei meu rosto em seu peito e ficamos ali, conectados por uma música que eu conhecia e amava.

Quantas vezes tentei, já cai levantei.
É você que me mantém de pé.
Não preciso gritar, você vem me salvar.
Você sente quando eu vou chorar.
Não sei se é ser humano ou se é um anjo.....


Ele era muito mais alto do que eu e apoiou seu queixo na minha cabeça.
- eu acho que você é um anjo que veio devolver a alegria da minha vida.- ele sussurrou.
Eu não aguentei. Sem que ele visse, deixei as lágrimas rolarem por meu rosto. Ele não tinha ideia do quanto aquelas palavras acalmavam meu coração. Depois de você se sentir um estorvo e inútil para o resto do mundo, aquelas palavras fizeram meu coração se encher de uma emoção que eu nunca tinha sentido na vida.
- você está chorando?
O senhor anjo músculo, tinha percebido.
Ele se afastou e pegou meu rosto entre as mãos. Limpei as lágrimas com as costas das mãos, envergonhada.
- eu estou bem. Foi só um mosquito que entrou por azar nos dois olhos.
- o mesmo mosquito?
- isso....ele entrou em um olho e depois no outro.....
Ele me beijou. Carinhosamente e em seguida saiu deixando um rastro de beijos por todas as minhas lágrimas que ainda insistiam em cair.
- eu não vou discutir sobre sua péssima habilidade em mentir. Hoje eu só vou cuidar de você e quem sabe, até o final da noite ganho seu sorriso?
Não precisava chegar até o final da noite. Eu olhei para ele e sorri. Eu acho que faria qualquer coisa que ele me pedisse nesse momento.
Que sentimento seria esse, que me fazia lamentar não poder viver eternamente?

*musica de Matheus e Kauã- ser humano ou anjo

Por um amor como dos livros (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora