TWENTY FOUR

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YOONGI ON

    Assim que todos separamos o abraço e Shadow e Jimin têm a discussão, damos espaço para que Shadow siga para o seu quarto, pois ela está despejando ódio à cada passo que dá.
    Todos estão concentrados em Jimin, então decido seguir para o quarto de Shadow. Sei que ela vai se destruir se ficar sozinha, e eu não posso deixar isso acontecer. Não de novo.

Hyung. -Jungkook me chama quando estou dando os primeiros passos. Me viro para ele. – Se tranque lá e ajude-a. -pede. Fico surpreso com suas palavras, e apenas assinto, correndo até Shadow.

    Chego no corredor de seu quarto quando ela está fechando a porta, então consigo entrar antes que ela se tranque. Ela cambaleia alguns passos para trás com o impacto que a porta deu em seu corpo, mas continua em pé, me olhando.

– O que você quer? -pergunta, asperamente.

– Nós precisamos conversar. -fecho a porta.

– Nós não temos nada para falar! -ela continua firme.

– Sim, nós temos. -sustento meu olhar no dela. – Por favor, me ouça. -peço.

    Nos encaramos por longos segundos que parecem uma eternidade, então ela abaixa o rosto e sorri em derrota.

– Tudo bem. -diz, sem muita emoção ou vontade. Respiro aliviado. – Mas seja breve. -ela senta na cama. – E tranque a porta.

– Por quê? -pergunto, confuso.

– Porque quando o Jimin descobrir que você veio até aqui, ele vai tentar entrar. -explica, como se tivesse certeza.

    Obedeço e tranco a porta. Assim que dou o primeiro passo na direção da cama, ouço um estouro que me assusta. É Jimin tentando entrar. Como previsto.

– Eu disse. -diz ela, em tom vitorioso. Sento-me em seu lado na cama. – O que quer? -pergunta ela, diretamente.

– Você amava aquele garoto? -pergunto, também direto.

– Que garoto? -ela finge não saber.

– Jiho. -digo, mirando seus olhos negros.

– Como você sabe o nome dele? -ela arregala os olhos brevemente.

– Sunnie me disse, mas não fuja da minha pergunta! -insisto. – Você o amava?

– Devo ser sincera?

– Sim.

– É, eu acho que o amava. -confessa. Por algum motivo, sinto um aperto no peito. Por um breve momento, quis que tivesse sido eu a tirar a vida dele. – Por quê?

– Sou eu quem faz as perguntas. -digo. Ela ri ironicamente.

– Com quem você acha que está falando, garoto?

– Por que você o matou? Foi por minha causa? -continuo, ignorando sua quase ameaça.

– Você duvidou de mim. -justifica.

– E se ele duvidasse que você poderia me matar? Você me mataria? -pressiono, deixando-a calada.

– É diferente. -murmura.

– Por que é diferente? Por que eu sou diferente para você? Por quê, hein? -continuo, deixando-a totalmente indefesa. – Por que você se cobre com sua própria maldade para me afastar de você, sendo que você me vê de forma diferente? Sendo que nós dois sabemos que você precisa de mim. -me aproximo dela. – E que, talvez, eu precise de você.

– PORQUE EU TENHO MEDO DE QUE VOCÊ ACABE COMO ELE! -ela grita com os olhos fechados e ambas as mãos nos ouvidos. Agora sou eu quem está sem resposta.

    O silêncio reina por alguns minutos. Muitos. Um silêncio sufocante, mas que não tenho forças para quebrar.

– Eu o conheci quando era pequena. -ela inicia, finalmente quebrando o silêncio. Mantenho a cabeça baixa, assim como ela. – Nós vivíamos juntos, escondidos dos meus pais e do Jimin. -faz uma pausa. – Isso tudo antes de eu matar a minha madrasta. Depois disso, eu mudei totalmente, assim como ele. Ele foi para uma periferia em Seoul e começou a venda de drogas e as participações em shows de rap underground. Eu continuei aqui, como sempre. -ela suspira. – Nos reencontramos quando eu já havia mudado completamente, e pudemos viver uma pequena história. Eu o encontrava para comprar as drogas, bebidas ou armas, e ele vinha aqui me trazer. Mas tudo era um pretexto para nos vermos, sempre foi. -ela ri, parecendo reviver os momentos novamente. – Tivemos noites incríveis, saíamos para alguns lugares, algumas vezes, mas Jiho sempre me surpreendeu mais com as noites que me proporcionava. -ela se remexe na cama. – E então, você e os seus amigos chegaram. -ergo meu olhar para ela, mas ela continua com a cabeça baixa enquanto fala. – E eu, por algum motivo, perdi o interesse em Jiho pois meu foco se tornou você. Eu me odiei por isso, mas apenas aconteceu, não pude controlar.

– E então você o matou. -concluo.

– E então eu o matei. -concorda ela, suspirando.

– Sente falta dele? -pergunto.

– Sim. -ela funga, então percebo que está chorando de novo. – Ele foi o único que viu algo de valor em mim. Foi a única pessoa capaz de ver isso, inclusive. -ela sorri em meio às lágrimas. – Vou ser grata à ele para sempre.

– Isso não é verdade. -sento-me de frente para ela, que me olha confusa.

– O quê?

– Os garotos e eu vemos valor em você. -digo. – Principalmente eu, e é por isso que eu estou aqui. -tento sorrir da forma mais natural possível. – Me deixa te ajudar. Me deixa te fazer uma pessoa boa e eu prometo que vou exterminar todos os que te magoarem. -suplico.

    Ela sorri largo, com lágrimas nos olhos. Só agora percebi o sorriso lindo que ela esconde em seu rosto, que me encanta extremamente.
    Após uns 5 segundos me olhando e sorrindo, ela abaixa o rosto, voltando à chorar.

– Está muito emotiva hoje, Srta. Park. -brinco, sentando ainda mais próximo dela, de forma que nossos corpos se tocam sem esforço algum.

– Eu não chorei durante 15 anos. -revela, e isso realmente me deixa assustado. – Não desta forma, e não com alguém vendo. Às vezes soltei algumas lágrimas, mas ninguém nunca soube.

– Por que está me contando segredos? -indago, estranhando.

– Acho que posso confiar em você. -ela ergue o rosto em minha direção.

    Nos olhamos por um tempo, então acaricio seu rosto liso com as costas de meu indicador da mão direita. Logo seguro seu rosto com a mesma mão e quebro a distância entre nossos lábios.
    Shadow está fraca, está magra, está internamente destruída. Então, após o beijo - cujo fora breve, porém o melhor que já dei -, puxo sua cabeça na direção de meu peito e deixo-a ficar calma ali, apenas respirando.

    Desta vez, o silêncio é confortante. Shadow está respirando contra meu peito, enquanto meu coração está batendo contra seu rosto. Isso me proporciona paz.
    Minha mão direita acaricia sua cabeça, em um cafuné. Minha mão esquerda passeia levemente em suas costas, fazendo-a arrepiar e fechar os olhos.

    Posso ficar assim para sempre.

HORNS » BTSOnde histórias criam vida. Descubra agora