SEVEN

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SHADOW ON

    Acabei de pôr fora o que sobrou do meu café da manhã. Quando como aves cruas, fico um pouco desnorteada, portanto não ouvi o que Jimin me disse - para a sorte dele -.
    Estou deitada na cama lendo meu livro, quando alguém bate na porta. É Sunnie.

– Entra. -digo sem emoção alguma. Assim ela faz.

– Shadow. -diz em tom de saudação, fechando a porta atrás de si assim que entra.

– O que foi toda aquela cena quando você me viu com o corvo? -sou direta.

– Eu só... desacostumei ao ver. -ela olha para os próprios pés. – Desculpe.

– Até parece que você não sabe que quando o Jimin vê você chorando, ele me enche depois. -repreendo.

– Eu sei. Mas eu inventei outro motivo e ele acreditou! -defende-se.

– Que assim seja. -finalizo com uma ameaça, e ela estremece. – Diga logo o que veio falar comigo!

– Vou acampar com Jimin e seus amigos hoje. Iremos 2h da madrugada. -ela já mudou, agora está animada.

– Vai atacar a presa durante o acampamento? -pergunto.

– É claro. Mas, aquele garoto parece divertido. -ela está pensativa. – Acho que vou me divertir bastante com ele antes de realmente atacar.

– Seja como for, o que importa é a diversão. -digo séria, e ela ri.

– Queria saber se você quer ir junto. -convida.

HÁ! -gargalho alto. – Por que eu iria? Eu sou a ameaça que Jimin mais teme, deixe ele ser feliz um pouco. -digo.

– E desde quando você se importa com o fato de ele ser feliz ou não? -provoca. Ela precisa aprender à manipular melhor pessoas como eu.

– Eu nunca me importei e nunca vou me importar, espero. -respondo friamente. – Eu só usei essa desculpa porque eu não estou com vontade de ir.

– Entendi. -ironiza. – Bem, vou arrumar as minhas coisas para o acampamento. Te vejo depois! -despede-se e eu apenas assinto. Ela sai, finalmente, do meu quarto.

    Passo ambas as mãos pelo rosto e respiro fundo. Profundamente. Meus pulmões precisam disso.
    Não! Meus pulmões precisam de um cigarro.

    Levanto-me e pego meu isqueiro e um cigarro em meu criado-mudo, ascendo e vou para a sacada de meu quarto. Sem antes, claro, me servir de um copo de whisky.
    Fico sentada na parte externa de meu quarto, apenas observando a mata que me trás tantas lembranças boas.

Por que todas as pessoas não nascem com a sorte que eu tenho? -pergunto à mim mesma. – As pessoas normais sentem tanto medo. Perdem tantas coisas por isso.

    Fico um tempo sentindo a brisa movimentar meus cabelos negros e o sol do quase-meio-dia aquecer meu corpo.
    Quando termino o cigarro e o whisky, entro para meu quarto novamente. Ligo o ar condicionado - pois o calor está sufocante - e volto à ler.

———¥———

Sua bastarda!
Mãe grita para mim. Mas eu nem fiz nada.
Você vai morrer como a sua avó morreu!
Apanhando!
Ela continua gritando.
Sua mão acerta meu rosto.
Uma. Duas. Três vezes.
Ela me chuta. Ela tem uma faca.
Ela crava em minha barriga.
Eu choro. Sunnie aparece.
Mãe continua. Ela não para.
Ela está rindo. Eu estou chorando. Sunnie está vendo.
E ela não para. Me bate por todo o corpo.
Estou sem ar.

    Abro os olhos lentamente. Mais um pesadelo.
    Bocejo e olho no relógio. 1h50 da manhã.

Quase na hora das crianças irem acampar. -digo à mim mesma.

    Ouço som de porta-malas, então me apresso para chegar na sacada de meu quarto. Avisto o carro, e eles estão embarcando.
    Desligo o ar condicionado para ouvir melhor a conversa deles.

– Jiminnie, a Shadow não vai! -diz Sunnie, correndo ao redor do carro. Reviro os olhos. Como ela é atriz.

– Devia ter ficado com ela. -rebate o mais velho.

    Ele está evitando a Sunnie também. Justo a sua protegida. Acho que ele está sabendo demais.

– Jimin, eu não vou. -eu conheço essa voz enrouquecida! É a minha presa!

– Por quê, hyung? -pergunta meu irmão, em tom preocupado.

– Eu odeio acampar. Só não te comuniquei antes porque sabia que você não iria. -explica.

– E nós não vamos! Saiam todos do carro, se YoonGi hyung não vai, nós não vamos. -ordena Jimin. Reviro os olhos com sua ordem ridícula.

– Vocês vão! E eu vou ficar bem. -afirma minha presa. Eu não teria tanta certeza.

– Pegue a chave do meu quarto que está na minha cômoda e se tranque assim que entrar. -Jimin dá as instruções, olhando para o meu quarto. Obrigada às cortinas que me escondem! – Não saia do quarto até que voltemos amanhã cedo. Ou até amanhecer o dia!

    Minha presa assente e se despede de Jimin.
    Isso não podia ficar melhor!
    Espero Jimin embarcar na van para correr até seu quarto. Procuro a chave e a encontro, então levo-a comigo para o meu quarto.
    Vou dar um sustinho na minha presa esta noite.

———¥———

    Agora são 3h50 da manhã. Minha presa está dormindo.
    Desço as escadas e vou ao pátio dos fundos da mansão. Pego um dos pássaros que meu "pai" cria e volto ao meu quarto.
    Uso minha unha removível de metal para abrir o estômago do bicho, então me alimento dele, até que ele pare de agonizar.

    Estou coberta de sangue agora, mas satisfeita. As empregadas não ficam aqui pela madrugada, portanto será divertido.
    Saio de meu quarto e escrevo algumas coisas - usando o sangue do bicho - nas paredes, como: "não olhe para mim", "não grite", "desça as escadas". Pronto!
    Agora, ascendo uma vela no centro da sala - pelo menos uma ideia boa que Sunnie me deu -, faço uma trilha com o sangue da ave, indo de meu quarto até a vela. E, por fim, ponho a ave negra com o buraco que eu mesma fiz virado para cima, ao lado da vela.

Perfeito. -sussurro para mim mesma.

    Subo as escadas, abro lentamente a porta do quarto de meu irmão e derrubo um vaso. Desço correndo as escadas novamente, pois sei que o garoto vai acordar e checar o que houve.
    E assim é feito. Vou à cozinha, pego uma faca e paro ao lado da escada. Agora, só preciso esperar ele chegar!

HORNS » BTSOnde histórias criam vida. Descubra agora