TWENTY FIVE

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SHADOW ON

    Acordo sem lembrar-me de muita coisa, apenas de desabar em YoonGi. Me sinto diferente, me sinto leve. Mas ainda tenho que tratar sobre o corpo de Jiho, que ainda está no galpão.
    Acordei sozinha no quarto, provavelmente YoonGi voltou para o quarto de Jimin, e isso me deixa aliviada. Não costumo dormir com ninguém, aumenta a afinidade e isso não é meu objetivo.

    Troco de roupas e vou ao galpão. Troco de pijamas, na verdade, porque eu normalmente uso pijamas o dia inteiro, por mais que não pareça.

    Chegando no galpão, meu coração falha. Onde está ele?

– Shadow? -dou um pulo ao que ouço meu nome ser pronunciado por trás de mim.

– Sunnie! -digo um pouco alto pelo susto. – O quê... eu... não entendo. -olho para a "cama de pedra" onde Jiho foi morto, sem entender.

– Taehyung e YoonGi me ajudaram à desovar o corpo hoje pela madrugada. -ela está com os braços cruzados em frente ao tórax, e está séria. – Não queríamos que você visse e se revoltasse novamente.

– Hum. -sento-me no local onde Jiho morreu e levo ambas as mãos à testa, abaixando a cabeça.

– Shadow, nós precisamos conversar. -Sunnie se aproxima, sentando-se ao meu lado. – Sobre você.

– Comece. -ordeno, então sinto ela apoiar uma das mãos em minhas costas.

– Você precisa ir à um psiquiatra.

– O quê? -ergo a cabeça e rio soprado. Não acredito nisso. – Isso é sério? -debocho.

– Sim, Shadow, você precisa. -ela segura meu rosto com uma mão, então percebo que ela não está brincando. – Eu reconheci tudo o que eu fiz e me tornei alguém melhor. Você estava certa, eu não era tão má. Mas você... você precisa de um médico.

– Por quê? -levanto-me e paro em sua frente, falando alto e um pouco afastada dela. – Vocês não queriam que eu melhorasse? Eu estou melhorando aos poucos, no meu tempo!

– Eu sei. -ela levanta-se também, aproximando-se de mim. – Mas é por causa dos garotos. Eles têm só mais alguns meses aqui, e logo vão embora. -ela segura meu rosto entre as mãos. – E quando eles forem? Você vai se revoltar novamente?

– E-eu... -gaguejo. – Eu nunca fui boa, Sunnie. -suspiro. – Eu estou aprendendo à ser. No meu tempo. Deixe-me me acostumar com isso. -peço.

    Ela sustenta o olhar no meu por um tempo e logo acaricia suavemente minhas orelhas e une nossas testas, fechando os olhos.

– Eu sinto tanto a sua falta. -ela diz, respirando fundo. – Você é a minha família, Shadow.

– Eu sei. -seguro seu rosto entre as minhas mãos também. – Também sinto a sua falta. -confesso.

    Ela abre os olhos e se afasta, fazendo uma expressão assustada que me faz rir.

– Eu ouvi isso mesmo? Shadow Park confessou algum tipo de sentimento? -ela finge estar emocionada, rindo logo em seguida.

– É, é. Gravou? Porque não vai ouvir de novo tão cedo. -dou de ombros, recebendo um tapa no braço.

– Vida nova agora? -pergunta ela.

    Meu sorriso se desfaz e eu reflito suas palavras. As vozes, as sombras, os vultos, as crianças pedindo socorro, o diabo... todas as coisas que eu vejo. Essas coisas somem quando estou com eles, e eu faço qualquer coisa para fugir deste inferno.

– Vida nova. -confirmo, o que faz o sorriso de Sunnie dobrar de tamanho e ela me abraçar apertado.

    Separamos o abraço poucos segundos depois de darmos, então voltamos para a casa.

SUNNIE ON

    Shadow é mais velha que eu. Ela é malvadona e fechada, mas eu sei o quanto ela se apóia em mim para viver. Para manter o que sobra de sua sanidade.
    Eu sou como se fosse a mais velha em relação à assuntos delicados. Se não fosse por mim, Shadow estaria em um canto do quarto, fumando e conversando com seus "amigos de baixo", e isso não é algo que eu deseje para ela.

    Sim, mudamos. Nós duas mudamos pelas mãos de sete garotos.
    Ou, talvez, de dois.
    Nossa mudança foi repentina, mas sei que ambas retiramos um peso de nossas costas. Um peso doloroso e sofrido, que agora já não existe mais.

    Só há uma preocupação agora.
    Até quando?

———¥———

    Eu e Shadow fazemos o que todos consideram "normal", mas que eu e ela não fazíamos há alguns anos: tomar café da manhã juntas.
    Decido fazer da forma que a mamãe fazia quando nós éramos pequenas. Omelete, café e maçã. Shadow está fazendo o café.

    Sinto uma presença atrás de mim e não demora muito para que eu sinta um par de braços envolver minha cintura por trás. Quase queimei a porra do ovo aqui no fogão.

    Ao olhar para os braços que me envolvem, reconheço. Meus lábios se apertam em um sorriso sem sentido, mas é um sorriso sincero.

– Bom dia. -diz a voz grave e rouca pelo sono, e logo ele me dá um beijo na nuca, que arrepia tudo.

– Bom dia, pau duro. -digo, sentindo tal coisa pressionada em minhas costas. – Já? De manhã?

Ya, Sunnie! -ele reclama, me soltando e dando alguns passos para trás. – Você não sabe ser legal? Eu não controlo isso quando vejo você assim.

– Gente, que nojo. -Shadow se pronuncia, fazendo-me gargalhar.

– Nossa! -Taehyung dá um pulo. Eu não acredito que ele não havia notado ela ali. – Eu não te vi, eu...

– É, eu estou aqui. -ela revira os olhos, pondo mais água quente para passar o café. – Você sabe que precisa da minha permissão para namorar a Sunnie, não é? Eu não sou uma cunhada boazinha. -ela diz seriamente, mas sei que está brincando.

– E-eu... -Taehyung fica branco de nervoso.

Tente começar com um "bom dia". -sussurro à ele, entre risos.

– Bom dia, Shadow. -ele diz em um baque, e vejo minha irmã gargalhar como não via há muito tempo.

– Bom dia, florzinha. -diz ela. – Precisa ser mais corajoso do que isso, garoto. -ela dá as costas e volta à preparar o café, agora fazendo umas torradas para os meninos.

    Que milagre é esse? Algo está acontecendo nesta casa e eu estou realmente surpresa.

– Ei, eu queria preparar o café hoje! -Jin aparece, coçando um dos olhos. – Bom dia! -ele diz à todos nós, parecendo feliz e orgulhoso pelo que vê. Do jeito dele, mas percebo.

    Todos respondemos, inclusive Shadow. Isso realmente está estranho. Mas um estranho bom, que eu quero que continue.

    Aos poucos os garotos vão acordando e se acomodando na cozinha. Deixei Jin fazer o que queria, então ele faz mais umas coisas para o café. Agradeço à mim mesma por tê-lo deixado cozinhar, porque minha omelete queimou.

HORNS » BTSOnde histórias criam vida. Descubra agora