Selecionada

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       Meu quarto era enorme. Talvez metade da população de Angeles coubesse nele... Certo, isso era meio exagerado. Mas não deixava de ser uma meia verdade.

Quando a criada me guiou pelo corredor do segundo andar, tudo que eu me perguntava era o motivo de uma porta ser tão distante da outra e agora eu tinha a resposta. Os quartos eram grandes demais para que uma porta ficasse a menos de quatro metros de distância da de outro quarto. Não que eu estivesse reclamando, na verdade era ótimo para quem era um pouco claustrofóbica. Quando entrei, havia três criadas esperando por mim. Disso eu não gostei muito.

"Vocês três vão me ajudar?" perguntei indignada.

"Sim, senhorita!" elas responderam em coro.

"Mas eu não preciso de tudo isso!" repliquei.

Os dois anos em que minha madrasta me tratara como criada fizeram com que eu me acostumasse a fazer tudo sozinha e tivesse uma certa compaixão com essas empregadas. Ter três criadas à minha disposição era quase uma afronta.

"São ordens do palácio, senhorita." uma das três, a que parecia ser mais velha, falou.

Bufei de indignação e observei as outras duas. Deviam ter a minha idade, mas eram mais baixas e tinham uma expressão grave no rosto, acentuada pelo coque rígido. A mais velha tinha cabelos castanho-escuros e olhos verdes; já as outras duas eram muito parecidas, tinham olhos azuis, cabelos louros e sardas nas bochechas.

"Vocês são irmãs?" a pergunta saltou dos meus lábios antes que eu me percebesse.

"Sim!" responderam em uníssono.

"Gêmeas?" tentei.

"Sim, mas somos fraternas, não idênticas. Eu sou Julie, e esta é minha irmã Joyce." a irmã que era um pouco mais magra se apresentou.

"Prazer!" respondi, feliz por seus olhares ficarem mais animados.

"Preparamos seu banho, senhorita!" a mais velha disse. "Meu nome é Lucia."

"Por favor, me chamem de Lílian!" pedi.

"Obrigada, senhorita Lílian, mas não queremos lhe faltar com respeito."

"Tudo bem." estava cansada demais para discutir.

"Siga-nos até o banheiro."

***

O banheiro tinha pelo menos metade do tamanho do quarto, o que quer dizer muito grande. Não era como o cubículo malcheiroso ao qual eu estava acostumada que não importa o quanto eu limpasse sempre continuava assim. Foi realmente agradável poder entrar em uma banheira e ser massageada por mãos experientes, mas eu estava tentando não me acostumar.

"Sua camisola, senhorita." Lucia me estendeu um pedaço de tecido semitransparente e macio quando eu saí vestida em meu roupão.

"Ah, é... Obrigada." eu realmente ia ficar seminua? Tudo bem, isso deveria significar que ninguém mais viria até o quarto, certo? Ótimo.

Vesti a camisola e peguei o roupão que era seu par. Felizmente, este era mais espesso.

Lucia e Julie fizeram uma reverência, desejaram boa noite e saíram do quarto. Joyce havia ido para o banheiro com meu roupão de banho e eu sentei-me na cama aguardando que ela viesse para saudá-la. O colchão macio engoliu minhas cochas e eu adorei a sensação. Estava ficando cada vez mais difícil suportar que eu só teria esses pequenos luxos por pouco tempo. Logo voltaria a dormir em um colchão fino e esburacado estendido sobre o chão de madeira do sótão, usando um lençol fino, e também roto, para me cobrir.

O Vestido, o Baile e a Seleção [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora