A Discussão

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Há momentos em nossas vidas em que nos deparamos com um problema e tudo o que somos capazes de fazer é olhar para ele, como se ele fosse se resolver sozinho. Ali, naquela biblioteca, olhando para Arthur parado à minha frente me encarando como se eu fosse um fantasma, foi como eu me senti. Meu peito acelerado condizia com a pane em que meu cérebro entrava: ao mesmo tempo em que eu sentia vontade de xingá-lo de todas as maneiras possíveis, minha mente se atinha a detalhes como a barba rala que cobria a face do príncipe naquela tarde; ao mesmo tempo em que eu queria socá-lo, minha mãos formigavam de desejo de acariciar aqueles cachos macios e rubros uma última vez.

Desenho algum seria capaz de substituir a imagem verdadeira do príncipe ou de causar as mesmas reações que ele me causava.

"Senhorita Lillian", Arthur cumprimentou, fazendo a raiva e a mágoa borbulharem em meu estômago. Ele nunca me chamava de Lillian.

"Alteza", respondi com uma reverência, desperta de meu torpor, e em seguida dei as costas para o príncipe, determinada a sair dali o quanto antes.

No entanto, no segundo seguinte, ouvi três baques surdos, indicando que os livros caíam no chão, e senti a mão do príncipe envolver meu braço, parando-me.

"Vidya, espere."

"Por que eu deveria, Alteza?", cuspi.

"Por favor, me deixe explicar!"

"Explicar o quê, Arthur?!" Explodi, soltando meu braço de sua mão com violência e me virando para encará-lo "Que você decidiu que nós não vamos nos encontrar mais e me entregou o livro? Você é o príncipe, afinal! Pode decidir fazer o que quiser!"

"Vidya..."

"E, quer saber?, está tudo bem! Eu não queria entrar nesta maldita Seleção mesmo! Isto aqui é só um jogo doentio para deixar o príncipe curtir um pouco a vida antes que se case, não é? Pode se esbanjar com trinta e cinco garotas até escolher uma, e ainda assim continuar se esbanjando com algumas até ser obrigado a decidir!"

"Você acha que eu queria isso? Você acha que eu queria essa Seleção?", Arthur esbravejou, assustando-me. "Eu tenho dezoito anos, não me sinto preparado sequer para pensar em ter um relacionamento e estou sendo obrigado a escolher uma esposa! Tudo isso porque o reino não pode entrar em colapso devido às rebeliões e porque foi decidido que eu seria uma boa forma de diversão!"

Pisquei, surpresa com aquela declaração, mas depois senti a raiva voltar a incendiar minhas veias.

"É o seu dever como príncipe, não é? Não use isso como desculpa para justificar sua covardia! Se você não queria mais se encontrar comigo, devia ter sido honesto e ido você mesmo entregar o maldito livro! Mas eu não significo nada para você, não é mesmo? Você sempre planejou escolher a Layla ao fim de tudo, mas ainda assim achou que seria divertido brincar um pouco com as outras garotas!"

"Vidya, eu me importo com você! Eu me importo tanto que sei que não conseguiria ir eu mesmo te dizer que não poderíamos mais nos encontrar sem dar explicação nenhuma!", Arthur objetou em um tom quase desesperado.

"Será que você vai falar a verdade ao menos uma vez?" gritei. "Eu não preciso de mais mentiras, Arthur! Desde o começo, quando eu ouvi você e Layla trocando confidências no jardim, eu sabia que seria ela! Mas eu sou uma grande tola e me permiti fantasiar até perder o controle sobre mim mesma! Eu não sei como eu fui capaz...! Mesmo depois daquela foto ridícula com Layla, eu...!"

Arthur aproximou-se de mim enquanto eu despejava minhas acusações e segurou meus ombros com firmeza, fitando profundamente meus olhos.

"Lillian", chamou.

O Vestido, o Baile e a Seleção [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora