A (Re)Aparição

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P.O.V. Lillian

Fomos acordadas por uma mulher – uma rebelde – que veio nos trazer comida e água e nos levar para o banheiro. Ela parecia ter por volta de quarenta anos, era baixinha e gorducha e muito explosiva. Nos entregou a comida como se estivesse – e provavelmente estava – sendo obrigada a fazer aquilo a contragosto, e antes de nos deixar comer nos arrastou pelos braços até o banheiro, que ficava na porta ao lado do lugar em que estávamos. O corredor terminava em um "T" em ambos os lados, e eu logo percebi que encontrar a saída dali seria bem difícil, já que não havia nenhuma janela à vista.

Quando saímos do banheiro – que era um pequeno cubículo malcheiroso onde havia apenas um vaso sanitário, uma pia e um chuveiro – após o levemente constrangedor episódio fazer-xixi-com-pessoas-olhando-e-assistir-uma-pessoa-fazendo, ela praticamente nos atirou de volta à sala e trancou a porta atrás de si, gritando que não voltaria à tarde, só à noite.

Aquela foi nossa pista de que era manhã.

Miriam e eu comemos o pão seco com manteiga e o suco artificial de uva com desânimo. A comida me fez lembrar de casa, e eu me perguntei sobre minhas meias-irmãs e minha madrasta pela primeira vez em muito tempo. Deviam estar com ódio de mim, agora.

"O que foi?", Miriam perguntou.

"O quê?"

"Esse meio sorrisinho aí. Você está rindo de quê?"

"Ah... é que eu lembrei de casa, comendo esse pão seco. Minha madrasta me odeia e depois que meu pai morreu passou a me tratar como criada dela. Eu comia o que sobrava. Eu não ia poder ir para o Baile de Seleção, sabe? Meu amigo que deu um jeito de me levar. Imagino o quanto elas me odeiam ainda mais agora. Se eu entrasse em casa, era possível que ela e as duas filhas tentassem me matar."

"E você está rindo disso?!", Miriam sorriu, incrédula.

"É", dei de ombros. "Fazer o quê?"

Rimos juntas.

"Vaso ruim não quebra", brinquei. "Você viu de que altura eu caí? Ainda não acredito que estou inteira depois daquilo. Sem falar na explosão que me arrancou uns dedos! Parando pra pensar agora, caramba!"

Ri ainda mais.

Quando as risadas acabaram, Miriam ficou pensativa.

"Eu não sei o que faria sem a minha família...", Miriam falou após um tempo. "Você é muito forte por passar por tudo isso e ainda conseguir rir, Lillian!"

Sorri, desviando o olhar e sentindo o rosto esquentar.

Somos todas fortes, afinal.

_-*-_

Pouco tempo depois, houve certa comoção fora de nossa cela. Miriam e eu nos entreolhamos com curiosidade. O que seria? O rei teria respondido à transmissão feita pelos rebeldes? Esperamos que alguém passasse falando alguma coisa para que tivéssemos alguma pista do que se passava, mas depois de uma certa correria, ninguém mais passou por um bom tempo. Miriam e eu começamos, então, a nos alongar. Ficar sentadas naquele chão estava nos deixando doloridas – sem falar nos hematomas que pouco a pouco eu descobria em meu corpo –, e aquele era uma boa forma de distração. Algum tempo depois – era difícil contar quando não tínhamos nenhuma referência – a porta de nossa prisão foi escancarada. A mulher de antes se posicionou para dar passagem com uma expressão irritada enquanto uma aparição em roupas camufladas passava por ela.

Layla marchou para dentro da sala. Seus cabelos presos em um rabo de cavalo e suas botas militares combinando com a expressão de arrogância estampada em seu rosto. Senti ódio. Quis voar em direção a ela e espremer aquele pescocinho fino entre as mãos. Miriam me conteve, segurando meu pulso. Então Layla abriu a boca, e eu quase me atirei contra ela realmente.

"Boa tarde, meninas! Aproveitando a estadia?"

"Se espancamento de víbora estiver incluso no pacote, vou aproveitar muito!" Não pude conter minha língua.

A jovem rebelde riu e me olhou com superioridade.

"Você nunca perde a pose, não é, Lillian? Saiba que aqui eu dito as regras!" Ela agarrou meu queixo com brutalidade, então torceu o nariz de desgosto, soltando-me. "Francamente! Vocês estão podres!"

Revirei os olhos. Grande coisa.

"Jen, eu não suporto sujeira, você sabe! Essas meninas estão imundas! Faça-me o favor de arranjar uma muda de roupas limpa para cada uma. Vou levá-las eu mesma para o banheiro, já que você é incapaz de fazer sequer isso!", ela cuspiu para a rebelde mais velha, que ainda estava na porta com a mesma expressão de raiva.

"Você quer que eu use as roupas do estoque para essas...", a mulher, Jen, começou, mas foi interrompida por Layla.

"Eu não me importo com o trapo que você tenha disponível, eu só quero roupas limpas! E sapatos. Não somos animais."

Olhei de uma para a outra sem entender aquilo, mas não disse uma palavra.

"Tudo bem", Jen revirou os olhos.

"Agora que estamos entendidas, vá preparar as roupas. Eu volto em meia hora para levá-las para o banho."

Dito isto, Layla saiu pela porta e a rebelde mais velha entrou para recolher nossos pratos sujos murmurando em desgosto.

"Só porque é a namoradinha do chefe acha que pode mandar em alguma coisa! Rá! Vai vendo..."

Namoradinha? Não era o pai dela que era o líder dos rebeldes? Franzi o cenho sem compreender, mas não perguntei nada para a mulher – não ousaria. Depois que ela saiu, olhei para Miriam, que parecia também estar confusa com aquela cena.

Pelo menos eu não era a única.

Depois da suposta meia hora, Layla voltou, trazendo consigo dois sacos com roupas dentro e dois pares de botas iguais às delas. Atirou-as para nós com displicência.

"Vamos. As duas."

Jen nos aguardava na porta e nos advertiu com voz séria para que não tentássemos nada. Achei melhor não arriscar. Layla nos empurrou para dentro do banheiro e trancou a porta, deixando a rebelde mais velha para fora.

"Se eu precisar de ajuda te chamo, Jen!" falou ao girar a chave.

Do lado de fora, a mulher bufou alto e nós ouvimos seus passos se afastarem. Assim que eles sumiram, Layla voltou o olhar para nós. Sua máscara de superioridade havia sumido e dado lugar a uma expressão ansiosa e tensa.

Franzi o cenho.

Mas o que...

"Finalmente me livrei dessa coisa,", ela suspirou de alívio nervosamente. "Quem aqui sabe dirigir?"

"Hã?" Foi minha única reação.

Miriam, por outro lado, levantou a mão direita como se estivesse respondendo a um professor na escola.

"Como assim?", insisti em pedir uma explicação.

Layla suspirou como se estivesse diante de uma criança especialmente lenta.

"Não é óbvio? Eu estou ajudando vocês a fugir!"

_-*-_



Hello!

Gente, cheguei de viagem faz duas horas e ainda estou enjoada KK

(Mas depois de mais de 4h num ônibus, beloved, queria o quê, né?)


E AÍ?

Esperavam isso da Layla? Teve alguém que imaginou isso, que eu lembro HEHEHE

Amo hipóteses, criem hipóteses XD

Semana que vem tem maiiiis <3

Beijoooos *3*

O Vestido, o Baile e a Seleção [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora