A primeira baixa no estoque de mulheres do príncipe

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       Por um segundo, fiquei apenas estática, tentando processar o que eu tinha escutado, mas depois apenas senti uma estranha raiva brotar em mim. O príncipe estava por aí, confabulando com a loira estonteante da festa como se eles já tivessem um relacionamento sério enquanto as outras selecionadas – exceto eu, claro – esperavam ansiosamente que ele as chamasse para um "encontro".

Suspirei e voltei meu olhar para a folha em branco em meu colo. Não era da minha conta. Eu não ia me importar.

Comecei a rabiscar qualquer coisa, deixando minha mente e minhas mãos dançarem livremente pela folha, não pensei em minha madrasta, minhas irmãs, minha vida fora do palácio, Viktor ou qualquer coisa que me fizesse querer permanecer na Seleção. Pensei em flores e pássaros; pensei no vento e na forma suave como ele bailava com as copas das árvores e com as flores do jardim abaixo de mim.

Tudo no palácio parecia incrivelmente suave, até o vento. Ou talvez apenas fosse a primeira vez que eu parava para observá-lo em muito tempo.

***

Aos poucos, acabei inevitavelmente estabelecendo uma rotina no palácio. Acordava, deixava Julie, Lucia ou Joyce me ajudar a tomar banho e me vestir – várias vezes eu havia reclamado da situação, mas elas pediram para eu não falar nada para o príncipe, caso contrário elas poderiam ser desencarregadas de mim e terem que ir trabalhar na cozinha, possibilidade abominada principalmente por Julie, que detestava o lugar –, depois eu descia para o salão onde era realizado o café da manhã e observava as pessoas ao meu redor. Ao contrário de como seu pai havia feito, o príncipe ainda não tinha mandado nenhuma selecionada embora, mesmo ao final de cinco dias. E o pior é que todas pareciam animadíssimas umas com as outras, ainda não havia percebido sequer um resquício de rivalidade que pudesse gerar uma discussão que, posteriormente, levasse a uma expulsão do palácio. Depois de suportar as inúmeras conversinhas que surgiam ao meu redor, eu caminhava sofregamente para o Salão das Mulheres, passava cerca de meia hora vendo garotas conversando sobre vestidos, pintando as unhas umas das outras e pedindo às suas criadas para fazerem diferentes penteados em suas cabeleiras brilhantes. Mas o principal assunto era sempre o mesmo: o príncipe Arthur.

Era maçante. Nem uma discussãozinha para animar o dia.

Depois de me entediar um pouco mais, eu corria para o meu quarto para desenhar mais alguma coisa. Ao final de quase uma semana, eu já tinha uma pequena coleção de ilustrações e não fazia outra coisa além disso. Já havia pedida a Joyce que me deixasse ir à cozinha preparar qualquer coisa, porque não aguentava mais ficar vegetando naquele quarto, mas ela disse apenas que antes eu precisava pedir permissão a Sua Alteza.

O príncipe também havia estabelecido uma rotina. Durante os cinco dias que haviam se passado, ele havia tido dois ou três encontros por dia com as selecionadas e passava o resto do dia no escritório de seu pai. Vez ou outra, ele e a garota da vez passavam em frente à minha janela de braços dados, rindo de alguma coisa ou em silêncio. Acabei me acostumando a ser uma espectadora e até brincava sobre isso com as únicas amigas que havia feito no palácio: as três criadas. Fazíamos suposições e dávamos notas de acordo com as chances que cada moça supostamente teria com Sua Alteza.

Tudo era normal e rotineiro, a vida havia se tornado, mais uma vez, calma para mim.

Até aquela manhã.

O dia começou como qualquer outro e o único contratempo que tive foi com meu cabelo que não se comportava de jeito nenhum no penteado que Joyce tentava fazer. Fui enfiada em um vestido tomara-que-caia verde-água cheio de véus na saia e pequenas pedrinhas enfeitando o busto. A saia chegava ao chão em camadas que refletiam a luz do sol tal qual uma Pedra da Lua, me fazendo ficar boquiaberta.

O Vestido, o Baile e a Seleção [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora