Depois

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P.O.V.: Viktor

Corri pelo palácio com Dominic em meu encalço. Geralmente, ele seria mais rápido que eu, mas, naquele momento, todo o meu corpo estava preenchido pelo mais profundo desespero. Porque eu já sabia, de algum jeito. Acho que soube assim que foi dito que sentinelas mortos foram encontrados em um dos jardins do palácio pelo pelotão do príncipe, que voltava de sua malsucedida missão de invadir a propriedade Allison após os soldados encontrarem o lugar completamente vazio, mesmo o esconderijo sob a igreja – que não tinha sequer mobília. Eu sabia antes mesmo que uma das criadas corresse até mim quando fui me juntar a Dominic na inspeção do local e me dissesse que havia visto homens levando duas selecionadas desmaiadas para fora do palácio.

Eu sabia que havia algo muito errado.

Mas só tive a confirmação quando a criada falou que uma delas usava vestido branco – o vestido que identificava as finalistas da seleção. E eu sabia que Layla estava à salvo, pois havia sido evacuada junto com outras pessoas para um abrigo com minha ajuda.

Só havia duas garotas com vestido branco naquele dia.

Chegamos à biblioteca, e tivemos que pular por cima de uma estátua que estava deitada no chão logo após as portas, que haviam sido destruídas a golpes e agora tinha um grande buraco cortado de qualquer jeito na madeira. A estátua, aparentemente, havia sido uma tentativa de impedir a entrada de alguém, mas fora em vão. Quem quer que tivesse forçado a entrada ali, estava armado e decidido.

Não.

Senti medo como nunca antes sentira em minha vida. Uma sensação fria tomou meu peito.

Por favor, não!

Chegamos à passagem secreta que levava ao quarto do príncipe. Aquela passagem era conhecida apenas por ele e por alguns guardas seletos, inclusive Dominic e eu, que havia sido informado sobre ela durante os planejamentos para combater os rebeldes.

Tateei cegamente a parede ao lado do quadro. Já fazia mais de meia hora que eles haviam entrado ali, por que não abria?

"Viktor", Dominic chamou, afastando gentilmente minhas mãos da parede. "Deixe comigo. Um palmo longe do quadro e na altura das rosas vermelhas."

Dominic tocou o ponto indicado, fazendo com que a porta secreta se abrisse, e eu entrei correndo escada abaixo, ansioso demais – tentando, ao mesmo tempo, manter e conter a frágil esperança de que eu estivesse errado – para sequer notar o modo carinhoso como havia sido tratado por ele. Sozinho, deitado no chão a cerca de um metro dos degraus, estava o príncipe: desmaiado e segurando em uma das mãos um familiar sapatinho de veludo negro. Enquanto Dominic corria até ele e testava seus sinais vitais, eu só conseguia ficar parado, em choque.

Lillian não estava lá.

_-*-_

Fui levado até meu quarto por um Lodge preocupado sob ordens de Dominic. Após perceber que minha melhor amiga havia sido sequestrada por rebeldes, eu entrara em um pânico silencioso e estático, incapaz de fazer qualquer coisa. As horas passaram sem que eu percebesse, e quando Dominic bateu à minha porta e entrou sem esperar autorização já deveria ser noite, pois o chefe da guarda estava com cabelo molhado, roupas limpas e comuns e cheiro de sabonete.

Eu ainda estava na mesma posição em que fora deixado tempos antes: sentado na beira da minha cama e segurando nas mãos uma foto em que aparecíamos eu, Anabelle e Lillian no jardim da minha casa quando éramos crianças. Na imagem, Anabelle estava segurando um urso de pelúcia e sorria timidamente para a câmera, enquanto Lillian estava pendurada em meu pescoço e tinha um sorriso largo, como o meu. A foto havia sido tirada pouco antes de a mãe dela falecer; depois disso, Lillian passara alguns anos até voltar a ficar sorridente como era antes.

O Vestido, o Baile e a Seleção [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora