Eu não sei exatamente quando me dei conta de que havia algo errado.
Depois de sair do quarto de Alex, comecei a pensar na situação das duas garotas. Eu não desconfiava de nada entre ela até vê-las juntas e interagindo hoje de manhã, mas depois que as vi... não dava para dizer que elas não estavam destinadas a ficarem juntas. Pensar nisso fez com que, inevitavelmente, minha mente viajasse até Arthur. Naquela semana, o príncipe havia me visitado ou me enviado convites para ir até seu quarto nos dias em que não houvera nenhuma aula de dança nem de etiqueta – Gina estava positivamente surpresa comigo devido à minha boa educação – e nossa leitura havia avançado um pouco. Arthur havia voltado a me interromper enquanto eu lia, e isso rendia vária trocas de farpas entre nós. Eu me divertia tanto que nem percebia o tempo passar.
É claro que havia ficado cada vez mais difícil ficar perto do príncipe e não demonstrar o quanto eu estava apaixonada por ele. Meu orgulho e o medo de ser rejeitada – a imagem dele beijando Layla não saía da minha mente – me impediam de agir normalmente perto dele. Mas, se Arthur havia percebido, não demonstrava. No entanto, quando eu estava sozinha em meu quarto, era impossível não ficar lembrando de detalhes como quão bagunçados seus cachos ficavam depois de ele passar um tempo deitado, ou como ele sorria meio de lado e fazia meus joelhos virarem gelatina.
No último encontro, eu estava rindo sobre uma de suas observações sobre a família de Lizzy* quando Arthur – que estava sentado ao meu lado – subitamente parou de rir. Estranhei e voltei meu rosto para ele, deparando-me com seu olhos fixos em mim.
Mais uma vez, perdi-me naquela imensidão verde que eram suas íris e inúmeras borboletas ganharam vida em meu estômago enquanto meu ritmo cardíaco acelerava. Engoli em seco e entreabri os lábios, tentando suprir minha necessidade de ar, que subitamente triplicara. Esse movimento chamou a atenção do príncipe, que passou a encarar meus lábios com as pupilas dilatadas e também engoliu em seco, o que me fez olhar para seu pomo de adão e em seguida para seus lábios.
Eu estava tão ferrada.
No entanto, no exato momento em que eu pensei que ele me beijaria, Arthur desviou o olhar e suspirou, como se tivesse voltado a si. Tentando não demonstrar minha frustração e minha expressão denunciadora, virei o rosto e olhei para a porta do quarto. Ela sempre tivera aqueles detalhes entralhados?
"Então" Arthur falou de repente, sobressaltando-me, "vamos continuar?"
_-*-_
Com três suaves batidas na porta, Lucia entrou no quarto, despertando-me de meus devaneios, e disse que me ajudaria a me arrumar para o almoço.
"A senhorita parece feliz hoje", comentou.
"Pareço?"
"Sim. Vai se encontrar com o príncipe?"
"Não sei", sorri, indo para o banheiro. "Mas hoje não haverá aula, será que...?"
"Se ele tiver um sorriso igual ao seu no rosto, certamente!"
"Lucia!", ri.
"Ah, senhorita", a criada riu, "tudo que eu posso fazer é torcer por você!"
Entrei na banheira e deixei a criada massagear meus ombros e meu couro cabeludo, relaxando meu corpo na água quente. Eu poderia me acostumar com aquilo. Depois do banho, Julie veio e escolheu meu vestido – que era coral e marcava bem minha cintura – e me ajudou a vesti-lo. Calcei sandálias que elas me ofereceram e depois deixei que me maquiassem. Quando eu estava pronta, saí pela porta e fui acompanhada por Thomas até o Salão onde aconteceria o almoço.
Talvez eu devesse ter percebido que havia algo errado assim que entrei no Salão e recebi um olhar convencido de Layla, ou talvez devesse ter notado quando Arthur, ao entrar, olhou parar mim e, em seguida, desviou o olhar. Mas eu não percebi nada estranho, apenas saboreei minha refeição ingenuamente, ansiosa para encontrar-me com Arthur mais tarde – e torcendo para que ele realmente me convidasse para mais uma tarde de leitura ou que aparecesse repentinamente em meu quarto com o livro mais uma vez.
Quando voltei para o meu quarto após o almoço, peguei meu caderno e comecei a rabiscar qualquer coisa para me distrair. Eu não queria, mas estava ansiosíssima para receber qualquer bilhete do príncipe ou sua visita súbita. Rabiscava, caminhava para a varanda, rabiscava, voltava para a cama, rabiscava...
Minha mente viajava por mil lugares, mas sempre voltava para o mesmo ponto: Arthur iria aparecer?
Lucia estava limpando o quarto e o banheiro, e me observava com um misto de preocupação e diversão. Eu nem tentava disfarçar, minha ansiedade era quase palpável e chegou ao seu limite quando eu ouvi três batidas na porta e, ao correr para atender, fui frustrada ao ver apenas Joyce trazendo duas amostras de tecido para que eu escolhesse uma cor.
Após o jantar, no qual eu percebi um clima tenso no ar, o que me fez perder a fome, deitei-me em minha cama imediatamente. Tudo que eu queria era dormir para esquecer o quão idiota eu fora naquele maldito dia e parar de sentir aquele aperto em meu peito que teimava em acentuar-se.
Quando finalmente dormi, tive o sono invadido por pesadelos ilógicos sobre fugas e assassinos encapuzados que perseguiam a mim e a uma criança que eu precisava a todo custo proteger. Acordei no meio da noite suando frio e com um buraco no estômago causado pela falta de alimento.
"Senhorita?" Julie indagou, surpreendendo-me.
"J-julie! Você está aqui..."
"Sim, eu vim lhe fazer companhia esta noite. Beba um pouco de água, a senhorita está pálida."
Recebi um copo de suas mãos e bebi a água com gratidão enquanto ela ligava o abajur. Quando terminei, devolvi o copo.
"A senhorita gostaria de um lanche?"
Olhei, surpresa, para a bandeja de comida que ela me oferecia e depois fitei seus olhos, incrédula.
"Como você sabia?"
"O sodado Martin mencionou que a senhorita mal tocou no seu jantar, então imaginei que poderia acordar com fome."
"Sim!", exclamei. "Muito obrigada!"
Julie sorriu e aguardou enquanto eu bebia um copo enorme de leite quente com biscoitos de baunilha e chocolate. Quando terminei, a criada apanhou a bandeja e saiu pela porta, deixando-me à sós por tempo suficiente para que o sono voltasse e eu dormisse novamente.
_-*-_
Na manhã seguinte, fui despertada por minhas criadas para que me aprontasse para o café. Rapidamente, as criadas me banharam, vestiram e arrumaram meus cabelos. Quando Joyce estava se preparando para começar a me maquiar, batidas soaram da porta, surpreendendo a todas nós.
Lucia caminhou para a porta e a abriu. Era um criado, e ele trazia nas mãos um pacote largo retangular. Quando minha criada o recebeu e o entregou para mim, eu já sabia o que era, mas me obriguei a rasgar a embalagem para ter certeza.
Junto a um bilhete simples, que dizia "boa leitura", estava o exemplar de Orgulho e Preconceito que Arthur me dera como presente.
_-*-_
*Lizzy: Elisabeth, personagem de Orgulho e Preconceito.
Heeey
Gente, eu prometi a mim mesma que de ontem não passava... Aí passou :c
SO SORRY
Mas eu já estou planejando nossa minimaratona! (Quem sabe eu não começo hoje mesmo, postando todo dia? MWAHAHA)
E DESCULPEM A DEMORA PRA RESPONDER SEUS LINDOS COMENTÁRIOS, AMORES, MAS EU LEIO TUDINHO, VIU?!
LEIAM AQUI! É RÁPIDO!
Gente, eu estou meio que fazendo uma playlist no Youtube (porque eu sou pobre e não tenho Spotify) de OVOBEAS. Eu vou adicionando músicas conforme vou vendo que elas se adequam à história, então ela vai estar em construção até o fim, eu acho kkkk
Se vocês tiverem interesse, eu posso colocar o link no próximo capítulo.
Beijoos *3*
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O Vestido, o Baile e a Seleção [CONCLUÍDA]
FanficFANFIC DE "A SELEÇÃO" (Kiera Cass) E "CINDERELA" (Disney, 2015) "Desde que meu pai morreu, passei a ser tratada como uma criada pela minha madrasta e minhas irmãs, e agora não era mais considerada da família. Só uma servente. Fui rebaixada ao pont...