A Soneca

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            Eu não sabia como reagir ao ouvir Alex falando sobre seu encontro com Arthur. Segundo ela, ver um filme na sala de cinema do palácio com o príncipe fora muito divertido, e ele se mostrara muito gentil e atencioso. Minha amiga estava extremamente aliviada, depois de ter passado algumas horas na companhia do príncipe. Ela chegara em meu quarto após o café da manhã e havia ficado o tempo todo até o almoço falando disso com indisfarçada alegria durante nosso jogo de cartas.

Enquanto isso, eu não sabia o que sentir. Sabia que devia estar feliz por ela, mas lá no fundo da minha alma havia um monstrinho verde cuja existência eu preferia ignorar. Por isso, quando a hora do almoço chegou, foi a minha vez de ficar aliviada, embora a culpa me corroesse. Eu era uma péssima amiga.

Arthur foi o último, junto com o rei, a chegar ao salão para o almoço. Todas as selecionadas se levantaram e fizeram uma reverência, depois voltaram a se sentar. Alex, que estava ao meu lado mordia o lábio, encarando seu prato, tentando esconder, em vão, um sorriso. Ao lado dela, uma garota ruiva – cujo nome eu não lembrava de era Miriam ou Martha Chord – também encarava distraidamente seu prato, puxando um cacho entre o polegar e o indicador com as bochechas avermelhadas.

Eu não sabia se ia aguentar aquele surto de paixonites pelo príncipe por muito tempo. O monstrinho verde que se remexia dentro de mim estava agora em meu estômago, fazendo com que eu perdesse a fome completamente e sentisse vontade de destruir alguma coisa. Tentando não demonstrar minha estranha ira repentina, remexi a comida em meu prato com um garfo, fingindo interesse por ela.

Ao fim da refeição, fui para meu quarto, decidida a ficar reclusa até que aquela maldita seleção acabasse. Minha mente estava uma confusão: enquanto uma verdade sorrateira teimava em infectá-la a cada pensamento que eu tinha, a consciência de que eu deveria ser uma amiga melhor para Alex fazia eu me sentir culpada a cada segundo. Eu mesma havia dito que via o príncipe como amigo! É claro que ela havia se sentido mais à vontade para me falar de seus sentimentos depois disso.

E havia o fato que eu não queria admitir de jeito nenhum: eu estava apaixonada por Arthur. Em algum ponto entre achá-lo arrogante e vê-lo como um ser humano normal, eu havia perdido o controle dos meus sentimentos pelo príncipe. Isso me deixava irritada e estranhamente feliz ao mesmo tempo em que me fazia experimentar um ciúme que eu desconhecia até então. Pela primeira vez eu tinha sensações sobre as quais eu apenas lera nos romances.

Andei pelos corredores do palácio com Thomas – calado como uma estátua – ao meu lado. Eu apreciava sua companhia quieta e, se não fosse pela vez em que ele alertara a mim e a Viktor sobre alguém no corredor, eu diria até que ele era mudo. Quando chegamos à porta do meu quarto, Thomas se posicionou à direita da entrada com a postura ereta após me fazer uma curta reverência. Sorri em resposta distraidamente e abri a porta.

E tomei um dos maiores sustos da minha vida.

Arfei, assustada, e pulei para trás, voltando para o corredor. Thomas tomou uma posição de defesa imediatamente, indo para minha frente e apontando sua lança para dentro do quarto de forma ameaçadora. Só que a figura deitada displicentemente em minha cama sequer se moveu.

"Fico satisfeito ao ver o quão bem protegida a senhorita Vidya está, mas creio que isto não será necessário, soldado Martin, obrigado", disse o príncipe dando um meio sorriso divertido para mim.

Thomas ruborizou visivelmente e voltou para seu posto após fazer uma profunda reverência para Arthur, que não tirava os olhos de mim nem o sorriso do rosto. Entrei no quarto novamente e fechei a porta, tentando, em vão fazer meu peito desacelerar.

O Vestido, o Baile e a Seleção [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora