A conversa (toda) que (também) não deveria ser ouvida

3K 240 26
                                    


POV: Arthur


"Biblioteca. Meu pai não está bem."

Aquele código só podia significar uma coisa, e não era nada bom.

"Arthur?", Vidya me chamou.

"Eu... preciso ir. Depois falo com você, Vidya", balbuciei.

"Arthur! O que houve?"

Senti meu peito doer. Por que as coisas não eram um pouco mais simples? Eu odiava esconder coisas dela, mas eu precisava protegê-la. Se um dos rebeldes sequer desconfiasse que ela sabia mais do que deveria, a vida dela estaria seriamente ameaçada.

Eu precisava mantê-la em segurança.

Escondi minha angústia sob a máscara que eu levara anos para aprimorar, tentando não demonstrar nada.

"Arthur?"

Caminhei até ela e tomei uma de suas mãos entre as minhas, fitando seus olhos destoantes. Então menti grandiosamente.

"Eu prometo que está tudo bem. Agora eu preciso ir."

Beijei sua testa, depois sua mão, e saí do quarto. Assim que toda aquela bagunça passasse, eu explicaria tudo a ela – tudo mesmo. Mas agora precisava saber das novidades desagradáveis que Layla tinha para me contar. Enfiei o bilhete de qualquer jeito no bolso da calça e saí rumo à biblioteca.

Enquanto caminhava pelo corredor, cruzei com Dominic, que me fez uma reverência respeitosa antes de seguir seu caminho. Lembrei-me do encontro que teria com ele e Viktor no dia seguinte. Perfeito. Estávamos finalizando nossos preparativos para o dia do Baile de Escolha e as informações dadas agora por Layla poderiam fazer toda a diferença. O plano era simples: convocar todos os guardas e funcionários identificados como rebeldes e prendê-los, impedir que qualquer suspeito fosse escalado para atuar no dia do baile e atacar com meu destacamento do exército – constituído apenas de homens da minha confiança e cujos históricos haviam sido investigados a fundo – o esconderijo rebelde que Layla dissera ser o principal. Eu havia pesquisado sobre a localização dele, ficava em uma grande propriedade rural da família Allison que fazia fronteira com a província de Likely.

Segundo Layla, embaixo de uma igreja que recebia celebrações semanalmente: um disfarce perfeito.

A família de Layla Allison era rica. Sua mãe era atriz, seu pai, herdeiro de grandes fortunas, sacerdote e, agora, líder de um grupo rebelde. Anos atrás, George Allison havia sido governador, mas fora destituído de seu cargo quando surgiram denúncias de corrupção em seu governo. Nunca foram encontradas provas de crimes por parte dele, mas, para manter a confiança do povo em seus líderes, foi preferível que ele não reassumisse o cargo. Na época, George deu entrevistas sorridentes em que dizia estar tranquilo acerca de suas ações, porque nunca havia cometido crime algum, mas que, se houvesse mesmo um corrupto, ele rezaria a Deus para que iluminasse sua alma, fazendo-o se entregar e se arrepender de seus crimes.

O homem era um ator.

Para mim, que na época das denúncias não era sequer nascido, sempre havia sido claro que George Allison era um criminoso hábil e dissimulado, embora nunca tivessem sido encontradas provas de nada. Atualmente, George se dedicava apenas às suas pregações e benfeitorias, ganhando o amor do povo por todas as províncias. Recentemente, fora para Hondurágua para distribuir remédios para as crianças pobres, que estavam constantemente doentes devido às péssimas condições do ar da província.

E havia seu grupo rebelde, é claro.

Mas disso apenas eu e um grupo seleto de pessoas sabíamos. Layla dizia que mesmo a maioria dos rebeldes acreditava que o líder era outra pessoa, já que apenas o "alto escalão" do grupo se encontrava no esconderijo nas propriedades do ex-governador – era de lá que coordenavam os ataques. Mas ela nunca me dissera quem era o tal subordinado. Ou o endereço dos outros esconderijos. Ou o nome de todos os funcionários que ela sabia serem rebeldes. Layla, era óbvio, não confiava plenamente em mim.

O Vestido, o Baile e a Seleção [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora