Fuga

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Vamos àquela típica frase clichê: se alguém tivesse me dito, duas semanas antes, que Layla se arriscaria para salvar Miriam e eu, eu teria dito que a pessoa estava louca e rido muito. Aquela Layla da época jamais pareceria ser capaz de algo do tipo. Mas cá estávamos nós. Layla preparara tudo, e seu plano era simples e tinha poucas chances de erro.

Na verdade, não.

Era o plano mais louco que eu já tinha ouvido de alguém. E olha que eu tinha planejado muitas loucuras com Viktor.

Mas nada se comparava a caminhar pelos corredores do esconderijo rebelde fingindo fazer parte daquilo tudo até fugir.

Enquanto esperávamos a noite chegar, eu mal podia conter minha ansiedade, mas me contentara em roer as unhas até sangrarem. As nossas novas roupas eram bem mais confortáveis que vestidos de festa, mas eu precisara colocar uma meia enrolada preenchendo o espaço dos meus dedos faltosos para poder usar as botas. Layla riu ao ver meu pé, e eu não pude conter minha risada também. Talvez, ao ver aquele seu outro lado ligeiramente mais suportável, eu tivesse desfeito um pouquinho da imagem que antes tinha dela. De repente, Layla se tornara uma aliada.

"Você sabe," ela dissera em voz baixa enquanto eu me vestia e Miriam tomava banho. "eu te tratava mal porque desde o começo percebi como Arthur te olhava. Era como se visse diante de si a mais bela paisagem ou a mais bela pintura já feita. Hipnotizado."

Surpresa, eu não soube o que dizer. Apenas fiquei calada e fechei o casaco. Então ela continuou.

"Eu achava que seria fácil seduzir um principezinho mimado que nunca pudera se relacionar com ninguém antes. Era meu dever fazê-lo se casar comigo para que meu pai conseguisse o domínio do reino que um dia lhe tirou a dignidade. Acho que a essa altura você já deve saber de alguma coisa. Arthur ia te contar mais cedo ou mais tarde."

Limitei-me a acenar afirmativamente com a cabeça. Eu sabia mais do que ele quisera me contar, na verdade.

"Enfim. Você apareceu e estragou meus planos. Então eu fui lá e deixei tudo ainda pior a cada vez que tentava corrigir as coisas...", Layla engoliu em seco e olhou na direção oposta à minha. Parecia estar... contendo as lágrimas? Depois de um segundo, ela voltou a falar olhando para mim, sua voz firme, mesmo quase sussurrada. "Eu cometi erros. Muitos. Mas agora eu tenho uma chance de desfazer toda essa bagunça."

Ela enfiou a mão dentro do casaco de seu uniforme e puxou de lá um recheado envelope em papel-madeira, mostrando-o para mim.

"Antes que vocês fujam, vou te entregar isso. Proteja-o a todo custo e faça com que ele chegue até as mãos do príncipe. Aqui dentro tem uma carta para ele e todas as informações necessárias para destruir esse grupo rebelde."

Olhei do pacote para Layla seguidas vezes. Minha mente tentava entender aquele ato.

"Por que você está fazendo isso?", perguntei com um sussurro.

"Eu já disse. É minha chance de corrigir meus erros", ela se limitou a responder.

"Mas... não são seu pai e seu namorado os líderes dele? Eles não são sua família?"

"Noivado arranjado, mais sim. São." Layla sorriu tristemente. "E eu não concordo com o que eles estão fazendo. É tudo por poder e status, Lillian, não fará bem algum a ninguém. Nem mesmo a eles."

Naquele instante, a imagem que eu tinha de Layla foi totalmente destruída em minha mente. E a que a substituiu era mil vezes melhor. Sorri para ela.

"Eu vou deixar claro para o rei que você ajudou. Com certeza você não será punida tão rigidamente quanto os outros rebeldes", falei.

"Ah, esquece! Não preciso de seus favores!"

O Vestido, o Baile e a Seleção [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora