Depois daquilo, o príncipe pareceu aturdido demais para sequer conseguir continuar uma conversa. Eu também não estava exatamente bem depois de tudo que ouvira, então apenas nos despedimos e eu pude, finalmente, ficar sozinha em meu quarto.
Peguei meu livreto de cima da escrivaninha e caminhei para a varanda com ele. Meu estômago se revirava de ansiedade, e eu me sentia sufocada, precisava respirar. Puxei uma das cadeiras para mais perto da mureta e apoiei meus braços sobre ela, erguendo os olhos para o céu. Naquela noite, a Lua era apenas uma faixa curva rodeada de estrelas. Lembrei-me das histórias que meu pai me contava sobre a origem delas e sorri, ele sempre me contava histórias, especialmente quando estava chovendo e eu ficava com medo dos trovões.
Ainda pensava em minha infância quando fui levada por meus sonhos.
_-*-_
"Senhorita Vidya!", a voz de Lucia me despertou, e eu pisquei, aturdida, sentindo meus ossos estalarem conforme eu me endireitava. Percebi que ainda estava na varanda, mas já era manhã e minhas criadas haviam chegado para me aprontar para o café. Olhei para o lado e recebi o olhar reprovador de Lucia, que tinha também as mãos na cintura.
"Bom dia, Lucia-a... a... atchim!"
"Oh, meu Deus, senhorita! Não acredito que dormiu na varanda! Certamente pegou um resfriado!" A criada se aproximou e tocou minha testa com a mão. "Está ardendo em febre!"
Eu estava? Sentia meu corpo pesado, minha boca estava seca e, quando tentei umedecer os lábios com a língua, percebi que estavam ressecados. Isso sem falar no frio que sentia. Lucia ajudou-me a levantar da cadeira e me levou até a cama, onde eu me sentei imediatamente, incapaz de ficar de pé por muito tempo. Eu realmente tinha pegado um baita resfriado.
"Oh, não! A senhorita está doente!", Julie exclamou, vindo para perto da cama.
"Ajudem-me a deitá-la", Lucia pediu.
Após retirarem meu roupão, recostaram-me junto aos travesseiros e cobriram meu corpo com um lençol. Joyce ficou encarregada de informar ao príncipe que eu estava doente, justificando minha ausência no café da manhã, e Julie iria convocar o médico do palácio. Lucia apenas pegou uma toalhinha molhada e a colocou em minha testa, em seguida acariciou meus cabelos, deixando-me sonolenta de novo e me fazendo lembrar de quando eu era mais jovem e adoecia: papai ficava ao meu lado durante toda a noite, acariciando, vez ou outra, meus cabelos.
Alguns minutos depois, o médico chegou. Era um homem de aparência paternal e de cabelos grisalhos, que ainda estavam assanhados, denunciando o fato de que ele havia acordado há pouco tempo. Após examinar minha pulsação, minha temperatura e minha pressão arterial, decidiu que realmente era apenas um resfriado e recomendou repouso absoluto e ingestão de muito líquido, além de antitérmicos.
"É preferível que não a banhem com água fria, e, se possível, uma de vocês deve passar a noi-"
Repentinamente, Arthur invadiu o quarto, surpreendendo a todos. Tinha um olhar diferente no rosto, uma mistura de determinação – que lhe parecia ser constante – e loucura que fez meu coração se acelerar sem permissão. No entanto, seus olhos suavizaram-se ao encontrarem os meus, deixando transparecer algo que eu julguei ser... preocupação? Não... talvez fosse a febre me fazendo delirar. Arthur nunca...
"Vidya? Você está bem?", ele murmurou, aproximando-se da cama e pousando uma mão em minha bochecha. Eu estava chocada demais para responder, então tudo o que consegui foi abrir e fechar a boca sem emitir som algum.
"Ela se recuperará após um ou dois dias de repouso, Sua Alteza", falou o médico, talvez percebendo minha incapacidade elocutiva.
Arthur suspirou e se pôs ereto, seguindo o médico até a porta enquanto conversavam entre si aos murmúrios. Observei-os sentindo minha visão tornar-se cada vez mais pesada. Em seguida, senti novamente um toque suave em minha bochecha.
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O Vestido, o Baile e a Seleção [CONCLUÍDA]
FanficFANFIC DE "A SELEÇÃO" (Kiera Cass) E "CINDERELA" (Disney, 2015) "Desde que meu pai morreu, passei a ser tratada como uma criada pela minha madrasta e minhas irmãs, e agora não era mais considerada da família. Só uma servente. Fui rebaixada ao pont...