Aula de Dança

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O dia seguinte começou como um borrão. As três criadas estavam em polvorosa e corriam pelo quarto de um lado para o outro tirando medidas minhas e anotando os ajustes que precisariam fazer no vestido, enquanto eu tentava não deixar meus pensamentos vaguearem até Arthur. As lembranças do dia anterior ainda saltitavam em minha mente, principalmente as da despedida.

Arthur havia surrupiado o livro das minhas mãos e pulado para fora da cama no momento em que eu encarava distraidamente a espessura do volume, então ele dissera que, embora o livro fosse meu, eu não poderia continuar a leitura sem o príncipe e, para garantir que isso não acontecesse, ele ficaria com o livro sob custódia.

Eu havia ficado injuriada com a prepotência absoluta do aspirante a soberano e protestara veementemente contra aquela imposição injusta. Arthur, entretanto, fora irredutível. Exibindo toda a sua maturidade, e eu, a minha, o príncipe erguera o livro o máximo que conseguia acima da cabeça, enquanto eu tentava lhe fazer cócegas para forçá-lo a baixar o braço. Foi então eu descobri que ele não sentia cócegas.

Ainda mais irritada, eu havia começado a pular para tentar alcançar o livro, mas Arthur apenas o ergueu ainda mais alto, sorrindo torto para mim em desafio. Quando finalmente eu desisti e bufei, encarando suas íris esverdeadas que brilhavam de diversão, Arthur alargou ainda mais o sorriso e escondeu o livro atrás de si.

"Rendeu-se?", indagou.

Calada, eu simplesmente cruzei os braços, franzindo o cenho para ele.

"Você fica linda irritada."

Meu cérebro demorou alguns milésimos de segundo a mais do que deveria para processar aquela frase. No entanto, assim que o fez, meu sangue reagiu instantaneamente, correndo para meu rosto e deixando minhas faces tão quentes que eu devia estar parecendo um tomate. Isso para não falar do meu coração a mil por hora.

Arthur, então, riu, deliciando-se com a minha reação, enquanto eu virava o rosto para o lado, irritada com minha pele reveladora. Inesperadamente, senti os dedos do príncipe resvalarem minha face, afastando uma mecha do meu cabelo. Arfei, assustada com o contado, e olhei para o príncipe.

E isso se mostrou um erro tremendo.

Arthur estava mais perto do que estivera antes e encarava meus lábios com as íris cintilando de uma maneira totalmente diferente da anterior. Imediatamente senti um calor percorrer toda a extensão do meu corpo, alojando-se em meu estômago e fazendo borboletas invisíveis voarem. Meu olhar, inevitavelmente, desceu até os lábios rosados do príncipe e eu engoli em seco, presa em um transe que fazia os meus dedos formigarem de vontade de tocar o rosto de Arthur.

Batidas na porta do quarto soaram de repente, e eu pulei para trás, assustada, encostando minhas panturrilhas na cama e quase me desequilibrando por alguns segundos.

Arthur, tão surpreso quanto eu, limitou-se apenas a voltar o olhar rapidamente para a porta, depois para mim, e de volta para a porta, e então caminhou até ela. Abriu-a e uma criada fez-lhe uma reverência murmurando desculpas enquanto, com os olhos voltados para o chão, entregava-lhe um bilhete e saía, fazendo outra reverência.

Arthur franziu o cenho e fechou a porta, em seguida abriu o bilhete e leu seu conteúdo. Ouvi-o murmurar alguma coisa sobre coisas desnecessárias antes que ele suavizasse a própria expressão facial e voltasse o olhar para mim, que tentei me recompor rapidamente do estado catatônico em que me encontrava.

O Vestido, o Baile e a Seleção [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora