Sétimo - Percebendo o Quanto Estou Ferrado

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Na primeira semana de Abril daquele ano doido, eu ganhei três quilos e meio. Joel e Daniel quase surtaram de felicidade e eu nem liguei. A culpa foi minha, eu estava consciente quando comi cada porcaria. Não sou um robô, aparentemente.

Nos dias que se seguiram eu raramente via a Gio, ela estava ou na escola, ou com as amigas ou simplesmente não estava em casa. Sei que ela estava me evitando, fugindo do que aconteceu e eu deixei-a ter o tempo dela. Mas era Abril e esse mês significa ANIVERSÁRIO. Aquele ano ela completaria 17 anos e eu já idealizava sobre festa e tal.

— Sem bebida. Ela e as amigas dela são menores de idade, Richard. — falei quando nos reunimos na praça para organizar tudo. — Poderíamos apenas nos reunir e assistir uma maratona das séries dela.

— Não. — falaram em uníssono.

— São chatas, me fazem ter sono. – disse Richard.

— Concordo. Ela num gosta de churrasco, não? Gordos gostam de churrascos. – Joel disse.

— Seres humanos gostam de churrasco, Joel. — rebati — Mas quero algo grande. Algo que mostre o quanto ela significa.

Houve um silêncio, todos os dois olhavam para mim.

— Sabia que isso ia acontecer um dia. – disse Richard, de repente, muito sorridente.

— Até demorou. – concordou Joel. – Achei que ele se declararia depois da formatura, mas aqui está. Finalmente. Já estão juntos?

— Não aconteceu nada. – Não importa minha firmeza, nem a mim eu conseguiria convencer. – Ela continua sendo a Gio, a melhor amiga. Mas esse ano nossa amizade está meio balançada e eu quero... – olhei para Joel, que sussurrava algo para Richard. – Vai se foder, Joel. Já disse que não aconteceu nada, porra.

— Negação e palavrões aos montes. – Joel olhou rapidamente para Richard e logo voltou ao foco – Foi isso que aconteceu semana passada, não é? Você a viu nua ou coisa parecida? Ela deixou você na mão? É por isso que você está de mal-humor constante.

— Vai. Se. Foder. Eu estou ótimo. Eu tinha tomado uma das pílulas do meu pai e elas me deram azia. – menti.

— Boa tentativa, Yan. Você nunca se drogaria, seu mantra não permite. Seu corpo é um templo. – Joel estalou o pescoço – Ela está bem sumida, não é? Você agiu feito um idiota novamente?

Continuei a afastar o assunto.

— O Pedro disse que é por causa da escola. – disse Richard – Pedro é gamado nela. Esses dias eu tava voltando da faculdade e o vi babando nela. Parece uma raposa preparando um ataque.

Ouvi aquilo e guardei na parte do cérebro onde minhas ideias homicidas ficavam.

— Ela age como se não gostasse de ninguém, percebeu? — disse Richard.

— Ela nunca olha para os outros garotos. Aposto que é virgem. – Joel esquadrinhou a praça com o olhar e voltou à atenção – Yan, meu amigo, acho que você não vai a lugar nenhum nessa paixão maluca pela sua amiga. Se você ainda tem um pouco de sensatez, fala de uma vez com ela ou larga o osso.

— Eu não estou apaixonado. – falei quase rápido demais.

Os dois riram.

— Claro que não. – disseram.

Naquela noite, passei cada hora com meu pai e minha filha. Raquel deixou que ela passasse uma noite comigo.

Já era bem tarde quando meu celular vibrou:

Liberdade E Rendição - Crônicas Melhores Amigos.Onde histórias criam vida. Descubra agora