Décimo Terceiro - A Noite da Cozinha

104 6 16
                                    

Para deixar claro que não sou um ninfomaníaco ou um lunático, não fui direto para a casa dela, da Gio. Cheguei ia dar meio-dia e nem falei que tinha chegado, arrumei as coisas em casa, onde eu morava sozinho, comi alguma coisa e fui para a casa da Raquel, ver minha princesinha.

Peguei minha filha no colo antes que ela caísse ao tentar correr para mim. Ela não aprendeu a andar, apenas corria. Estava com um vestido branco e rosa bem espalhafatoso e com um cheirinho de bebê gostoso. Amassei-a contra meu peito e a enchi de beijos e ela reagiu com risadas às cócegas da barba por fazer. Dona Eva estava observando nós dois, mas não parecia a velha rabugenta de antes, estava apenas monitorando. Passar duas horas com ela não foi o suficiente, mas deveria bastar. Voltaria no dia seguinte e a levaria para ficar um tempo comigo, coisa que consegui de tanto pedir para a avó de aço.

– Você mudou bastante, Yan. – ela disse quando Lois adormeceu e eu estava indo embora – Uma pena não ter dado certo entre vocês dois. Raquel tomaria jeito se ficasse com você.

– As pessoas não mudam por causa das outras, Eva. Elas mudam porque veem a necessidade de mudar. – sorri e fechei o portão, não queria pensar na possibilidade de ter uma vida diferente.

Eram quase cinco horas quando cheguei ao portão da Giovana.

– Olha só. – disse ela ainda rouca, notando minha roupa bem arrumada. – Está esperando uma princesa ou algo do tipo?

– Ela ainda não chegou? – fingi olhar o relógio. – Que droga, vamos nos atrasar.

Ela olhou para a rua atrás de mim, estava movimentada e estavam esperando um deslize, um assunto para fofocarem para o resto do ano.

– Entra logo. – ela disse entredentes.

Eu a contornei e ela fechou o portão. Ficamos selados entre a garagem e o muro da rua, escondidos e no escuro. Eu não consegui me mover, não consegui desviar o olhar dela.

– Está esperando minha permissão? – Gio estava com as bochechas rosadas.

Não a beijei como vinha desejando, não tinha como. Ela estava queimando em febre, fungava a cada movimento e acabou me afastando com falta de ar.

– Desculpa. – ela gemeu e segurou meu braço. – Eu não... Droga.- Gio respirava ofegante, parando em cada palavra – Eu não consigo, Yan.

– Tudo bem. Apenas me abrace. – eu deixei que ela passasse os braços na minha cintura e deitasse a cabeça no meu peito – Viu. Vai ficar tudo bem.

Entramos na sala da casa dela. A árvore estava montada no canto e muito iluminada e colorida, muitas bolas e muitos laços. O pai dela estava sentado assistindo um jogo reprisado enquanto fumava, algo que eu abominava. Mesmo assim, me aproximei dele e o cumprimentei com uma batida de mão e respondi as perguntas de como meu pai estava, como era São Paulo e onde eu levaria a filha dele.

Gio estava bem atrás de mim, ouvindo cada palavra e me guiou até o quarto.

– Então vamos sair? – ela sorriu. – Mesmo eu sendo um chafariz de meleca?

– Não está se sentindo bem para andar? Posso ir buscar a moto ou o carro do meu pai.

Sentei na cama dela e a observei.

– Posso andar. – ela respondeu se aproximando. – Mas não para muito longe. E eu queria guardar energia para fazer outra coisa...

– Quando voltarmos... Na minha casa.

– Na sua casa? – ela sentou no meu colo e beijou meu pescoço. – Sua. Sem ninguém para você tomar conta ou para nos pegar nus?

– Exatamente. – coloquei a mão na curva do cóccix dela, mas sem tentar induzi-la – Vista algo menos "doente digna de pena".

Liberdade E Rendição - Crônicas Melhores Amigos.Onde histórias criam vida. Descubra agora