Oitavo - Brincadeiras Noturnas

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Maio foi um tédio, mas não completamente. Consegui recuperar meu corpo, meu pai não me deu mais sustos e Gio estava agindo normalmente. Tudo voltava ao "normal" aos poucos.

Em Junho, eu estava saindo mais cedo do trabalho quando Gio mandou uma mensagem: "Traquinagens e loucura. Suspeito em dizer o óbvio, mas nessas lojas reluzentes de um prédio de aço há cópias que preciso com emergência e temo que cairei em lágrimas se não obtê-lo. Socorro."

Respondi com risadas e um polegar afirmativo. Era o jeito de ela dizer que estava desesperada por algo que parecia impossível. Em dois meses ela fez com que eu lesse bons e grossos livros.

Encontrei com ela na praça de alimentação. Estava divinamente perfeita com um short jeans, camisa com enigma em inglês e um par de tênis sem cor ou estampa. A menina me viu antes que a escada rolante me levasse até o andar, ela dava pulinhos e ria, me chamando. Percebeu que eu não mencionei namorada? É porque eu não contei a ela a droga dos meus sentimentos.

– Corre, Yan. O terceiro livro está ali. – ela apontou a livraria a metros de nós. – Eu só preciso de seis para completar o dinheiro. Pode me emprestar?

Eu sorri em resposta. Para vê-la assim contente eu compraria a livraria para ela, mas isso me daria uma baita dor de cabeça com meu pai. Chegamos lá e ela agarrou o exemplar e nem quis olhar o resto. Eu olhei os dois primeiro da trilogia, mais alguns que me interessava e decidi pegar todos eles.

– Vai levar só esse? – perguntei.

Ela ficou sem reação, achei que fosse desmaiar quando viu meu braço repleto de livros. Eu já tinha lido todos da Saga do Harry Potter, todos os contos de Edgar Allan Poe que ela tinha e outros que achei no domínio público na internet, precisava ter os meus.

– Está indeciso? – PErguntou sorrindo.

– Estava. – respondi – Então, só esse que você quer?

– Não se pergunta uma coisa dessas para uma leitora compulsiva sem dinheiro numa livraria. É Crueldade. – ela ficou vermelha, nem preciso dizer o que aquilo causou em mim.

– Eu pago. – peguei o livro da mão dela e juntei com os meus. – Mais algum?

Ela pensou e no fim, balançando a cabeça, negou e fomos pagar no caixa. Ela levou um susto quando paguei cerca de duzentos reais no débito. Era a primeira vez que gastava o dinheiro que meu pai me deu.

– Vai me contar o que está rolando? Desde quando você pode gastar dinheiro assim? – ela falou quando saímos da livraria.

– Meu pai me deu um dinheiro aí. – olhei em volta – Pizza?

– Não estou com fome. Está de carro?

– Estou. Já quer ir? – EStranhei ela ficar ranzinza do nada.

– Quero. Me dá uma carona?

Andamos até o estacionamento. Estava escuro e silencioso, apenas o barulho distante do shopping.

– Gio... – falei quando ela entrou no carro e colocou o cinto. O rosto mais contorcido que qualquer coisa.

– Você está estranho, isso me deixa louca. – ela disse vermelha de raiva. – Você está metido em coisa ilícita? Sei que a gente mora em barra pesada, mas não justifica que você entre para o tráfico ou coisa parecida.

Eu tentei não rir ao me sentar ao lado dela, pegando a direção e ligando o carro. Gio bufou, antes de tirar do ponto morto, segurei a mão dela. Desde que assumi para mim mesmo estar apaixonado, decidi não apressar tudo, incluindo toques. Mas quando senti a pele quente e trêmula dela, tive que apertar os dedos contra os meus e aproveitar cada segundo, até ela se afastar. Mas ela não me afastou, esperou eu me recompor. Escondi meu rosto no volante e deixei a respiração dela me preencher.

Liberdade E Rendição - Crônicas Melhores Amigos.Onde histórias criam vida. Descubra agora