Por incrível que pareça, naquela manhã, meu aniversário, eu acordei primeiro e carreguei Giovana até o quarto, ela estava dormindo mesmo, do tipo roncando e encolhida. O nariz entupido a fazia respirar pela boca. Ela arquejou quando a peguei, deveria estar bem dolorida onde estava mais roxo no corpo. Deixei-a na minha cama, a cobri e tomei banho. De volta a cozinha, arrumei tudo e fiz vitamina. Enquanto eu tomava, meu celular tocava em algum lugar da sala.
– Bom dia, Yan. – Raquel estava com a voz bem estranha quando atendi. – Feliz aniversário, chuchu.
– Obrigado, Raquel. Você está bêbada? – perguntei.
– Não. – ouvi-a bater em algo e o silêncio deu continuidade. – Acabei de acordar. Isso... Acordar. Quer pegar a Lois e passar o dia com ela?
– Claro. Eu já ia fazer isso mesmo. Passo aí umas 14h e a pego.
– Não. Pega ela agora, lá na minha mãe. – Raquel riu. – Para que esperar?
Está bem, respirei fundo e contei até oito, minha raiva não deixava que eu chegasse a dez. Fatos: ela estava bêbada numa manhã de segunda, não tinha dormido com a filha e estava... Céus. Por que não usei camisinha?
– Onde você está? – perguntei civilizadamente.
– Em casa, com meu novo namorado. – ela respondeu como se fosse possível eu ter ciúmes. – Vai ou não pegar ela?
– Você se mudou? – segurei o celular com força contra a orelha. – Quando pretendia me contar?
– Eu mandei a Gio contar. Ela até ajudou com a mudança, ficando com a Lois e tal... Qual o problema?
– Vou lá buscar a Lois. – falei e suspirei, me acalmando. – Esse tipo de coisa, Raquel, mudança de residência tem que falar com aviso prévio. É lei. Seja mais responsável.
Ela chiou do outro lado e riu. Para não perder a paciência que me restava desliguei a ligação e coloquei o celular no silencioso, mais uma e eu explodiria.
Peguei a chave do carro e subi para falar com a Giovana. Ela ainda estava dormindo, mas tinha se mexido, dormindo de bruços.
– Gi... – falei baixinho no ouvido dela.
– Yan. – ela tentou sorrir. – Eu estou um pouco mal.
– Eu sei. Vou ir buscar a Lois agora, já volto. Tenho que conversar com você. – falei olhando para o sorriso dela se desmanchar. – Pode dormir. Não fiquei nervoso com você por isso.
Ela continuou a dormir quando saí. A Lois ainda estava meio grogue quando fui buscá-la. Dona Eva me encheu de informação e coisas para lembrar: Alergia a gato, comida de bebê, frutas sem casca, sem refrigerantes, sem TV, sem quintal, cuidado com a escada, dormir à tarde...
– Só essas fraldas vão dar? – perguntei mencionando as duas bolsas. – Estou brincando, Eva. Mais tarde eu trago ela de volta.
– Mas a Raquel disse que você ia ficar com ela até quarta. – ela disse.
– Quarta? Por que ela nunca está com a Lois? – finalmente perguntei. – Sempre que venho aqui, ela não está.
– Ela não mora aqui. – respondeu Dona Eva seriamente. – A Lois mora.
– Tenha um bom dia, Eva. Vou ficar com ela até a Raquel ir lá e buscá-la. Eu não concordei com isso. Eu também sou pai da Lois.
Voltei para casa e me assustei com o silêncio.
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Liberdade E Rendição - Crônicas Melhores Amigos.
RomanceNesta primeira crônica, veremos o Yan deixar a vida de depravação por sua melhor amiga de infância, Gio. Os dois são melhores amigos, mas há muitas diferenças, empecilhos e mal entendidos. Quem deixou quem na friendzone primeiro?