Décimo Oitavo - O Último

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O plano era o seguinte: Eu sairia do trabalho às 14h, iria à academia e lá ficaria até 16h e daí arrumaria tudo em casa e iria buscar a Gio na casa dela por volta das 19hrs. Mas tudo parecia desabar no começo do dia, Gio estava estressada com as provas finais que passaram e a formatura, o que resultava numa sequência interminável de comentários bipolares: "Você é meu melhor amigo. Pare de tentar me fazer feliz, eu quero estar com raiva. Amor, faz massagem nos meus pés? Não aguento mais ler essas apostilas (jogava tudo para o alto)". Ela me ligou chorando, fungando e me dizendo a coisa mais maravilhosa e temível: a menstruação atrasou

Eu devia estar no trabalho às 7h, mas lá estava eu, 6:40h, atravessando a janela da Gio.

– Atrasou quantos dias? – perguntei.

Ela estava vermelha e encolhida num pijama cheio de caveiras.

– Dois dias.

Suspirei de alívio.

– Está tudo bem. Pode ser um monte de coisas.

– Minha menstruação nunca atrasou depois que começamos a namorar. Você tirou a camisinha alguma vez?

– Não. Mas acontece de, sem querer, a camisinha estar furada ou outros acidentes. Fica calma. Você anda meio estressada. Pode ser isso também.

Ela surtou e me jogou para fora. Eu sabia que ela não estava grávida. Estava de TPM, e como ficava gostosa nesse período assassino, os peitos enormes, carente e sensível. Queria estar no centro das minhas atenções, mas sem parecer vulnerável.

Mesmo chegando atrasado no trabalho, o dia transcorreu bem. Nenhum imprevisto a mais. Na academia, todos me desejavam sorte e paciência. Em casa, o último estágio do plano foi mudado. Giovana levou as coisas para minha casa.

Minha mala não era exatamente minha mala desde que a Gio pediu para guardar "algumas coisinhas". Junto com as minhas cuecas, tinha uma escova e uma bolsa de maquiagem. Na parte dos meus livros, ela colocou os dela. Íamos ficar lá por apenas dois dias, ela tinha que voltar para pegar o resultado das provas da escola. Eu não me importei, ela estava muito abalada com o pensamento de estar grávida de mim, o que me deixava bem triste para me importar com qualquer coisa.

– Está com fome? – perguntei, já pronto para sair.

Ela estava se maquiando, ainda de calcinha e sutiã.

– Não quero vitamina. – ela falou revirando os olhos.

Eu sempre tomava vitamina e a fazia tomar, ela detestava banana e eu achava que ela precisava se alimentar direito. Sabe o que ela seria sem mim? Uma doente. Colesterol alto, diabete e obesidade mórbida.

Desci e bebi o que devia tomar, arrumei o carro e subi no quarto novamente. Ela já estava de short e camisa, mas pranchando o cabelo. Fui a minha gaveta ao lado da cama e peguei uma surpresa para ela, me odiando por não ter me lembrado disso antes. Cheguei por trás dela, com medo de me queimar e coloquei um pedaço enorme de chocolate na boca dela.

– Yan. – ela mastigou e sorriu. – Isso não vai melhorar.

– Você não está grávida. – beijei a nuca dela. – Está estressada. Eu não faria uma coisa dessas com você, ainda não. Quero você formada na faculdade, casada comigo e morando numa casa nossa. E isso pode demorar um pouco.

– Já tem tudo planejado mesmo, hein. – ela pegou o resto do chocolate da minha mão.

– Tudo. Até o nome dos nossos treze filhos.

Ela riu.

– Um. – corrigiu com a boca cheia.

– Doze. – rebati. – Treze com a Lois.

Liberdade E Rendição - Crônicas Melhores Amigos.Onde histórias criam vida. Descubra agora