Sexto - Sou Forte e Sou Idiota

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— Oi. Você está distante hoje. Está tudo bem? — Karen, uma garota boazuda da academia estava me encarando com um sorriso enorme quando recobrei os sentidos.

Isso foi no dia seguinte a tortura sexual que Giovana me pregou. Eu estava exausto, ereto e com uma enxaqueca terrível. Mesmo com todos esses sintomas, decidi ir malhar com a ideia de que, por um milagre, um desgaste físico, tudo melhoraria.

—Estou cansado. — levantei do chão e olhei meu reflexo, tinha um hematoma gigante na minha clavícula onde Giovana tinha me mordido, mas eu não me lembrava de ela ter feito isso. — Mas estou bem.

—Pode me ajudar com as abdominais? Sequência de cinquenta.

Nos cinco anos que eu frequentava aquela academia, nunca que a Karen tinha vindo falar comigo. Se fosse semanas antes, eu teria babado no oi, mas lá estava eu, me arrastando e relutante em segurar os tornozelos dela enquanto, propositalmente, ela esfregava os seios na minha cara. Adivinha o que passou na minha cabeça? Sim. Eram menores que os da Gio. Não tinha aquele cheiro. E que cheiro era aquele que a Gio tinha? Se tiver em um frasco, eu queria.

Saí da academia e fiquei na praça. Por uma hora olhei pessoas vivendo suas vidas com a mente tão distante que nem vi Pedro sentar ao meu lado e puxar assunto.

— Que rabão, né. Até eu babaria. — disse me cutucando enquanto secava a menina passar por nós.

— É. — foi o que eu respondi, me senti um débil por não sentir tesão naquilo, na menina rebolando descaradamente enquanto desfilava para nós.

— Quando teremos mais festa? Aquela foi animal.

— Acho que aquela foi a última, Pedro. Sério. Não tenho mais animo para essas coisas e meu pai está em casa.

Pedro anuiu os ombros, não questionou.

—Nunca mais vi a Gio. Pararam de se falar? — ele disse depois de uma longa pausa.

— Giovana não gosta de festas, Pedro.

—Rola algo entre vocês? – perguntou sem rodeios.

Cruzei os braços e neguei, queria dizer que sim, mas não era como se o que tivesse acontecido na noite passada tivesse feito de nós um casal. O assunto sempre me deixava tenso.

—Ela tá gostosa. Se eu fosse você pegava ela logo. Parece que ela quer casar e tal.

A fúria quase me estourou, mas sabia como fingir não sentir nada. Tinha meus limites.

— Mas você não sou eu. — respondi e o deixei sozinho.

Fui até a casa da minha ex, ver minha filha. Raquel não estava lá, apenas a avó e o outro neto dela. Quando peguei minha filha no colo, ela me reconheceu e sorriu. Todo aquele drama e dor de cabeça passou e eu desfrutei os momentos. Até brinquei com ela com uns blocos de encaixe. Lois sabia exatamente onde colocar cada peça e batia palmas quando conseguia.

Fui para casa almoçar e quando terminei, decidi mandar uma mensagem para o motivo da minha ereção: "Preciso ver você. Abre a janela."

Ela respondeu: "Não estou em casa."

Eu: "Está onde?"

Ela: "Com o Alan. Tenho que desligar o celular. Vai estragar o clima."

Esqueci que a noite anterior era tortura, aquilo foi pior. Eu nem tive coragem de responder mais. Tomei um banho gelado e enfiei na minha cabeça que ela estava brincando comigo, que não gostava desse jeito de mim. Foi quando tudo ficou claro: ela estava me usando para perder... Me usando e usando qualquer outro.

Saí do banho ainda enrolado na toalha e peguei o celular, começando a escrever: "Espero que..."

Não concluí, pois alguém limpou a garganta atrás de mim.

Eu olhei para baixo antes de virar. A toalha não escondia a ereção, parecia uma tenda.

Meus temores foram apaziguados quando Giovana riu e cravou os olhos em mim. Ela estava corada, até a clavícula estava cor de sangue. Sim, ela estava mostrando a clavícula num vestido bem feminino e decotado que só serviu para que eu ficasse mais no desejo, mas ainda me sentia preso a ideia de ela ser ela, a menina que cresceu comigo. A desdentada estava gostosa, mas ainda era ela.

—Ainda está assim. — ela apontou. – Nem um banho gelado funciona?

—Tô. Obrigado por isso. — fiz cara de mal e atravessei o quarto, para meu guarda roupa. — Como foi com o Alan?

—Foi um desastre. — ela riu e cruzou as pernas — Detesto filme de romance. Eles fazem as mulheres muito suscetíveis...

Parei de escutá-la. Peguei a cueca, a calça de moletom e uma camisa.

—... Aí, quando você me mandou mensagem estávamos indo de mal a pior. Obrigada por isso. — Giovana não olhava para mim. – Então saí de lá e vim para cá.

Decidi testá-la e deixei a toalha cair para começar a me vestir. Eu esperava um surto ou vergonha da parte dela, mas ela simplesmente se calou e respirou fundo.

Depois de me vestir num silêncio absoluto, deitei na cama e olhei para ela se virar para mim.

—Você se tocou ontem? — tive que perguntar.

Ela mordeu o lábio e concordou.

—Ajuda. Quero dizer... — nunca presenciei ela se embolar nas palavras. — Quando eu fico muito... Você sabe... Eu me...

—Eu não sabia que você era esse tipo de garota.

—Descobri minha sexualidade tem um tempo, Yan. — ela pareceu ríspida, o que me deixou mais excitado.

— Não falei que era algo ruim. É algo... Interessante. — desviei os olhos dela e desci para a clavícula vermelha e vi o peito pulsar em eletricidade, desci para os braços e percebi os pelos ouriçados. — Eu te deixo excitada, Giovana?

Ela não respondeu, mas suspirou, prendendo o ar.

—Você é do tipo que grita? — sentei na cama e observei ela estremecer. – Deixe-me ver a marca.

—Não faça algo que não vai ter coragem de terminar. — ela provocou.

—Não estou pronto para o tipo de relacionamento que você procura. – admiti.

—Eu quero foder, Yan. Não quero me casar. Eu não aguento mais essa ardência, essa necessidade. – ela disse com determinação, como se eu tivesse ofendendo-a.

Fiquei constrangido com as palavras dela, com a determinação. Meninas querem perder a virgindade com alguém especial, mas ali estava a Giovana decidida a apenas ser fodida sem sentimentos e eu travei. Claro que eu tinha sentimentos por ela e transar com ela me faria...

Ah, foda-se. Pareço uma garotinha narrando isso.

Eu peguei o cabelo da nuca dela e o prendi no meu punho. Nada romântico, nada sensato. Puxei ela para ficar mais perto e senti o cheiro que só pertencia a ela. Imóvel em meus braços, pude marcá-la ainda mais, arrastar meus dentes no pescoço e assoprar para que ardesse, ela gemeu baixinho e tentou me tocar, mas a afastei.

—Eu não vou foder com você. — falei — Isso poderia estragar nós dois.

Ela sorriu e uma gota de suor pingou da têmpora para o meio dos seios. Cada detalhe me fazia gritar por dentro. Olhei para a marca que estava ficando vermelha e quis beijá-la, apenas para compensar a dor.

Então a soltei e a deixei distante.

Ela sorriu, levantou da cama e saiu do quarto, sabendo que eu entendia exatamente o que ela ia fazer.

Finalmente pude respirar tranquilamente, me sentindo mais forte, mais no controle.

Isso foi tão idiota.

Nos dias seguintes, eu não sofria mais tanto com a ereção e até consegui manter atenção no que fazia.

Liberdade E Rendição - Crônicas Melhores Amigos.Onde histórias criam vida. Descubra agora