ODDG - Capítulo 01 - Ele é um Themonium.

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Revisado em 10.04.2018

Nova Iorque. Onde você constrói seus sonhos junto com cidadãos de toda nacionalidade. Aqui você encontra restaurantes de quase todas as capitais do globo, não necessariamente os melhores, mas encontra. Aqui os restaurantes e bares fecham mais cedo, e achar algo 24 horas não é assim tão fácil, mas "aceitei" o título quando entendi que a cidade que nunca dorme queria dizer a cidade que nunca fica vazia.

Há sempre alguém perambulando pela rua, nem que sejam os ratinhos, que são parte da cidade e nem conseguem causar pânico nas meninas que não gritam nem sobem nos bancos levantando a saia quando eles aparecem. A cidade das sirenes de ambulâncias, polícia, bombeiros. A cidade da fumacinha que sai do buraco no meio da rua, que a gente vê nos filmes. Onde você cruza com a Julia Roberts sentada na calçada tomando sorvete de pernas abertas, crianças lendo livros gigantes no metro, mendigos com cara de modelos fotográficos, estilos diversos onde a moda dita regras sim, mas quem quer fugir das regras tem a total liberdade de ousar sem ser criticado.

Me formei em letras e arrumei um emprego como assistente pessoal de um editor famoso, isso me daria experiência para observar como um grande editor conduzia uma revista...TUDO MENTIRA.

A única coisa que era boa em meu emprego era o meu salário. Eu ganhava para trabalhar 24 horas por dia, sete dias por semana. Logico que não era isso que dizia a minha carteira de trabalho, mas era isso que eu fazia. Vendi um ano da minha a vida a empresa, para cuidar dos interesses particulares do Nicolas Apolline, o que acreditem, era um saco. Ah, também não posso esquecer os benefícios como comida, plano de saúde, roupas, casa e carro a minha disposição. O que era incomum nos Estados Unidos. Mas o lema do meu patrão era simples."Não importa o quanto custe, resolva o problema sem me importunar. Os detalhes de sua incompetência não me interessam." Querem saber o que eu pensava do meu chefe? Que ele sucumbisse com alguma doença rara e todos seriam libertados de seu tormento.

"Você não quer que ele morra Andrew, porque se ele morre; você perde toda a esperança de matá-lo você mesmo e isso seria uma pena."

Eu não sabia que estava vendendo a minha alma quando entrei nos elevadores da Freedom Tower. Aqueles transportadores de todas as coisas da Vogue.

Nunca tinha visto homens tão bonitos. Eram perfeitamente sarados, não musculosos demais porque "mo não é sexy" e exibiam sua incessante dedicação à ginástica em elegantes golas rolês e calças de couro justas. Bolsas e sapatos que eu nunca tinha visto em pessoas de verdade gritavam 

Prada!

Armani!

Versace!

Eu soube por uma amiga de uma amiga de uma assistente de redação da revista Runway que, volta e meia, os acessórios se encontravam com seus fabricantes nesses mesmos elevadores, uma reunião comovente, em que Miuccia Prada, Giorgio Armani ou Donatella Versace podiam, mais uma vez, admirar seus escarpins da coleção verão 2015.

Vou relatar a minha experiência da Freedom Tower para vocês. Eu tinha jogado meus currículos em todos os RH's da cidade em busca de alguma oportunidade de estágio no setor de redação de alguma empresa, fui chamado a uma entrevista e no dia marcado eu fui, me encontrei com uma moça chamada Alyson para The Buzz. Eu já tinha feito todos os testes e meu francês ruim foi aprovado, sabe lá como, o processo estava quase todo concluído quando uma moça loira entrou chorando e gritando na sala de Alyson.

―Ele. É. Um. Themonium! Não aguento mais. Quem aguenta? Quero dizer, realmente... QUEM AGUENTA? ― sibilou uma garota de vinte e poucos anos desesperada sentando no sofá, o modo que ela falou demônio com um sotaque foi o que me marcou naquele momento. Alyson me pediu licença e foi até a moça para acalma-la.

― Eu sei. Eu seeeeeiii. O que acha que tive de suportar nos últimos três anos? Um crápula, mas não jogue as coisas para o alto assim, não perca essa oportunidade ― disse Alyson.

― Não Aly, eu não aguento mais isso, eu não posso voltar lá, eu não vou voltar, eu me demito ― disse a moça, Alyson que tinha uma pele morena ficou branca, pálida como papel.

― Não faça isso comigo Mag, falta só quatro meses, quatro meses e tudo está acabado, não desista agora ― tentou persuadir, mas em vão, ela deixou o crachá em cima da mesa e saiu para nunca mais voltar. Alyson ficou de cabeça baixa pensativa por um momento, eu, que até então estava calado fiz um movimento e Alyson virou para mim com outro olhar, como se eu fosse Jesus chegando a terra.

― Querido, pode me dizer o nome do diretor chefe da Gentlemen's Quarterly? — perguntou, olhando diretamente para mim. Um branco. Um branco total e completo, não me lembrava de nada. Não acreditei que ela estivesse me interrogando. Nunca tinha lido GQ na minha vida, ela não podia estar me perguntando justo sobre essa. Não restou outra coisa senão dizer a verdade... então sussurrei um Não.

― Nícolas Apolline ― ela quase cochichou, com um misto de reverência e medo ― O nome dele é Nícolas Apolline.

Na época, eu não sabia que ela estava desesperada para contratar outra assistente para Nícolas. Desesperada para encontrar alguém, qualquer um, que Nícolas não rejeitasse. Se eu, embora fosse improvável, tivesse nem que fosse uma chance mínima de ser contratado e assim, aliviá-la, ela me enviaria ao inferno. Alyson sorriu e disse que eu ia me reunir com as duas assistentes de Nícolas. Duas assistentes?

― Ah, sim ― confirmou ela com um olhar exasperado.

É claro que ele precisava de duas assistentes. Sua assistente sênior atual, Alessandra, fora promovida a editora de beleza da Runway, uma revista de mesma importância quanto a GQ, e Aurora, a assistente júnior, iria substituí-la. Isso deixaria o cargo de assistente júnior vago! Sei que estão se perguntando o porque de me contar tudo isso, mas é importe que saibam como eu caí nessa cilada. A coisa mudou de foco tão rápido que eu nem terminei de falar com Alyson, fui encaminhado direto para o 67º andar para falar com a tal de Aurora e selar o meu contrato de escravidão.

***

Amo vocês demais!

Don't Hurt Yourself.

Oliver Porscher.

O Diabo de Gravata (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora