A comunhão com o Alto

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"Disse então Jesus estas palavras:
— Graças te rendo, meu Pai, Senhor do Céu  e da Terra, por haveres ocultado estas coisas aos doutos e aos prudentes e por as teres 
revelado aos simples e aos pequeninos." Mateus, 11:25 

" Em  qualquer  lugar  onde se  acharem  duas  ou  mais  pessoas  reunidas  em meu  nome, eu estarei entre elas." Mateus, 18:20 

Não obstante a eficiência de métodos tão apreciáveis, mesmo no recinto do Hospital e, mais ainda, entre os asilados do Isolamento e do Manicômio, existiam aqueles que não haviam
conseguido reconhecer ainda a própria situação com a confiança que era de esperar.
Permaneciam atordoados, semi­inconscientes, imersos em lamentável estado de inércia
mental, incapacitados para quaisquer aquisições facultativas de progresso. Urgia despertá­los. Urgia chocá­los com a revivescência de vibrações animalizadas a que estavam habituados,
tornando­os capazes de algo entenderem através da ação e da palavra humanas! Que fazer, se não 
chegavam a compreender a palavra harmoniosa dos mentores espirituais, tampouco vê­los com o 
desembaraço preciso, aceitando­lhes as sugestões caridosas, muito embora se materializassem eles
quanto possível, a fim de mais eficientes se tornarem as operações?
A augusta Protetora do Instituto tinha pressa de vê­los também aliviados, pois assim o 
desejava seu excelso coração de Mãe! 
Não vacilaram, pois, em lançar mão de recursos supremos, a fim de conseguirem o 
piedoso desiderato — os abnegados servidores da formosa Legião governada por Maria.
Nossos instrutores —  Romeu  e Alceste —  participaram ao eminente diretor do 
Departamento Hospitalar  existir  necessidade premente de demandarem a Terra em busca de
aprendizes de ciências psíquicas a fim de resolverem complexos mentais de alguns internos,
insolúveis na Espiritualidade. Inteirado das particularidades, em conferências a que também
assistiram os devotados operadores dos gabinetes, Irmão Teócrito nomeou a comissão que deveria
sem demora partir para a Terra a fim de investigar as possibilidades de uma eficiente colaboração 
terrena. Expediu ao mesmo tempo petição de assistência ao Departamento de Vigilância, pois a
este gabinete, como sabemos, achava­se afeto o movimento de intercâmbio entre nossa Colônia e
os proscênios terrestres. Olivier de Guzman, com a presteza que caracterizava as resoluções e ordens em todos
aqueles núcleos de serviço, pôs à disposição de seu antigo colega de prélios beneficentes o pessoal
necessário, competente para a magna tentativa, ao mesmo tempo em que solicitava da Seção de
Relações Externas indicações seguras quanto à existência de agremiações de estudo e experiências
psíquicas reconhecidamente sérias, assinaladas pelo emblema cristão da vera fraternidade de
princípios, no perímetro astral enfaixado por Portugal, Espanha, Brasil, países latino­americanos e
colônias portuguesas, assim como as fichas espirituais dos médiuns às mesmas congregados. Coube ao Brasil a preferência, dada a variedade de organizações científicas onde o senso 
religioso e a fúlgida moral cristã consolidavam o ideal de Amor e Fraternidade, tão admirado pelos
da Legião em apreço, a par da magnífica falange de médiuns bem dotados para o espinhoso 
mandato, e que o fichário da Vigilância registrava na terra de Santa Cruz. Nessa mesma noite, do burgo da Vigilância partiu  pequena caravana com destino ao 
Brasil, chefiada pelo nosso já muito estimado amigo Ramiro de Guzman. Porque se tratasse de
Espíritos lúcidos, completamente desmaterializados, dispensada foi a necessidade de veículos de
transporte, pois empregariam a volitação para o trajeto, por mais rápido e concorde com suas
experiências espirituais. Integravam essa caravana, além dos dedicados instrutores Alceste e
Romeu, dois cirurgiões responsáveis pelos pacientes em questão, especializados na ciência da
organização físico­astral, como os dois Canalejas o eram das nossas enfermarias. Iam, com
poderes conferidos pelo diretor, examinar as possibilidades dos médiuns cujos nomes e referências
recomendáveis haviam obtido da Seção de Relações Externas. Desse exame dependeria a escolha
definitiva das agremiações a serem visitadas. Antes, porém, da partida dessa comissão, fora expedida mensagem telepática da direção­  geral do Instituto, localizada na mansão do Templo, aos diretores e guias instrutores espirituais das
agremiações a que pertenciam os referidos médiuns, assim como a seus próprios guias e mentores
particulares, solicitando­lhes a indispensável permissão e preciosa colaboração para os
entendimentos a serem firmados com aqueles. Os serviços a serem prestados pelos veículos humanos — os médiuns —  deveriam ser 
voluntários. Absolutamente nada lhes seria imposto ou exigido. Ao contrário, iriam os emissários
do Instituto solicitar, em nome da Legião dos Servos de Maria, o favor da sua colaboração, pois
era norma das escolas de iniciação a que pertenciam os responsáveis pelo Instituto Correcional Maria de Nazaré, pertencente àquela Legião, nada impor a quem quer que fosse, senão convencer 
à prática do cumprimento do dever. Concertado o  entendimento pela correspondência telepática, ficara estabelecido  que os
mentores espirituais dos médiuns visados lhes sugerissem o recolhimento ao leito mais cedo que o 
usual; que os mergulhassem em suave sono magnético, permitindo amplitude de ação e lucidez aos
seus Espíritos para o bom entendimento das negociações a se realizarem pela noite a dentro. Uma
vez desprendidos dos corpos físicos pelo sono, deveriam os referidos concorrentes ser 
encaminhados para a sede da agremiação a que pertenciam, local escolhido para as confabulações. Tudo programado, partiu  do Instituto a caravana missionária, composta de oito 
personagens, isto  é, quatro  servidores especializados, do Hospital, e quatro assistentes da
Vigilância, que os guiariam com segurança às localidades indicadas. Soavam precisamente as vinte e três horas nos campanários singelos das primeiras
localidades a serem visitadas, quando os dedicados servos de Maria começaram a planar nas
latitudes pitorescas da terra de Santa Cruz, dirigindo­se sem vacilações para o centro do país. Suaves claridades emitidas pelas últimas fases do  plenilúnio derramavam docemente,
sobre o dorso do planeta de provações, tons melancólicos e sugestivos, enquanto os odores vivos
da flora brasileira, rica de essências virtuosas, embalsamavam a atmosfera, como a acenderem
piras de perfumes raros em honra aos nobres visitantes, sabendo de suas predileções de iniciados
orientais.Consultaram então o mapa que traziam com as necessárias indicações; escolheram
algumas das cidades do centro da grande nação planetária, nele indicadas pela Seção de Relações
Externas como mantenedoras de agrupamentos de estudos e aprendizagem psíquicos sérios; e,
separando­se em quatro grupos de apenas duas individualidades, atingiram céleres os pontos
determinados. Haviam estabelecido, assim, que visitariam quatro cidades de cada vez, à procura
dos médiuns; e que, uma vez firmados os entendimentos, reunir­se­iam em determinado local da
Espiritualidade, com os guias e mentores deles, para indispensáveis entendimentos relativos ao 
importante certame. Em vários núcleos de experiências, portanto, nessa noite bonançosa, no interior do Brasil, onde a quietude e simplicidade de costumes não contaminam de muito graves impurezas o meio 
ambiente social, caridosa atividade do mundo astral efetivava­se em locais humílimos, desataviados de opulências e vaidades, mas onde a sacrossanta lâmpada da Fraternidade se
mantinha acesa para o culto imorredouro do amor a Deus e ao próximo. Os emissários expuseram ao que vinham, solicitando aos médiuns, cujos Espíritos para ali
haviam sido conduzidos enquanto os corpos continuavam profundamente adormecidos, seu 
concurso piedoso para o esclarecimento de míseros suicidas incapacitados de se convencerem dos
imperativos da vida espiritual apenas com o concurso  astral. O estado lamentável a que se
reduziram aqueles Infelizes não foi omitido na longa exposição feita pelos solicitantes. Os
médiuns deveriam contribuir com grandes parcelas de suas próprias energias para alívio dos
desgraçados que lhes bateriam à porta. Esgotar­se­iam, provavelmente, no caridoso afã de lhes
estancar as lágrimas. Seria até mesmo possível que, durante o tempo que estivessem em contacto com eles, impressões de indefiníveis amarguras, mal­estar inquietante, perda de apetite, insônia, diminuição até mesmo do peso natural do corpo físico  viessem surpreendê­los e afligi­los. Todavia, a direção do Instituto Maria de Nazaré oferecia garantia: suprimento das forças
consumidas, quer  orgânicas, mentais ou  magnéticas, imediatamente após a cessação do 
compromisso, ao passo que a Legião dos Servos de Maria, a partir daquela data, jamais os deixaria
sem a sua fraterna e agradecida observação. Se se arriscavam à solicitação de tão vultoso concurso 
era porque entendiam que os médiuns educados à luz da áurea moral cristã são iniciados
modernos, e, por isso, devem saber que os postos que ocupam, no seio da Escola a que pertencem,
fatalmente terão de obedecer a dois princípios essenciais e sagrados da Iniciação Cristã
heroicamente exemplificados pelo Mestre Insigne que a legou: Amor e Abnegação! 
Não obstante, seriam livres de anuir ou não ao convite, o encargo deveria distinguir­se
por voluntário, realizado sem constrangimentos de nenhuma espécie, estribando­se na confiança e
no sincero desejo do Bem. Assim se realizaram as primeiras confabulações em doze povoações visitadas, sendo os
convites apresentados a vinte médiuns de ambos os sexos. Dentre estes, porém, apenas quatro 
senhoras, humildes, bondosas, deixando desprender do envoltório astral estrigas luminosas à altura
do coração, ofereceram incondicional e abnegadamente seus préstimos aos emissários da Luz, prontas ao generoso desempenho. Dos representantes masculinos apenas dois aquiesceram, sem
rasgos de legítima abnegação, é certo, mas fiéis aos compromissos de que se investiram, assemelhando­se ao funcionário assíduo à repartição por ser esse o dever do subordinado. Os
restantes, conquanto honestos, sinceros no ideal esposado por amor de Jesus, desencorajaram­se de
um compromisso formal. Os quadros expostos, mostrando­lhes o precário estado dos pacientes que
deveriam socorrer, seu martirológio de além­túmulo, infundiram­lhe tais pavores e impressões que
acharam por bem retrair impulsos assistenciais, prontificando­se, porém, a permanente auxílio 
através das irradiações benévolas de preces sinceras. Foram, por conseguinte, desobrigados de
quaisquer compromissos diretos, dando­se os visitantes por amplamente satisfeitos. Era de notar,
porém, que o Brasil fora assinalado como ambiente preferível, onde se localizavam médiuns
ricamente dotados, honestos, sinceros, absolutamente desinteressados! 
Seguiram­se os indispensáveis exames da organização astral e envoltório material dos que
se comprometeram ao alto mandato. A beira de seus leitos inspeção minuciosa foi efetivada em seus fardos carnais. O vigor 
cerebral, as atividades cardíacas, a harmonia da circulação, o estado geral das vísceras e do sistema
nervoso, e até as funções gástricas, renais e intestinais foram cuidadosamente investigadas. As
deficiências porventura observadas seriam a tempo reparadas por ação fluídica e magnética, pois
tinham à frente ainda vinte e quatro horas para os preparativos. Passaram em seguida à vistoria do envoltório físico­astral, ou  seja, o perispírito. Conduzidos a um dos postos de emergência e socorro, mantidos pela Colônia a que deveriam
emprestar caridoso concurso, nas proximidades desta como  da própria Terra, espécie de
Departamento Auxiliar onde freqüentemente se realizavam importantes trabalhos de investigações
e labores outros, afetos aos serviços da mesma Colônia, foram os Espíritos dos seis médiuns contratados minuciosamente instruídos quanto aos serviços que deveriam prestar, examinados os
seus perispíritos, revivificados com aplicações fluídicas de excelência soberana para o 
desempenho, analisados o volume e grau  das vibrações emitidas e corrigidos os excessos ou 
deficiências apresentadas, a fim de que resistissem sem sofrer quaisquer distúrbios e dominassem,
tanto quanto possível, beneficiando­as com o  vigor sadio que desprendessem —  as emanações
mentais nocivas, doentias, desesperadoras, dos desgraçados suicidas absorvidos pela loucura da
dor superlativa! Pode­se mesmo asseverar que o contacto mediúnico com os futuros comunicantes
estabeleceu­se nessa ocasião, quando correntes magnéticas harmoniosas foram dispostas de uns
para outros, assim determinando a atração simpática, a combinação dos fluidos, fator indispensável
na operação dos fenômenos de tão melindroso quão sublime gênero. Uma vez ultimados tais preparativos, reconduziram os colaboradores terrenos aos seus
lares, libertando­os do sono em que os haviam mergulhado, a fim de que retomassem os fardos
materiais quando bem lhes aprouvesse, e, incansáveis heróis do amor fraterno, tornaram aos seus
postos do Invisível, prosseguindo em nova série de atividades preparatórias para a jornada da noite
seguinte, quando se iniciaria a sucessão de reuniões em quatro cidades do interior do Brasil. E não 
é de admirar que assim o fizessem, sabido como é que todos os iniciados graduados são doutores
em Medicina, com amplos conhecimentos também das organizações físico­astrais. Desde o regresso da comissão de entendimentos, movimentação incomum apresentavam
as repartições do  burgo da Vigilância e do Hospital. Na manhã seguinte fomos cientificados de
que, ao cair do crepúsculo, partiríamos em visita de instrução aos planos terrenos, o que muito veio 
alvoroçar nossos corações, por imaginarmos possibilidades de rever nossas famílias e amigos. Da Vigilância, turmas de operários e técnicos partiram ao alvorecer, conduzindo 
aparelhamentos necessários ao importante trabalho a realizar­se às primeiras horas da noite. Quer 
os diretores de nossa Colônia, quer os instrutores e educadores, seus auxiliares, eram severos na
observação  dos métodos empregados, meticulosos nas disciplinas exigidas para o intercâmbio 
entre o Mundo Astral e a Terra, fiéis aos programas estatuídos pelos santuários orientais, onde, havia muito, quando homens, aprenderam as magnas ciências do Psiquismo. Por isso mesmo, um
esquadrão de lanceiros desceu  e, depois de inspeção rigorosa pelo interior do edifício  onde se
realizaria a reunião  de psiquismo, ou, como usualmente se denomina —  a Sessão Espírita —, postou­se de guarda fazendo segura ronda desde as primeiras horas da madrugada. Ficou, assim, circulada por milicianos hindus, que se diriam invencível barreira, a casa humilde, sede do Centro 
Espírita escolhido para a primeira etapa, enquanto o emblema respeitável da Legião foi arvorado 
no alto da fachada principal, invisível a olhos humanos comuns, mas nem por isso menos real e
verdadeiro, uma vez que a nobre agremiação fora temporariamente cedida àquela insigne e
benemérita corporação espiritual. Obreiros devotados, sob a direção de técnicos e diretores da Seção de Relações Externas, preparavam o recinto  reservado à prática dos fenômenos, tornando­o, tanto  quanto possível,
idêntico aos ambientes que no Instituto lhes eram favoráveis à instrução dos pacientes. Enquanto 
isso, foi solicitada ao diretor espiritual do Centro em questão a fineza de recomendar ao diretor 
terreno, por  via mediúnica, absolutamente não permitir assistência leiga ou  desatenciosa aos trabalhos daquela noite, os quais seriam importantes e delicados, pois, nada menos do que uma
falange de Espíritos suicidas para ali seria encaminhada a fim de a eles assistir, e operosidades
dessa natureza há mister que sejam ocultas, admitindo­se apenas os aprendizes probos, aplicados e
sinceros da iniciação cristã, já moralizados pelas alvoradas das virtudes evangélicas. Fluidos magnéticos foram prodigamente espargidos no recinto da sala de operações, por 
obedecerem a duas finalidades: servirem como material necessário à criação de quadros visuais
demonstrativos, durante as instruções aos pacientes; e refrigerantes tônicos para combate às
vibrações nocivas, inquietastes e desarmoniosas, dos Espíritos sofredores presentes e mesmo de
algum colaborador terreno que deixasse de orar e vigiar naquele dia, arrastando  para a mesa
sacrossanta da comunhão com o Invisível as emanações da mente conturbada. Tudo preparado, ao entardecer iniciou­se o transporte das entidades chamadas ao vultoso 
empenho. Pela manhã do mesmo dia, porém, após a preleção que se seguia às aplicações
balsamizantes para nosso  tratamento, nos gabinetes já descritos, fomos esclarecidos quanto  à
importância da reunião a que deveríamos assistir: —  Durante a viagem seria preferível abstermo­nos de quaisquer  palestras. Deveríamos
equilibrar nossas forças mentais, impelindo­as em sentido generoso. Que procurássemos recordar, durante o trajeto, as instruções que vínhamos recebendo havia dois meses, recapitulando­as como 
se devêramos prestar exame. Isso nos conservaria concentrados, auxiliando, portanto, nossos
condutores na defesa que nos deviam, pois atravessaríamos perigosas zonas inferiores do Invisível, onde pululavam hordas de desordeiros do Astral inferior, o que indicava ser grande a
responsabilidade daqueles que receberam a incumbência de nos guardar durante a excursão. O
silêncio e a concentração que pudéssemos observar imprimiriam maior velocidade aos veículos
que nos transportassem, afastando possibilidade de tentativas de assalto por  parte daqueles
malfeitores, conquanto tivessem os legionários a certeza de facilmente poderem dominar  suas
possíveis investidas. —  Não nos poderíamos destacar da falange em hipótese alguma, nem mesmo com o 
louvável intuito de uma visita à Pátria ou  à família. Semelhante indisciplina poderia custar­nos
muitos dissabores e lágrimas, pois éramos fracos, inexperientes, pouco conhecedores do mundo 
invisível, onde proliferam as seduções, as tentações, a hipocrisia, a mistificação, a maldade, mais
ainda do que na Terra!  Em ocasião oportuna visitaríamos nossos entes caros sem que nenhum
contratempo adviesse, desgostando­nos. —  No recinto das operações deveríamos portar­nos como se defrontando o próprio 
Tabernáculo Supremo, pois que a reunião era acima de tudo respeitável, porque realizada sob as
invocações do sacrossanto nome do  Altíssimo, enquanto que Seu  Unigênito estaria presente
através de irradiações misericordiosas do Seu  grande amor fraterno, porquanto isso mesmo 
prometera aos discípulos sinceros da Sua Excelsa Doutrina, que em Seu nome se reunissem para a
comunhão com o Céu. — Se era dever do cristão honesto e sério calar  paixões e desejos impuros, procurando 
escudar­se na boa­vontade para dominá­los, reeducando­se diariamente, nos momentos em que
estivéssemos presentes ao venerável Templo onde se consagraria o sublime mistério da confraternização entre mortos e vivos para trocarem impressões, assim mutuamente se
esclarecendo, se instruindo  e iluminando, melhor  cumpriria a todos, homens e Espíritos, precatarem­se com as mais dignas atitudes, chamando os pensamentos mais sadios para
aureolarem as mentes de nobreza condizente com o almo acontecimento; esquecerem mágoas, preocupações subalternas, levando  bem alto o padrão dos sentimentos caridosos no intento  de
beneficiação ao próximo, pois que seria bom nos lembrássemos de que, integrando a nossa falange
mesma, iam entidades ainda mais desafortunadas do que nós, aquelas que nenhum alívio ainda
tinham conseguido, tais a desorganização nervosa, a dispersão mental em que se mantinham, e às
quais ordenava o dever de fraternidade que auxiliássemos apesar da nossa fraqueza, contribuindo 
com nossos pensamentos benevolentes, firmes, vibrando em sentido favorável a elas. Tal proceder 
de nossa parte rodeá­las­ia de vigores novos, os quais abrandariam a ardência das angústias que as
oprimiam, concedendo ao mesmo tempo, a nós outros, o mérito da verdadeira cooperação. — Disseram­nos mais que, na Terra, nem todos os homens admitidos ao cenáculo sagrado 
das evocações guardavam essa higiene moral e mental, necessária à boa marcha do intercâmbio 
com o Invisível. Que, nos dias decorrentes, entre os encarnados existia até mesmo leviandade e
abuso na prática das relações com os mortos, o que é lamentável, porquanto, todo aquele que age
leviana ou  descriteriosamente, em torno de tão respeitável quão melindroso assunto, acumula
responsabilidades gravíssimas para si mesmo, as quais pesarão amargamente na sua consciência, em dias futuros. Por isso mesmo, as reuniões luminosas, onde o descortino de muitas grandezas
espirituais seria possível, tornam­se raras, pois nem sempre os componentes de um quadro de
operadores são realmente dignos do alto mandato que presumem poder desempenhar. Esquecem­ 
se de que, para as verdades dos mistérios celestes refulgirem ao seu entendimento, submetendo­se
à sua penetração por lhes desvendarem as sublimidades que lhes são próprias, é e sempre foi
indispensável aos investigadores a autodisciplina moral e mental, preparo individual prévio, que
obriga modificações sensíveis no interior de cada um, ou, pelo menos, o desejo veemente de
reformar­se, vontade convincente de atingir o verdadeiro alvo do Bem! 
Mas que, ainda assim e apesar de tudo, ordena o dever  de Fraternidade que Espíritos
angelicais voltem vistas freqüentemente para núcleos onde tais infrações se verificam, observando 
caridosamente a melhor oportunidade para a elas comparecerem procurando aconselhar aqueles
mesmos inconseqüentes, instruí­los quanto possível, despertando em suas consciências o senso 
real da responsabilidade terrível de que se sobrecarregam, deixando  de envergar a túnica das
virtudes, apontada na velha parábola do Celeste Conselheiro como traje obrigatório para a mesa do 
divino banquete com as sociedades astrais e siderais! 7 E que, assim agindo, os ditos Espíritos nada
mais faziam do que observar princípios da fraternidade estabelecida pelo próprio Mestre Nazareno, o qual não desprezou descer de esferas deificas até o pélago tormentoso das maldades humanas, a
fim de apontar aos pecadores o caminho do Dever e a prática das virtudes regeneradoras! 
Ao entardecer, pois, partimos, demandando planos terrenos. Custodiavam­nos pesada
escolta de lanceiros, turmas de assistentes, psiquistas e técnicos da Vigilância, pois de nenhuma
dependência da Colônia, mesmo do  Templo, ninguém visitaria a Terra ou  outras localidades vizinhas sem o concurso valioso dos abnegados e intrépidos obreiros daquele Departamento, os
quais em verdade eram os responsáveis pelas mais árduas tarefas que ali se verificavam. Já
bastante instruídos, portamo­nos à altura das recomendações recebidas. Nossos comparsas em
piores condições, justamente aqueles por quem tantas operosidades se realizavam, foram
transportados em carros apropriados, rigorosamente fechados e guardados pela fiel milícia hindu, quais prisões volantes para pestosos, o que nos impossibilitou  vê­los. Seus gritos lancinantes, porém, seus gemidos e choro convulsivo  que tão  bem conhecíamos, chegavam até nós
distintamente, o que nos comovia, despertando­nos funda compaixão. Ansiosos, procuramos socorro ao mal­estar daí decorrente nas prudentes recomendações
de Romeu  e Alceste, nossos caros instrutores, firmando nossas forças mentais em vibrações
caridosas a eles favoráveis, o que até mesmo a nós próprios veio beneficiar.
Chegados ao termo da viagem, um deslumbramento surpreendeu nossos olhos habituados
às brumas nostálgicas do Hospital. Era de fazer notar como  podíamos ver melhor tudo em
derredor, uma vez na Terra, pois, em tempo algum, jamais víramos edifício tão magnificamente
engalanado de luzes como aquela humilde habitação o era pelos esplendores que do Alto se
projetavam, envolvendo­a num como abraço de vibrações hialinas! 
Encimando­a, lá estava a Cruz radiosa — emblema dos servos de Maria aquartelados no 
Instituto  —  com as iniciais nossas conhecidas, e cujas cintilações azuladas confundiam e
arrebatavam. Lanceiros montavam sentinela à pequenina mansão transformada em solar de
estrelas, havendo mesmo um cordão luminoso, qual bastião de flavas neblinas, circulando­a
cuidadosamente, limitando­a da via pública em cerca de dois metros. A um entendido não seria
difícil perceber a finalidade de tais precauções exigidas pelos ilustres trabalhadores do Instituto 
Maria de Nazaré. Não desejavam a intromissão no recinto  das operações nem mesmo de
emanações mentais heterogêneas, precatando­se quanto possível das investidas nocivas exteriores
de qualquer natureza! 
Entramos. Nossa admiração aumentava... A azáfama do plano espiritual era intensa. Quanto à parte que tocava ao homem executar 
parecia diminuta, conforme foi fácil observar. Ao ingressarmos no salão indicado para o nobre acontecimento, apenas se nos deparou 
um varão idoso, absorvido na leitura de um manual de filosofia transcendental, o qual dir­se­ia
empolgá­lo, pois, verdadeiramente concentrado nos pensamentos que ia captando das páginas
sábias, deixava irradiar da fronte fagulhas luminosas que muito o recomendavam no conceito do 
Invisível.Tudo indicava compreender ele a responsabilidade dos trabalhos daquela noite, que sobre
seus ombros também pesavam, e, por isso, preparava­se a tempo, estabelecendo correntes
harmoniosas entre si próprio e seus diletos amigos espirituais. Era o diretor terreno da casa. O quadro a contemplar, aliás, era sugestivo e majestoso. Haviam desaparecido os limites da sala de trabalhos, como se as paredes fossem
magicamente afastadas a fim de se dilatar o recinto. Em seu lugar víamos tribunas circulares, com feição de arquibancadas. Dir­se­ia anfiteatro para acadêmicos. Nossos guias vigilantes indicaram
as arquibancadas e os lugares a nós reservados. Obedecemos sem relutância, enquanto os infelizes companheiros, cujo estado grave dera
razões ao trabalhoso  recurso, eram pacientemente conduzidos por seus médicos assistentes e
enfermeiros e colocados no primeiro  plano das arquibancadas, em local apropriado às suas
condições. Na sala já se achavam reunidos os elementos terrenos selecionados para aquela noite, isto 
é, os médiuns indicados, os colaboradores homogêneos, de boa­vontade, tomando cada um o lugar 
conveniente. Para estes nada mais havia no tosco aposento além das paredes brancas e
desadornadas, a mesa que singela toalha guarnecia, livros, papéis em branco, esparsos, à altura das
mãos dos médiuns, e alguns lápis. Os dotados de vidência, todavia, percebiam algo inusitado e fora
de rotina, e comunicavam timidamente a seus pares, em discretas confidências, que visitas
importantes do Além honravam a Casa naquela noite, seguindo­se a descrição de alguns
pormenores, como a presença da milícia de lanceiros, dos médicos com seus aventais e emblemas
e enfermeiros azafamados, no que, em verdade, não eram acreditados, pois, ainda no primeiro 
decênio deste século, mesmo muitos dos espíritas mais convictos sentiam dificuldade em aceitar a
possibilidade de existir no Espaço necessidade de militares em ação, de enfermeiros e médicos
desdobrando os misteres de sua magna ciência em torno de enfermos desencarnados... Nós outros, no entanto, não fora a degradante indigência que nos grilhetava à
inferioridade espiritual, impossibilitando a amplitude da visão que seria natural se outras fossem as
nossas condições, teríamos abrangido o cenário na sua augusta realidade, em vez de percebermos
palidamente o que nossos guias e mentores contemplavam em todo o esplendor da sua gloriosa
significação: — Ao centro do salão destacava­se a mesa de trabalhos dos colaboradores encarnados. Rodeavam­na o seu  presidente com a comitiva de médiuns e afins para a corrente simpática de
atração. De tosca que a notáramos ao entrar, agora se tornava alvinitente, pois dos confins do 
Invisível Superior  despejava­se sobre ela cascata de luz resplandecente, elevando­a ao nível de
altar venerável, onde a comunhão da Fraternidade entre homens e Espíritos se realizaria sob os
divinos auspícios do Cordeiro de Deus, cujo nome respeitável era ali invocado. — Abrangendo essa primeira corrente magnética produzida pelas vibrações harmoniosas
dos encarnados, existia uma segunda, composta por entidades translúcidas e formosas, cujas
feições mal podíamos fixar, tais os reflexos vivos que emitiam, parecendo antes silhuetas
encantadas, orladas de raios cristalinos e puros: eram os Espíritos Guias do Centro visitado, os
protetores dos médiuns, assistentes e familiares das pessoas presentes, que, abnegadamente, talvez
desde milênios se dedicavam ao objetivo da sua redenção!  — Além desta, ocupando maior espaço no recinto e, como as duas primeiras, dispostas
em círculo, a supercorrente fornecida pelos visitantes e composta, na sua totalidade, pelo pessoal
especializado comissionado pelo Departamento de Vigilância e subordinado à Seção de Relações
Externas, pessoal esse chefiado pelo nosso amigo Ramiro de Guzman.
— A cabeceira da mesa, lugar de honra ocupado pelo diretor da Casa, o qual requer do 
seu ocupante elevadas disposições para o Bem, e que, para os métodos hindus usados no Instituto,
seria a chave do círculo propício ao nobre desempenho, postavam­se, além deste, o seu  diretor 
espiritual e mais o chefe de nossa expedição, isto é, Ramiro de Guzman, ao passo que mais acima
Romeu  e Alceste, os instrutores diretos da atormentada falange, cujo delicado desempenho vai
verificar­se através da palavra do instrutor terreno — o presidente da mesa. A um e outro cumpre recolher as vibrações dos pensamentos e das palavras do presidente, desenvolvidos durante o magno certame; associá­los aos elementos quintessenciados de que
dispõem, de envolta com as ondas magnéticas dos circunstantes encarnados; elaborá­los e
transfundi­los em cenas, dando­lhes vida e ação, concretizando­os, materializando­os até que os
infelizes assistentes desencarnados sejam capazes de tudo compreender com facilidade. Para isso 
contam com o apoio  do pessoal especializado fornecido pela Vigilância, isto é, pela Seção de
Relações Externas, e o concurso amoroso e indispensável dos gabinetes científicos localizados no 
Hospital, chefiados por Teócrito. Quanto aos nossos médicos e enfermeiros já se achavam a postos, quer junto dos médiuns
quer ao lado dos enfermos, indo e vindo, fiéis ao formoso quanto sublime sacerdócio que no Astral
a Medicina lhes confere —  ainda mais nobre que na Terra, porque, além, é unicamente sob a
augusta inspiração do Amor e da Fraternidade que se dedicam a tão nobres labores. E, serenos nos postos que lhes competiam, os lanceiros — esses colaboradores arrojados e
silenciosos — dir­se­ia trazerem as forças de que dispunham, em verdade não nas lanças, que em
suas mãos não exprimiam violência, mas nas mentes rigorosamente moldadas nas forjas de
trabalhos austeros, de iniludíveis disciplinas, de renúncias e aprendizados abrilhantados na dor dos
sacrifícios!
Cada colaborador no posto que lhe era devido, cumpria iniciar a chamada, como rezavam
os métodos da iniciação. Tocou ao irmão Conde de Guzman levá­la a efeito, como responsável que
era pela numerosa comitiva. Os comissionados pelos chefes do Instituto Maria de Nazaré, para a
tarefa daquela noite, achavam­se presentes. A seu pedido imitou­o o diretor espiritual do Centro, notificando que também os seus subordinados correspondiam ao santificante compromisso. Quanto aos cômpares terrestres, os auxiliares humanos — nem todos se encontravam fielmente
reunidos à hora aprazada! A chamada que, do plano espiritual, lhes era feita, acusava nada menos
de três ausentes do cumprimento do Dever.
Iniciaram­se, finalmente, os trabalhos sob o nome sacrossanto do Altíssimo e a proteção 
solicitada do Excelso Mestre de Nazaré. Visivelmente inspirado pelos pensamentos vigorosos das
entidades iluminadas presentes, o presidente da Casa desenvolveu  ardente prece, tocante e
substanciosa, a qual predispôs nossos corações ao enternecimento e a fervoroso recolhimento. À
proporção que orava, porém, com maior vigor incidiam sobre a mesa os arrebóis níveo­azulados
emanados do Alto, quais bênçãos dadivosas que nos levaram a imaginar  lampejos do  olhar 
caridoso de Maria norteando seus obreiros na piedosa missão de socorro a pobres decaídos. — Supliquemos, porém, aos mentores e tutelares presentes a graça de nos conferirem por 
instantes o poder  da visão à distância, que neles é um dos formosos atributos do progresso adquirido, e o qual não possuímos ainda, e respeitosamente acompanhemos esse cascatear azulíneo 
que engalanou a sede humilde da agremiação dos discípulos do grande iniciado Allan Kardec, a
ver se conseguiremos descobrir a sua origem... Eis que fomos satisfeitos em nossas pretensões, sob a condição de conduzirmos o leitor 
no giro que empreendermos através das desejadas investigações... Uma vez assestado, o binóculo 
mágico revelou­nos que, sob  as fulgurações puríssimas que visitavam o tosco albergue, desapareceram os limites que o encerravam no ergástulo de simples habitação terrena para
transfigurá­lo em alvo de irradiações generosas por parte dos diretores do nosso Instituto. Víamos,
refletida nas ondas pulcras daquelas dulçorosas cintilações, a reprodução do que, no  mesmo 
momento, se desenrolava no gabinete secreto do  Templo­santuário, onde se reuniam os
responsáveis por quantos viviam na Colônia, perante a Excelsa Diretoria da Legião. Também esses
austeros mestres, portanto, estão presentes à reunião onde nos achamos, pois que os vemos: estão, como nós, reunidos em torno a uma mesa augusta e alvinitente — a mesa da comunhão com o 
Mais Alto  —, altar venerável que testemunha todos os dias suas elevadas manifestações de
idealistas, suas investigações profundas de cientistas cristianizados, em torno da Criação Divina e
dos graves problemas referentes ao gênero humano; suas fervorosas vibrações de amor e respeito 
ao Onipotente Pai e ao próximo! São doze varões, belos, nobres, cuja idade, à primeira vista, se
não poderia calcular, mas que exame mais circunstanciado revelaria que bem poderia ser  a que
lhes fosse mais grata ao coração ou às recordações! Das mentes graves e pensadoras, assim como 
dos corações generosos, cintilas argênteas irradiam, testemunhando a grande firmeza dos
princípios virtuosos que os impulsionam! 
Não vemos assistentes para a reunião que efetuam. Estão sós, isolados no cenáculo santificado pelas vibrações das preces que de suas almas
extraem, arrebatados pela Fé! Nem mesmo os discípulos imediatos, os que diariamente cooperam
para o progresso e bem­estar da Colônia, são admitidos naquele segredo. A reunião é íntima, só 
deles! Precisam da mais sólida homogeneidade de que poderão dispor suas forças assestadas para
o sentido do Bem — pois urge manter a harmonia geral da assembléia que a reunir­se sob o nome
do Criador  Supremo do Universo e as vistas do Seu  Unigênito, cuja presença foi solicitada
ardentemente ao se iniciarem os trabalhos. Perante Maria são eles os responsáveis pelo que se
passar na tenda humílima dos discípulos de Allan Kardec, no cimo da qual se assentou o emblema
da Sua Legião! E, o que é ainda mais grave, perante Seu Augusto Filho, o Mestre e Redentor, a
quem todas as Legiões prestam obediência, porque é Ele o  Diretor  Maior a quem o Criador 
conferiu poderes para redimir o planeta Terra e suas humanidades, é Ela a responsável pelo que ali
se passa, além das responsabilidades deles próprios, motivo  pelo qual será absolutamente
imprescindível a conservação da harmonia para a obtenção dos bons êxitos! 
Para que o Mestre Amado seja ainda uma vez glorificado; para que Seu Nome Excelso 
não sirva de pretexto para levianas realizações; para que se não cometa o sacrilégio de fazer 
degenerar em simples fórmula banal a invocação feita ao Cordeiro Imaculado de Deus; para que
esteja presente nos ditos trabalhos, e para que seja real Sua Presença, em espírito e verdade, no 
santuário  dos seguidores de Kardec, visitado por seus pupilos, vibram eles ali, reunidos secretamente, elevando os pensamentos em haustos sublimes, concentrados e firmes, alongando, com as melhores reservas mentais que possuem, as próprias almas na súplica, para que mereçam, com efeito, todos!  Todos presentes à magna reunião, a presença do Grande Consolador, assim
estabelecendo as correntes invencíveis, virtuosas e cândidas para aquela noite, correntes que são o 
traço de união entre a presença do Mestre Divino e a reunião espírita terrena séria, bem dirigida! 
Por isso mesmo é que os demais servidores, conquanto probos, dedicados e sinceros, não 
podem presenciar essa magna assembléia no Além realizada. Não alcançaram ainda as vibrações
perfeitamente homogêneas com as suas, tal como requer  a santidade do mandato. Na vasta
colonização do Instituto Maria de Nazaré, apenas esses doze mestres de iniciação se apresentam
perfeitamente idênticos em qualidades morais, graus de virtude e de ciência e estado de
espiritualização para a comunhão no sublime ágape que efetuam! 
São, não obstante, simples e modestos. Sabem que de si mesmos pouco têm para
distribuir com os mais necessitados e sofredores, porque consideram diminuto o cabedal de ciência
adquirido, apesar do longo carreiro de experiência que palmilharam, a série de peregrinações pelas
vias do sacrifício e das lágrimas! Conseqüentemente, não desconhecem que se encontram ainda
distanciados da perfeição! Mas porfiam em caminhar com passos sempre mais firmes ao encalço 
do grandioso ideal que acalentam — a união definitiva com Jesus, e revelam, com demonstrações
insofismáveis, que nem paixões pessoais, nem desejos impuros abalançam mais suas vontades
rigidamente retemperadas no Amor, na Justiça e no Dever! 
Por essa razão oram e suplicam em harmonioso conjunto, sem que nenhum se considere
digno bastante de ser chamado mestre ou chefe dos demais! Só sabem é que devem servir, porque
não passam de servos de uma grande corporação onde a lei é o amor ao próximo, o devotamento às
causas generosas, a justiça, a abnegação, o trabalho, o progresso para a conquista do melhor! 
Para eles, o verdadeiro chefe, o Mestre é Jesus de Nazaré e como tal o honram e
respeitosamente o  invocam sempre que as circunstâncias o requeiram!  E como servos, como 
discípulos e subordinados desejam praticar ações dignificantes, alcançar  méritos a fim de se
elevarem no conceito do Amado Senhor! 
Acreditam fervorosamente que o Magno Instrutor, a quem imploram assistência e
proteção, não desatendeu as invocações extraídas dos recônditos mais sensíveis dos seus Espíritos, antes desceu, misericordioso e terno como sempre, não apenas até o santuário hialino onde só eles
penetram, mas também à humilde choça em que se efetua o divino banquete da Fraternidade, ao 
qual também concorreram pobres homens e mulheres ainda encarnados, arrastando­se
penosamente através dos cardos das provações para aprendizados redentores. Atesta­o a torrente
de luz sideral que a santificou! É que a certeza da presença de Jesus nas reuniões engrandecidas
pelas virtudes e dispositivos morais e intelectuais de seus orientadores, quer encarnados, quer 
desencarnados, proveio do fato de jamais se haverem extinguido  da sua audição espiritual as
miríficas expressões daquela voz amorosa, inesquecível e sublime, firmando a promessa imortal: 
"Em qualquer lugar onde se acharem duas ou mais pessoas reunidas em meu nome, eu  estarei entre elas.”
Como sói acontecer nas reuniões legítimas da iniciação  espírita­cristã, cujos princípios
elevados impõem como base inalienável para o seu adepto a auto­reforma moral e mental, naquela
noite memorável para todos de minha sinistra falange foi escolhido o tema evangélico  a ser 
estudado e comentado. Como vemos, o ensino era fornecido por Jesus, ali considerado Lente
Magnífico, Presidente de Honra, cujas lições levantavam o pedestal de tudo o que se desenrolaria.
Iniciada foi, pois, a leitura do Evangelho, seguindo­se explanação formosa e fecunda, do 
presidente terreno. As parábolas elucidativas, as ações magnânimas e carinhosas, as promessas
inolvidáveis mais uma vez enternecem o coração dos aprendizes da Escola de Allan Kardec, que
circulavam a mesa, repercutindo gratamente, pela primeira vez, no íntimo de cada um de nós
outros, o divino convite para a redenção  —  pois até então  não ouvíramos ainda dissertações
congêneres. Para as criaturas terrenas ali presentes tratava­se apenas do irmão presidente a ler e
comentar o assunto escolhido, em hora de inspiração radiosa, em que jorros de intuições
vivíssimas, cintilantes, cascateavam do Alto revivendo a extensa relação das exemplificações do 
Modelo Divino e expressões de Sua moral impoluta. Para os Espíritos que se aglomeravam no 
recinto, porém, invisíveis à quase totalidade dos circunstantes humanos, e, particularmente, para os
desditosos que para ali foram encaminhados a fim de se esclarecerem, havia muito, muito mais que
isso! Para estes, são figuras, vultos, seqüências que se agitam a cada frase do orador! É uma aula — estranha, singular terapêutica — que nos ministravam qual medicamentação celeste a fim de
balsamizar nossas desgraças! A palavra, vibração do pensamento criador, repercutindo em ondas
sonoras, onde se retratavam as imagens mentais daquele que a proferia, e espalhando­se pelo 
recinto saturado de substâncias fluido­magnéticas apropriadas e fluidos animalizados dos médiuns
e assistentes encarnados, é rapidamente acionada e concretizada, tornando­se visível graças a
efeitos naturais que as forças mentais conjugadas dos Tutelares reunidos no Templo, com as dos
demais cooperadores em ação, produziam. Intensificam­se as atividades dos técnicos da
Vigilância, comissionados para o delicado labor da captação das ondas onde as imagens mentais se
retrataram, da coordenação e estabilidade de seqüências, etc., etc. A palavra assim trabalhada no maravilhoso laboratório mental, assim modelada e retida
por eminentes especialistas devotados ao bem do próximo — corporificou­se, tornou­se realidade, criada que foi a cena viva do que foi lido e exposto! 
De nossas arquibancadas, rodeados de lanceiros quais prisioneiros do pecado que em
verdade éramos, tivemos a inédita e grata surpresa de assistir ao desenrolar  das narrativas
escolhidas, em movimentações, na faixa flamejante que do Alto  descia iluminando a mesa e o 
recinto. Se havia referência à personalidade inconfundível do Mestre Nazareno  —  era a
reprodução de Sua augusta imagem que se desenhava, tal como cada um se habituara a imaginá­lo 
no âmago do pensamento desde a infância!  Se recordavam Seus feitos, Sua vida de
exemplificações sublimes, Seus gestos inesquecíveis de Protetor Incondicional dos sofredores —  além o víamos tal como o texto evangélico o descrevia: bondoso e amorável distribuindo 
fragrâncias do Seu manancial de Amor e das virtudes deificas de que era Excelso Relicário — aos
pobres e sofredores, aos cegos e paralíticos, aos lunáticos, aos loucos e aos leprosos, aos
ignorantes e às crianças, aos velhos e aos de boa­vontade, aos pecadores e às adúlteras, aos publicanos, aos samaritanos, aos doutores, aos desesperados e aflitos, aos doentes do corpo e do 
espírito, aos arrependidos como aos próprios crentes da Sua Doutrina de Luz e aos Seus próprios
apóstolos!... enquanto  o presidente —  que não enxergava com olhos materiais esses quadros
majestosos que se elevavam da sua leitura e do comentário feito, mas sentia as vibrações
harmoniosas e enternecidas que os produziam lhe comoverem a sensibilidade — ia repetindo e
comentando as encantadoras, inesquecíveis asserções que tantas lágrimas hão enxugado através
dos séculos, tantos corações sequiosos têm desalterado, tantas e tão  angustiosas incertezas hão 
transformado na serenidade de uma convicção sólida e inquebrantável: — Vinde a mim, vós que sofreis e vos achais sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai
sobre vós o meu jugo e aprendei comigo, que sou brando e humilde de coração, e achareis repouso 
para vossas almas, pois é suave o meu jugo e leve o meu fardo. — Bem­aventurados os que choram e sofrem, porque serão consolados. Bem­aventurados
os famintos e os sequiosos de justiça, pois que serão saciados. Bem­aventurados os que sofrem
perseguição por amor à justiça, pois que é deles o reino dos céus. —  Bem­aventurados vós, que sois pobres, porque vosso  é o reino dos céus. Bem­  aventurados vós que agora tendes fome, porque sereis saciados. Ditosos sois, vós que agora
chorais, porque rireis. — Deus não quer a morte do pecador, mas que ele viva e se arrependa. — O Filho de Deus veio buscar e salvar o que se havia perdido. — Das ovelhas que o Pai me confiou, nenhuma se perderá. — Se queres entrar no reino de Deus, vem, toma a tua cruz e segue­me...9 — Eu sou o Grande Médico das almas e venho trazer­vos o remédio que vos há de curar.
Os fracos, os sofredores e os enfermos são os meus filhos prediletos. Venho salvá­los! Vinde pois
a mim, vós que sofreis e vos achais oprimidos, e sereis aliviados e consolados. — Venho Instruir e consolar os pobres deserdados. Venho dizer­lhes que elevem a sua
resignação ao nível de suas provas, que chorem, porquanto a dor foi sagrada no  Jardim das
Oliveiras; mas que esperem, pois que também a eles os anjos consoladores lhes virão enxugar as
lágrimas.— Vossas almas não estão esquecidas; eu, o Divino Jardineiro, as cultivo no silêncio dos
vossos pensamentos. — Deus consola os humildes e dá força aos aflitos que lha pedem. Seu  poder cobre a
Terra e, por toda a parte, junto de cada lágrima colocou Ele um bálsamo que consola. —  Nada fica perdido no reino do nosso Pai e os vossos suores e misérias formam o 
tesouro que vos tornará ricos nas esferas superiores, onde a luz substitui as trevas e onde o mais
desnudo dentre todos vós será talvez o mais resplandecente! 10
E era um desfilar empolgante de cenas, das quais o Consolador Amável destacava­se
irradiando convites irresistíveis a nós outros, réprobos sofredores e desesperançados, enquanto o 
orador rememorava as divinas ações por Ele praticadas!
o religioso presidia as arquibancadas. Frêmito de emoções desconhecidas acendia, nas profundezas sensíveis dos nossos Espíritos atribulados e tristes, uma alvorada de confiança, prelúdio prometedor da Fé que nos deveria impulsionar  para os labores da salvação. Suspensos
pelos interesses do ensinamento poderosamente sedutor, fitávamos embevecidos aqueles quadros
sugestivos, criados momentaneamente para nossa elucidação, e nos quais destacávamos o 
Nazareno socorrendo os desgraçados, enquanto a palavra afetuosa do orador, envolta nas ondas
fluídicas, ainda mais doces, do pensamento caridoso dos seres angélicos que nos assistiam, instruía
ternamente, com entonações que repercutiam até ao âmago dos nossos Espíritos sequiosos de
consolo, como imprimindo em seus refolhos, para sempre, a imagem incomparável do Médico 
Celeste que nos deveria curar! 
Então sentimos que, pela primeira vez, desde muitos anos, a Esperança descia seus
mantos de luz sobre nossas almas enoitadas pelas trevas do desânimo e da ímpia descrença! 
De súbito, brado angustioso, de suprema desesperação, feriu  a majestade do religioso 
silêncio que abendiçoava o cenáculo! 
Um dos nossos míseros pares, justamente daqueles a quem denominávamos "retalhados",
durante o cativeiro no Vale Sinistro, por conservarem no corpo astral as trágicas sombras do 
esfacelamento do envoltório carnal sob as rodas de pesados veículos de ferro, e cujo estado de
incompreensão e sofrimento, muito grave, exigira o concurso humano a fim de ser suavizado —  esperando receber também alívio aos feros padecimentos que o exasperavam, arrojou­se de joelhos
ao solo e suplicou por entre lágrimas, tão pungentes que sacudiram de compaixão as fibras dos
circunstantes — como outrora teriam feito os desgraçados em presença do Meigo Rabi da Galiléia: “— Jesus Cristo! Meu Senhor e Salvador! Compadecei­vos também de mim! Eu creio, Senhor!  E quero a vossa misericórdia! Não posso mais!  Não posso mais!  Enlouqueci no 
sofrimento! Socorrei­me, Jesus de Nazaré, a mim também, por piedade!”
A um sinal de Alceste e de Romeu, os bondosos enfermeiros ampararam­no, conduzindo­  o ao médium, uma senhora ainda jovem, delicada de talhe e de feições, e que na véspera se
comprometera ao magno desempenho, quando das investigações dos obreiros do Instituto para
conseguirem a reunião. Dois médicos, responsáveis pelo Espírito em questão, acompanharam­no, estabelecendo sua ligação com o precioso veículo, e também a este dispensando a mais desvelada
assistência, a fim de que nenhum contratempo sobreviesse. A cena, então, atingiu a culminância mais patética e, ao mesmo tempo, mais sublime que
imaginar se possa! 
Apossando­se de um aparelho carnal que, piedosamente, por momentos lhe emprestavam, no intuito cristão de beneficiá­lo, por ajudá­lo a conseguir alivio, o desgraçado suicida sentiu, em
toda a sua plenitude, a tragédia que havia longos anos vinha experimentando o seu viver nas trevas
do martírio inconcebível! Pois tinha agora, ao seu dispor, outros órgãos materiais, nos quais suas
vibrações, ardentes e tempestuosas, esbarrando brutalmente, voltavam plenamente animalizadas
para produzirem no seu torturado corpo astral repercussões minuciosas do que fora passado! Gritos
lancinantes, estertores macabros, terrores satânicos, todo o pavoroso estado mental que arrastava,
refletiu ele sobre a médium, que traduziu, tanto quanto lho permitiam as forças do sublime dom que possuía, para os circunstantes encarnados ali presentes, a assombrosa calamidade que o túmulo 
encobria! 
Enlouquecido, vendo sobre a mesa os fragmentos em que se convertera seu desgraçado 
corpo de carne, por  ele próprio atirado sob as rodas de um trem de ferro, pois seu inacreditável
estado mental fazia­o ver, por toda parte, o mal que existia em si mesmo, chaga que lhe violentava
a consciência — arrebatou a jovem médium em agitações penosas e, debruçando­se sobre a mesa, pôs­se a reunir aqueles mesmos fragmentos, tentando reorganizar  o corpo, que via, cheio de
horror, eternamente disperso sobre os brilhos, presa dramática de uma das mais abomináveis
alucinações que o Além­túmulo costuma registrar! 
Vulnerado pelos fogos da inconcebível tortura do réprobo  a estampar a realização da
assertiva severa do Evangelho: "E sereis atirados nas trevas exteriores onde chorareis e rangereis
os dentes", a infortunada ovelha desgarrada, que desdenhara ouvir as advertências do prudente e
sábio Pastor da Galiléia, ia, nervosamente, arrepanhando papéis, livros e lápis que se achavam
dispostos sobre a mesa, à disposição dos psicógrafos, e, neles julgando reconhecer as próprias
vísceras esfaceladas, ossos triturados, carnes sangrentas — o coração, o cérebro — reduzidos a
montículos repugnantes — mostrava­os, chorando convulsivamente, ao presidente da reunião, a
quem enxergava com facilidade, suplicando sua intervenção junto a Jesus Nazareno, já que tão 
bem O conhecia, para remediar­lhe a alucinadora situação de se sentir assim despedaçado e
reconhecer­se, e sentir­se vivo!  Nervoso, irrequieto, excitadíssimo, o dantesco prisioneiro dos
tentáculos malvados do suicídio gargalhava e chorava a um mesmo tempo, suplicava e gemia, estorcia­se e ululava, expunha, sufocado em lágrimas afogueadas pelo martírio, o drama
incomensurável que para si mesmo criara com o suicídio, o remorso inconsolável de preferir  a
descrença em que vivera e morrera à conformidade conselheira e prudente, frente às penas da
adversidade, pois, reconhecia agora, tardiamente, que todos os dramas que a vida terrena apresenta
são meros contratempos passáveis, contrariedades banais, comparados aos monstruosos
sofrimentos originários do suicídio, cuja natureza e intensidade nenhum ser humano, mesmo um
Espírito desencarnado, é competente para avaliar, uma vez que as não tenha experimentado! 
Comovido — a personagem principal da mesa — o presidente, a quem tutelares invisíveis
amorosamente inspiram, fala­lhe piedosamente, consola­o apontando a luz sacrossanta do 
Evangelho do Mestre Divino como o recurso supremo e único capaz de socorrê­lo, afiançando­lhe
ainda, com sua palavra de honra, a qual não tem dúvidas em empenhar, tal a certeza do que afirma, a intervenção do Médico Celeste, que proporcionará alívio imediato aos estranhos males que o 
afligem. Eleva então uma prece, singela e amorosa, depois de convidar todos os corações presentes
a galgar com ele o espaço infindo, em busca do seio amorável de Jesus, para a súplica de mercês
imediatas para o desgraçado que precisa serenidade a fim de expungir da mente a visão macabra
com que os próprios delitos lhe fustigam a alma e a continuação da Vida, as quais pretendeu 
aniquilar com a deserção pelos atalhos do suicídio! 
Acompanham­no  de boamente todos quantos se interessam pelo infeliz alucinado:
encarnados que compõem a mesa, desencarnados que realizam a magnificência da sessão, isto é,
instrutores, vigilantes, assistentes guias da Casa, lanceiros e até nós outros, os delinqüentes mais serenos, profundamente comovidos. Oram ainda os diretores de nossa Colônia, que, do segredo do 
Templo, assistem quanto se desenrola entre nós; oram Teócrito  e seus adjuntos, os quais, do 
Hospital, igualmente assistem aos trabalhos através dos possantes aparelhos que conhecemos ou 
simplesmente servindo­se da dupla vista, que facilmente acionam. E assim docemente
harmonizada e fortalecida ao impulso vigoroso dos pensamentos homogêneos de tantos corações
fraternalmente unidos sob o ósculo sublime da Caridade, no que pode ela encerrar de mais belo e
desinteressado — a prece ilibada e santa transformou­se em corrente vigorosa de luz resplendente, que dentro de curtos minutos atingiu  o Alvo Sagrado e voltou fecundada pelo amplexo da Sua
divina misericórdia! Cada pensamento, que se unifica aos demais em anseios compassivos, cada
expressão caridosa extraída do coração, que subia à procura do Pai Altíssimo em favor do infeliz
ferreteado pelo suicídio, que precisou do concurso humano para se adaptar ao além­túmulo — são 
vozes a lhe segredarem esperanças, são  bálsamos fecundos e inestimáveis a gotejarem tréguas, vislumbres de bonança nas cruentas tempestades que sacodem seu  Espírito ergastulado na
desgraça.Após a prece seguiu­se silêncio impressionante, como só existiria sobre a Terra outrora, durante a prática dos mistérios, nos santuários dos antigos templos de ciências orientais. Todos
concentrados, apenas a médium se estorcia e chorava, traduzindo o assombro da entidade
comunicante. Pouco a pouco, sem que uma única palavra tornasse a ser proferida, e enquanto apenas as
forças mentais de desencarnados conjugadas com as de encarnados mourejavam, efetivou­se a
Divina Intervenção... e não desdenharemos descrevê­la, digno que é o seu transcendentalismo da
nossa apreciação. As vibrações mentais dos assistentes encarnados, e particularmente da médium, cuja
saúde físico­material, físico­astral, moral e mental, encontrava­se em condições satisfatórias, pois
que fora anteriormente examinada pelos proroedores do importante certame espiritual, reagiam
contra as do comunicante, que, viciadas, enfermas, positivamente descontroladas, investiam
violentamente sobre aquelas, como  ondas revoltas de imensa torrente que se despejasse
abruptamente no seio esmeraldino do oceano, formoso e sobranceiro refletindo os esplendores do 
firmamento ensolarado. Estabeleceu­se, assim, luta árdua, na realização de sublime operação 
psíquica, uma vez que influenciações saudáveis, fluidos magnéticos mesclados de essências
espirituais aconselháveis no caso, fornecidos pela médium e pelos guias assistentes, deveriam
impor­se e domar as emitidas pela entidade sofredora, incapaz de algo produzir distante do 
inferior. A corrente poderosa pouco a pouco apresentou  os frutos salutares que era de esperar,
dominando suavemente as vibrações nefastas do suicida depois de passar pelo áureo veículo 
mediúnico, o qual, materializando­a, adaptando­a em afinidades com o paciente, tornava­a
assimilável por  este, cujo envoltório astral fortemente se ressentia das impressões animalizadas
deixadas pelo corpo carnal que se extinguia sob a pedra do sepulcro! 
Eram como que compressas anestesiantes que se aplicassem na organização fluídica do 
penitente, suavizando­lhe o efervescer das múltiplas excitações, a fim de torná­la em condições de
suportar a verdadeira terapêutica requisitada pelo melindroso caso. Era como sedativo divino que piedosamente gotejasse virtudes hialinas sobre suas chagas anímicas, através do filtro humano 
retado pelo  magnetismo mediúnico, sem o qual o  infeliz não assimilaria, de forma alguma, nenhum benefício que se lhe desejasse aplicar! E era como transfusão de sangue em moribundo 
que voltasse à vida após ter­se encontrado às bordas do túmulo, infiltração de essências preciosas
que a médium recebia do Alto, ou  dos mentores presentes, em abundância, transmitindo em
seguida ao padecente. Lentamente a médium se aquietou, porque o desgraçado "retalhado" se acalmara. Já não 
via os reflexos mentais do ato temerário, o que equivale adiantar que desaparecera a satânica visão 
dos fragmentos do próprio corpo, que em vão tentara recolher para recompor. Grata sensação de alívio perpassava suas fibras perispirituais doloridas pelos amargores
longamente suportados... Continuava o silêncio augusto propício às dulçorosas revelações
imateriais do amparo maternal de Maria, da misericórdia inefável de seu Filho Imaculado. Pelo recinto repercutiam ainda as tonalidades blandiciosas da melodia evangélica, quais
cavatinas siderais harpejando esperanças: "Vinde a mim, vós que sofreis e vos achais
sobrecarregados, e eu vos aliviarei..." Enquanto ele chorava em grandes desabafos, entrevendo 
possibilidade de melhor situação. Suas lágrimas, porém, já não traduziam os estertores violentos
do inicio, mas expressão agradecida de quem sente a intervenção beneficente. Então, Alceste e Romeu acionaram as forças da intuição, com veemência, sobre a mente
do presidente da mesa, que se engrinaldou de luminosidades adamantinas. Aproximaram­se os técnicos do aparelho mediúnico, a que o infeliz se encostava. Explica­lhe o presidente, pormenorizadamente, quanto lhe sucedeu e por que sucedeu.
Ministra­lhe aula expressiva, a que aqueles agentes corporificam com a criação de
quadros demonstrativos. Vimos que se repetia então na sessão espiritista terrena o que havíamos
assistido nas assembléias do Hospital presididas pelo insigne Teócrito: A vida do paciente
ressurge, como fotografada, refletida nesses quadros, de suas mesmas recordações, desfilando à
frente de seus olhos desde o berço até o túmulo por ele mesmo cavado! 
Ele reviu  o que praticou, assistiu  aos estertores rápidos da agonia que a si próprio 
ofereceu sob as rodas de um veículo; contemplou, perplexo e aterrado, os destroços a que seu 
gesto brutal reduzira sua configuração humana cheia de vigor e de seiva para o prolongamento da
existência... mas fê­lo  agora independente daqueles destroços, como se houvera despertado de
hediondo pesadelo!... Observou mesmo, desfeito em lágrimas, que mãos piedosas recolheram seus
despojos sangrentos de sobre os trilhos; assistiu comovido ao sepultamento dos mesmos em terra
consagrada... e viu  o vulto confortador  de uma Cruz montando guarda à sua sepultura. Compreendeu, assim, e aceitou o acontecimento que sentia dificuldades e repulsas em acatar, isto 
é, que era imortal e continuaria vivendo, vivendo ainda e para todo o sempre, apesar do suicídio! 
Que de nada aproveitara a resolução infernal de pretender burlar as leis divinas senão  para
sobrecarregar­lhe a existência, assim como a consciência, de responsabilidades tão graves quanto 
pesadíssimas! E que, se o corpo material se extinguia, com efeito, no lodo pútrido de um sepulcro  — o Espírito, que é a personalidade real, porque descendente da Luz Eterna do Supremo Criador, marcharia indestrutível para o futuro, apesar de todos os percalços e contratempos, vivo e eterno 
como a própria Essência Imortal que lhe fornecia a Vida! 
Oh, Deus do Céu!  Que ofício religioso ultrapassará em glórias essa reunião singela, desprovida de atavios e repercussões sociais, mas onde a atribulada alma de um suicida, descrente
da misericórdia do seu  Criador, desesperada pelo acervo  dos sofrimentos daí conseqüentes e
inclemência dos remorsos, é convertida aos alvores da Fé, pela doçura irresistível do Evangelho do 
Meigo Nazareno?! Que cerimônia, que ritual, quais festividades e pompas existentes sobre a Terra
poderão ombrear­se com a magnificência do santuário secreto de um núcleo de estudos e labores
espirituais onde os missionários do Amor e da Caridade do Unigênito de Deus em Seu  nome
esvoaçam, mergulhados em vibrações ilibadas e puras, oferecendo aos iniciados modernos, que se
congregam em cadeias mentais excelentes, o precioso exemplo de nova prática da Fraternidade?! 
Em que setor humano depararia o homem glorificação mais honrosa para lhe condecorar a
alma, do que essa, de ser  elevado  à meritória categoria de colaborador  das Esferas Celestes, enquanto os Embaixadores da Luz lhe desvendam os mistérios do túmulo  ofertando­lhe
sacrossantos ensinamentos de uma Moral redentora, de uma Ciência Divina, no intuito generoso de
reeducá­lo para o definitivo ingresso no redil do Divino Pastor?! 
Homem! Irmão, que, como eu, descendes do mesmo Foco Glorioso de Luz! Alma imortal
fadada a destinos excelsos no seio magnânimo da Eternidade! Apressa a marcha da tua evolução 
para o Alto nos caminhos do Conhecimento, reeducando o teu caráter aos fulgores do Evangelho 
do Cristo de Deus! Cultiva tuas faculdades anímicas no silêncio augusto das meditações nobres e
sinceras; esquece as vaidades depressoras; relega os prazeres mundanos que para nada aproveitam
senão para excitar­te os sentidos em prejuízo das felizes expansões do ser divino que em ti palpita;
alija para bem distante do teu  coração o egoísmo fatal que te inferioriza no  concerto das
sociedades espirituais... pois tudo isso mais não é que escolhos terríveis a dificultarem tua
ascensão para a Luz! Rasga teu seio para a aquisição de virtudes ativas e deixa que teu coração se
dilate para a comunhão com o Céu... Então, as arestas do calvário terreno que palmilhas serão 
aliviadas e tudo parecerá mais suave e mais justo ao teu entendimento aclarado pela compreensão 
sublime da Verdade, pois terás dado  abrigo em teu seio às forças do Bem que promanam do 
Supremo Amor de Deus!... E depois, quando te sentires afeito às renúncias; quando fores capaz
das rígidas reservas necessárias ao verdadeiro iniciado das Ciências Redentoras; quando tiveres
apartado o teu coração das ilusões efêmeras do mundo em que experimentas a sabedoria da Vida, e
empolgada se sentir  a tua alma imortal pelo santo ideal do Amor Divino  —  que teus dons
mediúnicos se entreabram qual preciosa e cândida flor celeste, para a convivência ostensiva com o 
Mundo Invisível, despetalando aljôfares de caridade fraterna à passagem dos infelizes que não 
souberam a tempo se precatar, como tu, com as forças indestrutíveis que à alma fornece a Ciência
Imarcescível do Evangelho do Cristo!

Memórias de um SuicidaOnde histórias criam vida. Descubra agora