IV - Outra vez Jerônimo e Família

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Carlos de Canalejas viera buscar­nos ao Pavilhão Indiano ainda cedo, e, após efusivos
cumprimentos, dissera­nos:
"— Sou de opinião que a programação de hoje se inicie pelo Isolamento. Encontra­se ali
vosso amigo Jerônimo de Araújo Silveira e aproveitareis o ensejo para fazer­lhe a visita que há
tanto vindes projetando. Sentir­se­á ele certamente confortado com vossa presença, enquanto tereis
cumprido suave dever de solidariedade e fraternidade." 
Não distava muito o Isolamento do edifício central, em cujas imediações nos
encontrávamos albergados. A perder de vista estendia­se o planalto onde a cidadela do importante Departamento se
assentava, envolvida no seu triste sudário de neblinas. Ao longo dos caminhos que trilhávamos
destacavam­se tabuleiros de açucenas e rosas brancas, que se diriam ser as flores mais adaptáveis
ao melancólico retiro. Vinha­nos a impressão de que o Departamento Hospitalar, assim o da
Vigilância, seriam arrabaldes bucólicos de uma grande metrópole, cujos ecos a distância nos não 
permitia suspeitar. E conversávamos familiarmente, pouco nos apercebendo de que já não éramos
homens e sim Espíritos despojados das vestiduras carnais. A direção do Isolamento, assim como o tratamento fraternal dispensado aos penitentes, eram idênticos aos das demais filiais que visitáramos, inspirados na mais convincente justiça, na
caridade amorosa e fraterna. Encontravam­se, com efeito, asilados além daqueles muros imensos, onde nem mesmo 
faltava a interdição de uma ponte levadiça, pobres colegas nossos a quem as dores impostas pelo 
desânimo ou  a revolta sobrepujavam às do arrependimento pelo mau  ato praticado. Nestes
corações desolados e inconsoláveis, o arrependimento limitava­se ao insuportável pesar de concluírem que o suicídio para nada mais aproveitara senão para lhes dilatar  e prolongar  os
sofrimentos antes julgados insuportáveis, além de lhes apresentar, entre outras, a desalentadora
decepção de se reconhecerem com vida, mas separados dos objetos de suas maiores predileções. Pode­se mesmo afirmar que o Isolamento era especializado nos casos sentimentais... pois é sabido 
que o sentimentalismo levado ao excesso constitui gravíssimo complexo, enfermidade moral capaz
dos mais deploráveis resultados. E encontramos, com efeito, ali, os mais variados casos de
suicídios sentimentais, em que o réprobo é agitado por vero sentimento extraído do coração, não 
resta dúvida, conquanto desequilibrado, desde o amante ofegante de paixão e ciúmes pela
felicidade concedida ao rival feliz até o chefe de família desorientado por impasses dificultosos ou 
o pai subjugado pelo desalento ante o esquife do adorado entezinho que era a razão da sua
felicidade.Consternação geral dominava o ambiente dessa filial do Hospital Maria de Nazaré.
Invariavelmente insatisfeitos, seus hóspedes apresentavam o característico  das criaturas
irresignadas e impacientadas por tudo, além de se entregarem à dor sem se animarem a esforços
para vencê­la, retendo­a, antes, com o exagero de um sentimentalismo doentio e piegas, enquanto 
engendravam novos motivos para sofrer, através de auto­sugestões pesadas que lhes envenenavam
todos os instantes. A direção interna do Isolamento, tal como a da Torre, achava­se confiada a um sacerdote
católico, ao invés de um daqueles atraentes iniciados a quem já nos habituáramos ver à frente das
organizações da Colônia. Todo o corpo de auxiliares internos, aliás, era constituído de religiosos católicos, exceção 
feita do corpo  clínico, que se compunha de psiquistas iniciados. Não  obstante, o cargo mais
importante, isto é, o de diretor, conselheiro e educador, se era ocupado por um sacerdote, era este
também iniciado nas altas doutrinas secretas, Espírito de escol, possuidor de méritos assinalados
perante a Lei, e benquisto na Legião dos Servos de Maria, além de honrosamente graduado no seio 
da falange de cientistas que governava o Instituto Correcional Maria de Nazaré. A disciplina era verdadeiramente conventual. Urgia fossem afastadas daqueles eternos insatisfeitos e voluntariosos as atrações pelas
paixões mundanas e pessoais, os arrastamentos impuros e caprichosos que os perderam. Cumpria à
instituição que os acolhia instruí­los para os ditames da resignação na desventura, para as
resoluções decisivas, para as renúncias inalienáveis, reconciliando­os ainda com a verdadeira fé
cristã, que até então desprezavam conhecer à luz do devido critério. Haviam sido, todos eles, educados, na Terra, sob os auspícios de ensinamentos católicos­ 
romanos. Em seus corações e em suas mentes, nas concepções religiosas que lhes dirigiam os
pensamentos, não existia local para conceitos outros que não aqueles provindos da Igreja que
acatavam desde a infância. Sentimentalistas fanatizados e caprichosos, amolentados mentalmente
pelo descuido no exercício do raciocínio sobre alevantados assuntos, alongavam a morbidez dos
preconceitos que lhes eram próprios às ilações religiosas fornecidas pelos catecismos, apaixonando­se intransigentemente por tudo quanto as tradições católicas houveram por bem
infundir no senso  pouco amadurecido da Humanidade. Muitos nem mesmo  crença definitiva possuíam. Incrédulos, mesmo ímpios, jamais se haviam preocupado com a feição religiosa ou 
divina das coisas. Mas, habituados à Igreja pelo comodismo e a tradição, só a ela conferiam os
direitos de guiar consciências, só a ela permitiriam sabedoria bastante para os serviços de exegese. Seria caridoso, pois, que a reeducação de tais mentalidades se fizesse à sombra de
ambiente idêntico àquele que lhes inspirava confiança e respeito. O próprio padre, portanto, lhes falaria do Evangelho da Verdade, para que aprendessem
que acima do seu fanatismo dogmático pairava o eterno luzeiro de realidades que necessitavam
aceitar a fim de saberem venerar devidamente o Criador! O próprio padre instruí­los­ia sobre a
vida do mundo  astral, lecionando­lhes observações e experiências, varrendo­lhes do cérebro as
suposições tacanhas a que se amoldaram preguiçosamente, rasgando ao seu entendimento os véus
do conhecimento verdadeiro, a fim de que concluíssem por experiência própria que, tanto no seio 
da Religião como no da Ciência, poderá resplandecer o ardor daquela Fé que norteia o coração 
para o Alto, purificando­o ao calor sempre vivo do Amor de Deus! 
Cientificado do desejo que trazíamos de visitar um amigo ali retido, após a visitação, cujas minúcias omitiremos por apresentarem a generalidade das demais, Padre Miguel de
Santarém, maioral da comunidade, exclamou bondosamente, entre risonho e satisfeito:
"—  Fizestes bem em vir, meus filhos!... Agradeço­vos o afetuoso  interesse por um
companheiro de jornada tão carecedor de reconforto como esse em questão. Visitar um enfermo,
reanimar, com a presença consoladora, o pobre detento entristecido pela angústia de remorsos
implacáveis, é obra meritória sancionada pelo Modelo Divino, amigo dos pobres e pequeninos...
Jerônimo ficará satisfeito... Mandá­lo­ei chamar imediatamente." 
Enquanto falava, reconhecêramos nele o religioso que confortara o antigo mercador de
vinhos, na memorável tarde da visita à família havia cerca de três anos.
Irmão Teócrito, conforme estamos lembrados, requisitara­o a fim de assistir  o revel, a
pedido deste mesmo, e, desde então, encontrava­se Jerônimo sob as vistas do  competente
conselheiro. Enquanto aguardávamos a presença do companheiro de desditas, ia dizendo o diretor do 
Isolamento:
"—  Vosso amigo  entra em fase de transição, precursora do restabelecimento. Podereis
apreciar nas circunstâncias que o rodeiam o padrão dos demais internos do nosso educandário, pois
o Isolamento se interessa por casos que têm, mais ou menos, os mesmos fundamentos, como não 
deixa de também suceder com as demais organizações do nosso Instituto. Após vencer a apatia a que o conduziram as revoltas improfícuas, resultantes de
desilusões cruciantes, estará preparado para a repetição das experiências em que fracassou.
Encontra­se sob assistência rigorosa, como é devido a todos que nos são confiados, pois
seu  invólucro perispiritual, assim a própria mente, carecem de profundos cuidados. Ao corpo 
clínico destacado para os serviços deste posto está afeto o tratamento daquele, o qual se resume em
aplicações magnéticas especiais; a esta, porém, atendemos com as atenções inspiradas nos
estatutos da Legião, que, no caso, aplica a reeducação, tratamento inteiramente moral, porque o mal que a Jerônimo infelicita, como o que atormenta a vós outros, somente com a renovação 
individual, operada interiormente pelo próprio paciente, será removido... A paixão mórbida que desequilibradamente nutriu pela esposa e pelos filhos prestou­se a
instrumento para as grandes expiações que os seus entes queridos tinham em débito nos assentos
da Lei de Justiça que rege os destinos humanos!  Jerônimo amava egoisticamente, desorientadamente, entrincheirando o coração contra toda a possibilidade de amparo que a razão e
o lúcido raciocínio poderiam conferir... e, como não deveis ignorar, cumpre­nos estar  sempre
advertidos de que, nem mesmo  aos próprios filhos, deverá o homem amar  discricionariamente, com os impulsos cegos da paixão! 
Certamente que o devotamento à família conceder­lhe­á méritos diante do Legislador 
Supremo. Porém, mais honrosos se tornariam os lauréis se houvera encaminhado os seres amados
ao culto legítimo do cumprimento do Dever, e não proporcionando­lhes luxos e gozos mundanos
enquanto descurava da educação moral que deveria prover em primeiro lugar, ainda que
bracejando contra os arremessos da pobreza adversa, uma vez que todas as criaturas do Senhor são 
aproveitáveis e que, justamente a fim de auxiliá­las a progredir e educar­se em sentido benéfico, é
que confere Deus a autoridade paterna ao homem encarnado. Se assim fizera, cumprindo o sagrado 
dever de pai previdente e honrado, Jerônimo ter­se­ia furtado ao amargor de situações
embaraçosas, pelas quais se tornou responsável com o ato dramático do suicídio... Ei­lo, porém, que chega... Ele vos dirá coisas interessantes..." 
Com efeito. Acompanhado por Irmão Ambrósio, um assistente religioso, o antigo 
negociante do Porto entrou no compartimento onde nos achávamos e atirou­se em nossos braços, comovidamente.
"— Obrigado, queridos companheiros! — exclamou — por vos terdes lembrado de minha
humilde pessoa, tão gentilmente! Vossa visita cala­me docemente no coração! Se soubésseis quão 
terríveis têm sido as minhas aflições!..." 
Abraçamo­lo com efusão, apresentando votos pela sua felicidade pessoal, pois outra coisa
não sabíamos, até então, dizer ou desejar aos amigos. Pareceu­nos Jerônimo assaz modificado. Reconhecemo­lo  sereno, senhor de maneiras
tocadas de encantadora distinção, a qual não lhe conhecêramos antes. E pensamos em que, certamente, o Isolamento, dirigido por virtuosos Espíritos de antigos sacerdotes, teria a missão de
elevar também o nível da boa educação social, como internato conventual que era! 
Ardíamos pelo desejo de interrogar o antigo comparsa do Vale Sinistro, de recolhermos
novas dos seus desgraçados filhos, que lá ficaram, na Terra, amortalhados de lágrimas e desditas. Mas o receio de uma indiscrição deteve­nos, o que fez que o silêncio se prolongasse após os
cumprimentos. Logo, porém, o virtuoso  mentor Santarém encaminhou­nos a feliz ensejo, conhecendo a sinceridade que nos impelia.
"— Falávamos de ti, meu caro Jerônimo... Teus amigos desejam saber se te sentes melhor 
e mais reconfortado no amor de Deus, pois partirão em breve para outro plano de nossa Colônia e, vindos para se despedirem, estimariam levar a impressão de que deixam para trás um amigo em
vias de verdadeiro reerguimento..."
Aplaudimos, corroborando tais expressões com o incentivo de nos mostrarmos, a ele
próprio, resignados e confiantes nos dias porvindouros, e acrescentamos:
"— Amparados por amigos tão desvelados como os que deparamos desde que para aqui
nos encaminharam, sentir­nos­íamos até felizes, não fora a inclemência dos pesares que nos
perseguem pela desonra com que aviltamos nossa alma..." 
O antigo comparsa curvou a fronte com enternecedora humildade, retorquindo:
"­  Tendes razão, meus caros amigos!  Será possível, sim!  para nós outros, o alívio 
supremo na conquista da resignação e da fé, que levará à conformidade... Felizes, porém, não creio 
que poderemos ser tão cedo, porque não  será pelas vias do  suicídio que a individualidade
encontrará essa deusa Felicidade, que mais se afasta quanto  maiores forem a revolta e a
insubmissão no coração que a deseja!  Quisera eu  que o suicídio me houvera para sempre
exterminado  o ser. Assim não foi porém!... E assim não sendo compreendi que só me restava
curvar ao inevitável, enfrentando com resignação e fortaleza de ânimo a amargosa situação por 
mim mesmo criada! 
Devo à solicitude de Irmão de Santarém, a seus conselhos e exemplos edificantes, como 
aos seus abnegados imediatos e às regras verdadeiramente providenciais desta mansão educadora, a transformação que em mim se vem operando. Tal como vós, sorvi o meu cálice de fel, traguei
muitas amarguras entre uivos de desespero e blasfêmias de réprobo!  Mas hoje me sinto outro 
indivíduo, a quem a confiança no amor do Ser Supremo ressuscitou dos escombros da mais nefasta
descrença, porque descrença mascarada com a hipocrisia da falsa fé, da afetação da virtude, as
quais se mostravam com a ostentação convencional, o que, se satisfaz à sociedade, não aproveita, no entanto, nem mesmo para convencer o próprio que as simulou, quanto mais para edificar a sua
alma perante o Criador... Eu poderia ser feliz, meus amigos, de algum modo, rodeado com a atenção destes nobres
e excelentes protetores, instruído, fortalecido, confortado como me vejo  por sua incansável
caridade, convencido das lutas e deveres que me cabem, disposto a enfrentá­los quanto me acho. Mas cometi um crime de duras conseqüências, de conseqüências extensíssimas para mim e os
meus! Contemplo­me carregado de falhas... e não me posso, de nenhum modo, sentir satisfeito em
parte alguma, quando  o arrependimento vivo  e ardente flagela minhas horas, exigindo resgate
imediato a fim de que a serenidade me retorne ao coração, permitindo­me novos
empreendimentos, dignificantes e honrosos... justamente o oposto dos atos de antanho! 
Devo confessar­vos que, como comerciante que fui, falido, arruinado, traindo a confiança
de firmas honestas, com as quais mantivera compromissos, de instituições bancárias, cuja
honorabilidade não levei ao devido  apreço, e até das autoridades municipais, pois grandes
prejuízos dei também às fiscalizações legais, como aos direitos alfandegários, visto que pratiquei
não raras vezes o contrabando, envergonho­me de tal forma, por não me ter esforçado por sair 
honrosamente desse emaranhado de inferioridades; pejo­me tanto de haver solvido  tais
compromissos acobertando­me sob a macabra ilusão do suicídio, que o rubor só me desaparecerá
das faces quando me for possível ser  comerciante outra vez, a fim de solvê­los pessoalmente, digna, honestamente! Oh, que ato indecoroso cometi perante a sociedade, meus amigos!
Eu devo e não paguei! Eu defraudei os sacrossantos direitos da Pátria, da abençoada terra
em que vivi!  Tenho compromissos vencidos, empréstimos, contas e mais contas, letras e mais
letras a pagar!... E nada resgatei até hoje! O peso desta desonra converteu­me os dias em torturas
ininterruptas, a par das desventuras que, por minha incúria, atingiram meus filhos!..." 
"—  Felizmente, porém, a Lei da Sábia Providência confere ao Espírito falido meios
honrosos para libertar­se de situações incômodas e vexatórias como essas, e Jerônimo, em futuro 
não muito afastado, poderá reparar tais compromissos, recuperando o beneplácito  da própria
consciência, servindo­se de experiências novas e novos ensejos, graças à reencarnação, que a todos
é facultada como meio  de progresso  e reabilitação... e ele bastante animado se encontra para a
jornada nova..." — acudiu irmão Santarém, cortando a expansividade humilhante para o próprio 
expositor.
"— Rejubilo­me sabendo­te confortado e decidido aos embates pela honra de uma vitória
que encoberte de tua consciência a visão inglória da queda forte que também a ti arrastou  à
desgraça, amigo Jerônimo!... Praza aos céus que as forças se centupliquem em tua alma quanto as minhas em mim se
multiplicam a cada nova vibração de minha própria dor... pois também me acho encorajado às
mais rudes experimentações, contanto que se arrede de minhas íntimas visões o trágico fantasma
dos remorsos pelo monstruoso delito que pratiquei"  —  vibrou  Mário Sobral, a quem
impressionante estremecimento sacudiu, fazendo­o agitar as mãos como  que se esforçando por 
desvencilhá­las de algo que o inquietasse e afligisse.
"—  A prece, que aprendi a praticar, tornando­a em manancial indispensável à minha
pobre alma, guiado pelas férteis exortações de Irmão Santarém — continuou o ex­comerciante do 
Porto  —, as súplicas veementes que aprendi a dirigir  a Maria —  nossa Mãe e Guiadora —  concederam­me a trégua precisa para reunir os pensamentos atropelados pelo desespero e fixá­los
no bom raciocínio... acontecimento que foi a chave áurea para a solução dos muitos problemas por 
mim considerados insolúveis... A sorte imprevista de meus infelizes filhos, aos quais tanto e tanto amava, a conduta de
Zulmira, prostituída e envilecida —  como eu, incapaz de consagrar­se ao Dever, vencendo 
honestamente as difíceis circunstâncias da miséria ­ eram fatos que me dementavam até à loucura e
à blasfêmia, convertendo minhalma na de um réu selvagem e danado como não o seria a fera dos
sertões africanos! A prece, porém, continuada, humilde, tal como o bom conselheiro recomendava, corrigiu a anomalia; e, pouco a pouco, recobrei a lucidez do senso, parecendo­me, ao depois de
serenado o ânimo, que estivera durante séculos mergulhado  nas trevas inferiores da
irresponsabilidade! Ainda assim, a situação de meus filhos, que haveis de recordar, levava­me a
sofrimentos inconsoláveis!..." 
Ao vigor das evocações, Jerônimo reanimava­se. Nosso grupo quedara­se muito atento, vibrando homogeneamente com o emocionado narrador. E tais foram as tintas vivas e sugestivas
com que soube esboçar os acontecimentos que lhe diziam respeito, tais as expressões ardentes
emitidas pelas vibrações com que traduzia as sutilezas da memória, que julgamos rever com ele os
episódios narrados. E será como se também os houvera assistido que os transmitiremos ao leitor.
"— Certo dia, ao entardecer — ia dizendo o enclausurado do Isolamento —, encontrava­  me quase absolutamente só, perambulando tristemente pelas ruas melancólicas do imenso parque
que vedes... Aproximava­se o doce, emocionante momento do  Ângelus. A unção religiosa —  consolo e esperança dos desafortunados irremediáveis — sutilmente infiltrou­se pelos escaninhos
de meu ser, reportando­me o pensamento ao seio maternal de Maria, Mãe boníssima dos pecadores
e aflitos... Não ignorais que o momento da saudação a Maria é fielmente respeitado pelos seus
legionários, homenageado com sinceras demonstrações de gratidão nesta Colônia, a qual se
edificou, cresceu e produziu excelentes frutos de amor e caridade, para servir­me das expressões
que ouço dos meus bondosos instrutores, à sombra augusta da sua proteção. Sentei­me na relva, disposto a recolher­me também. Com o coração palpitante de fé aguardei o solene momento da oração, o qual foi logo 
anunciado pelas dulçorosas melodias que do Templo se ampliam para os recantos mais distantes
desta habitação — ecos das vibrações dos varões diretores maiores da Colônia em comunhão com
os planos superiores — ainda me servindo das expressões dos mentores desta casa... Orei, dessa vez, como nunca, jamais havia orado! 
Supliquei à amorosa Mãe do nosso Redentor assistência e misericórdia para meus filhos! 
Que intercedesse junto a Jesus Nosso Senhor, no sentido de beneficiar  as infelizes crianças por 
mim abandonadas aos inclementes arremessos da adversidade!  Nomeei Margaridinha, minha
pobre caçula, atirada à lama das sarjetas pela orfandade em que se vira com o meu suicídio! 
Lembrei Albino, atirado a um cárcere no verdor dos anos, porque um pai não tivera, digno 
bastante, para lhe prover caminhos e orientações honrosas, pois que eu! Eu! Que fora o pai, que
perante Deus e a sociedade me comprometera à nobre missão da paternidade, desonrara­me e
desonrara­o com os maus exemplos deixados como única e pervertida herança! Bradei por sua
maternal intervenção  em torno da angustiosa situação de ambos, ainda que meus próprios
sofrimentos se dilatassem por indeterminado tempo!  Oferecia­lhe, como penhor do meu 
reconhecimento por qualquer benefício que lhes concedesse sua terna compassividade de Mãe, a
renúncia a eles próprios, pois bem reconhecia eu não merecer a sacrossanta missão da paternidade! 
Afastar­me­ia para sempre, se tanto fosse necessário... mas que Margaridinha, sob seu maternal
amparo, fosse afastada do Cais da Ribeira e Albino não levasse o desespero até arrojar­se ao 
suicídio, antes se resignasse ao cárcere, ao exílio, onde, mais tarde, poderia reabilitar­se, quem o 
saberia?!...
Irmão Ambrósio, vigilante incumbido de nos reunir  ao anoitecer, veio encontrar­me
lavado em lágrimas. Mais uma vez narrei­lhe minhas desventuras, pondo­o a par das súplicas que
acabava de dirigir a Maria. Concedeu­me ele enternecidas expressões de reconforto, alentando­me
de esperanças o coração dolorido, concluindo, enquanto bondosamente me amparava para o 
regresso à comunidade.
"—  Deves perseverar nessas rogativas, meu  caro Jerônimo!  Faze­o com bom ânimo e
coragem, exalçando energicamente, tanto quanto possível, o grau das tuas vibrações, a fim de que
repercutam harmoniosamente teus pedidos, no momento muito justos, nas superiores camadas
astrais onde viceja, irradiando flores de auxílios e bênçãos, a amorosa caridade da dulcíssima Guardiã de nossa Legião. Não obstante, aconselho­te ainda a orar em conjunto, reunindo a outros o 
teu pensamento, a fim de que tuas forças, ainda inexperientes, se revigorem e avantagem ao calor 
dos demais... pois tuas súplicas deste momento são assaz importantes, representando verdadeira
mensagem dirigida a Maria... Falarei do ocorrido ao nosso bondoso conselheiro." 
Na manhã seguinte, com efeito, Irmão Miguel de Santarém visitou­me discretamente, convidando­me a tomar parte em suas reuniões particulares, com mais alguns afins, para que,
fraternalmente unidos, solicitássemos os favores por mim desejados em torno dos fatos que mais
me afligiam, porquanto era justo que ajudassem, não apenas por ser eu um discípulo do internato 
que dirigiam, mas, acima de tudo, porque seria caridoso  assistir a quem sofria, dever que
alegremente cumpririam dada a justiça das aspirações por mim alimentadas em torno dos meus
entes queridos. Assim foi feito, realmente. Sob as frondes farfalhantes, em certo recanto isolado do imenso parque, e quando as
melodias da saudação diária a Maria enleavam de suaves sugestões a quietude harmoniosa do 
crepúsculo, Irmão de Santarém alçava o pensamento fiel e, humildemente, transmitia em preces
sentidas o meu pedido à celestial Senhora. Deixei, assim, por  várias vezes, minhalma arrastar­se através do traçado luminoso que
iam deixando as mentes virtuosas dos meus boníssimos conselheiros, e acompanhava, vibrante de
confiança e de esperança, as expressões que, do âmago do ser, arrancavam em meu  benefício. Repetiram­se estas simples e doces reuniões muito em segredo, durante algumas vezes seguidas, e
sempre generosas e ardentes. Os nomes saudosos de meus filhos eram ali pronunciados
diariamente! E como era consolador ao meu compungido Espírito ouvir que a eles caridosamente
se referiam os amorosos seguidores do complacente Mestre e Senhor, que até alçado nos braços
infamantes da cruz tratava de regenerar os pecadores, condoído de suas grandes misérias!... E terna
esperança, e humilde paciência, e respeitosa resignação visitaram os meandros do meu ser, qual
raio de sol levantando aleluias nas trevas angustiosas depois de uma noite de tormentas! 
Passados que foram alguns poucos dias, tive a surpresa de ver reclamada minha presença
no gabinete do Irmão Diretor. Apresentei­me inquieto e comovido, pois havia muitos anos que me
habituara a somente reconhecer dissabores em volta de meus passos. O Diretor, porém, serenou­ 
me logo de início por apresentar­me pequeno rolo de pergaminho, espécie de "papiro" estruturado 
em raios de luz compensada, enquanto era eu informado do que acontecia:
"—  Antes de mais nada, dai graças ao Senhor Todo Bondoso e Misericordioso, caro 
Jerônimo! Vossas mensagens a Maria alcançaram êxitos perante as leis eternas e incorruptíveis!... Aqui está a resposta de nossa Amável Senhora e Guardiã, a qual, em honra a seu Augusto Filho, atende à intervenção que lhe rogastes!... Do Templo, onde militam os responsáveis por nossa Colônia, e para onde chegam as
instruções de Mais Alto, mandam os nossos orientadores estas instruções, espécie de programação 
a ser  efetuada em torno de vossos filhos Albino e Margarida... Com o visto de Irmão Teócrito, como se encontra, hoje mesmo poderemos iniciar a tarefa..."
Aturdido com o inesperado da notícia, nada respondi de momento, deixando, porém, que
minhalma, célere, externasse, no segredo do pensamento, o meu agradecimento ao Deus Bom, ao 
Deus Misericórdia, que tão prontamente permitia fosse eu atendido nos meus mais fortes desejos
do momento! 
Segurei o pergaminho lucilante, voltando­o várias vezes entre as mãos, sem ousar abri­lo. O próprio diretor, porém, com a bondade que lhe é peculiar, veio em meu auxílio, desdobrando­o 
cuidadosamente... Eram quatro páginas destacadas, as quais cintilavam com reflexos de estrelas, em suas
mãos. Caracteres azulados, como se estrigas do firmamento azul servissem aos iluminados do 
Templo para transmitirem as sublimes inspirações que recebiam no sentido de beneficência aos
sofredores, traduziam as ordens que a Magnânima Senhora enviara para meu socorro supremo! 
Ordenavam que minha pobre Margaridinha, assim como Albino, fossem, sem mais
tardanças, atraídos a um posto de emergência mantido por este Instituto na Terra, ou  em suas
imediações, a fim de se submeterem a um tratamento magnético especial, com vistas ao 
reajustamento psíquico dos sistemas nervoso e mental, ambos muito enleados nas farpas do meio 
ambiente viciado em que se expandiam, desorganizados pela intensidade dos choques derivados
das pelejas a que eram chamados a enfrentar nos testemunhos diários. Que fossem os pobrezinhos
aconselhados, advertidos, esclarecidos, porquanto o de que mais careciam era da iluminação 
interior de si mesmos. E que, em torno de ambos, caridosa corrente de amor, simpatia e proteção 
se estabelecesse, porque o Astral Superior  se encarregaria de criar os ensejos necessários aos
acontecimentos... Devo confessar­vos, no entanto, bondosos amigos, que bem pouco, até agora, entendo 
destas coisas... Narro­as como aquele que de um fato sabe por tê­lo presenciado, sem aptidões para
a necessária análise... Quanto a Marieta e a Arínda, que me tranqüilizasse: — eram honestas e trabalhadoras, encontrando­se ambas harmonizadas com as situações
que lhes cumpriam. Perseverássemos, todavia, em socorrer o infeliz esposo da primeira — por quem eu não 
rogara em minhas ardentes súplicas, mas que não fora esquecido pela Amável Mãe do Senhor 
Jesus —, presa que era de arrastamentos inferiores, que dele faziam o tirano do lar. Severa
vigilância se efetuasse em seu  favor, pois seria dócil às influências generosas que lhe
dispensassem. Seus obsessores deveriam ser aprisionados e encaminhados às respectivas
comunidades astrais... o que novos ensejos e benefícios novos lhes proporcionariam..." 
"— Vemos que é bem árduo o labor conferido ao Isolamento e que esforços máximos
requerem, de todos vós, boa­vontade sempre crescente —  interrompeu Roberto de Canalejas,
também visivelmente interessado — Já iniciastes o movimento regenerador?..." 
Irmão de Santarém, a quem ele se dirigira, adiantou­se sorridente, satisfazendo a justa
curiosidade.
"— Sim — disse ele —, e com muito bons êxitos, visto que temos a Mãe das Mães como 
patrocinadora destes casos de redenção... cujas excelentes conseqüências facilmente entrevemos..."
"—  Rogo esclarecimentos quanto ao desempenho de tão espinhosa quão  nobre tarefa,
Irmão Santarém" — tornou o moço doutor.
"—  Com muito prazer, meu  jovem amigo, visto reconhecer que falamos a amigos
generosos e sinceros, que poderão até mesmo emprestar­nos o auxílio de suas fraternas simpatias... Conforme não poderia deixar de ser — continuou o nobre religioso —, assumi a direção 
do empreendimento, com ordens do Irmão Diretor do Departamento, certo de que a intervenção de
nossa augusta Protetora, assim como a generosa assistência dos nossos maiorais do Templo, não 
nos abandonariam à indecisão das próprias fraquezas. Naquela mesma manhã foi encaminhada à direção do Departamento petição requerendo 
auxiliares voluntários para o áspero certame, pois não ignorais que para essa natureza de tarefas
não existe obrigatoriedade em nosso núcleo. Os obreiros para serviços externos hão de oferecer 
espontaneamente o seu  concurso, atendendo apenas ao chamamento especial que se proclama... além de que são todos voluntários os próprios servidores da nossa Colônia... Atendido sem tardança, entendi­me cordialmente com os preciosos colaboradores que se
apresentaram, todos animados de interesse e boa­vontade pela causa do Bem, ficando estabelecido 
que, antes da delineação do programa decisivo, visitássemos as personagens em questão, estudando todas as faces do assunto e comparando­as com as nossas próprias possibilidades. Assim fizemos, até que, na noite do terceiro dia, após a homenagem que mui gratamente
prestamos diariamente à nossa Guardiã, partimos todos juntos, em demanda da Terra... Fazia o plenilúnio. A luz doce e merencória da Lua —  a humilde irmã da Terra — 
suavemente aclarava os caminhos tristes do astral inferior por onde deveríamos transitar. Para o 
transporte servimo­nos da levitação lenta, visto que as zonas pesadas por onde gravitaríamos não 
nos permitiriam o emprego da rapidez senão com grande esforço de nossa parte, o que de modo 
algum conviria fazer porque necessitávamos reservas de energias para os serviços a realizar.
Oh, meus caros amigos! — continuou o antigo sacerdote com doçura intraduzível — Não 
foi sem delicados frêmitos de emoção que avistamos os contornos da velha cidade do Porto, envolta nos véus das ondas atmosféricas, que a tornavam como inundada de sutil torrente de
fumaças esgazeadas aos nossos olhos de Espíritos, para quem o vácuo é vocábulo inexpressivo! 
Nosso preclaro irmão, o Conde Ramiro de Guzman, que, como sabeis, chefia as
expedições missionárias no  exterior de nossa Colônia, e que, como sempre, foi o  primeiro 
voluntário a se apressar em atender nosso humilde convite para o serviço extra, levou­nos a um
giro pela cidade que tanto havíamos amado, pois também ele vivera no Porto e se abrigara sob 
aqueles tetos amigos, cujas cimalhas e vidraças agora distinguíamos beijadas pelas ternas cintilas
do luar...Procurávamos Margarida Silveira pelas imediações do Cais da Ribeira. O Douro amigo 
marulhava docemente, retornando sua poesia à nossa audição de portugueses, para quem as
doçuras do antigo torrão natal —  que o seria novamente, em posterior  encarnação  —  não se
extinguira ainda, muito apesar da longa permanência na Pátria Espiritual, o Espaço!..." 
"— E Jerônimo fez, de certo, parte da importante expedição?!..." — indaguei, ansioso.
"—  Oh, não!  Não seria prudente que o fizesse!  Cumpria­nos evitar­lhe o dissabor de
realidades duríssimas... e mesmo seria Jerônimo um estorvo para nós, ao invés de auxiliar... Não me permitirei, no entanto, descrever, meus amigos, o espetáculo amargo em que
deparamos Margaridinha representando o principal papel! Imaginai, contudo, um daqueles antros
de vícios e libertinagens, como tantos que, infelizmente, existem no sombrio globo terrestre, classificado policialmente como de quinta ordem, como  se pudessem existir  vícios menos
degradantes uns do que outros! Pensai no que seria o impudor ali reinante, o deboche, os torpes
arrastamentos dos instintos inferiorizados e deprimidos pela perversão dos costumes —  e tereis
pálida idéia do inferno de que deveríamos arredar Margarida Silveira ­ porque assim ordenara o 
Astral Superior, solícito aos nossos apelos! 
Como fazê­lo, porém?!... Ante as cenas lamentáveis que se nos deparavam, a angústia da repugnância intentou 
dominar nossas almas, tornando­se necessário da nossa parte a vigilância da comunhão mental
com nossos diretores do Templo e de Mais Alto, a fim de que nossas vontades não 
enfraquecessem, prejudicando a missão. Torturada por infâmias inclementes, vilipendiada pela degradação, manietada ao 
miserável tronco de situação insolúvel para a sua inexperiência, Margaridinha apareceu­nos como 
a grande vítima de um novo Calvário, onde também faltavam o conforto, o socorro de corações
generosos dispostos a aliviar e consolar! Vimo­la, mau grado suas próprias repugnâncias íntimas,
imediatamente por nós reconhecidas, submetida aos torpes caprichos de verdugos desalmados, os
quais forçavam­na a sorver copázios de vinho, intoxicando­a, embebedando­a, impiedosamente! A
desgraçada, seminua, pois trazia as vestes rotas pelas brutalidades infligidas pelos algozes, e
empapadas de vinho; cabelos desgrenhados, olhos alucinados pelos desvairamentos do álcool;
boca espumante, desfigurada por trejeitos ridículos, via­se também forçada a dançar ao som de
guitarras enfadonhas, cantando as peças mais em voga, para divertir os ínfimos algozes. Sem que o 
pudesse fazer convenientemente, porém, dado o lamentável estado em que se encontrava, sentia­se
por esta ou aquela personagem duramente esbofeteada, enquanto os vestidos eram ainda uma vez
dilacerados pelas mesmas mãos brutais. Lembrando­me de que as instruções recebidas de Mais Alto recomendavam fosse a pobre
menina retirada com urgência daquele malsinado ambiente, não vacilei em tomar providências
imediatas, lançando mão de medidas extremas. A um aprendiz da Vigilância, que comigo levara, justamente daqueles que iniciavam
experiências regeneradoras através dos serviços de beneficência ao próximo, indiquei a mísera
jovem, dizendo: — Será necessário arrebatá­la daqui... O Astral Superior recomenda assistência imediata
em torno dela... Adormece­a, meu  amigo, com uma descarga magnética forte, servindo­te dos
elementos fluídicos dos circunstantes... Dá­lhe aparências de doente grave... e afasta com presteza
estes infelizes que a maltratam... Este aprendiz sabia operar com certo desembaraço, não obstante
serem parcos os seus conhecimentos e pequeno o cabedal moral que possuía. Fora, não havia
muito, chefe de falanges contrárias ao Bem e ao Amor. Convertido, porém, desde certo tempo, à aprendizagem sincera da Luz e da Verdade, agora se fazia obreiro submisso, subordinado à direção 
de individualidades esclarecidas, capazes de guiá­lo à regeneração completa, as quais não só o 
ajudavam a instruir­se como  a elevar­se moralmente, oferecendo­lhe oportunidades de serviços
reabilitadores. Chama­se Osório e, como é natural, ainda se encontra sob nossos cuidados. Outrora
vivera nos sertões brasileiros, onde praticara ritos e magias africanas. O resultado, da ordem por mim emitida não se fez esperar.
Aproximou­se ele da infeliz peixeira do Cais da Ribeira, passou­lhe as mãos ambas à
altura dos joelhos, como laçando­os. A pobre menina cambaleou, amparando­se a uma banca
próxima. Quase sem interrupção, o mesmo "passe" repetiu­se à altura do busto .e, em seguida, contornando a fronte, toda a cabeça! Margaridinha caiu estatelada no chão, presa de convulsões
impressionantes, levando a mão ao peito e gemendo sentidamente. Sem interromper­se no afã da
sua competência, e enquanto eu distribuía outras recomendações aos demais voluntários, Osório 
chegou­se a um dos comensais que se mantinham estupefatos ante o incidente, e segredou­lhe algo 
ao ouvido, com veemência e emoção, interessado em sair­se bem da tarefa. O indivíduo 
sobressaltou­se subitamente, exclamando aterrado, criando pânico indescritível entre os boêmios: —  Céus!  A coitadinha está a morrer por culpa nossa!... Fujamos!  Fujamos antes que
apareçam os beleguins!... Saíram em confusão, empurrando­se mutuamente, deixando a pobre vítima de tantas
brutalidades à mercê dos possíveis sentimentos de caridade do proprietário do antro. Margarida, com efeito, estrebuchava, parecendo nas vascas da agonia. Rodeamo­la, eu e
meus dedicados auxiliares, no intuito de beneficiá­la com os bálsamos de que no momento 
poderíamos dispor. Convém frisar, no  entanto, que nem eu  nem meus adjuntos éramos sequer 
pressentidos, quer por ela ou pelos demais circunstantes do plano material, pois nossa qualidade de
Espíritos desencarnados tornava­nos inatingíveis à visão deles. No entanto, a moça experimentava a ação nervosa produzida pela rispidez da descarga
magnética necessária ao seu lamentável estado. Aplicamos bálsamos sedativos, compungidos ante
seus sofrimentos. Tornou­se inanimada, gradativamente acalmando­se, continuando, porém, estendida sobre as lajes do antro, enquanto o  taverneiro, apavorado com o  acontecimento, providenciava socorros médicos e um leito no interior da casa, pois cumpria ocultar a verdade em
torno do caso, por não desejar complicações com a policia, dada a ilegalidade do comércio. Quanto a nós outros, os servos de Maria, desejávamos vê­la em um hospital e jamais num
cárcere!  Por  essa razão afastamos a possibilidade da presença de policiais, enquanto 
providenciávamos o concurso de algum facultativo cujos sentimentos de caridade nos inspirassem
confiança.Alguns minutos depois, chegando o facultativo, que a considerou gravemente doente em
virtude de grande intoxicação pelo álcool, providências humanitárias foram tomadas, pois
tecêramos em torno dele corrente harmoniosa de sugestões compassivas... E assim foi que, tal como desejáramos e tornava­se necessário, passadas que foram as
sombras dramáticas daquela noite decisiva, a filha do nosso pupilo aqui presente dava entrada em modesto hospital, caridoso bastante para resguardá­la enquanto providenciássemos quanto aos seus
dias futuros, guiados pelas inspirações generosas de Maria..." 
"— Se nosso Jerônimo não deveria tomar parte na expedição, a fim de que lhe fossem
poupados cruciantes amargores, como está informado dos acontecimentos?!... Não te sentes compungido, chocado com estas descrições, meu amigo?... Principalmente
porque são estranhos que as ouvem?..." — inquiri ousadamente, desejoso de tudo investigar.
"—  Com efeito, sinto­me amargurado, e nem poderia deixar de ser assim... Aliás, a
amargura e o pesar têm sido meus companheiros de todos os momentos... Não obstante, o sofrimento e as instruções que venho aqui recebendo elucidaram­me o 
bastante para hoje melhor raciocinar do  que em outro tempo... Convém reflitais, meu  caro Sr. Botelho, que, se Irmão de Santarém descreve, para vós outros, os acontecimentos que a mim dizem
respeito, será porque aqui viestes para os serviços de instrução, além de que sois amigos sinceros,
irmãos afins capazes de atitudes fraternais não apenas em meu benefício, mas também daqueles
que me são caros! Não data de hoje a nossa afeição... lembro­me bem que estamos unidos por uma
comovedora amizade desde as tristes peripécias do Vale Maldito..." 
"— Sim! — cortou o lúcido instrutor —, ele deveria ser de tudo informado, em ocasião 
oportuna, embora a caridade houvesse aconselhado sua ausência do teatro dos acontecimentos... Nada poderia mesmo ignorar, uma vez que se tornou  responsável por tudo que resultou  do 
abandono a que legou a família e porque ainda urgia meditar sobre os delicados acontecimentos
com vistas aos planos para as próximas reparações..." 
Ao incidente seguiu­se pequena pausa, a qual foi quebrada pelo próprio Jerônimo, ao 
exclamar:
"— Rogo­vos continueis elucidando meus companheiros de jornada com a seqüência do 
meu drama pessoal, venerando Irmão Santarém, pois julgo­o bastante expressivo, conforme tantas
vezes me tendes feito analisar, para também a outrem edificar e instruir..." 
"— Sim, meu filho, estou certo de que calarão bem em suas almas o ouvirem o episódio 
que vimos narrando... — aquiesceu pacientemente o sacerdote, cujo sorriso bondoso dulcificou o 
mal­estar criado pela minha impertinência —  Aliás, a vida de cada um de nós encerrará
ensinamentos majestosos e sublimes, desde que nos demos ao trabalho de compreendê­la à luz das
leis divinas que regem os destinos humanos..." 
Interrompeu­se por um momento, como se concatenasse lembranças, continuando em
seguida:
"—  No instante em que Margarida Silveira tombava nas lajes da taverna, tratamos de
remover o seu Espírito — parcial e temporariamente desligado do fardo carnal — para o Posto de
Emergência que este Instituto mantém nas adjacências do globo terrestre. Os serviços ali são variados e constantes como no interior da Colônia. Muitos enfermos
encarnados são  ali curados pela medicina do plano espiritual, muitas criaturas transviadas no 
caminho do Dever hão recebido sob aqueles hospitaleiros abrigos forças e vigores novos para a
emenda e conseqüente regeneração, enquanto que muitos corações aflitos e chorosos têm sido consolados, aconselhados, norteados para Deus, salvos do  suicídio, reintegrados no plano das
ações para que nasceram e do qual se haviam afastado. Para aí conduzida em Espírito, Margarida foi submetida a exame rigoroso, observando os
nossos irmãos incumbidos do mandato as precárias condições em que se encontrava sua
organização fluídica — o perispírito — e que urgente se fazia um tratamento a rigor. Enquanto 
isso o corpo carnal também o era pelo cientista terreno ­ o médico assistente do hospital para onde
fora transportado em estado comatoso. Assentado ficara por nós outros que, a benefício do futuro de Margarida Silveira, o estado 
letárgico se prolongasse por vários dias, tantos quantos necessários à assistência moral mais
urgente que a premência da situação exigia. Por isso mesmo, todo o interesse, os cuidados mais
delicados tributamos ao seu corpo físico­material, ao qual transmitíamos as vitalidades necessárias
à saúde e conservação. A jovem não se achava, ao demais, verdadeiramente doente, senão apenas
intoxicada pelas forçadas libações de álcool. Apresentava órgãos normais, exceção feita do sistema
nervoso, que sofria os resultados da amargurosa anormalidade que vivia. Seus sofrimentos graves, cuja natureza estava a requisitar desvelos abnegados, eram morais, razão por que os facultativos do 
hospital do Porto, onde se encontrava o fardo carnal, a deixaram em observação, confundidos com
o estado letárgico singular." 
Irmão Santarém deteve­se durante alguns instantes, consultando se nos interessaria a
seqüência da narrativa. Em coro suplicamos que se não detivesse, porquanto, não só a sorte da pobre menina nos
preocupava muitíssimo, pois, à força de nela ouvirmos falar por seu pai, havia tantos anos, muito 
de coração a estimávamos agora, como também o ensinamento nos atraía profundamente, calando 
em nosso âmago com fortes repercussões. De outro lado, o próprio Jerônimo animava a exposição dos passados fatos, o que era o 
melhor incentivo para o narrador. Agradeceu  o bondoso conselheiro com amável sorriso e continuou, enquanto nossa
atenção recrudescia.
"—  Ficai sabendo, meus amigos, que Margaridinha não só não era má como não se
amoldava de boamente ao vicio. Repugnava­o até, ansiando libertar­se dele. No seu caso doloroso, o que havia era tenebrosa expiação, seqüência funesta e imprescindível de arbitrárias ações por ela
mesma praticadas em antecedentes encarnações e que ficaram a clamar justiça e reparações através
dos séculos, não apenas nos refolhos de sua própria consciência, mas também nos harmoniosos
códigos da Lei Suprema, que absolutamente não se harmoniza com quaisquer transvios do 
caminho reto!" 
"— Poderíeis dar­nos pequena amostra das ações praticadas pelo Espírito dessa jovem em
antecedentes encarnações e que dessem causa às graves situações que no momento ela
experimenta?" — atrevi­me a solicitar, levado por sincero desejo de aprender.
"— O estudo da Lei de Reencarnação é profundo e melindroso, meu amigo, ao mesmo 
tempo que singelo e fácil de compreensão, porquanto nos apresenta o indício  esclarecedor de
muitos problemas que perseguem a Humanidade, os quais aparentemente se apresentam insolúveis. Futuramente fá­lo­eis em vós próprios, relendo as páginas do livro da consciência... Até lá, no entanto, não haverá nenhum inconveniente em satisfazer­vos a natural curiosidade, uma
vez que tereis a lucrar conhecendo mais um dos seus múltiplos aspectos. Sim, meus amigos!  A profundidade das leis divinas é vertiginosa, podendo  mesmo 
apavorar os Espíritos medíocres, não ensaiados ainda para a sua compreensão! 
Mas a justiça que ressalta dessas leis destila tanta sabedoria e tão grande misericórdia, que
o pavor se transformará em respeitosa admiração, a um exame mais prudente e minucioso! 
Por mais incrível e incômodo que vos pareça, meus filhos, em antecedentes vidas
planetárias, isto é, em mais de uma existência terrena, o Espírito que atualmente conheceis sob o 
nome de Margarida Silveira andou reencarnando em corpos masculinos! Existindo como homem — porque o Espírito não é subordinado aos imperativos do sexo, tal como na Terra se compreende —  abusou  da liberdade, das prerrogativas que a sociedade terrena concede aos varões em
detrimento dos valores do Espírito, e conspurcou deveres sagrados! Como homem, levou a desonra
a lares respeitáveis, aviltou donzelas confiantes, espalhou o fel da prostituição em torno dos seus
passos, desgraçou e destruiu destinos que pareciam róseos, esperanças docemente acariciadas!... Veio um dia em que a Suprema Lei, que não quer a destruição do pecador, mas que ele
viva e se arrependa — impediu­o de continuar o execrável atentado à Sua Soberania! Cassou­lhe a
liberdade, impôs­lhe ensejos favoráveis pára se refazer  da anomalia de tantas iniqüidades,
impelindo­o a renascer sob vestes carnais femininas, a fim de mais eficientemente provar o mesmo 
fel que fez a outrem sorver, e a si mesmo poupar tempo precioso na programação dos resgates, por 
sujeitar­se ao rigor  de penalidades idênticas às outrora impostas pelo seu  mal orientado livre­  arbítrio!  Reencarnou  como  mulher  a fim de aprender, na desgraça de ser atraiçoada na sua
castidade, desacreditada, vilipendiada, abandonada, a empolgante lição de que não é em vão que se
infringe um só dos mandamentos assinalados no alto do Sinai como padrão de honra para a
Humanidade, que antes se deveria educar com vistas à finalidade sublime do amor a Deus e ao 
próximo!" 
Inquietante mal­estar  trouxe emoções de pavor à nossa mente surpreendida com a
expectante novidade. Estremecemos, enquanto sentimos como que porejar suores gelados de nossa epiderme. Naquele momento lembrávamos, vivamente, de que fôramos homens, de que nossas consciências
não acusavam apenas ações angelicais em torno do gravíssimo assunto. Não obstante, fiel ao 
enraizado defeito de polemista, que teimava em acompanhar­me assustadoramente, até nas
paragens além da morte, vibrei, decepcionado, atordoado:
"— Se assim foi, como Jerônimo se tornou responsável pelos desastres da filha?..." 
"— Ah, meu amigo!. Bastaria pequena dose de raciocínio para compreender que nem por 
ser assim deixará a consciência do pobre pai de acusá­lo duramente!... — suspirou tristemente o 
sacerdote iniciado — ‘O escândalo há de vir, mais ai do homem por quem o escândalo venha’ —  asseverou nosso Mestre Sábio e educador incomparável, visto que, se assim procedeu, era que ele
se achava, positivamente, em desacordo com os ditames virtuosos da Lei Suprema!  Margarida
Silveira tinha reparações a testemunhar, é certo; mas, infelizmente, o suicídio de seu  pai, desamparando­a, foi a pedra de toque que a levou  a se precipitar nos tristes acontecimentos! A
dívida tenebrosa deveria ser resgatada através do  tempo. Poderia não ser obrigatória para a
existência presente, permanecendo pendente de ocasião oportuna. O livre­arbítrio de seu pai, no 
entanto, levando­o ao erro fatal do suicídio, precipitou acontecimentos cuja responsabilidade bem
poderia deixar de pesar sobre seus ombros, a fim de que, agora, não sofresse ele as conseqüências
do remorso! Que me direis, caro amigo, de um homem que se tornasse causa da morte trágica de
um ser amado, embora não alimentasse intenção de assassiná­lo, abominando até a idéia de vê­lo 
morrer?!... Não sofreria, acaso?... Não viveria corroído de remorsos o resto dos seus dias, amargurado, desolado para sempre?! . . . Margaridinha deveria expiar o passado, é certo. Mas não 
seria necessário que a pedra do escândalo que a devesse atingir fosse engendrada pelas
conseqüências de um ato praticado pela imprevidência de seu próprio pai!..." 
Desapontado, silenciei, enquanto Irmão Santarém continuava:
"— Uma vez que a jovem peixeira não se comprazia no vício, antes sofria a humilhante
situação ansiando  pela hora libertadora de a ele eximir­se, fácil foi a nós outros ajudá­la ã
reerguer­se, convencê­la à regeneração, norteando­a para finalidade segura. Durante os seis dias em que a hospedamos na mansão de repouso do mencionado Posto,
longas conversações estabeleci com ela, já que, em torno da solução para esse drama imenso, fui
indicado como conselheiro e agente hierárquico dos verdadeiros Guias que trabalham a prol da
regeneração da penitente. Ali albergada, era encaminhada a certo gabinete apropriado ao gênero de
confabulações que convinha promover, espécie de palratório, em que ondas magnéticas, de
excelência capital, favoreciam a retenção de minhas palavras em sua consciência, agindo fielmente
sobre sua memória e assim levando­a a colecionar, nas camadas caprichosas da subconsciência,
todas as recomendações que eu lhe fazia e que lhe convinha recordar quando desperta, na ocasião 
oportuna para a execução, o que, com efeito, veio a fazer mais tarde, sem perceber, no entanto, que
apenas cumpria as recomendações que haviam sido aconselhadas ao seu Espírito durante a letargia
em que estivera mergulhado o corpo material, pois, ao despertar, esquecera tudo, como era natural! 
Exortei Margarida, em primeiro lugar, à prece. Fi­la orar, o que fez banhada em lágrimas! 
Dei­lhe a conhecer o recurso salvador da oração como luz redentora capaz de arrancá­la das trevas
em que se confundia, para guiá­la a paragens reabilitadoras. Ministrei­lhe, tanto  quanto me
permitiam a exigüidade do tempo de que dispunha, e bem assim a circunstância incomum que me
fora preciso provocar, rudimentos de educação moral religiosa, e ela, que jamais a recebera,
falando dos deveres impostos pelo Criador Supremo em Suas Leis, recordando ainda que, no amor 
do Divino Crucificado, encontraria ela fortaleza de ânimo a fim de remover as montanhas das
iniqüidades que a vinham escravizando  à inferioridade, assim como bálsamos bastante eficazes
para lenificar  o fel que infelicitava sua vida. Infundi­lhe esperanças, novo ânimo, coragem para
uma segunda etapa que se fazia mister em seu destino, confiança no Amigo Celeste que estendia
mão compassiva e protetora aos pecadores, amparando­os na renovação de si mesmos... e
convenci­a de que, se como mulher fora desgraçada, no entanto sua alma encerrava valores cuja
origem divina da sua força de vontade exigia ações nobres e heróicas, capazes de promoverem sua reabilitação  perante sua própria consciência e no conceito d’Aquele que de Si mesmo extraiu 
estrigas de luz para nos dar a Vida! 
Fiel às observações que do Templo recebia por via telepática, concitei­a a envidar 
esforços para afastar­se do Porto, mesmo de Portugal! Continuar no berço natal seria impossibilitar 
a reação da vontade para a consecução da emenda... quando ela necessitava até mesmo esquecer de
que um dia vivera no Cais da Ribeira! Criasse, com o esforço heróico da boa­vontade, um abismo 
entre si própria e o passado nefasto, a fim de iniciar nova fase de vida. Era imprescindível que
confiasse em si mesma, julgando­se boa e forte para vencer na peleja contra a adversidade!... porque o Céu  enviaria ensejos propícios à renovação! O Brasil era terra hospitaleira, amiga dos
desgraçados, enquanto seus portos, como o coração de seus filhos, generosos bastante para acolhê­ 
la sem cogitar de particularidades pretéritas... Que preferisse o exílio em solo brasileiro, porque tal
exílio converter­se­ia mais tarde em mansão confortadora... ainda porque o Espírito é cidadão 
universal e sua verdadeira pátria é o infinito, o que o levará a entender que, onde quer  que se
encontre, o homem estará sempre em sua Pátria, à qual deverá sempre amar e servir, honrando­a e
engrandecendo­a para os altos destinos morais! Esquecesse! Esquecesse o passado! E, com alma e
coração voltados para o Eterno Compassivo, esperasse a ação do tempo, as dádivas do futuro: — a
solicitude celeste não a deixaria órfã na experiência para a regeneração!" 
Ouvíamos comovidos, apreciando o valor inerente à tese, vasta bastante para servir a
quantos se vissem incursos em penalidades idênticas. Guardávamos todavia silêncio, enquanto o 
digno educador, cujo  fraseado mais se ameigava à proporção que se empolgava na preleção 
formosa, continuou, após alguns instantes de pausa:
"— Convinha despertar Margarida, isto é, fazer seu Espírito voltar ao templo sagrado do 
aparelho carnal, retorná­lo a fim de continuar as tarefas impostas pelo curso da existência. Como, realmente, não se achava doente, o despertar operou­se natural e suavemente, sob 
nossa desvelada assistência, tal como se voltasse de prolongado e benfazejo sono. Médicos e
enfermeiros confessaram­se atônitos. A jovem, porém, mostrava­se penalizada por haver tornado à
vida objetiva, e derramava abundantes lágrimas. Incoercível angústia pesava­lhe sobre o coração. Do que se passara com seu Espírito durante aqueles seis dias de sono magnético não se
recordava, de modo algum. Apenas vaga sensação de ternura imprimia­lhe no  imo do ser 
misteriosa e doce saudade, que não poderia definir... Após alguns dias de ansiosa expectação, deliberara transportar­se para Lisboa à procura
de sua irmã Arinda, a quem sabia servindo num hotel de boa reputação. A situação, porém, apresentava­se difícil para a desventurada jovem. Não possuía
recursos a fim de empreender a viagem. Seu  passado cheio de máculas e sua infeliz reputação 
inibiam­na colocar­se em casas honestas, como criada de servir. Todavia, em torno dos
desgraçados existem sempre anjos­tutelares prontos a intervir na ocasião oportuna, remediando 
situações consideradas insolúveis. Em torno de Margaridinha a intervenção do Céu  fez­se
representar, para os recursos necessários ao transporte, por suas pobres companheiras de
enfermaria, as quais, vendo­a chorar freqüentemente, dela arrancaram a confissão da amargurosa
situação.
Pobres, humildes, bondosas, sofredoras, e, por isso mesmo, podendo melhor interpretar as
desditas alheias, as boas criaturas cotizaram­se, exigiram ajuda dos maridos e parentes e, no fim de
poucos dias, Margarida recebeu o necessário para transportar­se à capital do Reino. Arinda acolheu a irmã. Perdoou­lhe os passados desvarios, compreendendo, finalmente, que em tão lamentável drama houvera mais ignorância e desgraça do que verdadeira maldade, pois
não possuía esclarecimentos filosóficos capazes de perceber, nos acontecimentos em torno da
manazinha caçula, os antecedentes espirituais que acabei de revelar.
Empregou­a no hotel, ao pé de si, procurando habilitá­la nos misteres domésticos visando 
a colocá­la futuramente em ambientes familiares. Acontece, porém, meus amigos, que a filha de
Jerônimo irá para o Brasil mais depressa do que se esperava... É que, neste hotel, hospeda­se
atualmente uma família portuguesa residente em S. Paulo — o grande centro industrial brasileiro. Visita a terra natal e excursiona pela capital, a qual só agora tem ocasião de conhecer... Margarida, guiada pela irmã, serve­a com atenções e bondade... Há simpatias de parte a parte... A menina
acaba de ser convidada a partir para o Brasil, em companhia da família, como criada de servir... Arinda interveio, compreendendo as vantagens daí conseqüentes... Margaridinha concordou 
prazenteira... e dentro de alguns dias será encerrada a página negra de sua existência para
recomeçar experiências novas, com novos ensejos de progresso e realizações..." 
Entreolhamo­nos ansiosos, como num singular desabafo, detendo­nos compungidamente
a fitar Jerônimo, personagem que figurava na tormentosa odisséia que acabávamos de ouvir, com a
tremenda responsabilidade, perante a lei divina, de havê­la provocado com a ação  relapsa do 
suicídio! O ex­comerciante de vinhos, porém, conservava­se de fronte curvada, concentrado em
pensamentos profundos. De súbito, em meio do silêncio augusto que sucedera à comovedora exposição, uma voz
compassiva, a revelar carinhosas entonações, interrogou, sinceramente interessada:
"—  E Albino, Irmão Santarém?... Decerto o Céu  concedeu­lhe também alguma
dádiva?..." 
Era Belarmino, cuja alma bondosa, convertida para a emenda, apresentava já os melhores
e mais sólidos característicos de fraternidade, dentre os do nosso grupo.
"—  Albino?!... —  disse sorridente o digno sacerdote, como absorvido em grata
recordação — Albino vai muito bem, melhor muitas vezes do que a irmã!... O insulamento do 
cárcere foi­lhe propício à meditação, fazendo­o refletir maduramente e levando­o a procurar Deus
através das asas remissoras do sofrimento!  Tal como foi feito à irmã, doutrinamo­lo em nosso 
campo de repouso, e, facilmente aceitando nossas admoestações, depressa resignou­se à dolorosa
situação, compreendendo  justa a punição, pois que realmente errara no seio da sociedade! 
Dedicou­se a leituras e estudos educativos, guiado muito de perto por uma alma de escol em quem
depositamos muita confiança, e presentemente encarnada na Terra — nosso agente fiel e porta­voz
sincero — isto é, um médium, um iniciado cristão da Terceira Revelação, por nome Fernando... Pois bem, ainda nos serviços realizados no Posto de Emergência já citado, instruções
foram dadas ao caro intérprete a respeito do que deveria fazer a fim de auxiliar­nos em torno do 
jovem em apreço, transportado que fora para aquele local o seu Espírito operoso, durante sono profundo. Ora, assim sendo, Fernando, que exerce atividades profissionais na própria inspetoria de
polícia, como adepto que é da Terceira Revelação  vem procurando, tanto quanto possível,
testemunhar  os preceitos do Divino Missionário. Dentre os inúmeros atos generosos que vem
evidenciado como espírita­cristão, destacaremos o interesse tomado pelos encarcerados e
sentenciados, aos quais procura assistir e servir. Leva­lhes um raio de amor em cada visita que lhes
faz. Infunde­lhes esperanças aos corações desfalecidos. Acalma­lhes a revolta interior  com a
suavidade fraterna e boa da sua palavra inspirada, de onde jorram esclarecimentos regeneradores
para desalterar­lhes a sede de justiça e proteção! 
Albino sentiu­se atraído por aquelas expressões maviosas que lhe revelaram as doçuras do 
Evangelho do Reino de Deus, como falando de um mundo novo, uma era nova que surgiria em sua
vida de rapaz desamparado!  Os olhos grandes e sonhadores de Fernando, como  refletindo o 
manancial de Luz que deslumbrava sua alma de escolhido do Céu, impressionaram fortemente o 
filho de Jerônimo, que, aturdido e dominado por singular simpatia, lhe confiou à própria história
atormentada! Nosso querido agente comoveu­se sinceramente. Confortou o rapaz, ministrou­lhe educação moral­religiosa sob as inspirações da Terceira
Revelação, tal como lho havíamos recomendado, o que nos evitou grandes trabalhos em torno do 
jovem encarcerado... Na solidão do próprio cárcere, assim, bem cedo Albino pôde receber diretamente nossos
incentivos, pois, graças aos piedosos esforços do servo do  Senhor  e à boa­vontade do próprio 
penitente, tornou­se possível a este falarmos tomando­lhe da mão e ditando­lhe preceitos
educativos, dos quais tanto e tanto necessitava a fim de se fortalecer para as caminhadas
redentoras!
E o próprio Albino escreveu o que lhe sussurrávamos ao pensamento através da intuição, banhado em lágrimas, protestando interiormente continuada boa­vontade para o futuro! 
Porém, não paralisou aí a solicitude verdadeiramente fraterna do nosso caro Fernando. Possui ele relações de amizades sociais achegadas ao Paço das Necessidades. Desdobrou­ 
se e obteve as atenções de Sua Majestade, a Rainha D. Amélia, para o infeliz filho do nosso 
suicida. Fê­la compreender tratar­se da pessoa de um órfão desamparado, a quem a inexperiência e
seduções maléficas haviam infelicitado, mas a quem se poderia auxiliar ainda, tornando­o útil à
sociedade, com um pouco de proteção e ajuda fraterna. Aqui, em o nosso Instituto, não se ignora que o Espírito dessa ilustre dama da sociedade
terrena é assaz generoso, compassivo, desejoso sempre de acertar. Para o progresso moral e
espiritual de Albino, por sua vez, segundo as instruções que recebêramos de Mais Alto, seria
dispensável a prova do cárcere a alongar­se ainda por  três anos. Coadjuvamos, portanto, no 
momento, os esforços de Fernando, fielmente inspirado por nós outros, no sentido de obtermos
quanto antes a projetada remoção do prisioneiro para a África, onde, consoante foi estabelecido,
ficará em liberdade..." 
"— Perdão, respeitável Padre Santarém! Preferiria eu que Albino fosse encaminhado para
o estrangeiro... Para o Brasil, por exemplo, a segunda pátria dos portugueses, onde gostamos tanto 
de viver e também de morrer, em deixando Portugal... Pobre Albino!  A África!... Inóspita e inclemente!..."  —  atreveu­se ingenuamente Mário Sobral, sem medir  a inconveniência que
proferia.
"—  Não, meu  jovem amigo!  Albino necessita ainda ser conservado em custódia, quer 
policial terrena quer espiritual, por parte dos que zelam por seu futuro... No Brasil encontraria demasiadas facilidades, que poderiam afastá­lo da unção em a qual
se vem conservando desde que conheceu Fernando e se filiou à magna Ciência da Espiritualidade! 
Teria liberdade excessiva, pois a grande democracia brasileira não é o que lhe convém no 
momento... Arrastá­lo­ia, possivelmente, a desvios prejudiciais, quando, ao iniciar a própria
regeneração, rodeado de responsabilidades, se encontra ainda muito fraco para vencer tantas e tão 
grandes tentações, como as que se lhe deparariam no seio daquele generoso país. A África inclemente ser­lhe­á mais propícia aos interesses espirituais! Há mais caridade
encaminhando­o para ali do que para ambientes contrários à emenda que lhe cumpre tentar a bem
dos próprios destinos imortais! 
Estamos, pois, na expectativa de vê­lo transportar­se para Lourenço Marques ou  outra
qualquer localidade africana..." 
Considerando que os acontecimentos descritos pelo  verbo eloqüente e sugestivo do 
conselheiro do Isolamento  necessariamente influiriam no coração aflito daquele pai suicida,
fornecendo­lhe a um mesmo tempo lembranças torturantes e esperanças reanimadoras, felicitei­o 
sinceramente pelo formoso  êxito  das suas rogativas de prece, louvando ainda, com júbilo, a
amorosa solicitude da Virgem de Nazaré, cuja intervenção remediara situações supostas
definitivas. E concluí com uma interrogação, cuja resposta tão interessante me pareceu, que não 
me furtarei ao desejo de ajuntá­la a estas notas, finalizando o capítulo. Indaguei de Jerônimo, abraçando­o fraternalmente, enquanto os companheiros de caravana pareciam apoiar meu  gesto, com sorrisos amistosos.
"—...E agora, meu  caro Jerônimo, resolvidos os mais prementes problemas que te
ensombravam de amarguras o viver, não te sentirás, porventura, mais sereno a fim de cuidares do 
futuro que, segundo depreendo, bastante prejudicado já foi pelas aflições constantes e
impaciências contraproducentes, em que te trazia a recordação dos filhos queridos?... Não exultas,
sabendo o herdeiro do teu nome prestes a poder servir honradamente a sociedade, o coração aberto 
às auras celestiais de uma fé religiosa que é como a bênção do Todo­Poderoso glorificando­lhe o 
futuro?... Não sorrirás, resignado, sabendo tua loira Margaridinha recebida no seio de uma família
respeitável, tão respeitável que foi honrada com as atenções da Virgem, a quem suplicaste, para
encaminhá­la à reabilitação imorredoura?... Sim, Jerônimo, estarás jubiloso!  Todos nos
congratulamos contigo, meu amigo!..." 
Só então levantou  o  semblante entristecido, enquanto respondia com entonações
lacrimosas:
"— Sim, amigo Camilo! Tão vastos e de tão profundo alcance foram os benefícios por 
mim recebidos através da assistência dispensada aos meus entes mais caros, que jamais serão 
bastante eloqüente quantas expressões possa eu ter para testemunhar à Mãe Santa do meu Salvador 
a gratidão que me enternece o seio... a não ser que, por misericórdia ainda mais extensa, venha a me transformar em protetor de órfãos e abandonados, evitando que se despenhem pelos abismos
em que vi submersos meus queridos filhinhos! 
Alenta­me a esperança de que um tal milagre se concretize, ó Camilo! Pois aprendi com
meus dedicados mestres desta casa acolhedora que o Espírito vive sobre a Terra sucessivas vidas, nascendo e renascendo em formas humanas quantas vezes sejam necessárias ao desenvolvimento 
do seu ser em busca da bênção de Deus! 
Espero, portanto, aquilo mesmo fazer um dia, na Terra, com outra forma humana que me
seja concedida!  Se, como hoje ardente e sinceramente aceito, possuímos uma alma imortal, marchando progressivamente para Deus, demonstrarei meu  reconhecimento às Potestades
Celestes, criando, reencarnado na Terra, orfanatos, internatos amorosos e acolhedores, lares
cristãos onde pequeninos órfãos estejam ao abrigo das dramáticas situações em que meu suicídio 
arremessou meus indefesos filhos!... Sim! Reconfortado, agradecido, esperançado, eu estou! 
Mas, jubiloso, ainda não, porquanto uma avalancha incômoda de dívidas a solver abrasa­  me a consciência, requeimando­a com os fogos impiedosos de mil razões para os remorsos! Oh! 
Eu  não acuso Zulmira, porque também me sinto culpado da sua queda nefanda!  A pobreza
irremediável, as privações acumuladas, a fome torturadora, foram algozes que a perseguiram e
venceram, encontrando­a moralmente desaparelhada para a resistência necessária às pelejas diárias
contra a adversidade, pois a infeliz, que no lar paterno fora educada às brutas, por mim, que a
amava tanto, habituada fora a conforto excessivo e contraproducente, à ociosidade nefasta que o 
dinheiro mal dirigido produz! Se eu, o varão, a quem cabia o dever sagrado de velar pelo futuro da
família, educando a prole, defendendo­a, honrando­a, fraquejei desastrosamente, abandonando­a
na desgraça, ocultando­me atrás de um suicídio a fim de evitar a luta honrosa, completamente
desencorajado para o desempenho da missão que até os seres inferiores da Criação observam com
apego, ternura e satisfação; se eu, o chefe natural, que perante os homens com o Matrimônio, e
perante Deus com a Paternidade, comprometera­me a conduzir o rebanho da Família ao santuário 
da Honra e da Felicidade, abandonei­a ao fogo vivo das iniqüidades mundanas, escondendo­me
debaixo do túmulo cavado pela covardia de um suicídio — quem mais se obrigaria ao dever que
era meu?!... Que poderia fazer a pobre Zulmira, se eu, pior que ela, cheguei a matar­me para evitar 
o cumprimento de deveres inalienáveis?!... Oh! Para que Zulmira vencesse à frente da desgraça, defendendo e honrando quatro filhos menores, seria preciso que se houvesse habilitado à luz de
princípios elevados, sob orientação de adiantada compreensão cristã, como tantas vezes asseverou 
Irmão de Santarém, vendo­me sofredor e inconformado com o seu procedimento! 
Pobre Zulmira, porém, que, como  eu, ignorava até mesmo se, com efeito, era criação 
divina!... Não obstante a afetação religiosa exigida pela sociedade herética e hipócrita em que
vivíamos! A oração é o meu  conforto, assim como os estudos que venho fazendo em torno da
pretensão à nova concessão de um corpo terreno... E rendo graças a Deus por tudo isso, meu 
amigo, pois já é muito para quem, absolutamente, nada fez para merecer tanta misericórdia..."
"—  Podeis prestar­nos alguns informes quanto às condições em que se verificarão as
experiências novas do nosso caro Jerônimo, Irmão de Santarém?" — inquiri, atraído pela sucessão 
dos ensinamentos que de todos aqueles fatos se depreendiam.
"— Será raciocínio simples, meu amigo, ao alcance de todo aprendiz aplicado. Quando, na sociedade terrena, praticamos delitos irremediáveis, ao voltarmos à Pátria
Espiritual havemos de nos preparar  para mais tarde tornar ao teatro das nossas infrações, em
existências posteriores, a fim de recapitular o passado operando de modo  contrário ao em que
fracassamos. Partindo dessa regra, no caso vertente veremos, necessariamente, meu  pupilo em
apreço novamente defrontar­se com a ruína financeira, a desonra comercial, tal como a Terra
considera a falência de uma firma comercial; com a pobreza, com o descrédito — motivos estes
que ontem o levaram ao suicídio —, a fim de que prove o arrependimento de que se acha possuído 
e os valores morais que a amarga experiência de além­túmulo levou­o a adquirir. Para que assim
seja, a ruína deverá positivar­se, no entanto, a despeito dos seus esforços por evitá­la e apesar da
sua probidade, mas nunca pela incúria de que acaba de dar provas, depredando em gozos e
vaidades mundanas o empréstimo da fortuna que o Distribuidor Supremo lhe confiara com vistas a
amplas possibilidades de progresso para ele próprio, como para seus semelhantes... Restará o grave
impasse criado com a família, a quem abandonou em situação espinhosa, fugindo ao dever sagrado 
de lutar para defendê­la... A consciência aconselhá­lo­á as particularidades do desempenho de tão 
melindrosa reparação, de acordo com os seus próprios sentimentos, pois ele possui o livre­arbítrio. As pelejas da expiação, no entanto, os testemunhos amaros, os dramas que será levado a viver no 
âmbito das reparações inadiáveis serão agravados por  um precário estado de saúde orgânica e
moral, males indefiníveis, que a ciência dos homens não removerá, porque serão repercussões
danosas das vibrações do perispírito prejudicado pelo traumatismo, resultante do suicídio, sobre o 
sistema nervoso do envoltório físico­material, que então possuirá. É possível que até mesmo  a
surdez e uma paralisia parcial, que poderá afetar o aparelho visual, assinale seu futuro estado de
reencarnado... porquanto preferiu ele matar­se dilacerando o aparelho auditivo com um projétil de
arma de fogo... e sabeis, meus amigos, que o corpo astral —  o Perispírito —, sendo, como  é, organização viva e semimaterial, também se ressentirá, forçosamente, com a bruteza de um
suicídio... e assim modelará o futuro corpo padecendo mentalmente dos mesmos prejuízos..." 
Despedimo­nos do Irmão Santarém com as lágrimas a oscilarem em nossas pálpebras. Não tínhamos expressões com que agradecer a gentileza das elucidações proporcionadas. Abraçamos Jerônimo e saímos, penalizados com a gravidade da situação que o premia, pois, apesar  de tudo quanto acabáramos de saber, o pobre companheiro não passava de um solitário 
circunscrito ao Isolamento, de onde não se afastaria nem mesmo a fim de visitar os filhos, senão 
para se instruir dentro da medida das próprias capacidades, e sob vigilância severa dos mentores. Carregado de vibrações pesadas e chocantes, o contacto com os seres amados poderia sugestioná­ 
los angustiosamente, arrastando­os a possibilidades desastrosas.
"— Deveis encerrar esta série de visitas com uma pequena demora pelo Departamento de
Reencarnação  —  advertiu  o velho doutor de Canalejas —, pois, dentro de alguns dias mais, devereis realizar o antigo sonho, revendo a Pátria e o antigo lar..."
Pequeno veículo esperava­nos. Sobre nós fechou­se a imensa ponte levadiça. Saímos para
o extenso campo marchetado de açucenas. Indefinível amargura cruciou nossos corações, enquanto 
eu mesmo traduzia as impressões de todos os meus pobres cômpares, ao exclamar:
"—  Adeus, pobre Jerônimo!  Não sei se nos veremos ainda, antes que a grande e
inevitável jornada da reencarnação nos separe!... Que o Celeste Benfeitor se amerceie do teu 
Espírito, iluminando com os favores da Sua paternal clemência a rota por  onde peregrinarás
rodeado de espinhos e decepções! A tua história é também a nossa, eu  bem o sei!... Quando o 
nobre Irmão de Santarém ilustrava os teus problemas com o seu verbo sugestivo e elucidador, bem
percebia eu que, caridosamente, ele desejava advertir­nos quanto aos momentos difíceis que a nós
outros também esperam..."

Memórias de um SuicidaOnde histórias criam vida. Descubra agora