V - Prelúdios de reencarnação

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"Na verdade, na verdade, te digo que aquele que não nascer de novo não pode  ver o reino de Deus."   "Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo."  
JESUS CRISTO ­ O Novo Testamento.

O Departamento de Reencarnação localizava­se no  extremo da Colônia Correcional
Maria de Nazaré, limitando com as regiões propriamente consideradas espirituais, ou  zona
educacional. E isso será facilmente compreendido ao raciocinarmos que, tanto da zona inferior 
como da regeneradora da Colônia, batiam à sua porta, freqüentemente, grupos de pretendentes aos
grandes testemunhos do estágio na carne, isto é, da reencarnação planetária. Compunha­se o importante núcleo de serviços das seguintes seções, todas exercendo 
funções destacadas, conquanto interdependentes:
1 ­ Recolhimento.
2 ­ Análise (Gabinete secreto, inacessível aos visitantes).
3 ­ Programação das recapitulações. 4 ­ Pesquisas.
5 ­ Planejamento dos envoltórios físico­terrenos.
6 ­ Laboratório de restringimento (Gabinete secreto, inacessível aos visitantes).
Começava então a aparecer o elemento feminino, pois grande parte dos obreiros e
funcionários, que ali dedicavam energias, era composta de Espíritos que se engrandeceram na
hierarquia espiritual insistindo nas encarnações em corpos femininos. Todavia, os postos chaves, assim como a direção­geral do Departamento, ainda cabiam aos iniciados da plêiade brilhante que
conhecemos.
Ao transpormos os seus limites demarcados por muralhas intransponíveis para visitantes
não credenciados, a luz suave do Sol ofereceu­nos grata surpresa, pois deu­nos a contemplar os
primeiros tons coloridos que nos foram dados perceber em quatro anos de hospitalização. Com surpresa, verificamos tratar­se de metrópole movimentadíssima, onde se elevavam
edifícios soberbos, em apurado estilo hindu. A Índia lendária, de tão sábias sugestões, surgia
naquelas avenidas pitorescas e encantadoras, parecendo  convidar à meditação, ao estudo, ao 
elevado cultivo das coisas sagradas da Espiritualidade, dos destinos da Alma! 
Naqueles palácios circundados de colunas ou enfeitados de cúpulas típicas, bem assim nas
mansões residenciais, graciosas e sugestivas, miniaturas formosas daqueles, e onde residiam
servidores dedicados à Causa Redentora do Mestre de Jerusalém, imprimia­se a beleza grave e
indescritível do ambiente sacrossanto do Invisível, servido por entidades de escol cujo ideal era a
observação da Lei Suprema, os serviços de Jesus e a proteção aos fracos e pequeninos. Dir­se­ia
encontrar­se ali a verdadeira civilização hindu, a que só  foi entrevista entre os êxtases dos
iniciados dos antigos santuários secretos, e que nunca foi compreendida e, por isso mesmo, jamais
praticada sobre a Terra! 
Sentíamo­nos bem. Emoções alvissareiras falaram de reconforto e de esperanças às
nossas almas. E para maior  realce da nossa satisfação, o Sol formoso, reunindo nas mesmas
dulçorosas expressões de beleza parques e jardins, lagos e cascatas faiscantes, o casario como o 
horizonte que se alongava infinito, acariciando­os com tonalidades mansas, como se a sua luz de
ouro fluido se coasse através de véus esgazeados, adelgaçando o volume do panorama lindo como 
se tudo fora construído em finíssimas porcelanas... Guiados por nossos caros amigos de Canalejas, penetramos o belo edifício  onde se
estabelecia o governo central do Departamento. A bondade e gentileza do eminente governador iniciado, Irmão Demétrio, houveram por 
bem conceder­nos até mesmo um instrutor local, capacitado a prestar esclarecimentos possíveis à
nossa assimilação de iniciantes na vida espiritual. Era este uma jovem dama, cujo semblante
risonho e atraente nos infundiu  imediata confiança. De tão amável personagem nada mais
logramos saber senão que se chamara Rosália e vivera em Portugal sua última romagem terrena. Fazia­se dispensável a presença de Carlos e Roberto. Entregaram­nos, pois, aos cuidados de Rosália e despediram­se a fim de atenderem a
labores mais urgentes, com a promessa de virem ao nosso encontro, para o retorno ao Pavilhão 
onde residíamos. Reuniu­nos a dama em seu  redor, e, centralizando  o grupo, disse­nos, já descendo as
escadarias do edifício:
"—  Principiarei a pequena tarefa ordenada por  nosso  querido  chefe, Irmão Demétrio, meus caros amigos, adiantando­vos ser imensamente grato ao meu  coração o servir à vossa
instrução, tal se o fizesse a irmãos estremecidos. Sinto que louvável desejo de examinar  para
aprender e progredir floresce em vossas mentes. Por  isso mesmo, auguro­vos compensador futuro no âmbito de nossa agremiação, cuja
finalidade é servir para engrandecer o próximo carente de amor e auxílio!  Todavia, deixo de apresentar quaisquer felicitações, porque seriam prematuras. Almejo antes, para vós, o  alento 
misericordioso do Alto, a fim de ajudar­vos na permanência dos bons propósitos atuais..." 
Agradecemos, encantados. Seguimos caminhando por uma daquelas magníficas avenidas
orladas de tufos de caprichosas folhagens, enquanto iam e vinham, cruzando conosco, funcionários
e obreiros apressados, emprestando grande animação ao ambiente. Singular silêncio continuava a
reinar nesse novo núcleo, tal como sucedia aos demais já conhecidos, o que não deixou de
despertar nossa atenção. A jovem senhora continuou, enquanto sensível corrente de superioridade se desprendia de
sua personalidade, infiltrando­se em nosso âmago e assim despertando  as melhores atitudes de
respeito e veneração de que éramos capazes:
"—  Conforme verificareis, ninguém que, acolhido  neste Instituto, como tutelado 
temporário, necessite recapitular experiências terrenas, poderá fazê­lo sem antes ingressar em
nosso Departamento para um estágio que varia de um a dois anos, conforme seja o seu  estado, antes de se providenciarem as atividades relacionadas com o corpo que será chamado a animar.
Diariamente comparecem aqui Espíritos ansiosos por voltarem ao teatro das próprias quedas, pressurosos de repararem o passado cuja lembrança os desespera, de expiarem faltas, de
recapitularem o drama íntimo, a fim de conseguirem vencer o remorso esmagador que lhes estorce
a consciência — fantasmas sangrentos de si mesmos, atados ao infamante resultado do suicídio! 
Obtendo o beneplácito do Templo para a reencarnação que traz em mira, o qual, por sua
vez, já o recebeu  de Mais Alto, onde paira a direção soberana da Legião, o pretendente, apresentando­se à chefia deste Departamento, será encaminhado, primeiramente, à seção do 
Recolhimento, onde se farão seus registros relativos à Terra, e em cujo internato será admitido, sob 
os cuidados paternais de guias que o assistirão fielmente a partir daquela data, acompanhando­o 
incondicionalmente e sem esmorecimentos durante sua "via crucis"  expiatória nos proscênios
terrenos.Resolvido o primeiro problema, acudirão os técnicos da seção de Análises, os quais
deverão estudar, naqueles internos, as tendências características, fazendo­lhes
pormenorizadamente a psicologia. Sua alma, seu ser, os refolhos mais remotos da sua consciência
serão perscrutados por esses criteriosos operários do Senhor, os quais, invariavelmente, por serem
iniciados superiores da falange brilhante, se encontram à altura da delicada incumbência. Para isso,
servindo­se das faculdades magnéticas superiores que possuem, obrigam o paciente a desdobrar as
páginas do livro imenso da Alma, nele recapitulando o pretérito, e assim se revelando tal como 
realmente é, pois, ficai sabendo — caso o ignoreis ainda — que todas as criaturas trazem a história
de si mesmas impressa em caracteres indeléveis nos labirintos do ser, sendo capazes de, em
determinadas circunstâncias, revivê­la em minúcias e dá­las a outrem para igualmente examinar,
quer se encontrem presas aos laços carnais, quer estejam deles libertadas... Existe exceção, no  entanto, para os asilados do Manicômio. Estes, infelizmente,
reencarnarão tais como se encontram! Nada será possível tentar a fim de beneficiá­los a não ser o 
retorno ao estágio na carne, que então passará a figurar como terapêutica imposta para corretivo do 
descontrole geral das vibrações, criando, assim, ensejos para novas tentativas futuras. Essa terapêutica, balsamizada pela prece que diariamente lhes será ministrada em correntes simpáticas, dulçorosas e benéficas, partidas daqui, em seu favor, é tudo quanto, no momento, lograrão aqueles
infelizes obter, não obstante o grande desejo que temos de vê­los serenos e ditosos! 
Uma vez concluídos os trabalhos analíticos do caráter de cada um, os mesmos técnicos
farão relatório  do que verificarem, minucioso e rigorosamente exato, passando então o caso  à
seção de Programação das Recapitulações. Pelo exposto tereis compreendido que estas análises justamente serão indispensáveis por 
fornecerem o cabedal para o programa da existência a seguir. Os méritos e os deméritos do 
reencarnante, as quedas pretéritas mais graves e que, por isso mesmo, mais urgência exigirão na
reparação; as concessões balsamizadoras que se lhe possam fazer, a urdidura, enfim, da existência
projetada, será estabelecida através da investigação descrita. Preciso será esclarecer, todavia, que
tão importante laboração destaca­se em duas partes distintas, ocasionando sensível diferença na
forma de operar. Será dificultosa, exigindo até várias experiências, torturantes mesmo até para o 
próprio operador, quando o condenado à galé da carne provém da zona inferior da Colônia, isto é, dos departamentos hospitalares, assim como  das prisões da Torre; ao passo que será simples
revisão para efeito de técnica, constatação indispensável aos relatórios quando o pretendente haja
sido interno do Instituto propriamente dito, ou seja, da região regeneradora onde se efetivam os
estágios para a reeducação, o Colégio  da Iniciação, etc., para os quais não tardareis a ser 
encaminhados. De qualquer forma, esse trabalho será grandemente facilitado  pelos informes
derivados do Templo e pelo concurso dos Guias missionários indicados pelo Astral Superior, sem
a presença dos quais absolutamente nada será tentado para a finalidade da reencarnação. Estabelecida a programação, concluído o esboço das lutas expiatórias ou reparadoras do 
reencarnante, de acordo com suas forças de resistência moral — possibilidades de que disponha
para a vitória — ; previstos os empreendimentos que possa concretizar a par das expiações; as
realizações para que possua capacidade; as facilidades que deva encontrar pelo caminho, justo 
efeito  dos méritos anteriormente conquistados; ou  as dificuldades que, a seu  próprio benefício, venha a deparar durante o desenrolar da existência, justa conseqüência de deméritos que arraste do 
mau passado; firmado, enfim, o panorama da vida que o espera dentro da reencarnação terrena, que tanto lhe convém, e a qual, geralmente, tão desejada é pelo próprio pecador batido pelo 
arrependimento, será o belíssimo trabalho, verdadeira epopéia sabiamente traçada, encaminhando 
à direção­geral da Colônia, que o examinará. 20
Existem casos em que serão necessárias emendas. Estas, tanto poderão referir­se à diminuição das provas, retardando para futuro remoto a
solução de alguns problemas, da concessão de um acréscimo de misericórdia, portanto, como do 
aumento do volume das reparações para um período mais curto, tais sejam as possibilidades gerais
"20 Não se deverá fazer  conclusões exageradas dessa exposição.  Antes da encarnação,  o Espírito poderá escolher  as  provações da pobreza, por exemplo, sujeitando­se então às peripécias do grau de pobreza que lhe convenha acarretar para
sua existência.  Não se inferirá,  portanto,  que no além­túmulo houvessem sido discriminados minuciosamente todos os  detalhes e acidentes da pobreza prevista. Se houver de cegar ou tornar­se mutilado, isso virá a acontecer sem que se torne necessário apontar  na programação feita  antes da volta ao corpo carnal  o acidente  ou enfermidade que o conduzirá  ao
estado conveniente de provação. Isto o que se depreende das obras básicas da Doutrina. (Nota da médium)"... do tutelado! O próprio Templo, porém, só expedirá ordens deste último teor quando de Mais Alto 
receba autorização. Como, no entanto, Guias missionários do penitente, assim os técnicos do 
Departamento da Reencarnação, são Espíritos de elevada linhagem nas regiões virtuosas do Além, portadores de grande saber e gloriosa inspiração a serviço da causa da redenção humana, geralmente os programas estabelecidos por eles conquistam o beneplácito do Governo Geral da
Legião a que pertencemos, o qual, por intermédio do Templo, autoriza a preparação do aparelho 
físico­terreno para o aprendizado na crosta do planeta..." 
Havíamos estacionado sob as frondes dos arvoredos ao longo da avenida por  onde
palmilhávamos, e ouvíamos tais exposições interessadíssimos, lembrando­nos ainda das notícias
que nos forneciam certos livros antigos sobre aulas ministradas por Pitágoras, Sócrates e Platão,
rodeados de discípulos, e mais ou  menos baseadas em princípios análogos, à sombra dos
cortinados dos plátanos, nos parques de Atenas. Pensativo, interveio Belarmino, que sorvia as palavras de Rosália com manifesto fervor:
"— Depreender­se­á de vossas asserções, minha senhora... minha irmã! que os dramas da
vida humana, as desgraças, as tragédias que diariamente sacodem o  Globo, fazendo da
Humanidade um como joguete de forças cegas e superiores, são dirigidas por uma fatalidade
irreprimível?..." 
Sorrindo com encantadora singeleza, a lúcida serva de Maria retrucou, enquanto acenava, convidando­nos a subir a escadaria de nobre edifício rodeado de colunas e velado por aprazíveis
rendilhados de arbustos floridos e arvoredos frondosos, em cujos pórticos se lia esta simples
inscrição — "Recolhimento": 
"—  Não, meu  amigo!  O senso indica que não poderá a Humanidade ser regida pela
cegueira de uma fatalidade abominável!  Deveríeis antes ter  compreendido que aquilo a que
chamais fatalidade não é senão o efeito de uma causa que o próprio homem criou no enredo das
ações praticadas na Terra, quando nela viveu  divorciado do bem, da moral e do dever, ou, no 
Além, como Espírito desnorteado da Lei, embrutecido nas trevas de que se rodeou, pois é ele
mesmo, através dos atos bons ou  maus que pratica, que determina a natureza, consoladora ou 
punitiva do próprio futuro! A fatalidade existirá, se assim o quiserdes, não cegamente, reduzindo a
Humanidade a mero joguete, mas como seqüência lógica, inteligentemente corretiva, de desvios
delituosos, programada por seu próprio livre­arbítrio ao preferir o erro aos ditames da razão e da
consciência! Tratando­se, pois, de um corretivo, esse estado de coisas desaparecerá no momento 
em que se corrigir a causa que lhe forneceu origem, ou seja, o traço inferior da maldade em que se
estribaram os atos praticados. Assim também, nos programas que se elaboram aqui, visando ao 
futuro do delinqüente, não se incluirão os pormenores, as atividades diárias, que será chamado a
desenvolver nas operosidades da vida terrena, assim como não se cogitarão das particularidades
que lhe sejam necessárias a fim de atingir o inevitável! Apenas os pontos capitais serão por nós
anotados, os que constituam reparação, trechos decisivos, seqüências que marcarão justamente a
lógica dos antecedentes acontecimentos, isto é, da Causa! A própria expiação encontra­se de tal
forma arraigada na consciência do pecador, como efeito  dos remorsos, das necessidades de
progresso de um passado criminoso, que ele mesmo, sob o impulso de sua vontade livre, dar­lhe­ia cumprimento, ainda que não fosse delineada sob o critério dos nossos relatos. Convém, porém, que
assim o façamos, porque, entregue a si mesmo, resvalaria para excessos prejudiciais, criando 
possibilidades desastrosas. Outrossim, as capacidades que tenha para realizações meritórias serão também anotadas, e estas poderão até mesmo ser discriminadas, indicadas... pois nenhum Espírito, encarnado ou não,
só porque se encontre jungido ao ergástulo das provações, será inibido de auxiliar  o progresso 
próprio com a dedicação às causas nobres, devotando­se aos empreendimentos generosos para o 
bem do próximo. Ele, porém, o reencarnado, será livre de efetuar ou não aquelas realizações, que, antes da reencarnação, quando se preparavam as linhas do seu futuro, se comprometeu a atender.
Será livre, sim. Mas, no caso  de se desviar do compromisso assumido, grandes pesares o 
angustiarão mais tarde, ao sentir que, além de ter faltado com a palavra empenhada com seus
Guias, deixou  de se aureolar com méritos que muito poderiam ter abreviado as caminhadas
ríspidas das recapitulações a fazer... Como vê, meu  amigo, não se trata de fatalidade, senão 
encadeamento harmonioso de "causas" e "efeitos..." 
Penetramos vasta antecâmara, cujas portas jamais eram trancadas, velando­se apenas o 
ingresso no interior  de cada uma com discretos reposteiros de suavíssimo  tecido azul­celeste. Silêncio impressionante continuou  ali despertando nossa atenção, fazendo­nos julgar o nobre
edifício imerso em solidão. Aroma delicado e sugestivo, no entanto, emprestava encanto 
indefinível a esse interior  cheio de atrativos, onde luz docemente aloirada penetrava por ogivas
graciosas engrinaldadas de rosas brancas. Ramalhetes das mesmas flores ornavam discretamente o 
recinto, deixando entrever o gosto feminino inspirando a ornamentação. A um ângulo do salão, destacamos uma como tribuna talhada em meia­lua. Uma senhora
de idade indefinível ergueu­se imediatamente ao avistar­nos, e, deixando aflorar nos lábios
bondoso sorriso, saudou­nos com esta fórmula singular, enquanto caminhava em nossa direção, estendendo gentilmente a destra:
"— Seja convosco a paz do Divino Mestre!" 
Rosália apresentou­nos a ela, amavelmente:
"— Eu  vos esperava, meus amigos! Irmão Teócrito comunicou­se comigo esta manhã, cientificando­me de vossa necessidade de esclarecimentos rápidos, relativamente a este núcleo... Acompanhar­vos­ei eu mesma pelo interior do nosso albergue... este Recolhimento, que a todos
vós receberá um dia, pois ninguém há, internado  nesta Colônia, que deixe de passar sob seus
umbrais..." 
Era uma religiosa. Seu hábito níveo, como esbatido por fosforescências de ouro pálido, que se diriam provindas da luz que se projetava sobre o aprazível recinto, era muito belo, assemelhando­se à túnica de uma virgem lendária glorificada por poema sacro arrebatador.
Não cogitei saber  a que congregação religiosa pertenceria, quando na Terra, essa dama
encantadora que, agora, no mundo espiritual, nos surpreendia como funcionária de uma Colônia
auxiliar para correção de suicidas, colaborando, ao lado de ilustres iniciados das Doutrinas
Secretas, nos serviços da Vinha do Senhor. Sei, porém, que, honrando certamente o hábito humilde
no desempenho de tarefas terrenas nobilitantes, eu  a via agora sublimá­lo no Além, no seio de congregação fraterna e modelar, onde merecia dirigir uma das mais importantes seções, tal como a
seção do Recolhimento, como fiel iniciada cristã que era! 
Gentil e bondosa, convidou­nos a repousar por alguns instantes, oferecendo a cada um de
nós, assim como a Rosália, uma das suas belas rosas, enquanto falava, risonha e simples como 
gracil menina:
"— Na época em que vivi, reclusa e quieta, no Convento de Santa Maria, em o nosso 
exílio terreno, cultivava rosas em minhas horas de lazer, quando um ou  outro enfermo não 
requisitava meus serviços para além dos muros que me insulavam... Foi esse o único passatempo 
que fruí no mundo das sombras, durante minha última romagem nele realizada! Eu falava às rosas, como  às outras demais flores!  Entendia­as, educava­as, criava­as como se o fizesse a seres
pensantes muito queridos, divertia­me com elas, e com elas confidenciava, depositando em suas
corolas perfumosas as lágrimas que os infortúnios oriundos das desilusões e das saudades ternas
me extraíam do coração!  Na comunidade não se permitia possuir sequer um animalzinho, um
pássaro que fosse, nada que pudesse desviar o afeto e as atenções das reclusas dos deveres austeros
a que eram obrigadas ou da contemplação íntima a que se deveriam invariavelmente quedar, no 
intuito de alimpar caráter e sentimentos para a boa sintonização com os eflúvios divinos... Mesmo 
as flores, não eram para mim que cultivava, senão para a comunidade... Mas eu seguia as normas
estatuídas por Francisco de Assis e estava certa de não haver nenhum mal em dedicar um pouco 
dos meus afetos também às mimosas flores que despontavam dos canteiros sob meus cuidados... Habituei­me a elas, desde então... e não só não me impediram de harmonizar vibrações com os
planos do Amor e do Bem, como até as continuo cultivando em plena intensidade da vida
espiritual, sem jamais esquecê­las..." 
Bem impressionado com os encantos que se desprendiam da virgem religiosa, Belarmino 
aventou uma interrogação, que reputei indiscreta e de muito mau­gosto.
"— Sim — disse ele —, vejo que continuais cultivando rosas nestas paragens do mundo 
invisível... Sinto­me, porém, confuso... É, pois, possível uma tal coisa, irmã...?" 
"—...irmã Celestina... para vos servir, caro irmão Belarmino! Como assim?!... Não vedes
aí as flores?... Como não ser, então, possível? Oh! E por que não se cultivariam flores no Além­ 
túmulo, se é aqui, e não nos mundos materiais, que existe o verdadeiro padrão da Vida, enriquecido cada dia com os progressos de cada um de seus habitantes?!... Acaso existirá na Terra
alguma coisa, no que concerne ao Bem e ao Belo, que não seja pálida reminiscência conservada da
Pátria Espiritual pelos precitos ali retidos?... O fluido da Vida, que faz germinar as flores e plantas
terrenas, perfumando­as, alindando­as, encantando­as, não é porventura o mesmo que fecunda e
anima a quintessência e suas derivações, das quais nos utilizamos nestas regiões?... O Artista
Divino que enfeitou a Terra, com tantos motivos galantes, não é o mesmo, porventura, que vivifica
e embeleza o Universo todo?..." 
Agradecemos a dádiva mimosa, que parecia refulgir  e vibrar, possuída de ignotos
princípios magnéticos. Aspiramos o aroma sutil que impregnava o salão, enquanto a interlocutora
nos fazia passar a extensa galeria, sustida por colunatas majestosas. Dir­se­ia um claustro.
De um lado e outro, portas esculpidas em motivos clássicos hindus alinhavam­se. E, de
cima, a mesma claridade fluida e doce, acendendo tonalidades aloiradas, a cada passo infundindo 
confiança e alegria. Guiou­nos a gentil senhora a algumas daquelas portas e, enquanto entrávamos,
surpreendidos verificávamos pertencerem, a extensos dormitórios. Esclarecia ela:
"— Quando se positivam a necessidade e a época de o asilado desta Colônia retornar ao 
aprendizado da carne, a fim de completar  o compromisso da existência interrompida com o 
suicídio, apresenta­se ele ao Departamento de Reencarnação acompanhado dos mentores pelos
quais vem sendo assistido e oferecendo as recomendações e autorizações necessárias, provenientes
da chefia do Departamento em que fez o estágio entre nós. Do gabinete, pois, de Irmão Demétrio, será encaminhado a esta seção e aqui passará a
residir  como interno. Hospedamo­lo com afeto e satisfação, procurando tornar o estágio o mais
consolador e reanimador possível... porquanto, geralmente, o suicida é um triste a quem coisa
alguma alegrará, um inconsolável que, sabendo que não tardará a voltar à arena terrestre em
duríssimas condições, mais se angustia ao penetrar estes umbrais... Aqui se demorará enquanto durarem os preparativos para a grande caminhada. Suas
apreensões, as meditações acerca do que passará futuramente, enclausurado  novamente na
vestimenta carnal, vão­se dilatando a cada minuto decorrido, pois ele não ignora, antes percebe
com clareza, o que o aguarda na arena em que deverá representar o heróico papel daquele que se
deverá habilitar para a conquista de si mesmo, para os planos do verdadeiro Bem! Tal estado de
ansiedade, agravando­se à proporção que se vão formando os preparativos, torna­se
verdadeiramente angustioso, provocando lágrimas freqüentes de seus corações dilacerados pelo 
arrependimento, pelo temor, pelas saudades... pois, desde o dia que um pretendente à reencarnação 
transpõe os umbrais do Recolhimento, despede­se da Colônia ou do Instituto, dos mestres que o 
instruíram, dos companheiros e amigos que ali adquiriu, só os reencontrando mais tarde, ao findar 
o exílio... É bem verdade que, uma vez reencarnado, não estará destes separado, tal como à
primeira vista se poderia supor. Ao contrário, continuará alvo  das atenções de quantos por ele
zelaram durante a internação na Colônia, porquanto a permanência no plano físico não diminuirá o 
dever destes para com ele, nem estará, por isso, desligado dela. Poderá mesmo continuar  a ser 
recebido  aqui, aconselhado, instruído, confortado por seus antigos mentores, graças ao sono do 
corpo físico, que lhe facultará relativa liberdade para tanto, e o fará, necessariamente, pois não se
desligou  ainda de nossa tutela, está da mesma forma internado em nosso  Instituto porque a
reencarnação a que se submete não é senão um dos recursos com que contamos para o trabalho de
educação que se torna necessário para a sua recuperação ao plano normal da marcha gloriosa para
o Progresso! 
Mas... eles sabem que, uma vez de posse do pesado fardo de limo terrestre, já não serão 
tão lúcidos, esquecerão o convívio fraterno, as benfazejas bênçãos da presença daqueles que lhes
foram como anjos­tutelares a enxugar­lhes as lágrimas da desgraça, e, por isso, se angustiam e
sofrem!
Eu  e meus auxiliares velaremos por eles aqui, no  Recolhimento, ajudando­os à
readaptação às coisas da Terra, despertando­lhes o gosto pela existência no seio  generoso do 
planeta tão bem dotado pela Sabedoria do Todo­Misericordioso, e que só os desvarios do homem
tornaram inclemente e ingrato!... Pois convém não esquecer que o suicida desencantou­se da
permanência na sociedade terrena, ele a detesta e quisera afinar­se com outra que lhe falasse
melhor aos anseios íntimos! Muitos, apavorados com as perspectivas das expiações, que só passam
a conhecer minuciosamente depois que aqui são internados, arrependem­se do intuito que traziam
e, acovardados, pedem para dilatar um pouco mais a época do renascimento, no que são atendidos. Em lágrimas, são reconduzidos, então, ao local de onde vieram e entregues a seus tutores locais, lá
ficando sem outros progressos até que se decidam ao único recurso que lhes conferirá, com efeito, possibilidades de dias melhores: —  a reencarnação!  —  Uma vez aqui recolhidos, porém, não 
permanecerão  inativos, à espera de quem lhes prepare a moradia terrena do futuro. Com seus
instrutores trabalham nos preparativos para o renascimento próprio, colaboram no exaustivo labor 
das pesquisas para a escolha dos genitores que melhor convenham à espécie de testemunhos que
deverão apresentar à frente das leis sacrossantas que infringiram, porquanto, geralmente, os
suicidas não reencarnam, para a expiação, nos círculos de afetos que lhes são mais caros, e sim
fora deles; estudam, sob orientação dos guias missionários, a programação de suas atividades na
Terra, aprendendo, numa espécie de aula prática, fornecida através de quadros inteligentes e
movimentados quais cenas teatrais ou cinematográficas, a desenvolvê­las, realizá­las, remediá­las,
levá­las a finalidade heróica, agindo com acerto e prudência; viajam assiduamente à Terra, onde se
demoram, sempre acompanhados de seus tutelares generosos, procurando orientar­se nos hábitos a
que terão de se adaptar, conforme sejam os ambientes em que arrastarão a condenação vergonhosa
que consigo levam, porquanto, a eles mesmos convém que se resignem à situação antes do 
ingresso no corpo carnal, para que não sintam demasiadamente ardente a mudança dos hábitos que
a convivência conosco forneceu; e, depois das pesquisas ultimadas e escolhido o meio familiar em
que ingressarão, demorar­se­ão ainda em torno dos futuros pais, procurando com eles se afinar,
conhecê­los melhor, adaptarem­se aos seus modos, principalmente se couber como punição ou 
necessidade para o progresso a difícil situação de aceitarem para o renascimento um meio hostil, onde existirão apenas, rodeando­os no decorrer dos dias, inimigos de existências pretéritas, Espíritos estranhos, indiferentes portanto aos infortúnios que os sacudirão..." 
"—  Quer dizer, minha irmã, que essas pesquisas a que vos referis..."  —  perquiri eu,
aproveitando pequena pausa da eloqüente interlocutora.
"—...movimentam­se em torno da procura de uma família, de um ambiente, de genitores
principalmente, caridosos bastante para concordarem em receber em seu seio um rebento estranho, que lhes será motivo de constantes preocupações, pois que condenado aos dolorosos testemunhos
que acompanham a reencarnação de um suicida! Existem mesmo casos penosos, difíceis de serem
resolvidos, meus amigos! E é quando desgraçados, como aqueles que vistes no Manicômio, ficam
aqui, detidos no Recolhimento, esperando que se lhes consigam genitores, pois, como sabeis, eles, além de incapacitados para a colaboração com seus mentores em torno da causa própria, o estado 
que arrastam é de tal forma precário que, para o renascimento, só lhes permitirá a possibilidade de um invólucro material entorpecido por achaques insolúveis, inacessível ao estado normal da
criatura encarnada, constituindo angustiosa provação para os pais que os receberem! Consoante já
foi explanado perante vosso entendimento, muitos daqueles infelizes voltarão à vida planetária
ocupando corpos carnais paralíticos, dementes, possivelmente surdos­mudos, enfermos incuráveis, etc., etc., e apenas deverão planar em ambientes onde existam grandes provações a serem expiadas
pelos pais. Então, seus guias e dedicados mentores estabelecem, com aqueles que têm
possibilidade de se tornarem genitores e possuam débitos gravosos a solverem perante a Divina
Justiça, comoventes convênios, acordos supremos como este: —  Que concordem em receber em seu  seio aqueles desditosos, como filhos, e os
amparem na "via crucis" da expiação, pois eles necessitam da reencarnação a fim de voltarem a si
do entorpecimento a que o suicídio os arrojou, e, assim, melhorarem de situação. — Que pratiquem, pelo amor do Divino Cordeiro, imolado no alto do Calvário por muito 
amar os pecadores e desejar reavê­los para as aleluias da Vida Imortal, tão sagrada caridade, porque a Suprema Lei do Amor ao Próximo lhes conferirá o mérito da Boa Obra, favorecendo­lhes
oportunidades dignificantes para realizações rápidas no plano da evolução, para os estados
compensadores e felizes. —  Que consintam em se tornarem temporariamente agentes da Legião de Maria, agasalhando em seu lar generoso pupilos seus, dos mais infelicitados pelo passado pecaminoso, até
que finde a expiação necessária, a qual lhe sobrou da lição pavorosa do suicídio!... Pois, determina
a Lei que a Caridade cubra uma multidão de pecados... e eles, genitores, que também faliram
contra a supremacia da Incorruptível Lei, veriam muitos delitos levados à conta dessa sublime
virtude que bem poderiam praticar, servindo aos sagrados desígnios do Criador! 
No entanto, meus amigos, se alguns bondosamente concordam em se desincumbirem da
honrosa quão amarga tarefa, outros existem que as rejeitam, preferindo reparar as próprias faltas
até o último ceitil, a contribuírem com seus préstimos para que um destes infelizes repare a
conseqüência do gesto macabro que preferiu, sob um teto amoroso e honradamente constituído. Não se sentindo a isso obrigados por lei, preferem as asperezas das próprias provações, ao lado de
prole sadia e graciosa, à suavização das penas, com a concessão de oportunidades generosas e
compensadoras, sob a condição de exercerem a sublime caridade de se prestarem à paternidade de
pequenos monstrengos e anormais, que só lhes acarretariam desgostos e inquietações..." 
"— E como, pois, reencarnarão esses miseráveis companheiros de desgraça, ó Deus do 
Céu?!... Como nos reencarnaremos então, nós, a quem tudo faltará, até mesmo pais?..." — inquiri,
impressionado e ansioso, lembrando­me de que eu voltaria ao corpo certamente cego, Mário sem
as mãos, Belarmino enfermiço e infeliz desde o berço...
"—  Obtereis novos informes na Seção de Pesquisas, meus caros irmãos!  Por agora, porém, visitemos estas dependências que também a vós abrigarão um dia, ao iniciardes as jornadas
reparadoras..." 
Era o Recolhimento como enorme internato, compondo­se de quatro pavimentos bem
distintos, conquanto não existissem quaisquer diferenciações nas disposições internas.
No primeiro, reuniam­se Espíritos provenientes de regiões menos infelizes da Colônia, ou 
seja, os internos e aprendizes do Instituto, já iniciados na Ciência da Espiritualidade propriamente
dita. No segundo, permaneciam os abrigados do Hospital Maria de Nazaré que preferiram
reencarnação  imediata, bem assim os do  Isolamento, ao passo que o terceiro abrigava os
prisioneiros da Torre, e o quarto era reservado aos do Manicômio. Ao elemento feminino reservava­se hospedagem idêntica, localizada, porém, em sítio 
vizinho ao nosso, em edifício separado. Celestina levou­nos a tudo esmiuçar: O reencarnante seria ali registrado: — seu nome, o 
local onde renasceria, a data do acontecimento, o nome dos pais, o  período que deveria passar 
investido da existência planetária, etc., etc., tudo, em torno dele, ficaria modelarmente arquivado! 
Os internos viviam ali irmanados por idênticas preocupações, orientados pelos assistentes
incansáveis, que tudo tentavam a fim de vê­los vitoriosos nas pelejas dos testemunhos das lides
terrenas. A qualquer parte a que as obrigações do momento os requisitassem, isto é, a Terra, os
gabinetes de Análises, onde eram submetidos à melindrosa intervenção já descrita; as seções de
Programação das Recapitulações e de Pesquisas, seria o Recolhimento o ponto de retorno, para
onde convergiriam todos até o término dos preparativos e para onde gravitariam mais tarde, quando extinguida a existência corporal para que então se preparavam. Estes, isto é, os
preparativos, freqüentemente se dilatavam por algum tempo, exceção feita aos pupilos do 
Manicômio, cujas providências para o retorno à gleba terrestre eram sucintas, resumindo­se quase
que exclusivamente aos trabalhos de pesquisas. Uma vez concluídos os penosos prelúdios, advinham as fases das realizações. Era quando 
a chefia do Departamento expedia ordens à direção do Laboratório de Restringimento para iniciar 
a operação magnética necessária ao caso do renascimento, assim como a respectiva atração para o 
feto, cujos elementos biológicos já se encontrariam em processo de desenvolvimento no óvulo 
fecundado, no santuário das entranhas maternas, as quais mais não seriam, então, do que o 
prosseguimento do mesmo Laboratório, uma como dependência temporária, ou de emergência, do 
Departamento de Reencarnação, sujeita à vigilância dos técnicos incumbidos do  magnificente
serviço e dos guias missionários do Espírito que, assim constrangido e restringido em suas
vibrações normais, ia modelando o corpo à proporção que se adiantava o fenômeno da gestação. E
explicaram­nos, ainda, que o molde ideal para se definir a forma desse feto em elaboração seria
justamente o corpo astral que no momento trazíamos —  o perispírito —, o que amplamente ao 
nosso entendimento esclareceu  quanto ao que viria a ser o futuro corpo que ocuparíamos, estruturado sob o magnetismo doentio de vibrações oriundas de grandes desgraçados, como nós,
segundo o que, com efeito, já nos haviam participado os pacientes mentores! 
Não nos permitiram entrada no "Laboratório de Restringimento", assim como não fora
permitida a visita aos gabinetes de Análises. No entanto, informaram­nos de que, ao se internar no 
Laboratório, não se prenderia a ele o condenado. Ao contrário, poderosas correntes magnéticas que
partiriam das próprias forças ilimitadas e divinas, que mantêm o Universo, impeliam­no para o 
corpo que deveria habitar, afinando­o com este, ao mesmo tempo que harmonizava o seu 
perispírito ao daquela que consentira, voluntariamente ou  constrangida por  um dispositivo da Grande Lei, em ser sua mãe, para com ele sofrer e chorar a conseqüência dramática e irremediável
do suicídio, de delitos graves e desonrosos!  Que, durante a época dessa atração, que se opera
lentamente, à proporção que a gestação progride, vai o condenado perdendo a pouco e pouco a
faculdade das recordações do próprio passado, uma vez que seu corpo astral sofreu restringimentos
necessários ao fenômeno da modelagem do feto, coisa que se verifica também graças ao auxílio 
magnético e vibratório  dos psiquistas afetos ao  delicado  certame, sobre a vontade e sobre as
vibrações mentais do paciente. Que, à proporção que se adianta o estado  de gestação no seio 
materno, suas vibrações, mais e mais se comprimindo, vão calcando mui profundamente, na
organização astral, as lembranças, as recordações, as impressões vivazes dos dramas dolorosos por 
ele vividos no pretérito, produzindo­se então o  Esquecimento imposto como acréscimo de
Misericórdia pelo Legislador  Supremo, condoído das desgraças que adviriam se os homens
pudessem recordar livremente os verdadeiros motivos por que nascem na Terra em condições
lastimosas, muitas vezes lutando e chorando do berço ao túmulo! 
Que, ao entrar para ali, inicia­se em seu  amargurado ser  um como estado pré­agônico,
fácil de ser compreendido em virtude do constrangimento que sofrem todas as suas faculdades, a
sua mente, as suas vibrações! Que tal estado, mui penoso para qualquer Espírito, torna­se odioso a
um suicida, dado que sua organização astral se encontra angustiosamente abalada com o choque
sofrido pela violência nele operada pelo suicídio, e do qual só será aliviado muitos anos mais
tarde, quando se verificar o desenlace natural e lento das cadeias magnéticas que o prendem ao 
corpo, ao qual ele começa a estar ligado desde a intervenção no Laboratório. Soubemos ainda que
toda essa epopéia, digna de uma Criação Divina, será facilitada em seu cumprimento, e suavizada
em suas perspectivas, quando o paciente demonstrar arrependimento sincero pelo mau passado que
andou vivendo, e boa­vontade e humildade para reparar erros cometidos e progredir em busca dos
beneplácitos dignificantes da consciência, pois, então, sua vontade se tornará maleável sob a ação 
protetora dos Guias desvelados, os quais, bem certo, todos os esforços empregarão a fim de levá­lo 
a sair vitorioso e reabilitado desse feio enredo de quedas e delitos contra a Lei Incorruptível do 
Todo­Poderoso! 
Passando, assim, por todas as dependências e obtendo sempre, ora de Irmã Celestina, ora
de Rosália, ou  de um e outro  chefe de gabinete, valiosas elucidações, chegamos aos recintos
reservados à Programação de Recapitulações, cuja finalidade foi razoavelmente descrita neste
mesmo capítulo. Acrescentaremos apenas que, ao ingressarmos no confortável edifício onde se
estabelecia aquela seção, fomos colhidos por agradável surpresa: —  eram senhoras, jovens
algumas, mesmo moçoilas mal saídas da infância; outras já em plena maturidade e até anciãs
veneráveis, que compunham o corpo de funcionários! Ativas, lúcidas, perfeitamente capazes do 
alto desempenho que lhes era confiado, consultavam as notas provindas dos gabinetes de Análises
e as ordens do Templo e traçavam com sabedoria o esquema fecundo da existência que conviria a
cada pupilo da Colônia que à Terra voltasse em vestes carnais. Eram, porém, dirigidas por sábios
iniciados e Guias missionários de cada um, aos quais prestavam filial obediência. Conforme já foi
assinalado, vimos que muitos dos próprios pretendentes colaboravam nesses mesmos mapas que
constituiriam, nada mais, nada menos, do que o extremo rosário de suas expiações, os dias de angústias que lhes arrancariam lágrimas escaldantes do oprimido coração; os testemunhos
decisivos que todo delinqüente sente necessidade de apresentar a si mesmo a fim de desagravar a
consciência da desonra que a entenebrece, mormente um suicida, mais que qualquer outro 
inconsolável diante do abismo por si mesmo criado. Não me pude conter. Diante de um exemplar dos mesmos esquemas —  verdadeiro 
compêndio de salvação  que, a ser observado, faria do pecador o homem ideal, convertido à
sublime ciência do Dever  —, perquiri, dirigindo­me a um dos ilustres técnicos que dirigiam o 
importante estabelecimento 
"—...E todos nós, os suicidas, uma vez reencarnados, chegaremos a observar 
perfeitamente tal programação?..." 
Sorriu  o insigne psiquista, não encobrindo, no entanto, certa expressão melancólica, ao 
tempo que respondia:
"— Se tudo quanto aí fica, meu amigo, se deriva de uma causa, é evidente que a mesma
causa deva ser corrigida a fim de que os respectivos efeitos se harmonizem com a lei incorruptível
que rege a Criação! Se há uma programação a ser observada, é que a Justiça Suprema pôde ditá­la, e, por isso, será observada a despeito de quaisquer conveniências ou sacrifícios! A legislação que
fundamenta os princípios desta instituição é a mesma que move o Universo Absoluto! Daí o serem
as nossas determinações concordes com a mais perfeita equanimidade, o que equivale dizer que
não será possível o deixar de ser rigorosamente cumprida pelo penitente uma programação destas, uma vez que, se ela existe, é porque o próprio paciente a originou com as causas que forneceu com
seu mau proceder! Ela, pois, existe com ele! Está nele, tomando parte na sua personalidade! E será
preciso que a observe para libertar­se do cortejo de sombras que sua inobservância em sua alma
projeta! 
Aliás, ele pode observá­la, tendo para isso todas as possibilidades. Se nem sempre, porém, o faz, será porque se deixou  novamente desviar  da boa rota!  Então, adquirirá novas
responsabilidades, e repetirá duas, três, quatro romagens planetárias para que possa pagar, até o 
último ceitil, os débitos que haja adquirido para com a Suprema Lei, segundo a advertência do 
Mestre Insigne!" 
A essa altura despedimo­nos da amável cultivadora de flores, deixando a seção de
Programação de Recapitulações para atingirmos a de Pesquisas. Grande número de funcionários emprestavam ali eficiente colaboração, sob a direção de
um chefe e vários subchefes, pois os serviços haviam de ser elaborados por comissões compostas
de duas a quatro personagens e um dirigente, os quais recebiam incumbência da preparação de
possibilidades para a reencarnação de determinado grupo de asilados. Havia, porém, como não ignoramos, escassez de trabalhadores. Assim foi que
encontramos, prestando  valiosos concursos a mais esse Departamento, algumas personagens
nossas conhecidas de outras localidades, tais como o próprio Teócrito, dirigindo pequena caravana
de investigações, cujas operações se desenvolveriam, como sabemos, sobre a crosta terrestre, e
composta de seus discípulos Romeu  e Alceste; o Conde Ramiro de Guzman, chefiando outra
comissão, da qual faziam parte os dois Canalejas; Olivier  de Guzman, o emérito educador da Torre, ao lado de Padre Anselmo; Irmão João, venerável no seu porte impressionante de oriental, e
vários outros, eficientemente prudentes e esclarecidos para o desempenho da alta missão 
conferida.Reconhecíamos comovidamente a benevolência insofismável desses servos do Meigo 
Nazareno, os quais, a exemplo do Mestre que tanto amavam —  que não desdenhara em se
apresentar à, Terra trajando a configuração humana, por servir à instrução das criaturas confiadas
pelo Pai Supremo à Sua Guarda —, diminuíam­se também, detinham as próprias vibrações, materializavam­se, tornando­se densos e quase humanizados, no intuito  de servirem à causa
esposada por Aquele Mestre inesquecível e incomparável! Admirava­nos o fato de merecermos da
parte deles tão expressivas demonstrações de fraternidade, enquanto, enternecidas, nossas almas
murmuravam ao nosso senso que cumpriria correspondêssemos a tão amorosas solicitações, dispondo­nos a atitudes passivas, dignas de tão nobres instrutores. Irmão Teócrito desviou­nos de
tais cogitações, encaminhando­se até nós e saudando­nos, após o que interrogou, sorrindo:
"—  Segundo o que venho observando, meus amigos, tendes aproveitado bastante das
instruções que vos têm sido ministradas... Estou informado do vosso interesse por tudo, o que a
mim causa excelente impressão, por prenunciar modificação compensadora em vossas resoluções
e, necessariamente, em vossos destinos... Que deduzis do quanto até agora observastes?..." 
Foi Belarmino de Queiroz e Sousa quem se fez portador da opinião geral:
"— Deduzimos, eminentíssimo irmão — disse com veemência —, que, se nos fora dado 
conhecer estas coisas quando homens, seria mais que provável termos evitado o suicídio, conduzindo­nos por sistemas opostos aos que nos perderam!  . Quanto ao que a mim
particularmente concerne, entendo que serei forte para as conseqüências que terei de arrostar 
destino em fora... até cobrir os déficits que me enxovalham a consciência! 
Oh! Caro Irmão Teócrito! Conquanto sofra, sinto­me agora um outro homem... ou seja, um outro Espírito!  Acenderam­se em meu  ser  fachos de esperanças inapagáveis, que me
fortalecem e reanimam poderosamente, induzindo­me a partir em busca do futuro, seja qual for! 
Saber positivamente que sou o que Sou, que vivo, convencendo­me de que nem um só dos meus
afetos mais santos, de minhas aspirações, meus ideais, assim como dos esforços empregados para
o enriquecimento de meus cabedais intelectuais e morais se perderão jamais, triturados nas crenas
execráveis da morte, por mim julgada outrora o ponto final de tudo quanto existe; certo de que a
Eternidade é a minha sublime herança, à qual me assistem direitos legítimos, pela filiação divina
de que, como Espírito, descendo; e, por isso, também capacitado  de que deverei alcançar  a
sucessão dos evos progredindo incessantemente, enriquecendo minhas faculdades com atributos
que me levarão a atingir honrosamente planos magníficos da Espiritualidade, com a conquista de
mim mesmo para a realização do ideal divino, é para mim felicidade arrebatadora, que fará
escurecer sacrifícios e lágrimas, domar fadigas, arrostar todas as conseqüências delituosas do 
passado, para só me ocupar da conquista do futuro, ainda que tenha de galgar calvários dolorosos, excruciantes! Jamais, como  homem, concebi possibilidades de tornar­me herói de tão sublime
epopéia!
Estou disposto a lutar, Irmão Teócrito! A lutar e sofrer, para aprender, realizar e vencer! 
Sei o que me aguarda no embater das existências que se sucederão no meu trajeto! Sei que de
horas amargas hão de sacudir­me as potências da alma, nos séculos que se dobarão no carreiro de
minha jornada evolutiva. Mas não importa! Não importa! Eu sou imortal! E se um Deus Todo­  Poderoso me destinou à Eternidade, será para a realização de um ideal sublime, cuja verdadeira
perfeição  escapa às minhas concepções ainda bisonhas de precito  de uma Colônia Correcional;
não, porém, para errar e sofrer sempre, porquanto o Criador Onipotente não se limitaria a deixar à
sua descendência tão parcos recursos de ação!... Oh, venerável Teócrito! Sinto­me inferiorizado 
ainda! Ainda não me despojei sequer dos bacilos que corroeram minha última organização animal, por mim destruída. antes que o vírus da tuberculose terrível a apodrecesse de vez, enervado que
fiquei ao vê­la nauseabunda e detestável! Sei que terei de voltar à Terra muito brevemente, pobre, órfão, tuberculoso ainda, tolhido por decepções diárias, precito a quem não acalentará o calor de
uma só ilusão! Sei disso! Mas estou  disposto a tudo levar de vencida! Regozijo­me até, com a
severidade dessa Justiça Soberana, porque a lógica irrefragável que a proclama revela­a também
oriunda de uma sabedoria que impõe com a força do Direito!  E curvo­me, então, resignado e
respeitoso!..." 
Teócrito sorriu. Passou, complacentemente, adestra sobre o ombro do interlocutor e
observou, paternalmente:
"—Tens o verbo inflamado e luzido, meu caro Belarmino!... E, enquanto falavas, estive a
pensar  em como seriam belos os discursos que proferias em tuas aulas clássicas de Dialética!... Que perseveres em tão formosas quanto edificantes resoluções são os meus mais sinceros votos... pois que, assim sendo, os caminhos do progresso que serás compelido a realizar serão aplainados e
fáceis de vencer!... Todavia, não te deixes arrebatar demasiadamente pelo esplendor do panorama
divino da Vida que, a muitos outros, antes de ti, ofuscou... A evolução do Espírito para a Luz é bela e grandiosa, não resta dúvida. A vida do 
homem, na sua incessante escalada para o melhor até ao divino, é gloriosa epopéia que honra
aquele que a vive!  Mas o trajeto é duro, meu  amigo!  Os espinhos e as urzes semeiam essas
estradas redentoras, exigindo do peregrino da Luz as mais ativas energias, os mais edificantes
sacrifícios! Reconheço­te sincero, idealista animado de dignificante boa­vontade, e isso muito me
satisfaz! Contudo, o entusiasmo por si só não levará ninguém à vitória real, senão à aventura
duvidosa!  Pondera na necessidade de te aprestares com armas morais sólidas, para a travessia
tumultuosa a que te obrigarás a fim de conquistares o primeiro degrau  dessa imensa espiral
evolutiva do teu destino, e o qual há de ser, simplesmente, a próxima existência que tomarás na
arena terrestre... Vieste de uma encarnação em que foste primogênito de família conceituada, no 
seio da qual não te faltaram atenções e respeito! Foste indivíduo culto, vivendo facilmente entre
gozos e confortos vários, emprestados pelo ouro e pelas solicitudes insofismáveis de uma mãe
terna e dedicada... Apesar de tudo isso, faliste, não suportando sequer as aflições de uma
enfermidade física, patrimônio comum de toda a Humanidade! Pensa, agora, meu caro Belarmino, no que será a tua vida, sendo tu, como desejas, órfão, pobre, doente, baldo de consolações e
esperanças, perseguido por adversidade irremovível!... Será também uma epopéia, não pequena e nem despida de sublime grandeza, a ser vivida e vencida — pois tu queres vencer! — porque será
um calvário de redenção que deverás palmilhar com resignação e dignidade, jamais entre revoltas
e ultrajes à Providência, porquanto isso empalideceria a vitória, se não a anulasse!... Será
necessário algo mais do que o entusiasmo, Belarmino, muito mais!... e convém que te prepares
antes da peleja iniciada..." 
Mário Sobral aproximou­se, intranqüilo como sempre:
"— Dignai­vos atender­me um instante, Irmão Teócrito?..." 
"— Aqui me tens, filho! Dize tudo, confiante..." 
"— que... desejo tomar uma resolução... tomei­a já... mas preciso ser auxiliado... sinto­me
um tanto desorientado..." 
"— Bem sei, Mário, continua..." — tornou  enternecido o diretor do Hospital Maria de
Nazaré.
"— Irmão Teócrito! Quem é o responsável direto por mim, nesta Colônia Correcional em
que me vejo internado?..." 
"— Sou eu, Mário!..." 
"— Ainda bem! Espero, assim, encontrar facilidades para os projetos que me empolgam... Senhor... Irmão... Por quem sois, apiedai­vos de mim, não posso mais! Providenciai meu retorno à
sociedade terrena, quero ser homem outra vez! Quero desafrontar­me dos ultrajes por mim mesmo 
levados a efeito no seio de minha família!... à minha mãe, Deus do Céu, a quem cobri de
desgostos, desde o berço até o  túmulo, à minha esposa, a quem atraiçoei e abandonei às
vicissitudes diárias! A meus filhos, os quais rejeitei e esqueci... e a Eulina... Quero forrar­me da
obsessão exercida em minhas recordações pelo remorso do crime cometido contra aquela pobre
mulher! Preciso esquecer, Irmão Teócrito, oh! Acima de tudo, esquecer, a fim de lograr tréguas,
serenidade, para desenvolver ações apaziguadoras, capazes de amansarem as angústias que me
aferventam a consciência! Tudo quero tentar, a fim de que eu também progrida — já que a Lei é
progresso incessante para toda a Criação, conforme as instruções que aqui recebemos. Quero 
expiar e reparar! 
A imagem humilhada e frágil de Eulina, indefesa sob minha brutalidade, debatendo­se na
agonia malvada do estrangulamento entre minhas mãos, absorve minhas faculdades, anulando 
ensejos para quaisquer outras ponderações, obsidiando­me as idéias, enlouquecendo as fibras mais
íntimas do meu ser! E eu preciso afastar da mente esse quadro satânico a fim de poder sentir o 
perdão do Céu  orvalhar de esperanças a minha consciência inconsolável!  Quero sofrer, Irmão 
Teócrito! A trágica tormenta do Vale Sinistro não bastou! Não foi por Eulina que ali me debati, mas por mim mesmo, seguindo  os escalões dissonantes do meu  ato de suicídio!  Prometi, de
joelhos, à sombra dolorosa de Eulina agonizante, ser outra vez homem, arrastar uma existência, do 
berço à velhice e ao túmulo, destituído das mãos que a estrangularam!... Eu mesmo me darei tal
punição, como testemunho do meu sincero arrependimento! Não é o Senhor Deus que ma impõe! 
Não é a Lei que ma exige: sou eu que, voluntariamente, suplico ao Pai Todo­Misericórdia que ma
conceda como supremo reconforto à minha desventura de trânsfuga da Sua Lei de Amor ao 
Próximo, como supremo ensejo de reabilitação em meu próprio conceito, já que a morte é quimera a iludir os incautos que se arrojam pelas brenhas do suicídio!  Sim Passarei sem as mãos que
serviram para assassinar uma pobre mulher indefesa! Que se volte contra mim o crime cometido 
contra Eulina!  E que eu me veja tão indefeso, destituído das mãos, como Eulina destituída de
forças, naquela noite abominável, acometida de surpresa ante minha ferocidade!  Creio, Irmão 
Teócrito, que somente assim obterei alívio para, depois, encarar de frente os demais débitos a
serem saldados, com a ajuda paternal de meu Deus e meu Criador!..." 
O antigo boêmio de Lisboa discorria desfeito em prantos, ao passo que nosso digno tutor 
espiritual, enternecido, obtemperou gravemente:
"—  Já refletiste maduramente na extensão das responsabilidades que arrostarás com
semelhante reencarnação, meu pobre Mário?..." 
"— Já, Irmão Teócrito!" 
"— Sim! Reconheço­te sincero e forte para o resgate, plenamente arrependido do passado 
culposo!  Realmente, esse será o recurso aconselhável para o teu  caso, medida drástica que te
moverá com muito  menor morosidade à reabilitação honrosa que de ti exige a consciência! 
Pondera, no entanto, que foste também suicida e, por isso, necessariamente, as condições precárias
em que se encontra tua presente organização, teu envoltório fluídico, modelador que será da tua
futura estruturação  carnal, levar­te­á a receberes, com o renascimento, um corpo enfermo, debilitado por achaques irreparáveis no plano objetivo ou terreno..." 
"—  Eu  o desejo, Irmão Teócrito!... Tudo, tudo ser­me­á preferível ao suplício deste
remorso que me mantêm agrilhoado ao inferno que se alastrou por minhalma!... Ao menos, como 
homem, quando tudo me faltar, para só as desgraças me flagelarem, terei um consolo, o qual a
Misericórdia do Todo Generoso Pai concederá como esmola suprema à minha irremediável
situação: o Esquecimento!..." 
Condoído, o belo  iniciado prometeu  interessar­se imediatamente pela sua pretensão, acrescentando paternalmente:
"— No momento que se concluam as instruções que vos temos propiciado, visita­me, no 
meu  Departamento, Mário, a fim de estabelecermos entendimentos para os preparativos de tão 
melindrosas realizações!" 
Em seguida convidou­nos a tomar parte na comitiva que sob  seus cuidados buscaria
pesquisar meios para a reencarnação, já ordenada e programada, de alguns pupilos seus, os quais
se submeteriam, assim, à terapêutica por excelência, ainda sob sua vigilância, muito embora vários
deles já se não encontrassem dependentes do Hospital Maria de Nazaré. Iríamos, no entanto, como 
simples observadores, visto nossas condições não permitirem colaboração de qualquer natureza.
Já de posse das instruções necessárias e pronto para encetar a espinhosa missão, o 
abnegado paladino de Maria voltou­se para nós outros, exclamando:
"—  Temos ainda muito tempo, pois os serviços que me estão  afetos somente serão 
realizáveis pela calada da noite. Ide repousar, meus caros amigos, até que vos mande buscar a fim
de seguirmos para o local indicado, uma vez que só pela alta madrugada estaremos de volta..." 
Roberto e Carlos de Canalejas aproximavam­se, no intuito de reconduzir­nos ao Pavilhão 
onde residíamos.
Rosália despedira­se, prometendo reencontrar­nos no mesmo local, já no dia imediato, para o prosseguimento das recomendações do nosso muito querido tutor, Irmão Teócrito.

Memórias de um SuicidaOnde histórias criam vida. Descubra agora